A Sala de Aula Moderna – Parte I

CONTINUAÇÃO DO ARTIGO

 

Sala de Aula Criativa, Inovadora, Transparente

 

 

 

 

 

roberto_pimentel@terra.com.b r

Palavras-Chave (Tags):

Atenção – Autorregulação – Determinação – Emoção – Empatia – Rendimento Escolar – Resiliência


Transformando Pessoas e Suas Vidas

 

 

Sumário

 

 

Manual de Engenharia Pedagógica

Domínio de Conhecimentos Aplicáveis ​​em uma Situação

 


O Manual é apresentado com revelações recentes da Neurociência e contribuições do  Design thinking .

Objetiva-se as necessidades urgentes em vida, não é talento esportivo, como é popularmente popular, muito embora o mesmo seja inevitável.


 

PARTE I

Antecedentes e Diagnósticos
Estudo e Pesquisa

PARTE II

Desenvolvimento e Maturidade
Como Melhorar a Educação?
O Futuro da Educação
Proposta Curricular séc. XXI

PARTE III

Formação Profissional Continuada
Educação Física e Esporte
Prática de Ensino, Base para Boa Formação

PARTE IV

Prototipagem: Centro de Estudos
Design Thinking Potencializando Inovações
Trabalhos em GRUPO, Projetos, Avaliações Mútuas
Blog Procrie: EaD, Videoaulas, e-books

PARTE V

Didática, Praxia
Residência Pedagógica
Estágio Supervisionado

 

Conteúdos a Compartilhar

 

1ª a 3ª aula          Habilidades, Ações Físicas ou Cognitivas?

4ª a 6ª aula         Interação e Construção do Conhecimento

7ª a 9ª aula          Código do Talento e Teoria Mielínica

10ª a 12ª aula     De Onde Vem o Talento?

13ª a 15ª aula     Produção de Circuitos Isolados com Mielina 

 

Nota:
A sequência de aulas acima está esquematizada para proporcionar uma visão preliminar de uma prática escolar tendo em vista a construção de videoaulas. O professor saberá compor-se com as diretrizes de sua escola.

 

 

Proposta Curricular 

 

Sabemos todos o que fazer; o problema é “como” fazer!

 

 

ESTRATÉGIAS

Autorregulação                Aprender sozinho, professor é facilitador

Matriz mental                  Música, memória espacial, xadrez

Registro audiovisual   Vídeo-aula, whatsap, iphone, tablet, blog, e-book

 

ORGANIZAÇÃO

Atuação: Educação Física e Esporte

Contributo multidisciplinar ao projeto pedagógico da escola

Formação profissional continuada de professores

 Múltiplas Atividades (em ginásio)

Coeducação em todas as atividades

Oficinas (12) –  Atividades em circuitos – Até 64 alunos/aula

Coral, Matemática, Português, Oralidade

Aluno/ Monitor/ Professor

Mentoria e monitoria (G-4) – Monitor/aula

Caderno de notas dos alunos – Avaliações mútuas

Professor/ Estagiários

Professor é simples facilitador: observa e pouco fala

Estagiário explica as tarefas e atende monitores

Caderno de notas do professor/estagiário – Avaliações mútuas

Registros & Notas

Habilidade de leitura e oralidade é, em essência, a habilidade de agrupar e desagrupar pedaços (chunking)

Observações comportamentais e pontuais

 Fotos & Vídeos

Alunos realizam ensaios fotográficos com colegas

Registros por Grupos organizados

 

 


PRIMEIRAS AULAS
           

 

Leia Mais…  Muito Mais do Que Aprender um Simples Jogo

 

CONTEÚDOS A DESENVOLVER

 

 1ª a  3ª aula

Como transformar habilidades em ações físicas ou cognitivas?

 

 

 


 

Cérebro, Memória, Música

 

Nossa mente responde a comandos de todo nosso corpo, e não apenas neurológicos. Foto: Google

 

 

Objetivo

Criar a habilidade com sua graça e aparente ausência de esforço.

E pelo acúmulo de circuitos pequenos e individualizados.

 

 

 

Ações físicas são constituídas de pedaços. Exercitando-se em séries, o aluno monta-as interligando blocos, eles próprios feitos de outros blocos. Assim, agrupam-se vários movimentos musculares.

