Ensinar Vôlei e Futebol, que Diferença?

Curso para professores e ex-atletas de vôlei de praia, CBV.

Será que um técnico de futebol – Guardiola, José Mourinho, Carlos Alberto Parreira – conseguiria conversar sobre metodologia de treinamento no voleibol com o Bernardinho ou José Roberto? E, ao contrário, estes últimos seriam capazes de analisar um treinamento ou comentar uma partida de futebol? E todos eles, e VOCÊ que me lê neste momento, o que teriam a dizer sobre o treinamento de FORMAÇÃO de atletas, não importa o desporto? Salvo raríssimas exceções, quem sabe o que está realizando com os jovens? Será que o ensino universitário, o cursinho ou a própria prática são suficientes para um bom desempenho do orientador?

Faço parte de uma Comunidade de Esportes Virtual (CEV) que congrega milhares de professores e interessados constituindo-se no maior Fórum no Brasil. Ali são expostas notícias, comentários, dúvidas, de forma democrática e elegante, que deixam a todos confortáveis para o debate. Aliás, iniciei-me no CEV para só então criar algum tempo depois o Procrie. Foi uma excelente escola para mim. Por estes dias (11/jan.2012) mais uma vez veio à baila o assunto ventilado em relação ao jogo Barcelona e Santos pelo mundial de clubes. Agora, diretamente ao assunto “Aproveitamento de  Juniores nas Equipes Profissionais”, postado por Daniel A. R. Koscak. Eis a seguir nosso diálogo bastante frutuoso.

Daniel Koscak – A equipe campeã do mundial interclubes da FIFA 2011, esse time do Barcelona que enche os olhos dos espectadores, nos faz pensar sobre o aproveitamento das categorias de base, na equipe principal. Um time que possui mais da metade de seus atletas titulares oriundos das categorias de base, é algo para se impressionar e se seguir o modelo. Ainda mais quando se trata de um modelo adotado há mais de 30 anos, e que vem apresentar seus resultados no fim da década passada e início dessa década, e que contraria os princípios de nosso futebol nacional, o qual se discute a qualidade atual e o futuro em uma próxima Copa do Mundo. Apesar de termos equipes que investem de forma significativa nas categorias de base, a transição juniores-profissional em muitas delas não ocorre de forma adequada, a meu ver, colocando em xeque o desempenho e muitas vezes até o futuro de atletas com qualidade que são desaprovados na equipe profissional. Tome-se o exemplo da equipe do Corinthians, bicampeão mundial sub-17 vencendo a equipe do Barcelona em ambas finais. Não se veem os atletas serem aproveitados na equipe profissional, (o time campeão brasileiro em 2011 possuía como titular apenas o goleiro Julio Cesar formado nas categorias de base) ao contrário da equipe catalã. Fora a questão de que o lucro com atletas formados na base é muito maior do que se contratarem atletas profissionais. Não estou dizendo que não se deve contratar, mas o lucro quando o atleta vem da base é muito maior, e pode superar os investimentos feitos. Lembro-me da venda do zagueiro Breno ao futebol alemão, que na época rendeu aos cofres do São Paulo uma quantia que permitia construir mais de um CT como o de Cotia. Se for uma questão de modelo de gestão, e de cultura, ainda é possível mudar, pois talentos nosso país tem de sobra, e isso é indiscutível, mas hão de ser lapidados, e hoje em dia infelizmente (ou felizmente), somente isso já não é necessário para ser o maior país do mundo no futebol e vencer campeonatos.

Roberto Pimentel – (com base no livro “O código do talento”, de Daniel Coyle)

