Melhores Professores, Mais Talentos – Parte I

AutorBernardoBenéTabach1995

 

O ponto de partida

Daniel Coyle em “O código do talento” relata no início de sua obra a importância de os primeiros treinadores possuírem uma capacidade muito próxima do que seja AMOR. E reúne uma série de depoimentos, vindo o primeiro deles de Robert Lansdorp, técnico de vários tenistas campeões, como Pete Sampras, que declarou: “Não se trata de conhecer um talento, o que quer que isso venha a ser. Nunca saí à procura de alguém que fosse talentoso. Primeiro, é preciso trabalhar os fundamentos e logo se percebe para onde caminham as coisas”. A seguir, seguem-se outros comentários e ensinamentos de Coyle, pinçados do mesmo livro.

É isso o que quero ser!

— O que seria ignição?

São raros os indivíduos com o impressionante dom para desenvolver o talento em outros. Enquanto o treinamento profundo é um ato calmo e consciente, a ignição é uma espécie de acesso, algo que irrompe de forma agitada e misteriosa, um despertar. Enquanto o treinamento profundo gera um envoltório que cresce gradualmente, a ignição acontece mediante flashes ultrarrápidos de imagem e emoção, mediante programas neurais resultantes da evolução e capazes de utilizar nossas vastas reservas mentais de energia e atenção. Enquanto o treinamento profundo é um processo que avança a passos de bebê, a ignição é um processo que envolve o conjunto de sinais e as forças subconscientes que criam nossa identidade. São os momentos que nos levam a dizer “é isso o que quero ser”.

Comentário do Procrie

Entenda-se aqui a ideia de um BOM PROFESSOR nos primeiros passos do aprendiz, isto é, na sua Formação primeira. Esse despertar, fazer o outro crer no que lhe está sendo transmitido com paciência e sabedoria, cria uma cumplicidade que jamais será desfeita: aluno e professor tornam-se uno. E o aprendizado infinitamente mais rápido. Sempre se falou que há treinadores que sabem revelar bons atletas, mas que não sabem dirigir uma equipe em jogo; outros há que não se amoldam à Formação, mas conduzem suas equipes com maestria. E, ainda uma terceira categoria: os que têm estrela. Desse emaranhado de conjunções pedagógicas (e astronômicas) sobressai um fato condicionante na atitude global: os treinadores da Base são no Brasil os de menos experiência, iniciantes na profissão, com menores salários; os outros, com anos de estrada, vasto currículo de premiações, são os treinadores principais das agremiações a que prestam serviços e, invariavelmente, coordenadores de toda a área de voleibol. Assim, repassam para os inexperientes subordinados aquilo que aprenderam (e não discutiram) com os que os antecederam e, dessa forma, perpetua-se esse estado de coisas.

– Construa-se a si mesmo

– Como?

– Repetindo, repetindo, mas CERTO!

Segundo o psicólogo sueco Anders Ericsson, “se as pessoas são capazes de transformar o mecanismo que intervém no desempenho por meio de treinamento, então se trata de um espaço inteiramente novo. É um sistema biológico, não um computador; pode construir a si mesmo”. Ele estudou o processo do talento de um ângulo vital: mediu a prática. Ou melhor, media o tempo e as características dessa prática.

Comentário do Procrie

Ericsson assimilou e desenvolveu com experiências todo o mecanismo da memória de curto prazo, que acrescida à teoria mielínica divulgada por Coyle, nos inspira a ter cuidado quando ouvimos “o negócio é treinar, treinar e treinar”, pois se não for feito corretamente, o prejuízo estará instalado rapidamente nos treinandos. E isto se aplica a qualquer atividade humana de ensino.

Assim, definitivamente, há que se treinar, repetir muitas vezes, contudo de maneira correta, buscando a qualidade. Cansamos de ouvir “Pau que nasce torto não tem jeito”, ou “Aprendeu errado agora não tem mais jeito”!