 

 

A fluência é alcançada quando o aluno repete os movimentos por tantas vezes que já sabe como processar esses blocos como um só grande bloco. O aluno dispara o circuito construído e aprimorado pelo treinamento profundo.

 

 

Quando o chunking (dividir, fragmentar, blocos) é bem realizado, cria uma falsa realidade: faz artistas, atletas e jogadores excepcionais parecerem superiores. O que separa esses dois níveis é um ato de construção e organização lentamente cumulativo: a montagem de andaimes, parafuso por parafuso, circuito por circuito.

 

 

Metodologia, Psicopedagogia

 

Adestrar ou Ensinar?

 Treinar ou Brincar ?

 

Busca-se o conhecimento necessário para aprender como se forma o processo de aprendizagem nos indivíduos.

 

Interesse e Colorido Emocional

 Efeito que exerce o interesse sobre o psiquismo

 

Variantes

Interesse é o envolvimento interior que orienta todas as nossas forças no sentido do estudo de um objeto.

Alunos ganham em motivação nas aulas com uma novidade que os mantenha atraídos e surpresos.

A memória funciona de modo mais intenso nos casos em que é envolvida e orientada por certo interesse (como o apetite na assimilação do alimento).

 

Para que algo seja bem assimilado deve-se torná-lo interessante; para isto é necessário que NÃO seja exaustivamente repetido.

Despertar o “querer aprender” vem através do colorido emocional. Outras tarefas se sucederão normalmente, como ensinar a pensar, espontaneidade, criatividade.

 

 


 Neurociência & Treinamento Profundo

 

4ª a 6ª aula:  

Como cada técnica é usada? 

 Qual a natureza do processo?

 


 

 

Como e em que circunstâncias a cooperação e a comunicação levam à construção conjunta de conhecimento e compreensão entre crianças?

Por entendermos que circunstâncias são elas mesmas indeterminadas ou indefinidas, e se associam ao tempo ou ao momento oportuno para estabelecer a maneira correta de agir, passamos a criá-las em nossas atuações exploratórias – no Morro do Cantagalo indivíduos não possuíam qualquer experiência com o voleibol.

 

                                  Torneios com até 40 alunos (ou mais)

 

Em se tratando de grupo numeroso de aprendizes trata-se o assunto na esfera da interação entre colegas e não propriamente com o professor.

O alcance parece ser bem mais significativo, desde que se identifiquem lideranças capazes. Não é difícil descobri-las ou mesmo encorajá-las.

 

IMITAÇÃO: agrupe em blocos maiores

Somos programados para imitar. Parece estranho, mas, quando nos imaginamos na mesma situação que um indivíduo fora de série e realizamos uma tarefa por ele realizada, isso tem um grande efeito sobre nossa habilidade. Além disso, a imitação não precisa ser consciente. Na verdade, na maioria das vezes não o é.

 

 

 

Xadrez, Basquete, Vôlei, Futebol

 

A diferença entre enxadristas extraordinários e jogadores comuns é uma diferença de organização, a diferença entre alguém que compreende uma linguagem e alguém que a desconhece.

Recorrendo a um exemplo concreto, podemos compará-la à diferença entre um fã de voleibol experiente – que acompanha uma partida com um olhar de reconhecimento – e esse mesmo fã em sua primeira partida de outro esporte: o críquete, partida durante a qual ele não para de apertar os olhos de tão confuso.

 

HABILIDADE consiste em identificar elementos importantes e agrupá-los num sistema significativo. É um tipo de organização em blocos maiores e carregados de sentido, ou como dizem psicólogos americanos, chunking.

 

 


Neurociência & Treinamento Profundo

 

7ª a 9ª aula:                                      

O Código do Talento 

 


 

 

Sem a Voz

 Nos anos 1960, quando um professor começou a dar aulas de tênis decidiu fazer um experimento: em vez de orientar seus alunos iniciantes com a voz, ele simplesmente lhes mostraria os movimentos.

A tentativa foi um sucesso, a ponto dele logo começar a ensinar amadores cinquentões a jogar o básico em apenas vinte minutos… E sem nenhuma instrução técnica!

 

 

Assimile Bem 

Passe um tempo olhando ou escutando a habilidade desejada se manifestar na prática como uma entidade individual coerente. Pode soar um tanto zen, mas a técnica consiste fundamentalmente em assimilar uma imagem da habilidade sendo demonstrada, até sermos capazes de nos imaginar fazendo aquilo.