Qualquer discussão sobre o processo de aquisição de habilidades deve levar em conta um misto de descrença, admiração e inveja intensas que sentimos quando vemos um talento aparentemente saído do nada. É um sentimento que nos leva a perguntar: “De onde veio aquilo“? Como esses indivíduos, que parecem ser iguais a nós, de repente se tornam tão talentosos? Em seu livro Coyle recorre a um professor de matemática frustrado, Adriaan Dingeman De Groot, nascido em 1914, psicólogo holandês. Após alguns estudos, testes e experiências comprovou na prática que “a diferença entre alguém que compreendia uma linguagem e alguém que a desconhecia era uma diferença de organização”. Assim, a habilidade consiste em identificar elementos importantes e agrupá-los num sistema significativo. Esse tipo de organização em blocos maiores e carregados de sentido é o que os psicólogos chamam de chunking. A pesquisa científica tem mostrado como as habilidades são construídas por pedaços e também se aplicam às ações físicas, como um ginasta aprende exercícios de solo quando monta e interliga seus blocos, eles próprios feitos de outros blocos. Ele agrupa vários movimentos musculares do mesmo modo como agrupamos várias letras para formar qualquer palavra. De Groot publicou seu estudo em 1946, sem nenhuma repercussão. O trabalho do psicólogo holandês foi descoberto 20 anos depois por Anders Ericsson, que reconheceu De Groot como um pioneiro da psicologia cognitiva. Quer me parecer que outro holandês – Johan Cruijff – logo após o retumbante sucesso da metodologia empregada pela seleção de seu país em 1974 com o técnico Rinus Michels, dispôs-se a desenvolvê-la na formação de novos atletas a partir de sua instituição voltada para o futebol. Repare que o efeito mostrado pela equipe atual do Barcelona não exclui o talento, muito ao contrário, cria condições para que ele se manifeste e desenvolva, a partir da contínua posse de bola, uma vez que a equipe atua em bloco e determinada a impedir que o adversário jogue. Por outro lado, uma equipe que atue à base de dois ou três atletas (Santos) ficará impedida de efetuar suas principais jogadas, uma vez que não consegue neutralizar a eficiente marcação sob pressão em todo o campo de jogo. Possivelmente seja uma explicação por que o Messi não consegue atuar tão bem quando no selecionado argentino.  

“Cruijff construiu o edifício e os técnicos do Barça que o sucederam apenas trataram de restaurá-lo e reformá-lo”. (Josep Guardiola) “Se, atualmente, há no futebol jogadores polivalentes que podem atuar sem posição fixa no campo, sem prejuízo de suas atuações individuais, muito se deve a este genial craque e não menos a seu treinador no Ajax, Barcelona e na Seleção Neerlandesa, Rinus Michels”. (Wikipédia)

Como poderá concluir, basta lembrar ou observar ainda hoje como são instruídos os nossos jovens atletas. Aliás, parece-me que a Confederação Brasileira de Futebol instituiu um curso de técnicos de futebol que em dois meses (?) habilita qualquer indivíduo para a função. Este também um dos diferenciais na formação em qualquer esporte, pois não evoluem e simplesmente repetem as mesmas receitas dos nossos avós. Confira textos sobre o assunto também em www.procrie.com.br/: Habilidade vs. Talento, Como se Adquire Habilidades? (I, II), Como Ensinar, Psicologia e Forma de Treinar. Espero-o por lá com seus comentários.

Daniel Koscak Ótima contextualização Roberto, com certeza irei conferir o link que você me passou. O que ainda me dá certa esperança é ver que alguns treinadores do interior de SP tentam desenvolver tal sistema de jogo (Futebol Total), e posso acompanhá-los de perto, sem o medo de irem na contramão do que acontece de forma geral no futebol nacional. Talvez adotem tal sistema pelos bons resultados obtidos nos últimos anos, mas ainda é necessário discutir o sistema de forma mais ampla, não somente dentro das 4 linhas. Basta analisar certas questões como a ausência do regime de concentração como ocorre em nosso país, e outros tópicos que chegam a entrar no parâmetro cultural. Gostaria de aproveitar a oportunidade para perguntar se os estudos na Metodologia e Pedagogia da iniciação do voleibol, os quais você se refere em seu perfil, aplicam-se ao futebol e de que forma.

Roberto Pimentel – Daniel, e colegas professores ou não de qualquer desporto. A Pedagogia e a Metodologia pretendem descobrir princípios e normas aplicáveis à VIDA. Estão calcadas em teses que a Psicologia nos provê a cada momento. (In)felizmente não há verdades, mas trata-se de uma busca incessante. Assim, para entender e melhor aplicar seus ensinamentos, cabe a qualquer indivíduo que se propõe educar e ensinar outrem estar devidamente habilitado e instruído. Como verá após algumas leituras, não lhe basta possuir um diploma. Tenho certeza absoluta que tão pouco as faculdades de Pedagogia conseguem se sair bem nesta tarefa. É uma calamidade!

