Parece que sabemos todos o que fazer.
O problema é colocar em prática.
Identificando e Buscando Soluções (parte II)
– Por que técnicos não transmitem aos professores suas experiências acumuladas em seu trabalho?
– Não estaria embutida aqui uma ideia maravilhosa: o que o professor pode ensinar ao técnico?
Design thinking – Design instrucional – Engenharia pedagógica – Ingénierie pédagogique.
Técnico, Treinador, Professor(a)
– Que importância adquirem no ensino?
– Importância da participação de professoras.
Há pouco postamos artigo sobre o tema O que um Técnico Pode Ensinar a um Professor? Em que oferecemos debater o assunto de forma cordata, nada competitiva. Ali expusemos um exemplo do valor relativo dessa contribuição dada a disparidade (ainda) dos valores pedagógicos a serem almejados. O alto nível está muito distante da base, sendo determinante a busca de outros passos a serem percorridos.
Para os menos sensíveis à questão da Formação esportiva, basta acompanhar o noticiário da imprensa sobre nossas possibilidades nos jogos olímpicos/2016. Percebam que não é injetando dinheiro que se produz uma geração de atletas, há algo mais em que se pensar com objetividade e conhecimento. Como propalam bons educadores, não é o salário que torna um professor bom ou mau em sua tarefa de ensino. Lembro que em algum dos artigos já postados apontamos uma realidade conhecida no meio esportivo: “Há bons treinadores (técnicos) para dirigir uma equipe; outros, para treiná-las (treinador). Difícil é acumular”! Mas, e nas escolas? Quem deve despertar o interesse dos jovens na prática esportiva?
Como seria o diálogo, por enquanto impossível no Brasil, entre os grandes intérpretes e influenciadores dos interesses de um indivíduo: o técnico de seleção e o professor escolar, incluída a PROFESSORA? É notória a distância que os separa no cenário nacional, ainda que muitos reconheçam a necessidade de mudanças e a implantação de uma política de incentivo à Formação para qualquer desporto. Rios de dinheiro escoaram pelos ralos da incompetência e corrupção ao longo dos tempos e, enquanto políticos ou agentes desportivos defendem seus interesses, o espectro de que algum dia possamos divisar luz no final do túnel muitas gerações estarão condenadas ao ostracismo desportivo. Vejamos como exemplo um caso em competição internacional.
A seleção de voleibol masculina andou declinando na primeira fase da Liga Mundial recentemente concluída. Ao final, recuperaram-se e conquistaram um segundo lugar honroso. Mas naqueles momentos duvidosos de classificação, as previsões eram pessimistas e ainda persistem, a clamar por renovação, a inclusão de um cubano que atua no Cruzeiro, falta de patrocinadores, equipes que se desfazem, a Liga Nacional não é a mesma, etc. Como pode o técnico constituir e tornar uma equipe campeã se existem fatores contrários à renovação de valores? E ainda: em que condições desenvolvem seu trabalho e se há algum instrumento confiável de avaliação de seu desempenho? Não se criam possibilidades de estudos/pesquisas para divulgação e acompanhamento científico. Até onde sabemos, apenas um relatório, logo engavetado. Talvez pudessem parar de se queixar de que “não têm tempo para treinar este ou aquele jogador com alguma deficiência”. Ou mesmo, que nenhum treinador se apresentava para acompanhar os treinamentos das seleções.
Os dirigentes da CBV tinham um critério na indicação dos técnicos principais das seleções: a confiabilidade pessoal de seu presidente. O período seria “olímpico”, coincidindo com os quatro anos entre os Jogos, salvo algum acidente de percurso como ocorrido nas dispensas de Ênio Figueiredo (feminina, 1984) e posteriormente, na masculina como o coreano Sohn (1988). Atualmente, é de fácil conclusão que a eficiência – conquista de medalha – fala mais alto.
O treinador
Do dicionário extraímos os sinônimos: catedrático, docente, doutor, educador, instrutor, lente, mentor, mestre. Na prática, parece haver um consenso de hierarquia advindo de suas funções em uma equipe. Estaria logo a seguir do técnico e seu auxiliar mais direto, por isto denominado “auxiliar-técnico”. Todos eles, inclusive o técnico, podem ou não ser um professor de Educação Física. A prerrogativa principal é o diploma conferido pela entidade oficial do país de “técnico internacional”.
