O Professor e o Aluno, Métodos de Autorregulação

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Ilustração: Beto Pimentel.

Autorregulação, Descobertas, Compartilhar Conhecimento, Despertar Interesse, Emoções, Investigando a Memória, Metáfora do Andaime, Solução de Problemas.

Busca de Nova Metodologia

Diante de uma criança, faço-me criança!

Cúmplices

A perspectiva a adotar solicita a interação, a negociação e a construção conjunta de vivências que habilitem a criança e o adolescente aprenderem a linguagem proposta. Isso exige necessariamente, e sempre, um elemento de interdependência e da capacidade fazer descobertas acidentais. Leia mais sobre a cumplicidade entre professor e aluno em… Aprendizado Produtivo. 

Circuito do Ensino – sobre a importância e o papel a desempenhar pelos professores, além de um convite a pensarmos juntos. A esse respeito, gostei da campanha da revista Veja em incentivar indivíduos a serem mais esclarecidos:

Questione, pense. Coce mais a cabeça.

Mapa do território do aprendiz

A experiência nos diz que certo grau de incerteza, a possibilidade de se deparar com surpresas e a chance de descobrir e resolver novas ambiguidades é o que impulsiona e motiva tanto o ensino quanto a aprendizagem. A única maneira de evitar a formação de concepções errôneas arraigadas é a discussão e a interação, lembrando que “no discurso matemático, uma dificuldade compartilhada pode tornar-se um problema resolvido”. Jogadores excepcionais, por exemplo, treinam de maneira diferente e bem mais estratégica: quando falham, não atribuem esse fracasso à falta de sorte, nem culpam a si mesmo; têm uma estratégia que podem corrigir. Como ensinar ao aluno tais procedimentos?

Processo de autorregulação

Pela repetição pensada, com base na imagem que formatou, torna a realizar experimentos calculados de modo a descobrir o melhor caminho a seguir.  O objetivo é tornar sua ação a melhor possível consideradas suas possibilidades momentâneas. Em suma, as tentativas  – exercícios repetitivos – são indispensáveis desde que pensada sua busca do melhor desempenho. Nesse processo, a atuação do professor deve ser cautelosa e de muita observação sobre a evolução e conquistas do treinando.

Por que ir mais devagar dá tão certo?

Não importa com que rapidez você faz a coisa, o que vale é quão devagar você consegue fazê-la sem errar.

O modelo teórico da mielina fornece duas explicações. A primeira, é que proceder devagar nos permite atentar mais aos erros, aumentando o grau de precisão a cada disparo – e, em se tratando da produção de mielina, a precisão é tudo. Como dizia o técnico de futebol americano Tom Martinez, “não importa com que rapidez você faz a coisa, o que vale é quão devagar você consegue fazê-la sem errar”. A segunda explicação é que proceder lentamente ajuda o indivíduo a desenvolver algo ainda mais importante: uma percepção prática da arquitetura interna de determinada habilidade – a forma e o ritmo dos circuitos interligados para realizá-la. Por quase todo o séc. XX especialistas acreditavam que a aprendizagem fosse governada por fatores fixos como o Q. I. e os estágios de desenvolvimento. Barry Zimmerman, professor de psicologia na City University de Nova York, desenvolveu estudos pelo tipo de aprendizagem que acontece quando as pessoas observam, julgam e planejam a própria atuação, ou seja, quando ensinam e supervisionam a si mesmas. Chamou-a de AUTORREGULAÇÃO.  Leia mais Como Treinar?

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Desenho19 reduzido

Experiências vividas pelo autor 

1. Ensinar matemática – Um adolescente (14 anos) que queira se aprimorar na matéria deverá propor-se a frequentar aulas regulares durante algum período com seu professor. O método a empregar no ensino não seria diferente ao exposto acima. Inicialmente, após  avaliação sobre o que sabe o aluno e seu interesse o mestre desenvolverá um programa em que a cada nova instrução o aluno se exercite intensamente buscando autonomia de pensamento lógico. Para tanto, os problemas devem ser escalonados segundo seu desenvolvimento atual em escala ascendente de dificuldades. Cabe ao mestre acompanhar as dificuldades que ele possa apresentar durante o processo e, se necessário, recuar na escalada pedagógica antes que novas questões lhe sejam apresentadas. Em suma, não deve acumular dúvidas neste processo.

Labirinto que ensina

Boa imagem que faço deste método está retratada em um pequeno brinquedo chamado Labirinto, constituído de uma peça quadrada de madeira contendo em seu interior uma configuração de labirinto, com orifícios regulares em cada caminho escolhido. Por ele, o indivíduo deve fazer passar uma bilha utilizando-se de dois controles manuais de inclinações da base de madeira. O objetivo é conseguir superar todos os obstáculos sem falta. Se a bilha cair em qualquer orifício o jogador deverá retornar ao início da tarefa, NUNCA do local em que errou.