Ensinar é uma arte

O americano John Wooden, intitulado o maior técnico esportivo (basquete) de todos os tempos, concordou que dois cientistas observassem seus treinamentos. Ficaram à beira da quadra para ver o mago conduzir o primeiro treino da temporada. Como ex-atletas, os observadores conheciam as boas e velhas ferramentas para conduzir bem um treino: exposições ilustradas com esquemas desenhados em quadro-negro, discursos de incentivo, punições aos indolentes como correr mais voltas, elogios aos aplicados. Então começou o treino. Não houve discurso, nem exposição em quadro-negro; não distribuiu punições nem elogios. Em síntese, não agia como nenhum técnico que já tivessem observado. “Julgávamos saber o que era treinar, preparar outras pessoas. Nossas expectativas não podiam estar mais equivocadas, tudo o que sempre associei ao trabalho de um treinador Wooden não fazia nada daquilo, disse um deles”.

Como treinava

Wooden passava um intenso circuito de exercícios de cinco a 15 minutos de duração e comandava os jogadores ao longo desse circuito com rajadas de palavras. O conteúdo dessas palavras era interessante, suas frases ou comentários instrutivos eram curtos, enfáticos e numerosos. Não era dado a sermões, nem discursos intermináveis e raramente falava mais que vinte segundos. Eis alguns exemplos:

1) Agarre a bola suavemente, você está recebendo um passe, não interceptando um;

2) Quique a bola algumas vezes entre arremessos;

3) Passes curtos, com velocidade; bom fulano é isso que eu quero;

4) Com força, conduzindo passadas rápidas.

Aos olhos dos observadores parecia um telegrafista muito ocupado. Aquilo era atuar como um grande técnico?

Comentário do Procrie

 

Nesse instante recordo-me do saudoso Benedito Silva, o Bené, em seus treinos no Fluminense F. C., no Rio, a exclamar vez por outra para um treinando: “Meu filho trate a bola com carinho, chame-a de meu bem!” Fazia-o nos momentos em que o treinando repelia a bola em qualquer direção, como se estivesse se desfazendo dela (no linguajar da época, dois toques e aresta).

Esse era um comportamento típico daqueles que ainda não possuíam uma boa técnica, especialmente no que refere ao toque ou à manchete. Com toda a sua intuição, Bené também exigia que os meninos tivessem uma técnica básica também nos ataques e, para tanto, insistia em repetições  com bolas altas, detalhe desprezado pela maioria dos treinadores após o sucesso dos japoneses no final dos anos 1960.

Na atualidade percebe-se ainda a ausência dessa técnica, especialmente entre as mulheres, e estamos falando do alto nível. Exceção às russas, também por seu porte físico, que mantêm a tradição.

Graças aos muitos detalhes e comentários já postados no Procrie, segmentamos esse artigo para poupar os leitores. Voltaremos mais adiante com o mesmo título (Parte 2) examinando o método de John Wooden. Espero que apreciem!

Nota…

CentroRexonaApós sua visita com a seleção brasileira feminina ao Centro de Formação na praia, Bernardo adquiriu com o Autor equipamento equivalente e introduziu a metodologia de Formação no Centro Rexona, em Curitiba (PR), junto ao governo do estado. Subsídios pedagógicos foram retransmitidos aos seus auxiliares, Hélio Griner e Ricardo Tabach, que já havia participado de cursos com o Autor. Algum tempo depois, Bernardo convidou-me para realizar palestra para professores e estagiários do Centro Rexona.

Já agora, prolifera no mundo a preocupação na Formação dos jovens, ponto de partida para indivíduos sadios e cônscios, mais do que a simples formação de talentos para a competição. Tomara que os pais e responsáveis,  professores e agentes desportivos assim o entendam e, principalmente, as Escolas de Educação Física de todos os lugares. Chamo a atenção dos leitores para o conceito de TALENTO; não confundir com EXCELÊNCIA. (já tratado em outro artigo).

Na foto, o estádio de futebol do clube Boavista F. C. no Dia do Mini Voleibol, cidade do Porto, Portugal: 2010 ou 2011?