 

Interação e Construção do Conhecimento

Como indivíduos que parecem ser iguais a nós, de repente se tornam talentosos?

Qual a natureza desse processo capaz de gerar realidades tão díspares?

 

 

Vá Mais Devagar 

Por que ir mais devagar dá certo?


Primeiro, proceder devagar nos permite atentar mais aos erros, aumentando o grau de precisão a cada disparo – e, em se tratando da produção de mielina, a precisão é tudo.

“Não importa com que rapidez você faz a coisa, o que vale é quão devagar você consegue fazê-la sem errar”.

Em segundo, proceder lentamente ajuda a desenvolver algo ainda mais importante: uma percepção prática da arquitetura interna de determinada habilidade – a forma e o ritmo dos circuitos interligados para realizá-la.

Treinando, adquire-se algo bem mais importante que uma simples habilidade: alcançam uma compreensão conceitual organizada que lhes permite controlar e adaptar seu desempenho, sanar problemas e adequar o circuito a novas situações.

Pensam por blocos e constroem com eles uma linguagem da habilidade toda pessoal. Descreve-se o treinamento profundo como alguém que tenha experimentado a sensação de aceleração referindo-se a ela como um “estalo”. E dessa forma, constroem-se novos tipos de atuação em qualquer atividade.

 

Repita


A prática não leva à perfeição

Uma prática perfeita é que leva à perfeição

 

 

Do ponto de vista biológico, nada substitui a repetição atenta. Nada do que façamos – falar, pensar, ler, imaginar – é mais eficaz na construção de uma habilidade do que executar a ação, disparando o impulso pela fibra nervosa, corrigindo erros, afiando o circuito.

Para ilustrar essa verdade (?) propomos a pergunta:

— Qual é a forma mais simples de diminuir as habilidades de um talento consagrado?

Resposta… — Não os deixe praticar por um mês.

— E Você, o que acha?

 

Observação… “Seus músculos não terão mudado, nem seus genes e seu caráter tão reverenciados, mas seu talento terá sido atingido no ponto mais fraco”.

Treino Convencional e Treino Profundo

 

Repetições e Horas de Treinamento

A mielina é um tecido vivo. Assim como tudo em nosso corpo está submetida a um constante ciclo de deterioração e reparação à medida que envelhecemos.

A repetição é valiosíssima e insubstituível. Há, contudo, algumas advertências a serem feitas. Para o treinamento convencional, “mais é sempre melhor”. No treinamento profundo, a matemática é outra. Passar mais tempo treinando só dá resultado se nos mantivermos o tempo todo no limite de atenção.

Além disso, parece haver um limite universal para o tempo durante o qual uma pessoa consegue treinar profundamente num dia. Segundo pesquisas, a maioria dos experts de nível internacional – aí incluídos pianistas, romancistas e atletas – treinam de três a cinco horas por dia, qualquer que seja a habilidade em questão.

 


Continua em breve… A Sala de Aula Moderna, Parte II

 Até lá, Boas Leituras!

O Professor e o Aluno, Métodos de Autorregulação

3posições
Ilustração: Beto Pimentel.

Autorregulação, Descobertas, Compartilhar Conhecimento, Despertar Interesse, Emoções, Investigando a Memória, Metáfora do Andaime, Solução de Problemas.

Busca de Nova Metodologia

Diante de uma criança, faço-me criança!

Cúmplices

A perspectiva a adotar solicita a interação, a negociação e a construção conjunta de vivências que habilitem a criança e o adolescente aprenderem a linguagem proposta. Isso exige necessariamente, e sempre, um elemento de interdependência e da capacidade fazer descobertas acidentais. Leia mais sobre a cumplicidade entre professor e aluno em… Aprendizado Produtivo. 

Circuito do Ensino – sobre a importância e o papel a desempenhar pelos professores, além de um convite a pensarmos juntos. A esse respeito, gostei da campanha da revista Veja em incentivar indivíduos a serem mais esclarecidos:

Questione, pense. Coce mais a cabeça.

