O Vôlei Feminino Português
(Postado no site português www.sovolei.com/Zona7, maio de 2010)
Há dois anos participei de um Congresso Internacional Desportivo no Brasil. Inscrevi-me particularmente para ouvir a palestra de ilustre professora portuguesa a respeito da prática em seu país. Lamento dizer que saí decepcionado: 40 minutos foram dispensados às apresentações e à exposição de um vídeo turístico sobre Portugal. Nos dizeres dela, “Não poderia proferir uma palestra sem dar a conhecer a minha terra”. Quando interpelada para dizer-me sobre o desporto feminino, foi evasiva. Afirmou que tudo estava muito bem, com excelente participação das mulheres. É evidente que não acreditei, posto que acompanhara o Congresso Nacional Desportivo português, com importantes pronunciamentos que reclamavam de providências de todas as instâncias governamentais e Federações. Qual o interesse de esconder a verdade? Apego ao cargo? Total desconhecimento do assunto? Insegurança e falta de criatividade? Ou, ainda, “deixa ficar como está até que ocorra a tão esperada aposentadoria”?
Em outro momento voltarei a falar sobre o assunto na busca conjunta de soluções.
Vejo pelo desabafo do Luís Melo publicado no “Zona 7” sob o título “Feminino, um problema de mentalidades”, que tem razão. Impressiona-me é o conformismo para reagir a esse estado de coisas. Todos sabem o que ocorre, mas ninguém experimenta dar o primeiro passo para a busca de soluções. Só a crítica é muito pouco. Aguardar providências do governo está comprovado que não sairão do marasmo a que estão relegados; e esperar que as instituições que comandam o desporto (COP, FPV etc.) são “morrer na praia”. Já tiveram mostras de que nada disso vai modificar o panorama. Vejam as propostas e conclusões do Congresso sobre as Lei de Bases: nada foi adotado e continua a mesma desde 2004. Parece ser natural em Portugal (e no Brasil).
Vimos no “Tempo Técnico”, por Carlos Prata, “A nova legislação para a Formação de Treinadores”, apresentada pelos dirigentes do IDP, referente a um Programa Nacional. Pretende ter uma “incidência muito grande (…) e provocar grandes alterações no nível dos Cursos de Formação” Alguém nutre alguma esperança que desta vez vai ser efetivamente implantada, ou será fruto de mais burocracia? E as suas universidades que formam os professores, mestres e doutores? Ou, de repente, alguma luz iluminou os governantes para o fato óbvio: voltar-se e cuidar de forma científica das novas gerações, deixando de lado o empirismo e as receitas técnicas da FIVB, ou até mesmo universitárias, que até hoje não surtiram qualquer resultado positivo. “Sabe-se muito, fala-se demais, e diz-se pouco”. Transpor os ensinamentos colhidos na teoria para a prática, vai aí muita água. As prateleiras, e agora a Internet, estão repletas de pesquisas de coisa alguma que não surtem o menor resultado. Há que se realizar uma grande guinada, “navegar por mares nunca dantes navegados”, marco da história dos portugueses.
Comentário, por Luís Melo (português, um dos dirigentes do sovolei).
Infelizmente Portugal está cheio desta gente. Muito espectáculo e pouco conteúdo. Muita parra e pouca uva, como se costuma dizer. O exemplo vem de cima. Quando os políticos responsáveis e as federações, desprezam o desporto feminino, porque irá uma professora qualquer fazer diferente? Pessoas que têm cargos de responsabilidade deviam ser as primeiras a usar o (pouco ou muito) poder que têm para mudar algo. Mas ao invés, fazem o que o Roberto diz e bem: “deixa ficar como está até que ocorra a tão esperada aposentadoria”. Não nos podemos conformar, e temos de lutar todos os dias, e todos juntos, para que haja uma mudança de mentalidades e uma mudança na gestão do desporto em Portugal.

