Lições da Copa do Mundo

Bernardinho ironizou discussão com Serginho. Foto: Fivb/Divulgação.

Seleção acusa sérvios e dispara contra “união europeia” (deu no Terra)

“A Sérvia fez o que veio para fazer. Ela não se preocupava com o campeonato, mas sim com a quantidade de times europeus que se classificarão. Em campanha ruim na Copa do Mundo, a Sérvia teve uma de suas melhores atuações na partida contra a Seleção. Pesou o fato de seus principais jogadores terem sido poupados nas duas últimas partidas, contra Rússia e Itália, vencidas facilmente pelos adversários. A Sérvia colocou a equipe reserva em outras partidas (contra Rússia e Itália), e o objetivo deles era ganhar do Brasil. Com Rússia, Polônia e Itália classificadas para a Olimpíada, a Sérvia teria caminho facilitado na disputa do pré-olímpico europeu a ser realizado em maio de 2012. A vitória sobre o Brasil contribui ainda mais para que o continente domine a zona de classificação aos Jogos Olímpicos”.

Ora, vejam só, na recente Liga Mundial o Brasil atuou com uma equipe reserva contra a Bulgária para evitar o confronto com a dona da casa, a Itália. A sensação que alguns nos passam é que “só o brasileiro é malandro”. 

Foto: Fivb/Divulgação.

Lições

Sempre disse que se eu vir uma equipe jogando 3-4 vezes, sou capaz de conhecer parte de seus componentes (personalidade e técnica) e a forma como ela é treinada. Até os chamados bate-bola e aquecimento antes das partidas, ainda como jogador, ficava a observar os prováveis titulares e, especialmente, o seu levantador. É evidente que era muito pouco tempo, ainda mais que me cabia também aquecer, mas refletia já a minha preocupação em conhecer cada adversário para estudar-lhe as reações e, assim, antecipar-se a elas na medida do possível em jogo. Por isto, sempre disse aos meus atletas: “bate-bola é treino, o que fizer ali, estará fazendo no jogo”. 

Como não tenho outra foto, vejam esta que selecionei em que o atacante sérvio realiza seu ataque desde a posição IV. Diante do bloqueio triplo brasileiro em que direção deveria atacar a bola? Se fosse ele faria na direção do bloqueador mais baixo (levantador, junto à antena), considerando ainda que na posição I (defesa direito) deve estar o mais fraco defensor adversário, isto é, o “oposto”, no caso, Vissoto, com seus 2,13m. Provavelmente, escondido atrás do bloqueio para não levar medalha. Percebam que o sérvio deixa passar a bola (atrasa o golpe) para exatamente bater em direção ao bloqueador mais baixo e, com certeza, no fundo da quadra. Alguém por ali para defender? Quem, o defesa centro? Ele teria o discernimento para se antecipar, se percebesse a intenção (atraso e direção do corpo) do atacante? Saberia ele tocar na bola após salto e com uma das mãos dirigi-la ao centro da quadra?

Treinamento de defesa. (…) “Fizemos poucas defesas, o que não gerou contra ataque…” Tive duas breves oportunidades de assistir a treinos da seleção brasileira. Uma vez na Escola de Educação Física do Exército e outra em Saquarema. Foi muito pouco, mas nestes pequenos instantes, deu para observar detalhes que, ampliados, refletem a forma de treinar imposta pela equipe técnica. Além disso, mesmo nas vitórias, percebe-se que à exceção de um ou outro, talvez o líbero, os demais se comportam de forma  inteiramente alheia à aquisição de qualquer melhora em sua técnica individual (se é que a possuem). Como quase sempre é falado que “não há tempo para treinar”, convive-se com o que se tem e tenta se aprimorar o que já sabem: bater forte na bola ao atacar, e treinar bloqueio. Ocorre que muitas vezes se esquecem de combinar com o adversário o que vão fazer para que ele não os atrapalhe. E, aí, o fato está consumado.

Vimos na Liga Mundial no ano passado, um atacante não me lembro se tcheco ou alemão, na posição II, declinar do ataque forte sob bloqueio duplo brasileiro, para lançar com uma das mãos a bola na paralela, no fundo de quadra, encobrindo inclusive o líbero que estava dando cobertura ao bloqueio (por V). O defesa centro brasileiro – Dante – em pé com seus 2m de altura sobre a linha de fundo simplesmente “olhou” a bola que placidamente tocou o solo a poucos metros dele. E, se não me engano, ainda esboçou um sorriso, muito peculiar, como se pensasse: “o jogo está fácil, não vale a pena me esforçar”. Agora, nesta partida com a Sérvia, um outro repete a mesma cena, inerte, sem ação, ante uma bola que toca o solo a poucos metros. Como podem ganhar de alguém? Somente com saques violentos que quebrem o passe adversário. E a receita parece válida para a equipe feminina e, infelizmente para o Brasil inteiro, pois os súditos seguem a cartilha dos reis. Quem sabe defender, exceto o líbero, ou realizar saques táticos neste país? Vou mais além: “Quem sabe treinar defesa, sem o pressuposto do bloqueio triplo”? Em relação ao saque tático, afora as cacetadas muito bem despejadas sobre os adversários, considerem-se os muitos erros de saque, os passes na mão realizados pelos adversários, além daqueles em que nossos jogadores procuram o líbero (?) adversário para sacar neles! Deve ser brincadeira! Também num dos jogos da Liga, o técnico Bernardinho teve que tomar providência drástica quanto a este fato: no 4º set fez com que toda a equipe sacasse tipo tênis, sem saltar, o que equivale a dizer, “parem de errar saque e vamos pegar os ataques no bloqueio”, tamanha a quantidade de erros que não permitiram a continuidade do jogo brasileiro.

É incrível que jogadores de tamanha experiência, exímios profissionais, não compreendam e tenham consciência do que ocorre numa partida. Depois se queixam: “Não sabemos o que houve… Fizemos poucas defesas, o que não gerou contra-ataque… Não soubemos bloquear… Erramos 32 vezes”. Não lhes parece comentário de time principiante?