Mapa do território do aprendiz

A experiência nos diz que certo grau de incerteza, a possibilidade de se deparar com surpresas e a chance de descobrir e resolver novas ambiguidades é o que impulsiona e motiva tanto o ensino quanto a aprendizagem. A única maneira de evitar a formação de concepções errôneas arraigadas é a discussão e a interação, lembrando que “no discurso matemático, uma dificuldade compartilhada pode tornar-se um problema resolvido”. Jogadores excepcionais, por exemplo, treinam de maneira diferente e bem mais estratégica: quando falham, não atribuem esse fracasso à falta de sorte, nem culpam a si mesmo; têm uma estratégia que podem corrigir. Como ensinar ao aluno tais procedimentos?

Processo de autorregulação

Pela repetição pensada, com base na imagem que formatou, torna a realizar experimentos calculados de modo a descobrir o melhor caminho a seguir.  O objetivo é tornar sua ação a melhor possível consideradas suas possibilidades momentâneas. Em suma, as tentativas  – exercícios repetitivos – são indispensáveis desde que pensada sua busca do melhor desempenho. Nesse processo, a atuação do professor deve ser cautelosa e de muita observação sobre a evolução e conquistas do treinando.

Por que ir mais devagar dá tão certo?

Não importa com que rapidez você faz a coisa, o que vale é quão devagar você consegue fazê-la sem errar.

O modelo teórico da mielina fornece duas explicações. A primeira, é que proceder devagar nos permite atentar mais aos erros, aumentando o grau de precisão a cada disparo – e, em se tratando da produção de mielina, a precisão é tudo. Como dizia o técnico de futebol americano Tom Martinez, “não importa com que rapidez você faz a coisa, o que vale é quão devagar você consegue fazê-la sem errar”. A segunda explicação é que proceder lentamente ajuda o indivíduo a desenvolver algo ainda mais importante: uma percepção prática da arquitetura interna de determinada habilidade – a forma e o ritmo dos circuitos interligados para realizá-la. Por quase todo o séc. XX especialistas acreditavam que a aprendizagem fosse governada por fatores fixos como o Q. I. e os estágios de desenvolvimento. Barry Zimmerman, professor de psicologia na City University de Nova York, desenvolveu estudos pelo tipo de aprendizagem que acontece quando as pessoas observam, julgam e planejam a própria atuação, ou seja, quando ensinam e supervisionam a si mesmas. Chamou-a de AUTORREGULAÇÃO.  Leia mais Como Treinar?

LEIA MAIS… Lições de um Projeto… (3 artigos)

Desenho19 reduzido

Experiências vividas pelo autor 

1. Ensinar matemática – Um adolescente (14 anos) que queira se aprimorar na matéria deverá propor-se a frequentar aulas regulares durante algum período com seu professor. O método a empregar no ensino não seria diferente ao exposto acima. Inicialmente, após  avaliação sobre o que sabe o aluno e seu interesse o mestre desenvolverá um programa em que a cada nova instrução o aluno se exercite intensamente buscando autonomia de pensamento lógico. Para tanto, os problemas devem ser escalonados segundo seu desenvolvimento atual em escala ascendente de dificuldades. Cabe ao mestre acompanhar as dificuldades que ele possa apresentar durante o processo e, se necessário, recuar na escalada pedagógica antes que novas questões lhe sejam apresentadas. Em suma, não deve acumular dúvidas neste processo.

Labirinto que ensina

Boa imagem que faço deste método está retratada em um pequeno brinquedo chamado Labirinto, constituído de uma peça quadrada de madeira contendo em seu interior uma configuração de labirinto, com orifícios regulares em cada caminho escolhido. Por ele, o indivíduo deve fazer passar uma bilha utilizando-se de dois controles manuais de inclinações da base de madeira. O objetivo é conseguir superar todos os obstáculos sem falta. Se a bilha cair em qualquer orifício o jogador deverá retornar ao início da tarefa, NUNCA do local em que errou.

Labirinto A

Transportando para o treinamento esportivo, observem como se comportam os professores ou técnicos de qualquer modalidade. Se o treinando erra no desenvolvimento de qualquer exercício ele é solicitado a realizá-lo a partir do seu início? A consequência desta opção na aprendizagem é imediata e pode ser traduzida por aquilo que expressou M. RYAN (EUA), treinador de atletismo por ocasião de um congresso mundial após uma pergunta que lhe solicitava exercícios próprios para facilitar a aprendizagem do salto com vara: Apenas o salto com vara prepara para o salto com vara e qualquer exercício que se lhe avizinhe, quanto mais próximo, tanto mais prejudica a aprendizagem.

Eis uma boa questão para coçarem a cabeça: “Como fica o transfer“?

