Cursos de Minivoleibol

Foto: Fivb.

 Importância da Dúvida                   

No ensaio “A Dúvida” (Relume Dumará), o filósofo tcheco Vilém Flusser diz que “duvidar é um estado de espírito que pode significar o fim de uma fé ou o começo de outra. Em dose moderada, estimula o pensamento. Em dose excessiva, paralisa toda atividade mental”.                   

 
Cuidado! Valeria a pena copiarmos as receitas propostas pela Fivb ou darmos uma paradinha para  pensar? Nesse terreno, creio que pelo menos desde o Congresso de Leipzig (1972), que o Senhor Horst Baacke tem ingerência máxima nos aconselhamentos técnicos e gerais sobre ensino do voleibol. É uma pena que assim seja, pois muitos se curvam aos seus desvarios. Conheci-o em 1975, em Ronneby, Suécia, e assisti suas propostas de treinamento, inclusive um filme com providências táticas para as crianças alemãs. Será que é plausível para os nossos filhos?

Mini Voleibol. Bisbilhotando o site da Fivb por esses dias deparei-me com uma notícia que me chamou a atenção e fez por merecer este texto uma vez que me relembra experiências vividas em várias partes do mundo, especialmente em Congresso na Argentina (1984) e um Simpósio Mundial (1975) na Suécia. Em ambos os casos o assunto era idêntico: o ensino para crianças, isto é, o Mini Voleibol. Como tenho larga experiência no Brasil sobre o assunto, atrevo-me a expressar a minha opinião a respeito da Metodologia a empregar. Antecipo que sou totalmente CONTRA ao que apregoa a Fivb, leia-se H. Baacke, emérito presidente da Comissão de Treinadores, velho conhecido desde 1975, no 1º Simpósio. O texto é um press release que vem da Argentina. Como lá estive em 84, passarei a analisar alguns fatos interessantes para nosso aprendizado no que se refere à Metodologia a empregar na tarefa de ensino para crianças.                    

Argentina. Vejam o resumo e perdoem-me a tradução: “Nova iniciativa começa na Argentina – O evento é o primeiro de muitos na Argentina – San Juan, Argentina, 18 junho de 2010. A primeira Clínica de Voleibol para as crianças na Argentina visitas escolares Volley teve lugar na quinta-feira no Centro de Desenvolvimento de Voleibol em San Juan. O evento foi aberto pelo presidente da Federação Argentina de Voleibol Alejandro Bolgeri e Gabriel Tesoureiro Salvia. O projeto visa aumentar o conhecimento do esporte no país sul-americano que também irá sediar a fase final deste ano da Liga Mundial de Voleibol em poucas semanas. No fim de semana seguinte, com a duração de dois dias, a realização do FIVB Weekend, também em colaboração com a FeVA, reunindo crianças de 4 a 12 anos para jogos alegres de voleibol: 17 clubes atenderam ao chamado, formando 146 equipes e um total de aproximadamente 600 alunos, além de familiares e amigos compondo os 1.200 espectadores”.                              

Os argentinos “descobriram” o mini voleibol a partir de 1981, como se depreende dos anais da Confederación Sudamericana de Voleibol (CSV). Naquele ano o secretário da Comissão Sul-Americana de Treinadores, Miguel Salvemini, participou com outros cinco professores argentinos de uma reunião de quatro dias (30/6 a 3/7) em Roma sob os auspícios da Subcomissão Internacional de Minivoleibol (SCMVB), um ramo da Comissão Internacional de Treinadores (CIT) da FIVB. Os membros eram Gianfranco Briani* e Beniamino Pagano (Itália), Peter Duyff (Holanda), Gerhard Dürrwächter* (Alemanha), Lorne Sawla (Canadá), Jorgen Hyllander* (Suécia), assistidos por Horst Baacke* (alemão), presidente da CIT. A reunião foi presidida pelo professor Briani, presidente da SCMVB. Como saldo desse evento, ficou decidido entre outras coisas o estabelecimento de diferenças entre Curso e Simpósio, e que os Simpósios Internacionais seriam realizados  a cada três anos. Naquela oportunidade foi solicitado à Confederação Sul-Americana um curso internacional de mini voleibol a ser realizado antes de 30 de setembro de 1983. Além disso, como previsto, construíram uma “Cartilha” de procedimentos para as filiadas. Em dezembro de 1981 os argentinos realizaram o I Encontro Nacional de Mini Voleibol na cidade de Córdoba durante quatro dias em que, predominantemente, só constou de competições entre 37 equipes e 185 jogadores. Além de estatísticas do evento, nada mais constou do relatório. Pura e simplesmente os jogos entre crianças. Somente em 1984 (20/23 de setembro), realizaram o I Simpósio Nacional da modalidade em Buenos Aires para professores das diversas Províncias do país.                         

