2. Problemas na Iniciação Esportiva
Roberto Pimentel, 20.6.2009 – Permiti-me resumir as dúvidas e dificuldades que relataram. Coloquei algumas outras para discutirmos e buscarmos as soluções, como uma “paradinha para pensar” e enxergar as questões de outro ângulo. Para termos ideias novas, criativas, inovadoras, opinião independente, temos que aprimorar primeiro os nossos sentidos. Não lhes parece o melhor caminho? Parece que não estamos sozinhos. Entrem na “comunidade do basquete” e observem o que dizem os professores a respeito da evasão de protagonistas no RS e em Barueri (SP): “Vão discutir o problema com a coordenadoria”. Estou inclinado a convidá-los para nossas discussões, pois não acham que têm as mesmas dificuldades?
Guilherme … (1) Metodologia não motiva – (2) Crianças não conseguem jogar – (3) Exercícios monótonos – (4) Solução: aplicação de pequenos jogos; redução da quadra; não exigência de técnicas apuradas.
(1) Convite a uma busca de uma Nova Metodologia, motivo dessas conversas. Como fazer? As “receitas” são muitas, mas não redundam em melhoria. Trata-se do grande abismo entre Teoria e Prática. (2) TODOS jogam a partir da 1ª aula, não importa a sua habilidade. É importante para que se sintam seguros, participantes, incluídos entre todos: “Sou capaz!” Os aspectos psicossociais estão inteiramente assegurados e prestes a se desenvolver com força. Como realizar esta façanha numa classe? No clube os “mais fracos” seriam alijados. Devo fazer o mesmo na escola ao dispensar da aula quem não quer jogar? Só jogam os melhores? (3) Utilizo muito material “alternativo” para CRIAR os exercícios. Todos praticam ao mesmo tempo e NÃO há preocupação com o gesto técnico. Inicialmente, o que importa é que as crianças consigam ter a sensação de que estão jogando. A pouco e pouco terão mais informações. Isto implica no que disse a respeito de ”produção, atração, envolvimento, brincadeiras”. (4) Está perfeito. Contudo, a condução da classe é outra questão. Ensinar não é uma ciência, mas uma arte.
Milton… (1) Escola ou clube? – (2) Práticas lúdicas e desafios – (3) Jogo em campo reduzido.
(1) Produzi treinos excelentes em clubes renomados do Rio; o Bernardinho aplicou no Centro Rexona, em Curitiba, o mini vôlei que me “encomendou” na Praia de Copacabana; o governo estadual do Paraná aplicou-o em várias escolas. Por que não daria certo? Qualquer mudança é traumática. Os novos profissionais são levados pelo sistema a resolver estes problemas práticos, aplicando certo número de “receitas” técnicas que representam fórmulas dogmáticas ultrapassadas durante anos. Não há tempo para parar e pensar? (2) Está certíssimo, desde que haja um planejamento das ações orientadas para o aprendizado da modalidade e respeitados aspectos psico-fisiológicos da criança. (3) Perfeito, porém não basta. Como fazer numa aula com 20-30 alunos? Como motivá-los? Classes mistas? E as diferenças?
Em outro momento, se estiverem interessados, vou dizer-lhes como consegui reunir 400 crianças (8-13 anos) em curso regular na “minha praia”.
Guilherme, 8.7.2009 – É bom saber que não estamos no caminho errado. Claro que a motivação da aula é de fundamental importância e é aí que se deve depositar todo principio da aula, treino ou jogo. A ludicidade com as crianças funciona principalmente com a diversidade de atividades e materiais, mas toco aqui num elemento que considero fundamental para o ensinamento de qualquer desporto. O conhecimento, o mais profundo possível, para que aquilo que se pretende alcançar, para que o aluno ou atleta execute o movimento de forma correta, para que os movimentos não sejam executados sem um intuito ou de forma dispersa. Pensar no se faz. E para isto a segurança em corrigir, demonstrar e explicar os objetivos depende deste conhecimento profundo. Seria interessante também a troca de experiências neste nível, pois só encontramos bibliografias e estudos do voleibol de alto nível ou competitivo. As bibliografias que versam sobre a iniciação são a meu ver falhas e sem muita objetividade, muito vagas e monótonas.
Roberto Pimentel, 9.7.2009 – Fico feliz pelo aceite à participação neste bate-papo sobre a Iniciação Desportiva. E está de parabéns pelas colocações. Você mexeu muito na minha cabeça grisalha para rebuscar coisas que possam ajudar-nos nesta missão.