Labirinto A

Transportando para o treinamento esportivo, observem como se comportam os professores ou técnicos de qualquer modalidade. Se o treinando erra no desenvolvimento de qualquer exercício ele é solicitado a realizá-lo a partir do seu início? A consequência desta opção na aprendizagem é imediata e pode ser traduzida por aquilo que expressou M. RYAN (EUA), treinador de atletismo por ocasião de um congresso mundial após uma pergunta que lhe solicitava exercícios próprios para facilitar a aprendizagem do salto com vara: Apenas o salto com vara prepara para o salto com vara e qualquer exercício que se lhe avizinhe, quanto mais próximo, tanto mais prejudica a aprendizagem.

Eis uma boa questão para coçarem a cabeça: “Como fica o transfer“?

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Brincando com o leitor… Experimente resolver o seguinte problema:

“Dois  amigos que não se viam há algum tempo se encontraram em uma rua e após e um deles (A) indagou ao outro (B): Quantos filhos você tem? B então respondeu: Tenho três filhos. Ao que A tornou a perguntar: Quais são as suas idades?  B propôs-lhe um problema: O produto das idades é 36 e a soma, o número daquela casa ali em frente (e apontou para a placa da casa). Após alguns momentos, B disse: Ôpa, preciso de outra dica (informação)! Finalmente A rematou: Tem razão, o meu filho mais velho toca piano. Quais são as idades?” (O Homem que Calculava, Malba Tahan)

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Na figura e fotos acima estão representados alguns momentos de metodologia a empregar no ensino de crianças. Inclusive criar nelas o desejo de conquistar objetivos. Curiosidade: a única menina na foto (primeira à esquerda, junto ao Giba) é a minha netinha, com 5 anos. Estaria ela se encaminhando para se tornar excelente atleta?

Para VOCÊ pensar… extraído do livro “O código do talento”, Daniel Coyle.

O Circuito do Ensino

Um professor afeta a eternidade, ele nunca sabe em que ponto cessa sua influência.

– Henry Brooks Adams

– Excelentes professores se concentram no que o aluno está dizendo ou fazendo e, graças a essa concentração e ao seu grande conhecimento do assunto, são capazes de enxergar e reconhecer o esforço hesitante e desajeitado que o aluno mal consegue articular na tentativa de um dia atingir a mestria. Uma vez identificado esse esforço, estabelecem um contato mais estreito com ele por intermédio de uma mensagem direcionada.

– Os grandes treinadores são uma espécie de “serviço de entrega” de sinais que alimentam e direcionam o crescimento de um determinado circuito neural, dizendo a esse circuito com grande clareza que dispare aqui e não ali. O trabalho do treinador é uma longa e íntima conversa, uma série de sinais e reações voltados para um objetivo comum. Seu verdadeiro talento consiste não num tipo de sabedoria universalmente aplicável que ele pode transmitir a todos, mas sim na capacidade elástica de identificar o ponto ideal no limite da habilidade individual de cada um e de enviar os sinais adequados, que ajudarão os circuitos a disparar na direção do objetivo certo, infinitas vezes.

– Um excelente professor tem a capacidade de sempre ir mais fundo, de perceber o que o aluno consegue aprender e ir até esse ponto. E a coisa vai se aprofundando cada vez mais porque ele pode pensar no tema de muitas formas diferentes e fazer incontáveis associações. Noutras palavras, são necessários anos de trabalho para construir os circuitos (mielinizar) neurais de um grande treinador, circuitos esses que constituem um misterioso amálgama de conhecimento técnico, estratégica, experiência e sensibilidade aguçada na prática e sempre pronta a identificar e compreender o ponto em que os alunos estão e aonde precisam chegar.

– Por que grandes treinadores tendem a serem pessoas mais velhas?

– Como lembra Anders Ericsson, talvez por mero acaso ou, quem sabe, simples reflexo de forças sociais (afinal é mais provável que crianças cresçam acalentando a ideia de se tornar craques como Ronaldinho no futebol, ou como Tiger Woods no golfe, que a de virar treinadoras quando adultas). Ou talvez a idade mais avançada dos treinadores seja decorrência dessa dupla exigência característica da profissão – além de adquirir extrema competência no campo de sua escolha, precisam aprender a ensinar de modo eficiente a habilidade necessária ao exercício profissional ou à atividade amadora naquela área.

– As palavras-chave na descrição acima são conhecimento, reconhecer e contato mais estreito.

Exercícios (I) – Dosagem e Exigência

Exercício e Dosagem

No processo educativo da criança, o mestre faz uso da repetição de determinados atos, transformando-os em hábitos e conferindo a eles propriedades características de movimento automático. Todavia, há que se entender que o exercício não é uma simples memória, mas uma de suas modalidades, e que cria uma predisposição para melhor realização. As dosagens de exercícios empregadas podem ser observadas pela produtividade do trabalho que, via de regra, é crescente. Manipulado, ele atenua ou acelera todas as modalidades de trabalho. A qualidade e a continuidade do exercício constituem o meio principal para tornar infalível a atividade do sistema nervoso. Por isso, nunca deixe de observar um novo hábito enquanto ele não se consolidar em você. Cada violação é comparada à queda do novelo, isto é, um recomeço. (D. Wood)

