Por Roberto Affonso Pimentel, em 16-01-2013.
Diz-se que cada caso é um caso, e que proceder a comparações é quase sempre inviável para seguirmos adiante com soluções caseiras. No Brasil, em apenas 50 anos, a expectativa de vida aumentou 25,4 anos e passou de 48 para 73,4, segundo dados do censo 2010 do IBGE. Além de viver mais, os brasileiros estão tendo menos filhos. O número de filhos médios por mulher diminuiu de 6,3 descendentes para 1,9 no período entre 1960 e 2010. O reflexo dessa tendência é um envelhecimento da população. Vejamos o caso japonês, que não conheço, mas chegam-nos notícias preocupantes para a sua sociedade. Enquanto cuidam de seus idosos, imagino que a cultura ocidental tenha afetado em muito a vida dos jovens japoneses, inclusive no pós-guerra, com a ocupação de tropas americanas até hoje criando problemas por lá. Tomara que o Edison possa nos esclarecer e desmentir as notícias. O Japão é o povo com maior expectativa de vida do mundo. O fenômeno é geralmente atribuído à dieta saudável. Em contrapartida, tem uma das maiores taxas de suicídios, especialmente entre jovens entre 25 e 29 anos de idade. Segundo a Organização Mundial de Saúde, um milhão de pessoas se suicida todos os anos. “Dentre os países desenvolvidos, o Japão é o que apresenta a maior taxa. Na era Showa (1926-1989) chegou a ocupar o primeiro lugar nesse ranking e mais tarde ficou conhecido como Reino dos Suicídios” (Jisatsu Ookoku).
Colhi no site do Terra (8.1.2013), sob o título Adolescente japonês se suicida por sofrer agressões do técnico: “Um estudante japonês cometeu suicídio após sofrer repetidamente agressões físicas por parte de seu técnico de basquete, informou a imprensa local nesta terça-feira. O menino de 17 anos se enforcou em seu quarto dois (dias) antes do Natal e deixou um bilhete dizendo que havia se matado depois de ser agredido pelo técnico, cujo nome não foi mencionado. O técnico de 47 anos admitiu ter batido no menino e pediu desculpas à família. Agora ele está sendo investigado pela polícia. O Japão, com uma população de 128 milhões de pessoas, tem uma das mais elevadas taxas de suicídio do mundo, com mais de 30 mil pessoas tirando a própria vida por ano. Desemprego elevado, problemas familiares e problemas de saúde são citados como os principais fatores para o suicídio”. Lembro-me que no apogeu do voleibol japonês (campeões olímpicos em 64 e 72) era comum o técnico esbofetear as atletas durante os treinos, inclusive em estádios fora de seu país, o que consternava os observadores. Parece que a moda está voltando e, agora, para o lado masculino, com consequências trágicas. Concluindo: seria o Japão, um país cheio de velhinhos, capaz de conscientizar seus jovens?
Enquanto isto vamos nós aqui tentando construir um mundo melhor para todos. Creio que deveríamos realizar uma campanha nacional (entre tantas) para a remodelação de nossas calçadas, agora também ocupada por veículos. Um bom exemplo é Florianópolis (SC), em que percorrer alguns poucos metros é sacrifício até para os jovens, que dizer para velhinhos, cadeirantes e indivíduos com necessidades especiais. Ônibus e metrô virão a reboque (perdôem-me o trocadilho).
Por Edison Yamazaki, em 18-01-2013.
Roberto, você tem toda razão. Cada caso é um caso e as comparações são, normalmente, impróprias. Nesses últimos vinte anos, sempre que estive no Brasil, percebi um grande descaso com os idosos pelos setores público e privado. Guias rebaixadas, locais apropriados nos estádios e ginásios esportivos, banheiros, elevadores, escada rolantes, áreas de lazer, academias etc. Tudo funcionando maravilhosamente bem, só que não para os idosos. Pode ser que não seja descaso, apenas uma maneira diferente de ver as coisas, pois com tantos jovens para comprarem seus produtos, seria realmente raro alguém pensar nos velhinhos. Talvez seja isso que movimente a economia por enquanto. Mas e o futuro? Visitei várias academias e não vi uma só aula específica para o pessoal da terceira idade, enquanto que aqui o instrutor para essa turma tem no mínimo 50 anos, pois nada melhor do que receber instruções de um professor que já viveu a sua juventude e entende o que o cerca. Já pensou esses senhores acima dos 65 anos tendo aulas de fortalecimento muscular com um professor de 23 anos? Mas caso exista uma classe de veteranos tenho certeza de que o professor não tem mais de trinta.
O Japão é recordista em suicídios e na expectativa de vida. A morte por aqui possui outro significado, talvez por questões culturais e/ou religiosas. Morrer não é feio nem doloroso. Lógico que todos sentem a perda de um ente querido, mas a visão sobre a morte é radicalmente diferente do Brasil. Por acreditarem numa outra vida após a morte, os japoneses colocam no altar em respeito ao morto, além de flores, guloseimas e outras iguarias que o falecido gostava. É bastante comum ver sucos, chocolates, refrigerantes, biscoitos sendo oferecidos ao espírito que eles acreditam estar próximo. Por isso, tirar a própria vida tem um contexto diferente, apesar de trágico.
O Japão não possui cultura esportiva competitiva. Utilizam o esporte como meio de promover a saúde e bem estar, razão de tantos eventos voltados à população. Na área competitiva, o país ainda engatinha. Mesmo os medalhistas olímpicos não são profissionais como se vê nos países ocidentais. Os atletas são funcionários comuns de algumas empresas que o cedem para representar o país. Muitos trabalham em escritórios e possuem algumas regalias por serem atletas. Assim, podem viajar e se ausentar por longos períodos sem perderem os respectivos empregos. Atletas 100% profissionais somente os do futebol e os estrangeiros de todas as modalidades.
Com a hierarquia rígida, os abusos dos mais velhos ou em situação hierárquica superior é bastante comum. Assim, os mais jovens é que limpam o chão, varrem os corredores, lavam os banheiros, arrumam os uniformes dos mais velhos e fazem todo trabalho pesado de uma escola ou empresa. Nos casos entre alunos e professores tudo é ainda mais terrível porque os professores possuem a imagem imaculada de portadores do saber. Os treinadores de todas as modalidades esportivas nos ginásios e colégios não são professores de Educação Física, e sim professores de outras cadeiras como matemática, física, estudos sociais, etc. A razão para isso é que as escolas obrigam seus professores a abraçarem um esporte e eles escolhem o esporte que gostam e não necessariamente que entendem, com agravante de não estarem preparados para lidar com a vida esportiva dos alunos, muito diferente de estar sentado numa carteira de frente para a lousa. Como eles exigem obediência cega, aqueles que resistem são maltratados até que desistam. Entre esses maltratados, alguns buscam o suicídio.
Tudo isso acontece porque a cultura japonesa valoriza demasiadamente o esforço, a entrega, a abnegação em detrimento dos resultados. Isso significa que vencer ou perder se esforçando para vencer tem o mesmo valor. Só que no mundo atual quem vence é o primeiro e quem perde, apesar do esforço, pode nem subir ao pódio.