LEIA MAIS… Exercícios (I) – Dosagem e Exigência

Brincando com o leitor… Experimente resolver o seguinte problema:

“Dois  amigos que não se viam há algum tempo se encontraram em uma rua e após e um deles (A) indagou ao outro (B): Quantos filhos você tem? B então respondeu: Tenho três filhos. Ao que A tornou a perguntar: Quais são as suas idades?  B propôs-lhe um problema: O produto das idades é 36 e a soma, o número daquela casa ali em frente (e apontou para a placa da casa). Após alguns momentos, B disse: Ôpa, preciso de outra dica (informação)! Finalmente A rematou: Tem razão, o meu filho mais velho toca piano. Quais são as idades?” (O Homem que Calculava, Malba Tahan)

LEIA MAIS…  Xadrez e Voleibol e Teoria vs. Prática

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Na figura e fotos acima estão representados alguns momentos de metodologia a empregar no ensino de crianças. Inclusive criar nelas o desejo de conquistar objetivos. Curiosidade: a única menina na foto (primeira à esquerda, junto ao Giba) é a minha netinha, com 5 anos. Estaria ela se encaminhando para se tornar excelente atleta?

Para VOCÊ pensar… extraído do livro “O código do talento”, Daniel Coyle.

O Circuito do Ensino

Um professor afeta a eternidade, ele nunca sabe em que ponto cessa sua influência.

– Henry Brooks Adams

– Excelentes professores se concentram no que o aluno está dizendo ou fazendo e, graças a essa concentração e ao seu grande conhecimento do assunto, são capazes de enxergar e reconhecer o esforço hesitante e desajeitado que o aluno mal consegue articular na tentativa de um dia atingir a mestria. Uma vez identificado esse esforço, estabelecem um contato mais estreito com ele por intermédio de uma mensagem direcionada.

– Os grandes treinadores são uma espécie de “serviço de entrega” de sinais que alimentam e direcionam o crescimento de um determinado circuito neural, dizendo a esse circuito com grande clareza que dispare aqui e não ali. O trabalho do treinador é uma longa e íntima conversa, uma série de sinais e reações voltados para um objetivo comum. Seu verdadeiro talento consiste não num tipo de sabedoria universalmente aplicável que ele pode transmitir a todos, mas sim na capacidade elástica de identificar o ponto ideal no limite da habilidade individual de cada um e de enviar os sinais adequados, que ajudarão os circuitos a disparar na direção do objetivo certo, infinitas vezes.

– Um excelente professor tem a capacidade de sempre ir mais fundo, de perceber o que o aluno consegue aprender e ir até esse ponto. E a coisa vai se aprofundando cada vez mais porque ele pode pensar no tema de muitas formas diferentes e fazer incontáveis associações. Noutras palavras, são necessários anos de trabalho para construir os circuitos (mielinizar) neurais de um grande treinador, circuitos esses que constituem um misterioso amálgama de conhecimento técnico, estratégica, experiência e sensibilidade aguçada na prática e sempre pronta a identificar e compreender o ponto em que os alunos estão e aonde precisam chegar.

– Por que grandes treinadores tendem a serem pessoas mais velhas?

– Como lembra Anders Ericsson, talvez por mero acaso ou, quem sabe, simples reflexo de forças sociais (afinal é mais provável que crianças cresçam acalentando a ideia de se tornar craques como Ronaldinho no futebol, ou como Tiger Woods no golfe, que a de virar treinadoras quando adultas). Ou talvez a idade mais avançada dos treinadores seja decorrência dessa dupla exigência característica da profissão – além de adquirir extrema competência no campo de sua escolha, precisam aprender a ensinar de modo eficiente a habilidade necessária ao exercício profissional ou à atividade amadora naquela área.

– As palavras-chave na descrição acima são conhecimento, reconhecer e contato mais estreito.

Como se Adquire Habilidade? (Parte II)

Desenho: Beto Pimentel.

Formação de bons hábitos

“A prática não leva à perfeição; uma prática perfeita é que leva à perfeição.”

Como nada é definitivo especialmente em matéria de Educação, cito algumas considerações de autores consagrados em torno do significado pedagógico dos exercícios e sua aplicação. O leitor atento poderá discernir e optar pelas buscas em seu processo educativo e o melhor caminho a seguir. Aliás, caminhos, uma vez que nunca é demais pesquisar e tentar. Boas leituras.