Veja no Procrie – www.procrie.com.br/novosumario/uma extensa relação de postagens. As mais remotas (final da relação) estão recheadas de assuntos pertinentes que tanto se aplicam ao voleibol como a qualquer outro desporto e, especialmente, a todas as condições de aprendizagem do conhecimento humano. Realizei palestras para estudantes de Física (UFRJ) sobre como “Aprender a Ensinar” e, para um grupo de professores, “O Marketing no Voleibol, como ganhar dinheiro” (Universidade Estácio de Sá e Univ. Gama Filho). Os princípios pedagógicos do matemático húngaro G. Pólya, tanto se aplicam às ciências exatas, como ao futebol, basquete e ao ensino de História e Línguas. Em “Lições de um Projeto, Perspectivas de Aprendizagem” (3 artigos) e “Teoria vs. Prática” (postados em nov./2009) há interessantes abordagens que podem nortear o início de qualquer trabalho com jovens. Há pouco, neste mesmo CEV (Comunidade Futsal, Iniciação Esportiva?), um colega nosso encantou-se com o Procrie e solicitou permissão para postar alguns dizeres em seu próprio blogue. Sinaliza-se, assim, a importância de leituras sobre Psicologia Pedagógica para exercer a nobre tarefa de um professor e até mesmo de um treinador. 

Visite também o sítio educacional PREZI no PROCRIE: http://prezi.com/9nhuhq5t7coh/procrie/

Formação no Barcelona

Desenho: Beto Pimentel.

Ensinar Voleibol ou Futebol?

Como alguns indivíduos que parecem ser iguais a nós de repente se tornam talentosos?

Aconteceram no Rio de Janeiro e em São Paulo, conferências sobre a Copa do Mundo de Futebol (2014) e as Olimpíadas (2016). Uma das emissoras brasileiras de Tv entre outras noticias, reportou rapidamente sobre as Formação – a escolinha – bem sucedida do Barcelona na Espanha. Agora mesmo, atuando com um time reserva – todos jovens promessas – a equipe venceu por 4 x 0 seu adversário na Liga dos Campeões. Soube que ela é dirigida pelo antigo craque holandês, Johan Cruyff, que atuou em décadas passadas pelo time catalão. Vejo na internet que o holandês criou uma instituição – Institute for Studies Desporto – no endereço http://www.cruyffinstitute.org/ . Sua missão é treinar atletas, ex-atletas e profissionais de esportes: “Nossos programas permitem que os alunos combinem suas carreiras desportivas e estudos e adaptar-se a todas as situações, transformando sua paixão por esportes em sua profissão, e construir um futuro produtivo para servir o bem comum do esporte e da sociedade. Educação é o nosso foco principal em um ambiente em mudança, quer contribuir para o esporte e a educação a longo prazo. Procuramos comungar e compreender as necessidades da realidade do esporte, de pessoas e organizações”. Ali foram formados diversos atletas como Messi, Xavi, inclusive os que constituem a base da seleção espanhola de futebol, campeã mundial.

Antes de tomar conhecimento desses fatos, há algum tempo, busquei formatar na AABB-Rio o Projeto de um Centro de Referência em Iniciação Esportiva (Procrie) no qual crianças e jovens treinariam sob esta nova metodologia sem a mínima preocupação de competições federadas. Assim estariam se exercitando no que Daniel Coyle denominou no livro O código do talento de Treinamento Profundo. Eu, ainda aprendiz, chamava de Treinamento de Qualidade que após a leitura e várias releituras considero a mesma coisa. Como diziam nossos avós, “fazer, mas fazer certo”, ou ainda, “treinar, treinar, treinar, mas corretamente”!

Desenho: Beto Pimentel.

A visão e metas do Procrie coincidem com as do Instituto Cruyff, uma vez que também nós estamos voltados para a Educação. O detalhe está na qualidade dos treinamentos e a não preocupação da competição federada. Esta, concebida como está, induz ao treinamento por adestramento, o que torna quase impossível qualquer reversão no ensino a posteriori. Os críticos, antes de conhecerem o método, já se arvoram a contestá-lo, baseado na premissa de que ao evitar a competição, o atleta não consegue desenvolver-se no controle emocional que a mesma proporciona. Esquecem-se de que há diversos meios de manipularmos tais situações e, além, se surgirem após um treinamento profundo, não terão consequências tão danosas, podendo ser superadas muito rapidamente com as condições técnicas já auferidas. É o exemplo referido no início desse texto (Barcelona, 4×0). E, hoje, pouco antes da partida decisiva do campeonato mundial de futebol entre Barcelona e Santos, me faz recordar que o clube brasileiro recebeu proposta nossa há algum tempo para desenvolvermos um Centro de Referência. Não recebemos qualquer manifestação!

