Intercâmbio Brasil e Portugal (II)

Como Evoluir com Novas Ideias

A participação de todos – professores, treinadores, pedagogos, agentes educacionais, administradores, incluídos agentes de marketing – é imprescindível. Efetuar um planejamento pressupõe estabelecerem objetivos a serem cumpridos e, passo a passo, reformular suas diretrizes. Quem poderá fazê-lo?

Vocês mesmos devem buscar e certamente encontrarão as soluções apropriadas, não esperem que os dirigentes façam-no. Apresentem a eles um plano de metas a serem cumpridas e tratem de proceder a uma auto gestão, tornando-se autônomos e construtores do próprio fazer com o mínimo de conotações políticas. No Brasil é permitida a criação de Ligas desportivas, independentemente das federações estaduais (o futebol tem a “Liga dos 13”). E em Portugal, o que diz a lei? Ao que percebo pelas críticas no sovolei e pelos Anais do Congresso Desportivo Nacional português (2005-2006), os dirigentes de modo geral são muito criticados e apegados ao poder.

Educação Motora. Não conheço uma cartilha de receitas que possa ser usada para educar todas Mas crianças da mesma forma. Embora as crianças compartilhem de semelhanças básicas, as metodologias conhecidas sugerem que o professor deve responder às ideias únicas de cada criança de uma forma flexível. O que se pretende fazer é comunicar uma forma de pensamento sobre crianças e ações de modo que os professores sejam capazes de inventar suas próprias atividades, isto é, serem criativos, e não repetitivos aplicando técnicas de adestramento. Salienta-se ainda que os princípios gerais de ensino que delinearem devem sempre ser adaptados por cada professor a um grupo específico de crianças num determinado tempo, evoluindo passo a passo. E observem que essas técnicas podem ser utilizadas para quaisquer atividades desportivas.

Subsídios Pedagógicos para a estruturação das atividades:

  • Centralizar esforços na invenção de atividades que permitam às crianças agir sobre o material empregado – bolas, redes e principalmente outros objetos –, e observar as reações ou transformações. Esta é a essência do conhecimento físico, onde o papel das ações do sujeito é indispensável para o entendimento.
  • Desenvolver a autonomia: as crianças aprenderão a manipular os mais variados objetos e a atuar com eles, construindo suas próprias experiências.
  • As crianças são curiosas; levá-las a comentar e a questionar é uma excelente técnica pedagógica na promoção da autonomia. Lembrem-se de que não são as respostas que movem o mundo, mas as perguntas.
  • Considerar que a importância dos erros não deve ser negligenciada, visto que um erro corrigido é frequentemente mais instrutivo que um sucesso. Tirar proveito pedagógico em cada situação.

“A instrução, ou transmissão do conhecimento cumulativo do passado – “quem aprendeu a andar de bicicleta não esquece jamais” –, tem um lugar legítimo na educação do indivíduo. Isto é, deve haver uma forma indireta de ensinar que se entrose com, e apóie a construção material do conhecimento que se iniciou na infância. As ideias iniciais a serem apresentadas são apenas o começo de uma tentativa de desenvolver tal forma de ensino. Dentro em breve, espera-se, mais educadores se aprofundarão em pesquisas de causalidade. Não se pode esperar que a autonomia de um indivíduo se desenvolva totalmente se a educação foi limitada aos anos iniciais de sua formação. O uso de uma metodologia ou teoria significa mudanças drásticas na concepção do professor sobre o processo educativo. Quando o foco do ensino desvia-se do que o professor faz para como a criança constrói seu próprio conhecimento, o centro da sala de aula não mais será a matéria ou o método de ensino, e o pensamento do professor sofrerá uma revolução semelhante à revolução de Copérnico. A fim de estimular a autonomia, os professores  terão que parar de tentar enquadrar o indivíduo em um molde. A ideia é produzir adultos com mentes inquisidoras, críticas e inventivas. Também acredita-se que os formandos em tais escolas tenham maior probabilidade de continuarem aprendendo e se desenvolvendo pelo resto de suas vidas”. (Implicações da teoria de Piaget)