Desde muito tempo, ainda atuava como técnico ou atleta, preconizava que não se deveria treinar muito, mas sim com qualidade. Imaginava que realizar demasiadas vezes um mesmo movimento para criar o hábito o executor poderia incorrer em dois perigos: o desgaste nervoso pelas repetições contínuas e permanentes; e a qualidade ou excelência na prática, isto é, a cada nova tentativa ou ensaio, buscar a perfeição nos gestos. Em suma, a AUTORREGULAÇÃO.

Treinamento reflexivo. Este tipo de treinamento, que o autor denominou treinamento profundo, na prática nos revela a sensação de explorar um quarto escuro e desconhecido. Começamos devagar, esbarramos na mobília, paramos, pensamos e começamos de novo. Lentamente e com certo incômodo, exploramos o espaço repetidas vezes, atentando aos erros, ampliando aos poucos a área do quarto a nosso alcance, desenhando um mapa mental do lugar até conseguirmos nos mover por lá rapida e intuitivamente. A maioria de nós faz um pouco desse treino. O instinto para ir mais devagar e dividir as habilidades em seus componentes é universal. Era o que diziam nossos pais e treinadores quando nos aconselhavam: “Um passo de cada vez”. Ocorre que os professores que adotam essa metodologia, fazem-no segundo três dimensões. Primeiro, os participantes encaram a tarefa como um todo – como um grande bloco, o megacircuito. Segundo, dividem esse bloco nos menores blocos componentes possíveis. Terceiro, brincam com o tempo, retardando a ação, para depois acelerá-la, a fim de conhecer sua arquitetura interna. (D. Coyle, O código do talento)

Significado pedagógico. Ensina-nos a Psicologia que o homem é um complexo vivo de hábitos e que em seu comportamento – espécie de reações organizadas – apenas 0,001 dessas reações é determinada por alguma coisa além do hábito. Por isso o objetivo do professor é infundir no aluno hábitos que na vida possam trazer proveitos. Pode-se afirmar, então, que 99% dos nossos atos são executados de modo automático ou por hábito. Todos os nossos atos e até mesmo as falas comuns consolidaram-se em nós graças à repetição em forma tão típica que podemos vê-los quase como movimentos reflexos: para toda sorte de impressões temos uma resposta pronta, que damos automaticamente. Seria de bom alvitre não deixar de considerar o significado pedagógico dos exercícios a serem propostos  (o grifo é meu) na formação de bons hábitos. Para a aquisição de um comportamento consciente tenha-se em mente que antes de cometer algum ato temos sempre uma reação inibida, não revelada, que antecipa o seu resultado e serve como estímulo em relação ao reflexo subsequente: “Todo ato volitivo é antecedido de certo pensamento, isto é, acho que pego um livro antes de estender a mão para ele”. O fato básico é que a noção anterior do objetivo corresponde ao resultado final. Não estaria implícito aqui todo o mistério da vontade? (David Wood, Como as crianças pensam e aprendem.)

Nível de exigência. Esta atitude do professor, que podemos denominar nível de exigência (ou de tolerância), nada tem a ver com aspectos disciplinares, mas, ao contrário, calcada em conhecimento prático e científico. O atleta deve internalizar em sua memória o movimento completo. Por outro lado, imagine o treinador que permite e aplaude atuações não condizentes com o nível técnico desejado. Para todos os efeitos, trata-se de complacência e, talvez, insegurança no trato com atletas, especialmente os de ponta. Presenciei vários casos no Rio de Janeiro, inclusive com atletas medalhistas olímpicos de ouro.

Exercícios-chave, educativos, transferência (transfert). Aconselha-nos Jean Le Boulch o abandono das tentativas inúteis de procurar exercícios-chave com alto poder de transferência. Suas observações tenderam a mostrar que a aprendizagem adquirida relativamente a uma parte da situação não o é relativamente a esta mesma parte inserida num todo novo. Em outras palavras, “as partes reais do estímulo objetivo não são necessariamente partes reais da situação vivida pelo indivíduo”. A consequência desta opção na aprendizagem é imediata e pode ser traduzido por aquilo que expressou M. RYAN (EUA), treinador de atletismo por ocasião de um congresso mundial após uma pergunta que lhe solicitava exercícios próprios para facilitar a aprendizagem do salto com vara: “Apenas o salto com vara prepara para o salto com vara e qualquer exercício que se lhe avizinhe, quanto mais próximo, tanto mais prejudica a aprendizagem”. Esta é uma concepção a que nos associamos de bom grado, mas repõe em discussão a utilização dos chamados exercícios educativos que ainda precedem a aprendizagem de um gesto técnico complexo nas progressões de muitos instrutores.