“O melhor cérebro da Europa Hans Magnus Enzensberger, poeta e ensaísta alemão, é um raro exemplo de intelectual que sugere que se debruce sobre um assunto com a dedicação do especialista; todavia, ele se distingue dos especialistas pela variedade de questões às quais sua curiosidade o conduz”. (Veja, 24.6.2009)
No Brasil nunca houve indivíduos – muito menos cientistas – que se preocupassem com a Iniciação Esportiva. Pelo contrário, sempre foi uma área desprezada, entregue a pessoas também muito mal preparadas, verdadeiros curiosos ou “quebra galhos”. Você mesmo observou ao consignar que as bibliografias que versam sobre o tema são falhas e sem objetividade, muito vagas e monótonas. Traduzindo, não ensinam absolutamente nada. E em continuação, mostra o caminho que devemos seguir – a troca de experiências sobre a Iniciação – pois os estudos que existem se reportam ao alto nível e só se pensa na competição, sempre com a proposta de GANHAR a qualquer preço. Você diz nas entrelinhas que precisamos buscar novos conceitos e metodologia em substituição ao que as Escolas de Educação Física e Cursos de Técnica espalhados pelo país vem praticando (e repetindo), isto quando se ocupam da matéria, pois na maioria das vezes, não merece qualquer atenção. Esse despertar teve início a partir da introdução do min voleibol no Brasil, do qual sou pioneiro. Concluí que seria interessante para todos os docentes, não treinadores de clubes, que se tomasse conhecimento do método e que o desenvolvêssemos entre os colegas. Muitos anos se passaram até que foi colocado nacionalmente no chamado programa Viva Vôlei, da CBV (fui o mentor técnico). Mas a visão dos dirigentes era mercantilista, queriam e estão conseguindo tão somente vender o produto. A proposta filosófica e a metodologia foram mais uma vez deixadas de lado e continuam “empurrando” para os menos avisados, todo aquele entulho didático do qual será muito difícil nos livrarmos. E pobre dos novos acadêmicos que não têm a quem recorrer (bibliografias falhas, no seu dizer). Como fazer?
Uma observação importante: tanto no Brasil, como em muitos países, comete-se o erro de aplicar no mini voleibol a mesma metodologia que conhecemos, aplicada aos adultos para treinamento competitivo. E o que quer dizer com conhecimento, o mais profundo possível? Dentro de mais alguns dias espero estar lançando um novo site para auxiliar na solução para este estado caótico do ensino, especialmente da Iniciação. E não importa que desporto você pretenda ensinar. A proposta é online, voluntária, dirigida especialmente aos docentes que atuam em escolas e, especialmente, aos que não possuem qualquer intimidade com o voleibol. Pretendo oferecer toda minha experiência no setor e, principalmente, propor uma metodologia construída em parceria com o professor, segundo suas circunstâncias e objetivos. Para tanto, uma passagem da TEORIA para a PRÁTICA. E garanto o seu sucesso. Isto talvez contraste e o assuste, pois você referenda uma postura de conhecimento profundo. Estarei me baseando em teorias da aprendizagem, tal qual os pedagogos de plantão das universidades instruem, mas não ensinam. A pequena e sutil diferença é que estarei mostrando na prática como realizar e observar fenômenos manipuláveis, o primeiro passo para uma mudança de atitude frente ao problema.
(…) Pensar no que se faz. E para isto a segurança em corrigir, demonstrar e explicar os objetivos dependem deste conhecimento profundo. Chamo a isto “Aprender a Ensinar”. Muitos dizem Psicologia é ciência, mas ensinar é uma arte. A comparação do desempenho de um perito com o de um iniciante, por exemplo, revela não somente diferenças de rapidez, fluidez e precisão nas ações, mas também na estrutura da percepção, memória e operações mentais dos envolvidos. A partir deste ponto de vista, os atos de aprender a aprender, pensar e comunicar-se são explicados em função da aquisição de diversos tipos de perícia. Este me parece um caminho que devamos percorrer quando estabelecemos um planejamento para ensinar um indivíduo ou grupo de pessoas. E Vigotski nos dá uma ajudinha neste processo com uma ferramenta muito preciosa, a zona de desenvolvimento proximal.
Em outra ocasião falaremos dela.