Aulas práticas na praia 

Considero importante que o professor administre e regule a dosagem e exigências para cada indivíduo. Realizei este trabalho nos treinamentos com um grupo de seis atletas na praia. Sempre que apresentava um novo exercício, além dessa percepção de realização individual, acrescentava o que me pareceu algo inédito para os padrões nacionais: a correção imediata e tempestiva do gesto, sem perder de vista a ação global. Assim, retornávamos imediatamente à nova execução do ensaio completo – repetição correta – mantendo o pensamento do atleta nos gestos, desde o deslocamento inicial ao toque final na bola. A consecução da tarefa viria quase que espontaneamente, como aconteceu. Lembro que os lançamentos eram dosados de acordo com o nível do atleta; entretanto, a execução deveria ser global, isto é, salto, seguido de deslocamento e toque correto na bola (que deveria retornar à quadra) com uma ou outra mão, dependendo do sentido dos lançamentos.

Nível de exigência. Esta atitude do professor, que podemos denominar nível de exigência (ou de tolerância), nada tem a ver com aspectos disciplinares, mas, ao contrário, calcada em conhecimento prático e científico. O atleta deve internalizar em sua memória o movimento completo. Por outro lado, imagine o treinador que permite e aplaude atuações não condizentes com o nível técnico desejado. Para todos os efeitos, trata-se de complacência e, talvez, insegurança no trato com atletas, especialmente os de ponta. Presenciei vários casos no Rio de Janeiro até com atletas medalhistas olímpicos de ouro.

Cuidados no aquecimento. Costumo colocar que “aquecimento é treino”. Tal como qualquer outro movimento em voleibol, o bate-bola que antecede algum jogo constitui-se em aquisição de hábitos. Se se permite a proliferação de maus hábitos há a ocorrência da queda do novelo, isto é, recomeçar todo o trabalho já realizado. Cito como exemplo as simples batidas de bola dois a dois, cada atleta próximo à linha lateral da quadra. Se verificarmos a posição das suas pernas concluiremos que há um retrocesso para hábitos sadios de situações de defesa durante a partida.

Exercícios-chave, educativos, transferência (transfert)

Ensina-nos Jean Le Boulch ao nos aconselhar o abandono das tentativas inúteis de procurar exercícios-chave com alto poder de transferência. Suas observações tenderam a mostrar que a aprendizagem adquirida relativamente a uma parte da situação não o é relativamente a esta mesma parte inserida num todo novo. Em outras palavras, “as partes reais do estímulo objetivo não são necessariamente partes reais da situação vivida pelo indivíduo”. A consequência desta opção na aprendizagem é imediata e pode ser traduzido por aquilo que expressou M. RYAN (EUA), treinador de atletismo por ocasião de um congresso mundial após uma pergunta que lhe solicitava exercícios próprios para facilitar a aprendizagem do salto com vara: “Apenas o salto com vara prepara para o salto com vara e qualquer exercício que se lhe avizinhe, quanto mais próximo, tanto mais prejudica a aprendizagem”. Esta é uma concepção a que nos associamos de bom grado, mas repõe em discussão a utilização dos chamados exercícios educativos que ainda precedem a aprendizagem de um gesto técnico complexo nas progressões de muitos instrutores.

Marketing  japonês. Quando do seu apogeu no voleibol (1964-75), os japoneses exportaram tecnologia para o mundo graças ao seu jogo rápido e fintado. Foi um sucesso de marketing. Muitas de suas equipes e seleções percorreram diversos países mostrando o porquê do seu sucesso. E com isso, tornou transparente um natural processo de assimilação. Em 1975, ainda no primeiro ano da presidência da CBV, Carlos Nuzman trouxe ao Brasil o japonês Yasutaka Matsudaira, principal responsável por este boom no voleibol. Realizou breve curso na EsEFEx, Rio de Janeiro. Nesta oportunidade, exibiu uma película de 20min de duração mostrando a história do sucesso de seu empreendimento. Particularmente, sempre tive pleno acesso a este filme e, se não me engano, somente eu. Até ao ponto de mandar fazer uma telecinagem – passagem para vídeo – a fim de tornar prática a sua exibição frequente em meus cursos ou palestras. Certa vez, em 1981, em pleno ginásio da AABB-Niterói, após uma partida amistosa entre as equipes principais masculinas do América e do Flamengo. Durante a exibição do filme, além de narrar, explicava aos atletas de ambas as equipes como os japoneses chegaram àquele nível de eficiência. Ainda em Niterói, duas outras palestras, num educandário, fazendo parte de uma aula de educação física, e após o treino da equipe juvenil do Clube Canto do Rio. Todavia até hoje não sei como professores e técnicos que participaram do curso ou viram o filme entenderam a sua mensagem. Durante muito tempo preocupei-me com o que poderia transformar-se em mais uma “receita” a ser copiada. Aliás, foi! Atabalhoadamente e, felizmente, por um ou outro treinador. A incorporação da técnica criada pelos japoneses só se concretizou realmente no Brasil a partir da profissionalização dos atletas de voleibol, em 1981-82.