Nota – Atenção que se atribui muitas vezes à palavra talento um sentido vago e repleto de conotações igualmente imprecisas, sobretudo em se tratando de jovens. Por talento definamos em sentido estrito: “a posse de habilidades repetíveis que não dependem do tamanho físico”.

E por fim, como você procederia para criar uma FÁBRICA DE TALENTOS  com um grupo de alunos? E se este grupo fosse constituído de 40 ou 240 crianças? Que exercícios devem ser propostos? Com que significado pedagógico?

Como Treinar?

Despertar o interesse nos jovens pela prática saudável do desporto. Você gostaria de estar dentro de quadra? Foto: Fivb/Divulgação.

Com base no livro de Daniel Coyle, “O código do talento “.

Peço a ajuda de Daniel Coyle para fazer-me entender em alguns outros textos que já postei e estarei ainda incluindo na série sobre Como Treinar. E a você, internauta, perdôe-me pelo meu narcisismo, uma vez que não poderia apresentar a teoria do treinamento profundo de maneira prática sem citar-me, pois realmente fui treinado por mim mesmo e já em idade dita avançada para o voleibol – 18 anos – praticamente um auto-didata. ou como veremos logo a seguir, um aprendizado de autorregulação. A seguir, resumo matéria que selecionei da obra citada. Mais adiante, darei o meu testemunho sobre minha prática e, enquanto isto, espero levar o leitor a meditar sobre o treinamento na Formação para qualquer desporto.

Por que ir mais devagar dá tão certo?

O modelo teórico da mielina fornece duas explicações. A primeira, é que proceder devagar nos permite atentar mais aos erros, aumentando o grau de precisão a cada disparo – e, em se tratando da produção de mielina, a precisão é tudo. Como dizia o técnico de futebol americano Tom Martinez, “não importa com que rapidez você faz a coisa, o que vale é quão devagar você consegue fazê-la sem errar”. A segunda explicação é que proceder lentamente ajuda o indivíduo a desenvolver algo ainda mais importante: uma percepção prática da arquitetura interna de determinada habilidade – a forma e o ritmo dos circuitos interligados para realizá-la.  

Por quase todo o séc. XX especialistas acreditavam que a aprendizagem fosse governada por fatores fixos como o Q. I. e os estágios de desenvolvimento. Barry Zimmerman, professor de psicologia na City University de Nova York, desenvolveu estudos pelo tipo de aprendizagem que acontece quando as pessoas observam, julgam e planejam a própria atuação, ou seja, quando ensinam e supervisionam a si mesmas. Chamou-a de AUTORREGULAÇÃO.

Em 2001, realizou uma experiência que mais parecia um truque de mágicos de rua do que uma iniciativa de caráter científico. Ele e uma auxiliar também professora universitária, fizeram a seguinte pergunta: “É possível julgar a habilidade apenas pelo modo como as pessoas descrevem sua forma de treinar”? A habilidade escolhida para a experiência foi o saque no voleibol. Reuniram um grupo que incluía jogadores excepcionais, jogadores de times e novatos, aos quais perguntaram como faziam para sacar: seu objetivo, seu planejamento, suas escolhas estratégicas, sua autoavaliação, sua adaptação etc. – num total de 12 critérios de apreciação. Com base nas respostas concluíram quais seriam os respectivos níveis de habilidade. Em seguida, pediram aos jogadores que sacassem para testar a validade de suas conclusões. Só pelas respostas dos jogadores foi possível deduzir 90% da variação no grau de habilidade. A experiência mostrou que os jogadores excepcionais treinam de maneira diferente e bem mais estratégica: quando falham, não atribuem esse fracasso à falta de sorte, nem culpam a si mesmo; têm uma estratégia que podem corrigir. 

Tenho certeza que algumas dessas palavras devem ter mexido com a cabeça de muitos professores e treinadores. Destaquem-nas e vamos juntos  firmar um procedimento a respeito, venham discutir como melhorar suas aulas e treinamentos com os jovens. Voltarei ao assunto…