 

 

E Deus Criou a Mulher

Atleta em posição de expectativa para recepção de saque. Foto: Internet.

 

Et Dieu… créa la femme

Este é o título original do filme francês de 1956, dirigido por Roger Vadim, com Brigitte Bardot no papel principal, reconhecido como o filme que lançou a atriz ao estrelato e a tornou o sex-simbol do cinema europeu por três décadas. Na década de 60, em sua vinda ao Brasil, a atriz refugiou-se nas praias de Búzios (Rio de Janeiro) que, a partir daí nunca foram as mesmas. Ficou conhecida no mundo inteiro e atualmente é um dos mais badalados balneários do Brasil tendo, inclusive, hospedado a última etapa do Circuito do Banco do Brasil de Vôlei de Praia neste fim de semana.

Vi em mktsport  um texto dos mais interessantes para mim por dois motivos: em primeiro lugar porque acabo de postar “A Mulher e o Voleibol”, dando início à série de textos que incentivem as mulheres à prática desportiva desde crianças. E, em segundo, descobri um blogue que certamente me instruirá a aperfeiçoar o que venho realizando neste espaço intergalático sem nada saber a respeito. Hoje mesmo enviei mensagem ao seu gestor e aguardo com ansiedade seus comentários e provável parceria. Vivendo e aprendendo!

O blogue apresentou uma foto que mostra o momento de concentração da atleta para a recepção do saque adversário. Sendo assim, permito-me reproduzi-la e acrescentar algumas outras do recente Mundial de Voleibol feminino, fotos estas divulgadas pela Fivb.

Aos responsáveis pelas meninas. A intenção é a de mostrar a plasticidade que envolve as cenas de um jogo de voleibol feminino. Movido por este espírito e lembrando o que já me dissera minha esposa há muito tempo, quando ainda treinava equipes femininas: “Todas as jogadoras de voleibol têm pernas lindas”! No que concordamos todos e isto dever ser um fato a ser explorado quando do recrutamento de novas atletas. Além disso, a Fivb ao criar grandes eventos com suas competições mundiais, esmera-se em produzir espetáculos que, sem dúvida, atraem milhões de indivíduos que os assistem. E, dessa forma, são atraídos para a prática. E o público mais propenso a tais convites é justamente o feminino. A preocupação da entidade chega ao ponto de indicar modelitos de uniformes para as atletas, inclusive no voleibol de praia. Para leitores atentos, comparem como faz diferença a vestimenta utilizada pelas atletas, por exemplo, no basquetebol, futebol, tênis etc.

Participação e interesse. Nos cursos de mini voleibol que promovia para 300-400 crianças em Niterói, Rio de Janeiro, invariavelmente 85% dos inscritos eram meninas. E assim permaneceu por longos anos, inclusive em outros cursos. A matéria do blogue acima referido exatamente nos remete a estes aspectos que devem ser bastante observados para os novos empreendedores. Recordo-me que um dos gestores da municipalidade refutou um projeto de minha autoria para desenvolver o voleibol em comunidade pobre. Argumentou que já possuíam projeto próprio, em que desenvolveriam o futebol entre as crianças e adolescentes. Insisti replicando: “Acho formidável! Entretanto, por que só para a metade da população infantil daquela comunidade”? Ele não entendeu e expliquei a seguir: “Não creio que as meninas estejam motivadas para a prática do futebol e, assim, ficarão à margem do projeto uma vez mais”. Não se dando por vencido, replicou: “Ah, mas já existem meninas interessadas no futebol”. Desisti! Poucos neste país percebem que “nem só de futebol vive o brasileiro”! E, assim, deixam de atender a uma demanda incrível. Um outro exemplo chega-me agora no projeto que estarei enviando ao Santos F. C. Identifiquei que na cidade de Santos há um percentual maior de público feminino e que parece não estar nas cogitações do clube explorar este segmento, pois segundo noticiário na mídia, devem limitar-se tão somente ao futebol feminino.

Então, vejamos algumas das musas que se exibiram no XV Mundial de Voleibol Feminino realizado no Japão.