(*) Os quatro presentes ao 1º Simpósio Mundial de Mini Voleibol na Suécia, 1975. Além, é claro, do autor. O leitor poderá conhecer detalhes dos trabalhos realizados em diversos países nos Anais desse Simpósio publicado neste site em “História do Mini Vôlei” (vários).    

Congresso Argentino de Mini Vôlei, 1984. Com duração de quatro dias e contando com grande participação de professores de todo o país, embora predominantemente portenhos. O local escolhido foi o Centro Deportivo Nacional que contribuiu para acomodação dos visitantes, inclusive eu, convidado único enviado pela CBV. Dividir um alojamento com professores de diversas Províncias viria a se tornar num detalhe importante como verão mais adiante no relato, pois me proporcionou um contato mais estreito com professores do interior, com realidades distintas da capital. Um dos professores palestrantes era o técnico italiano Pitera. Ao que me lembre, só ele. Os demais, todos nacionais. Foram abordados diversos temas, até mesmo em consonância com a reunião de Roma. E, orientados pelos seus treinadores, um grupo de crianças constituído de atletas de clubes promovia a demonstração de ensino nas práticas. E aí é que chamo a atenção do leitor para o grande detalhe que poucos se preocupam: “A Passagem da Teoria para a Prática”.                  

Aguardávamos todos, éramos quase uma centena de professores, as aulas práticas com grande interesse. Dois professores se encarregaram de enunciar os exercícios aos jovens alunos e, portanto, já iniciados no esporte. Enquanto um terceiro explanava as reais qualidades e importância de tais e tais exercícios que iam se sucedendo rapidamente. Não me lembro quantas foram as práticas, mas o que me restou na mente é suficiente para convencê-los da inutilidade daqueles procedimentos. E o pior é que quebrou de forma insofismável qualquer esperança de aprendizado dos professores provinciais. Não sei se também à grande maioria de portenhos ali presentes. No alojamento consegui trocar palavras a respeito com três companheiros que, perplexos, diziam: “Como chegaremos a realizar tal façanha com nossos muchachos, tão pequeninos e frágeis? Nada do que vimos poderá ser colocado para nossas crianças”. No que concordei em tudo, pois os professores se aprimoraram tanto na complexidade dos exercícios, que se esqueceram que estavam tratando da metodologia da iniciação desportiva, isto é, como levar um indivíduo a aprender algum movimento e atuar junto com outros companheiros. Eles simplesmente se esmeraram em colocar exercícios os mais complexos possivelmente para impressionar a plateia. Puro exibicionismo de ADESTRAMENTO.                

Influência Desfavorável.  Nisto reside o que já tinha visto no 1º Simpósio, inclusive com diversos treinadores, o japonês Toyoda e o alemão Baacke. Felizmente, lá estava o melhor de todos, o também alemão G. Dürrwächter, a quem me associei na sua doutrina de “Aprender Brincando e Jogando”, título de um de seus livros publicados no Brasil.       

FeVA – Federación del Voleibol Argentino (ex- Federación Argentina de Voleibol). Muito tempo depois, em 2003, a Federação passou por sérios problemas que, inclusive, ocuparam o noticiário internacional, culminando com a intervenção da Fivb. Eis um resumo que consta do site da Federação argentina: “En agosto de 2003 la Federación Internacional de VolleyBall (FIVB) designó, para administrar de manera transitoria el voleibol argentino, a un denominado ‘Grupo de Trabajo’, formado entonces por Juan Ángel Pereyra, Eduardo Fernández, Miguel Marziotti y el Alejandro Bolgeri. A fines del mes de enero en la ciudad de Acapulco, México, el Consejo Directivo de la FIVB reconoció – ad referéndum del congreso de Porto, Portugal, en mayo -, a la Federación del Voleibol Argentino (FeVA) como único ente representativo del voleibol en la Argentina, hecho que fue rubricado por la Confederación Sudamericana de Voleibol reunión de febrero en Sacquarema, Brasil”.                     

Metodologia Italiana (I)

Introdução

Reporto-me a um trabalho de 1996 da Federazione Italiana Pallavolo (FIPAV), ” Mini vôlei, um Jogo”¹, um instrumento técnico-didático endereçado a todos os docentes, aos instrutores e animadores de qualquer entidade ou escola que se ocupe da Educação através do movimento e do esporte. O conteúdo é composto de uma série de unidades didáticas que serviram de instrumento, de estímulo e uma linha de ação para quem proporá aos seus alunos a atividade de Mini vôlei. Estarei apresentando um resumo da metodologia empregada e disponível aos interessados para dirimir dúvidas e descortinar novos caminhos.