Talvez fosse bem melhor para o esporte nacional, que eles ouvissem os professores de Educação Física e, principalmente, suas dificuldades em fazer Esporte Escolar. E não dizer-lhes que nada entendem, pois “não são do ramo”. Este fato parece não se constituir problema para a Rússia, uma vez que por lá existem milhões de praticantes de voleibol que têm sua iniciação ou formação a partir das escolas. Se verdade, creio que devamos volver nossos olhares não para as causas apontadas acima, mas para as crianças, suas escolas e, principalmente, a formação profissional de seus educadores.
Muitos professores ainda acham que o ensino do voleibol é dificultoso, especialmente para crianças. Alegam dificuldades motoras, além das imposições da regra do jogo que impede conduzir (progredir) a bola e deixá-la tocar o solo: o toque deve ser rápido e está limitado a três intervenções por equipe. Outros, que não vale a pena treinar baixinhos, gordinhos, seria perda de tempo. E ainda, bom número de aspirantes à docência já têm um histórico esportivo que os condiciona à especialização precoce em seu magistério e, portanto, quase sempre adotado em suas aulas.
Essa cultura está enraizada desde os primórdios das escolas de Educação Física, talvez pela falta de conhecimento dos primeiros mestres de formação militar. E permanece latente no ambiente universitário, haja vista a oferta de oportunidades de emprego e o ambiente restrito do voleibol, especialmente na atualidade com o encerramento das atividades clubistas. Durante muitos anos, e talvez ainda hoje, mestres universitários apregoavam que o voleibol deveria ser ensinado posteriormente ao basquete, e a seguir, o handebol. Todavia, dada a falta de atualização daqueles mestres, o currículo jurássico das universidades, aliados à falta de interesse na melhoria do ensino e dos próprios alunos, estamos estagnados em matéria de Métodos e Pedagogia de ensino. Então, as aulas se resumem a rolar uma bola de futebol para aqueles que querem brincar, e dez voltas no campo para os que se recusam. Enquanto isto, na quadra ao lado, as professoras ensaiam exaustivamente o tradicional jogo de queimada.
– Quais seriam, então, as oportunidades de as crianças aprenderem a jogar voleibol?
Essas e outras experiências contribuíram sobremaneira para alicerçar uma vocação que estava latente há muito. Com a aposentadoria das quadras, demos início a estudos sobre a Psicologia Pedagógica, Metodologia e a execução de projetos em nível nacional. Vejam a seguir como a falta e erros de percepção e planejamento oferecem condições de a história se repetir, isto é, confundirmos ponto de chegada com ponto de partida.
Era Nuzman… 1975-1995 (História do Voleibol no Brasil, Roberto A. Pimentel, vol. II, pág. 207-208)
Peças de Reposição – (…) Bebeto apregoava (técnico da seleção, 1984) que o vôlei estava reduzido a uma elite e que isto poderia prejudicar a seleção brasileira nas próximas competições internacionais por falta de opções para o treinador.[…]
Para o então presidente da CBV, Carlos Nuzman, “o problema era mundial, pois nem a União Soviética conseguiu armar uma equipe com mais de uma opção tática. Prova disso é que ainda não havia substituto par ao levantador Zaitsev”. […] A atualização dos técnicos brasileiros aos métodos mais modernos de treinamento e às táticas adotadas pelas principais potências preocupava o dirigente. Ele não sabia explicar a falta de interesse dos treinadores brasileiros pelo trabalho que vinha sendo realizado nas seleções feminina e masculina: “Em oito meses de preparação, apenas dois técnicos, um do Piauí e outro do Ceará, se interessaram pelo trabalho do Ênio e do Bebeto. Nenhum treinador comparecia aos treinos das seleções ou demonstrava qualquer interesse pelo trabalho. Além disso, poucos participaram dos cursos internacionais promovidos pela CBV nos últimos três anos. Isso só prejudica a formação de novos treinadores”. […] Ao que parece, Nuzman não considerava que os treinadores interessados tivessem seus próprios afazeres, seus compromissos profissionais e que nunca houve incentivo da entidade em promover este particular; pelo contrário, percebia-se certo desprezo, desconforto ou má vontade em atender possíveis candidatos.