Autonomia. Finalmente, pode ser útil mencionar que à medida que observamos os professores começarem a usar novos métodos de ensino, percebemos algumas vezes duas fases iniciais de mudança. Uma na qual eles se sentem paralisados na sala de aula. São frequentes comentários como “Eu era capaz de ensinar sem pensar no por que eu estava fazendo o que fazia”. Uma segunda reação posterior é tentar muitas intervenções. Isto parece originar-se da nova consciência dos professores da análise racional combinada com o velho hábito de ensinar falando. Com a experiência, geralmente o professor torna-se capaz de descentralizar-se e pensar mais em termos do que as crianças estão pensando, e essa descentralização resulta em uma intervenção mais adequada. Dizia eu durante aula numa universidade, “Faço-me criança enquanto produzo a aula”. 

Conclusão. Quando o professor supera as fases iniciais de reconstrução de sua forma de pensamento sobre o ensino, ele encontra um novo estímulo e uma nova confiança que provém da sua utilização dos instrumentos teóricos adequados para a análise de sua prática de ensino. Enfatizo que os relatos das atividades apresentadas em diversos momentos do meu blogue não são modelos para serem seguidos pelos professores. Eles são apenas algumas formas pelas quais em momentos específicos tentei usar a teoria com um grupo de indivíduos (crianças, jovens ou adultos). Portanto, os professores devem transcender essas ideias construindo por si próprio formas de aplicar os princípios esquematizados segundo a orientação pedagógica da escola.

Metodologia Italiana (II)

Progressão do Campo de Jogo… da Educação Motora ao Minivôlei

Contribuição de professores italianos constante de Manual da Federação Italiana de Voleibol sobre o Mini voleibol.

Aulas consistentes com exercícios na forma de contestes atraem muito mais adeptos para o jogo.

Características e regras. O minivôlei é um jogo coletivo praticado por duas equipes com dois ou mais jogadores num campo medindo 12m x 4,5m. Nas competições joga-se com três jogadores em cada campo (3×3) e, eventualmente, 4×4.

Organização e Material

O ginásio pode conter vários campos colocados lado a lado

A progressão parte do 1×1 passa ao 2×2. 

Material e equipamento: várias redes pequenas; giz ou fita adesiva.

 Aprendizagem … Transformando meios de informação em meios de comunicação.

Possibilitar que a criança atue, modifique e transforme a própria realidade, proporcionando técnicas de aprendizagem, auto-expressão e participação.

Estruturação da Atividade. O jogo é o instrumento principal em suas formas mais simples; com a progressiva aquisição da habilidade passa-se aos jogos mais complexos.

Unidades Didáticas. 10 Unidades Didáticas… Momentos de um Caminho

Metodologia. Elemento básico do jogo de minivôlei – Progressão didática dos sistemas de controle da bola -Progressão didática dos sistemas de controle e passe de bola – Progressão didática da equipe dos sistemas de controle da bola com o jogo preliminar da “Bola Segura” (2×2, 3×3) – Desenvolvimento das situações táticas – Domínio da bola em situações de aprendizado das habilidades motoras específicas do jogo.

UNIDADES DIDÁTICAS

UD – 1      Familiarização, conhecimento e manipulação da bola; treinamento e atividade lúdica.

UD – 2      Interceptar a bola; Desenvolvimento e estabilização; Treinamento e atividade lúdica.

UD – 3      Mudar a direção da bola; Treinamento.

UD – 4      Defender o próprio espaço; Treinamento e atividade lúdica.

UD – 5      Executar e utilizar no jogo o toque angular de levantamento.          

UD – 6      Interagir com o companheiro; Treinamento e atividade lúdica.

UD – 7      Definir como dividir o espaço e determinar a competência.

UD – 8      Definir um sistema de comunicação, verbal ou não.

UD – 9      Conectar o momento do saque com a sucessiva ação de defesa; Treinamento.

UD – 10   Definir um sistema de recepção do saque; Treinamento, arbitragem e como organizar torneios.

Objetivos das Unidades Didáticas

 Objetivo Geral “A” – Procurar não deixar cair a bola.        