Depois de implantado o programa de voleibol para atender inicialmente 260 crianças entre 8-13 anos de idade, sempre voltado para os aspectos educacionais do indivíduo, a pretensão seria ampliar a oferta de serviços e oferecer à criançada dois outros cursos no mesmo local: desenho e um coral. Mais à frente, ampliar para leitura, oratória e outros desportos, como o basquete e handebol. Teríamos ofertas para participação de professores, mestres e demais interessados nas pesquisas e no desenvolvimento das atividades. Estágios e residências pedagógicas para acadêmicos e professores de outras partes. Este blogue estaria cobrindo e informando sobre as atividades, recolhendo e codificando as ações com auxílio de especialistas. Os dirigentes da AABB concordaram com nossa explanação e esbarramos tão somente nem um aspecto simples: apoio financeiro para dar início aos trabalhos. Assim, a parte prática ficou no papel e, enquanto isto estamos a desenvolver aspectos teóricos pelo Procrie. Neste momento, passados dois anos, lutamos para obter recursos para a efetivação dos Cursos Presenciais, como vimos anunciando em alguns textos. Estaríamos oferecendo instrução para que os jovens aprendam a estudar, conjugado com todo o processo. Uma hora por dia de estudos bem dirigidos é capaz de formar pessoas bem formadas. Práticas culturais oferecidas concomitantes aos ensaios desportivos permitiriam um desenvolvimento pleno e sadio. Formados neste ambiente, criam-se condições para os jovens decidirem por suas escolhas de vida mais à frente. Eis um esboço do Programa de esporte escolar, englobando a competição e os conteúdos de ensino a serem discutidos com os docentes: 1) Teoria e prática: sugestões acerca da prática pedagógica; 2) Princípios pedagógicos que orientam uma prática de QUALIDADE; 3) Esboço de proposta escola/esporte. Vejam como é possível desenvolver um trabalho profundo a partir do texto a seguir.

Doyle observou que existe um padrão, uma regularidade na percepção do próprio talento por seu detentor que a torna característica do processo de aquisição de habilidade. Daí vem uma importante questão: qual a natureza desse processo capaz de gerar duas realidades tão díspares? Como esses indivíduos que parecem ser iguais a nós de repente se tornam talentosos?

Na sequência, o conceito de chunking. O que será isto?

Habilidade vs. Talento

Fonte: Google Analytics

Um agradecimento

Não por acaso, mas este é o 365º título postado nesta excelente ferramenta – um blogue – que estamos a usufruir desde setembro/2009. Estatísticas anualizadas nos remetem nos dois últimos anos a uma média de 15 textos/mês, que parecem estar ao agrado dos quase 63 mil visitantes que consultaram pouco mais de 112 mil páginas. Como podem aquilatar nos mapas, as consultas nos chegam de 96 países dos cinco continentes, sendo que o Brasil detém a primazia  com 56.629 visitas (90%), oriundas de 702 cidades. Além disso, colocamos nas nuvens o Prezi-Procrie em agosto p.p., que já acumula nesta data visitas de 800 internautas, resultado estupendo que agradecemos com muito carinho tanta generosidade e partilhamento das informações.

Ensinar Voleibol, Futebol, Futsal, existe diferença? 

Frequento um sítio – CEV – e muitas vezes me animo a conversar com os professores que ali depositam o seu saber, comentários e dúvidas. Foi assim que me imiscui em um proveitoso bate-papo com professores de futebol e futsal. Como todos sabem, em um Centro de Referência de Iniciação Esportiva são reconhecidas as técnicas para ensino do movimento, isto é, a metodologia e pedagogia são (ou deveriam) ser compatíveis a qualquer tipo de ensino, isto é, não só aos desportos. Sigam a cronologia dessa feliz experiência e no que redundou de imediato. Tentarei resumir algumas passagens para não cansá-los.

O tema proposto foi Talento: Formar ou Detectar.