Até hoje nota-se uma rivalidade e uma “hierarquia” no ambiente do voleibol, gravados por um pretenso “saber maior” pelo fato de ter participado da equipe técnica de uma seleção brasileira. A tal ponto chegamos que, no primeiro curso para técnicos de voleibol de praia, um dos professores, que fora auxiliar técnico de seleção, dizia a um dos seus alunos, muito perguntador e crítico, que se aquietasse e deixasse de questionar tanto, pois “não era do ramo”, numa nítida posição de insegurança e prepotência, ambas as filhas do regime militar que aturamos por longos anos.[…]
O dirigente considerava-se “dono da verdade”, a ditar regras, esquecendo-se de que talvez tivesse pessoas ao seu redor para instruí-lo a respeito do assunto. Ou então, centralizador e ditatorial, menosprezasse qualquer alternativa contrária. E estamos à vontade para dizer isto, uma vez que, em 1984, convencemo-lo a dar início a um trabalho de renovação pela Base, com a construção de um Núcleo de Referência na AABB-Rio, que se irradiaria pelo país. Infelizmente foi abortado por ação de um conselheiro mais próximo.
Ora, se a FIVB se preocupava desde 1972 em despertar o interesse de crianças no esporte, tendo realizado inclusive Simpósio Mundial de Mini Voleibol (1975), por que não as suas Filiadas? O mesmo Nuzman, guindado à presidência do COB, continua a exercer sua influência não muito saudável sobre ditames de ordem técnico-pedagógico sobre o Ministério dos Esportes e da Educação, a nos dizer o que fazer em relação ao esporte escolar. Cremos que lhe falta um pouco de humildade e lembrar-se de que muita gente pensa neste país e que os professores escolares não são funcionários do COB. Continua achando que Jogos Escolares resolverão os problemas da Formação de Base. Puro jogo para a mídia e seus “fieis escudeiros” funcionários do COB.
Seria de se esperar que os gestores educativos permitissem e facultassem planejamentos em que os verdadeiros professores poderiam ensinar aos técnicos, invertendo a pirâmide a favor de milhões de indivíduos. Nos em nossa missão, na busca de uma arquitetura pedagógica em favor da Formação de nossos futuros atletas, e principalmente, cidadãos conscientes e íntegros.
Nota: Um dos técnicos de seleção brasileira que nos incentivou e apoiou em determinado momento foi Paulo Roberto de Freitas, o Bebeto, que em sua brilhante passagem na década de 80 pela Bradesco, facilitou o contato com o gerente esportivo da Associação no sentido de apresentar-lhe o projeto que pretendíamos implantar no Rio de Janeiro para a introdução do Mini Voleibol. Infelizmente, não avançou, talvez pela grande perturbação da implantação do profissionalismo no Brasil. Em um segundo momento (1984), o mesmo Bebeto conduziu a seleção a Niterói para uma exibição-treino no ginásio do Canto do Rio em favor da APAE. Um sucesso!
Além deles, dois outros: Paulo Emmanuel da Hora Matta, quando nos convidou a proferir aulas na UERJ em curso de Técnica de Voleibol (1981); e Célio Cordeiro Filho, na Gama Filho e Estácio.
Valor de uma Boa Formação
Em bate-papo informal entre amigos, logo após a missa de sétimo dia mandada rezar em Copacabana em sufrágio da alma de João Carlos da Costa Quaresma (março/2014), dizia-me Bebeto a respeito da Formação de atletas: “Como se pode fazer com que, p.ex., o Vissotto seja pelo menos um defensor regular? Ele jamais se sujeitaria a agachar-se e levar boladas no peito e cara”! Calei-me em consentimento à afirmativa. Contudo, o leitor que nos acompanha perceberá o valor de um bom ensino a partir da formação inicial. Poderão constatar que não basta formar seleções de infanto juvenis, juvenis, uma vez que se destinam tão somente a vencer as competições internacionais, especializando precocemente os atletas e, muitas vezes, levando-os além de suas forças físicas. Tais competições não exprimem uma estratégica satisfatória, haja vista os resultados quando avaliados custo e benefício. Vejam o exemplo a seguir.
– Atualmente, como treinam as seleções brasileiras de ponta no que se refere ao fundamento defesa?
– Tentamos produzir diálogo com ambos os treinadores das seleções principais, mas nada conseguimos… AINDA, pois não desistiremos!
Em Portugal, p.ex., houve época em que a Federação Portuguesa de Voleibol (FPV) realizava um programa de visitas regulares a algumas cidades em que implantara o Gira-Volei, equivalente ao nosso Viva-Vôlei, conduzindo também o treinador principal da seleção masculina para entrevistar-se com as crianças e professores. Só configuração para fotos!
Leia mais… Projeto Modelo para Formação de Base em Escolas