Objetivos operativos:

  • saber contar os pontos
  • familiarização, conhecimento e manipulação da bola
  • interceptar a bola –  mudar sua direção
  • defender o próprio espaço –  atacar o espaço adversário
  • executar e utilizar no jogo o toque angular de levantamento
  • interagir com o companheiro
  • dividir e assegurar a responsabilidade pelo seu espaço
  • definir um sistema de comunicação verbal e não-verbal

Temas a serem desenvolvidos variando os sistemas de controle da bola:

  • presa e relançada
  • presa e golpeada
  • golpeada, segura e relançada
  • golpeada livremente
  • golpeada com movimento técnico apropriado

Objetivo Geral “B” – Aquisição de certa habilidade para evitar que a bola caia sobre o próprio campo; procurar enviar a bola para o campo adversário de modo a tornar mais difícil a interceptação.

 Objetivos operativos: 2 contra 2.

Tida como adquirida a capacidade de lançar ou golpear a bola do fundo do campo sobre a rede:

  • saber interceptar e passar a bola precisa ao companheiro
  • executar “levantamento” –  cobertura
  • saber interceptar e passar a bola
  • executar recepção – ataque
  • executar saque – defesa
  • executar bloqueio –  levantamento
  • definir um sistema de defesa

 Objetivos operativos: 3 contra 3

Tida como adquirida a capacidade de lançar ou golpear a bola do fundo do campo sobre a rede:

  • definir um sistema de recepção; comunicar-se em recepção
  • executar recepção – cobertura e preparação para ataque
  • executar levantamento – cobertura
  • executar ataque – cobertura
  • definir um sistema de defesa
  • como e aonde se posicionar em defesa
  • executar um bloqueio – levantamento  
  • interceptar e fazer a devolução de uma bola difícil e forte

Como Organizar um Torneio

 Considerar: o tempo; o número de quadras; o numero de alunos. 

Os jogos podem ser:

–   com 1 ou 2 sets, por tempo, quem totaliza mais pontos em 7min, 8min, 9min

–   com 1 ou 2 sets, terminando em 15 pontos

–   com 1 ou 2 sets e outra pontuação (9 – 10 – 11 – … pontos)

 Diagrama de jogos para 3 quadras e variado no de alunos.

Considerar: o tempo, o número de quadras e o número de alunos.

Os jogos podem ser:  com 1 ou 2 sets, por tempo, quem totaliza mais pontos em 7 min, 8 min, 9 min; com 1 ou 2 sets, terminando em 15 pontos; com 1 ou 2 sets e outra pontuação (9 – 10- 11 – … pontos). 

                          Diagrama de jogos para 3 quadras e variado nº de alunos

3 equipes         4 equipes          5 equipes         6 equipes 

  1 – 2                   1 – 2                  4 – 5                1 – 2

  2 – 3                   3 – 4                  1 – 2                3 – 4

  1 – 3                   1 – 4                  3 – 4                5 – 6

                              2 – 3                  1 – 5                1 – 4

                              4 – 2                  2 – 3                2 – 6

                              1 – 3                  1 – 4                3 – 5

                                                        5 – 2                 1 – 6

                                                        1 – 3                 4 – 5

                                                        3 – 5                 2 – 3

                                                        2 – 4                 1 – 6

                                                                                  6 – 3

                                                                                  4 – 2

                                                                                  1 – 3

                                                                                  5 – 2

                                                                                  6 – 4

(2 sets de 15)   (2 sets de 15)  (2sets de 11)  (2 sets de 9)

                                                             ou                   ou

                                                    (1 set de 15)   (1 set de 15)

Tempo previsto

1h 30’              2h 30’               2h 30’                   2h 30’

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Metodologia Italiana (I)

Introdução

Reporto-me a um trabalho de 1996 da Federazione Italiana Pallavolo (FIPAV), ” Mini vôlei, um Jogo”¹, um instrumento técnico-didático endereçado a todos os docentes, aos instrutores e animadores de qualquer entidade ou escola que se ocupe da Educação através do movimento e do esporte. O conteúdo é composto de uma série de unidades didáticas que serviram de instrumento, de estímulo e uma linha de ação para quem proporá aos seus alunos a atividade de Mini vôlei. Estarei apresentando um resumo da metodologia empregada e disponível aos interessados para dirimir dúvidas e descortinar novos caminhos.