Mini vôlei. O Mini vôlei é um jogo-esporte de situação, no qual afluem e se agrupam esquemas motores estáticos e dinâmicos, a capacidade condicional, a capacidade coordenativa, os aspectos da esfera cognitiva e emocionais. Esses concorrem, todos juntos, para conseguir novas habilidades motoras e para determinar o comportamento motor-relacional, que representa uma das formas de expressão de comunicação da personalidade do aluno. A criança, como pessoa, está no centro da atividade proposta por este livro: o aluno é o protagonista; a bola é um brinquedo; o jogo vem antes da técnica; e a  técnica se aprende jogando.

Estruturação da Atividade. O curso é predominantemente prático e usa o jogo como instrumento principal do trabalho. Partindo do jogo simples, com a progressiva aquisição da habilidade, passa-se aos jogos mais complexos. Com o sistema de 1 contra 1 pode-se jogar Mini vôlei desde a primeira aula. O professor, dado o pouco tempo disponível e os espaços frequentemente exíguos, deverá dispor de: uma boa organização da classe; a divisão dos grupos (1 contra 1,  2 contra 2, 3 contra 3); o emprego de rodízio de alunos nas funções de árbitro e “marcador de pontos”; o uso de elástico aonde não existe uma rede longa (25m, 30m, 35m …); a delimitação do campo com giz ou fita adesiva, utilizando medidas de modo funcional quanto ao objetivo a atingir. A organização da lição deve prever sempre um jogo que caracterize a própria lição. Cada jogo prevê a demonstração, aonde se emprega em linhas gerais o jogo. Às vezes pode-se também renunciar às explicações e mostrar o gesto de modo global; a aplicação,  aonde são individualizadas as dificuldades principais e assinaladas às crianças, ou com uma nova demonstração coletiva ou encarregando um colega da correção de outro. Essas fases devem ser breves e, adquiridas as habilidades simples requeridas, passa-se imediatamente ao jogo aplicado, que empenha  mais intensamente os alunos no aprendizado. Os alunos, além do comportamento técnico são também exigidos: no controle da pontuação; no controle do próprio campo; no estudo da posição do adversário, com o consequente desenvolvimento do nível de percepção e de aquisição de conceitos táticos elementares. Naturalmente, cada vez que se observam os erros, devemos corrigi-los e, eventualmente, com outros jogos específicos. A progressão  metodológica parte do 1 contra 1 para passar a 2 contra 2 e encerrar com 3 contra 3. Quando o grupo etário (da classe escolar especificamente) tiver experimentado os jogos base 1 contra 1, passar-se-á ao 2 contra 2, que representa o núcleo mais restrito possível de jogadores, mas contém já todas as características do jogo de equipe: a divisão do campo com o colega; a triangulação do passe; o levantamento para o ataque; a tática de jogo. Passa-se então e para concluir o ciclo, ao 3 contra 3 e ao 4 contra 4.

DA EDUCAÇÃO MOTORA AO MINIVÔLEI – 10 unidades didáticas: momentos de um caminho

O material que compõe as 10 lições provem de uma pesquisa conduzida sobre publicações e/ou produção direta ou indireta da FIPAV. Às vezes é também reportada a experiência original de algumas realidades locais da estrutura federal (Comitês Municipais) que autonomamente organizaram e geriram, nestes últimos anos a atividade do mini vôlei voltada para a sociedade esportiva e proposta ao mundo escolar como um serviço de suporte à atividade curricular da instituição. No ano do cinquentenário de sua fundação – ocorrida em 1946 – a Federazione Italiana Pallavolo  quer festejar recordando a sua história, mas olhando principalmente para os 50 anos futuros. E, então, a FIPAV retorna a uma linha que se havia enfraquecido para prosseguir com renovado impulso investindo ainda mais no setor promocional escolar e juvenil. Este breve guia está aberto às eventuais e sucessivas atualizações, numa ótica de formação cultural permanente. As unidades didáticas são 10 flashes de um caminho, uma idéia para trabalhar com as crianças, fazendo-as jogar  imediatamente em qualquer ambiente e com equipamento simples e facilmente encontrado. O material recolhido é também fruto de uma longa e consolidada colaboração com o mundo  da escola que frequentemente aceitou as propostas e os progressos da FIPAV reconhecendo nisso a originalidade, a renovação e o valor educativo.

¹ Tradução livre do autor e Floriano Salvaterra Neto.