Proposta, por Prof. Enio Ferreira de Oliveira – (…) Gostaria de propor esta discussão após ler o livro Código do Talento. Talento nós formamos ou detectamos? Acredito que o professor de Ed. Física tem uma atuação mais global; antes de detectar talentos ou mesmo formá-los, seus objetivos têm que estar focados em formar cidadãos que saibam buscar e manter com prazer, qualidade de vida e boa saúde. (…) Dentro deste contexto o profissional deve detectar talento natural, não creio em formação de talentos, creio que lapidarmos diamantes, (…) na realidade polimos aquilo que já era natural. (…) Contrariando os conceitos do livro citado, creio que talento se detecta, se descobre, para eu desenvolver habilidades não pode se confundir com lapidação de talentos.

Comentários, por Roberto Pimentel – Professor Enio. Talento, nós formamos ou detectamos? Mas o que é talento? (…) tendo em vista que li e reli a obra de Daniel Coyle, devemos colocar para os demais colegas que possivelmente ainda não tiveram contato com o autor (a edição estaria esgotada) o conceito do que seja talento. No rodapé da página 21, está consignado como ele conceitua o termo: “À palavra talento muitas vezes se atribui um sentido vago e repleto de conotações igualmente imprecisas, sobretudo em se tratando de jovens – a pesquisa mostra que ser um prodígio não é um indicador confiável de sucesso duradouro. Em nome da clareza, definamos talento em sentido estrito: a posse de habilidades repetíveis que não dependem do tamanho físico”. E continua, em tom de bom humor, “que me desculpem os jóqueis e os jogadores de futebol americano encarregados de interceptar os oponentes”. Na orelha pode-se descortinar todo o resumo desse trabalho: “Todos somos vencedores e talentosos, o segredo é praticar da forma certa!” E a obra nos ensina como. O que depreendo do livro é que ele acentua e propugna uma melhor qualidade no ensino em qualquer área do conhecimento – música, teatro, esportes, ciências, letras, arte – e nos dá a oportunidade de aquilatar o que neuro cientistas descobriram e ele pode constatar em suas andanças pelo mundo, inclusive aqui no país, na área de sua atuação, o futebol e futebol de salão (ver pág.25 e seguintes, “Como o Brasil produz tantos grandes jogadores”?). Pelos seus dizeres, parece não ter entendido que a teoria do Treinamento Profundo por ele defendida confunde-se com as aulas com qualidade e um propósito bem definidos que levem o jovem a se desenvolver naquilo que ele próprio escolheu para si. E, como tal, é um programa que qualquer professor pode desenvolver e aplicável à vida pessoal, aos negócios etc. É como enfatizam, um estudo fascinante que amplia excelentes formas de aprendizado. Em outras palavras, uma metodologia calcada na mielina. Estarei postando (…) algumas experiências a este respeito. Devo dizer que, mesmo sem conhecer a teoria, por pura intuição, exercitei-me nos estudos – matemática, português – e no voleibol da forma que ele defende. E, sem falsa modéstia, dei-me muito bem! Recomendo àqueles que almejam qualidade em seu labor que leiam e releiam o excelente livro. Foi muito bom você ter colocado tema tão extraordinário. Ele nos leva a uma outra questão: “o que vem a ser um bom professor”?

Comentário, por Enio Ferreira de Oliveira – Obrigado prof. Roberto, sua resposta é sim de uma contribuição importantíssima, eu li este livro emprestado de um amigo, tenho procurado para comprar ainda não o achei. Esta mesma discussão coloquei no meu blog e gostaria muito de sua contribuição, se for possível, temos tido lá, com vários professores, um excelente debate.