Mini vôlei. O Mini vôlei é um jogo-esporte de situação, no qual afluem e se agrupam esquemas motores estáticos e dinâmicos, a capacidade condicional, a capacidade coordenativa, os aspectos da esfera cognitiva e emocionais. Esses concorrem, todos juntos, para conseguir novas habilidades motoras e para determinar o comportamento motor-relacional, que representa uma das formas de expressão de comunicação da personalidade do aluno. A criança, como pessoa, está no centro da atividade proposta por este livro: o aluno é o protagonista; a bola é um brinquedo; o jogo vem antes da técnica; e a  técnica se aprende jogando.

Estruturação da Atividade. O curso é predominantemente prático e usa o jogo como instrumento principal do trabalho. Partindo do jogo simples, com a progressiva aquisição da habilidade, passa-se aos jogos mais complexos. Com o sistema de 1 contra 1 pode-se jogar Mini vôlei desde a primeira aula. O professor, dado o pouco tempo disponível e os espaços frequentemente exíguos, deverá dispor de: uma boa organização da classe; a divisão dos grupos (1 contra 1,  2 contra 2, 3 contra 3); o emprego de rodízio de alunos nas funções de árbitro e “marcador de pontos”; o uso de elástico aonde não existe uma rede longa (25m, 30m, 35m …); a delimitação do campo com giz ou fita adesiva, utilizando medidas de modo funcional quanto ao objetivo a atingir. A organização da lição deve prever sempre um jogo que caracterize a própria lição. Cada jogo prevê a demonstração, aonde se emprega em linhas gerais o jogo. Às vezes pode-se também renunciar às explicações e mostrar o gesto de modo global; a aplicação,  aonde são individualizadas as dificuldades principais e assinaladas às crianças, ou com uma nova demonstração coletiva ou encarregando um colega da correção de outro. Essas fases devem ser breves e, adquiridas as habilidades simples requeridas, passa-se imediatamente ao jogo aplicado, que empenha  mais intensamente os alunos no aprendizado. Os alunos, além do comportamento técnico são também exigidos: no controle da pontuação; no controle do próprio campo; no estudo da posição do adversário, com o consequente desenvolvimento do nível de percepção e de aquisição de conceitos táticos elementares. Naturalmente, cada vez que se observam os erros, devemos corrigi-los e, eventualmente, com outros jogos específicos. A progressão  metodológica parte do 1 contra 1 para passar a 2 contra 2 e encerrar com 3 contra 3. Quando o grupo etário (da classe escolar especificamente) tiver experimentado os jogos base 1 contra 1, passar-se-á ao 2 contra 2, que representa o núcleo mais restrito possível de jogadores, mas contém já todas as características do jogo de equipe: a divisão do campo com o colega; a triangulação do passe; o levantamento para o ataque; a tática de jogo. Passa-se então e para concluir o ciclo, ao 3 contra 3 e ao 4 contra 4.

DA EDUCAÇÃO MOTORA AO MINIVÔLEI – 10 unidades didáticas: momentos de um caminho

O material que compõe as 10 lições provem de uma pesquisa conduzida sobre publicações e/ou produção direta ou indireta da FIPAV. Às vezes é também reportada a experiência original de algumas realidades locais da estrutura federal (Comitês Municipais) que autonomamente organizaram e geriram, nestes últimos anos a atividade do mini vôlei voltada para a sociedade esportiva e proposta ao mundo escolar como um serviço de suporte à atividade curricular da instituição. No ano do cinquentenário de sua fundação – ocorrida em 1946 – a Federazione Italiana Pallavolo  quer festejar recordando a sua história, mas olhando principalmente para os 50 anos futuros. E, então, a FIPAV retorna a uma linha que se havia enfraquecido para prosseguir com renovado impulso investindo ainda mais no setor promocional escolar e juvenil. Este breve guia está aberto às eventuais e sucessivas atualizações, numa ótica de formação cultural permanente. As unidades didáticas são 10 flashes de um caminho, uma idéia para trabalhar com as crianças, fazendo-as jogar  imediatamente em qualquer ambiente e com equipamento simples e facilmente encontrado. O material recolhido é também fruto de uma longa e consolidada colaboração com o mundo  da escola que frequentemente aceitou as propostas e os progressos da FIPAV reconhecendo nisso a originalidade, a renovação e o valor educativo.

¹ Tradução livre do autor e Floriano Salvaterra Neto.