Comentário, por Roberto Pimentel no blog do prof. Enio – Sinto-me um intruso, fora do meu ninho, pois nada entendo de futsal e, de cara, vejo que o blogue é só para apaixonados pela modalidade. Entretanto, como sou curioso e recebi o convite para dar uma espiadinha no debate, devo dizer-lhe que me enriqueci com o que li. Todavia, como o debate acalorado situa-se no âmbito da Psicologia Pedagógica e Metodologia, imagino que devam firmar o conceito do que seja talento. Alguns colegas seus já manifestaram suas opiniões e, como disse um deles, talvez estejam dando voltas em círculo, dizendo a mesma coisa, porém com conceitos diferenciados. As conversas se tornarão alongadas e, talvez improdutivas. Neste caso, aconselho-os à leitura de bons autores sobre o tema. De minha parte, longe de me considerar um expert, entendi que o talento é algo que pode ser incorporado diariamente às suas habilidades – naturais ou não – independentemente das características genéticas. Assim, como apregoam os defensores do treinamento profundo, um indivíduo poderá se desenvolver em qualquer área do conhecimento humano desde que receba de seu instrutor a orientação adequada, no caso, o “caminho mielínico” de que nos falam neuro cientistas. A acreditar nisto, trata-se de o professor “saber como treinar o jovem para auxiliá-lo no seu desbravamento motor”. Considere-se, então, que haverá diferenças neste desenvolvimento entre os alunos, mercê de outros pré-requisitos a determinados fazeres. Mas, até aonde for possível, e dentro dos seus limites impostos pela natureza, ele se desenvolverá plenamente. Em outras palavras, necessariamente o aluno não tem que chegar ao máximo na carreira, mas alcançar o seu máximo! É certamente a posição mais difícil, que requer muito conhecimento e experiência, sendo imprescindível que o mestre conheça profundamente cada um dos seus alunos. Parabéns a todos pelo nível das discussões.

Comentário, por Samuel – (…) Se lermos detalhadamente, estamos andando em círculos, com conceitos diferentes, vamos marcar sim, seria uma boa estamos juntos no MSN ou no próprio Facebook. Professor Roberto Pimentel, muito obrigado por também acrescentar muito em nossa discussão e ontem em conversa com Vagner Cardoso tivemos umas coisas em comum na conversa, então assim vejo que todos nós pensamos mais ou menos igual sobre este fator talento, porém temos alguns conceitos que ainda são diferentes em alguns casos. Por isso foi muito bom o debate para termos a oportunidade de compartilhar os pensamentos e até mesmo de modelar melhor nossos conceitos.

Comentário, por Lucas – (…) Entendo que os talentos existam em todos nós. E que pessoas que não detém um determinado dom podem sim vir a desenvolver uma grande habilidade em determinada função se a ela for ensinada de maneira correta. Acredito que os talentos de nossos jogadores são especialmente aflorados devido à forma como o futebol e futsal são vivenciados em nosso país. Crescemos jogando na rua, no recreio, com bola de plástico, de couro… O jogador brasileiro é estimulado desde muito cedo, acumulando uma gama de experiências enormes, talvez daí o nosso elevado nível técnico. Por fim, gostaria de deixar claro que acredito que todos podem ser bons em algo, com mais ou menos dificuldade. Para os gênios as coisas apenas acontecem mais naturalmente do que para nós os esforçados!

Comentário, por Roberto Pimentel, no CEV – Devo informar aos participantes do debate que fiz uma visita ao blogue do prof. Enio e lá deixei impressas algumas considerações, especialmente no que se refere ao valor da obra citada, “O código do talento”. Agora, surge um comentário muito interessante do prof. Lucas: (…) Pessoas que não detém um determinado dom podem sim vir a desenvolver uma grande habilidade em determinada função se a ela for ensinada de maneira correta. Nesta acepção, quer me parecer que talento (que chamou dom) e habilidade se confundem e, então, passível de ser desenvolvido (podem vir a desenvolver…). E continua: (…) em determinada função (que poderíamos dizer para maior clareza, direção, escolha). Entendo que uma escolha do indivíduo para desenvolver uma determinada habilidade está relacionada com o seu objetivo em aprender algo, como matemática, tocar piano, jogar tênis, pintar, cantar etc. Acrescenta ainda uma condição: se for ensinada corretamente. Lembro que terminei meus comentários (ver acima) com a pergunta: “O que vem a ser um bom professor”? Posto que para ensinar corretamente, somente um professor experiente e capaz. Felizmente, temos no Brasil muitos bons professores, que irradiam saber e cultura, cativando os jovens e tornando os caminhos da educação menos tortuosos àqueles que chegam ao mercado de trabalho. Ocorre que as formas de ensinar – os métodos – podem não ser os mesmos, o que os diferencia aos olhos menos atentos. Apenas seguem caminhos diferenciados para alcançarem o mesmo objetivo. Além disso, o carisma que possam despertar no outro, a pedagogia, seus sentimentos em relação aos jovens e à profissão, ampliam essas diferenças, ainda mais quando sabemos todos que Ensinar é uma Arte. Assim, é importante que cada professor esteja convencido e sempre busque cada vez mais aprimorar-se nessa difícil arte.

Coyle nos propõe reexaminar o processo do treinamento que ele denomina profundo, graças às suas pesquisas, leituras, buscas, viagens pelo mundo. Suas conclusões não são verdades absolutas, mas nos impelem a pensar e a também pesquisar, uma vez que sabemos nada é definitivo em matéria de Educação. O treinamento profundo não se diferencia do treinamento superficial na percepção de quem os realiza; esta seria enganosa, ou uma ilusão de competência. O treinamento profundo tem como um de seus princípios a aprendizagem situada no ponto ideal (correto), isto é, no limite de sua capacidade, de maneira que force o indivíduo a disparar seus circuitos neurais adequados. Como criar a habilidade em alguém? O indivíduo já nasce com ela ou é passível de ser ensinada e desenvolvida?  E mais: Como ensinar a desenvolver uma habilidade específica? Finalmente: Como estabelecer o ponto ideal da aprendizagem? (conceitualizada por Vygotsky nos anos 1920 como zona de desenvolvimento proximal). Essas e outras questões poderão ser discutidas (no meu blogue). Estarei aguardando-os com especial carinho.

Comentário, por Enio Ferreira de Oliveira (no CEV) – Professor Roberto, Muito obrigado por sua participação no meu blog, tenha certeza que nos enriqueceu muito com suas considerações. Estive lendo uns textos no site recomendado por você e pude constatar o excelente nível e com certeza passo a ser um assíduo frequentador. Uma dúvida, eu citando a fonte e o autor, é possível transcrever alguns textos no meu blog? Se isto for possível, sempre que o fizer lhe informarei. Vou recomendar a todos os amigos que verdadeiramente se interessam por crescer na profissão de educador.

Comentário, por Roberto Pimentel (no CEV) – Prezados jovens, Imbuí-me de uma missão (www.procrie.com.br/quemfaz/) cuja ferramenta imprescindível é a web. Desde que me aposentei (1991), sempre manifestei meu desejo de conversar com novos professores sobre a Arte de Ensinar, buscando oferecer-lhes mais alternativas para suas ações. Não encontrei eco na minha cidade, Niterói, confirmando-se o aforismo ninguém é profeta na sua própria terra. Ocorre que, dois anos depois de lançar o Procrie na internet, ocorreu uma espetacular mudança comportamental entre os meus pares niteroienses, pois já formam um grande contingente de visitantes. Que bom! A esse respeito, vejam o texto intitulado O Professor e o Missionário. Passarão a entender que estou aqui para servi-los no que me for possível. É claro que tenho demasiadas limitações, mas nada me assusta quando se trata de poder contribuir com uma palavra ou mesmo o meu silêncio respeitoso diante da fala de alguém. Quero estar próximo de todos. Sintam-se à vontade para usufruírem a melhor maneira que lhes aprouver desses escritos, muitas vezes sem muita valia, mas que encerram profundo sentimento de generosidade e carinho com a missão de ensinar a outrem. Só recomendo que tenham o cuidado de aprender interpretar e criticar as ideias dispersas entre tantas linhas. Assim, para uma análise do que vimos realizando, sugiro uma viagem pelos títulos do Novo Sumário, com uma sinopse das postagens. Sei que é muita coisa, mas vocês podem se programar e fazer um pit stop para, em outro dia, recomeçar a caminhada. Ter uma visão global do Procrie é recomendável, pois terá mais confiança (ou não) no autor. É o que se deve ensinar às crianças quando tomam da prateleira um livro desconhecido: examinem o sumário e, se houver a orelha, os comentários sobre a obra e o autor.

De futuro, certamente gostaria de saber de que forma soam aos seus ouvidos as mensagens registradas e, mais ainda, como poderia auxiliá-los nos seus trabalhos diários e planos de vida. Assim, qualquer manifestação no site, não importa o seu teor, é enriquecedora e cativante para o autor. Sem os comentários, cria-se um vazio muito grande e às vezes, desconcertante, pois sobrevém a indagação: “Será que estou agradando”? Ou, ainda, “de que precisam os novos professores”? Vocês são o motivo de eu estar por aqui. Agradeço por me confiarem o seu reconhecimento na arte de servir ao próximo.

Boas leituras.