Anti-Intelectualismo no Mundo

Pensar dói?

Parece que NÃO estamos sós nessa cruzada.  E você, trabalha ou dá aula?

George Pólya
Foto: Wikipédia.

Vimos acentuando a importância de modificações no Ensino especialmente na área esportiva. Desde o início do Procrie embasamo-nos em princípios exarados pelo Senhor ao lado – George Pólya – um matemático húngaro que descobrimos em trabalho acadêmico de portugueses. Um deles, diz: “Quando não conseguir resolver um problema, crie outro mais fácil e resolva-o”. Tanto ele quanto outros – Piaget, Vygotsky, Le Boulch, David Wood – já apregoavam certos comportamentos didáticos pouco compreendidos pelos gestores educacionais e docentes. Além disso, ainda não se adaptaram, talvez não tenham tempo para isto, aos novos tempos e a velocidade da informação e do conhecimento, que nos permite caminhar de formas tão diversas àquelas dos séculos XIX e XX.

Lembramos também o que já se disse sobre Autonomia e Autodidatismo, reforçando a sequência de prioridades, um conceito que se deve lançar e difundir nesses tempos de educação a distância em grande crescimento”. (Blog do Arlindo) Para melhor apreciação e escolhas dos caminhos que se apresentam a professores(as), pretende-se com as mais recentes postagens levar-nos a compreender bem os problemas e buscar soluções adequadas caso a caso.

Apresentamos então, o teor dos escritos de Nicholas Kristof, jornalista ganhador de dois prêmios Pulitzer, que escreveu na sua coluna no New York Times, publicado em 15 de fevereiro: “Alguns dos pensadores mais inteligentes sobre questões domésticas ou ao redor do mundo são professores universitários, mas a maioria deles simplesmente não tem importância nos grandes debates de hoje”. O puxão de orelha veio de longe, mas a distância não reduz a pertinência, tampouco o efeito. O colunista explica que a opinião desses especialistas é frequentemente desconsiderada por ser “acadêmica”, o que em muitos ambientes equivale a uma acusação de irrelevância. O preconceito soma-se à conhecida pergunta, “o senhor trabalha ou só dá aulas?” e reflete o baixo prestígio das atividades de pesquisa e ensino na sociedade e o que Kristof denomina de anti-intelectualismo da vida americana. De fato, a ojeriza ou simples preguiça em relação à vida inteligente é um fenômeno também presente em muitas outras áreas do planeta. Nos tristes trópicos, grassa há tempos um verdadeiro culto do que é rasteiro, ligeiro, baixo e vulgar. O fenômeno afeta as falas, as letras, as telas e as paisagens. Está presente nas atitudes e comportamentos.

Afinal: “Você trabalha ou dá aula“?

Leia mais... http://www.cartacapital.com.br/revista/790/procuram-se-professores-3323.html

 

Deparei-me com noticiário português sobre a Educação Física e a prática esportiva (ou sua falta) em Portugal, explicadas por meu interesse em questões da área, pois se trata do 2º país em número de visitantes ao Procrie, e a par disto, sou colaborador no sítio Sovolei há algum tempo. Em suma, busco soluções para problemas brasileiros enquanto me aculturo com os patrícios. Assim, como testemunho dessa participação, relembro que acompanhei passo a passo o que foi divulgado pelas autoridades portuguesas sobre o 1º Congresso Nacional Desportivo Português, realizado no período dez./2009 a fev./2010 em diversas cidades do país. De concreto, não tive conhecimento de mudanças nas diversas áreas pesquisadas quanto á sua eficácia em favor dos contribuintes. Já mais recentemente, do noticiário português extraímos…

Leia mais… http://www.procrie.com.br/2014/03/14/professoras-de-educacao-fisica-23741

 

1. – I Seminário Olhares Sobre a Educação Física

A Sociedade Portuguesa de Educação Física realizou mais um evento: Salão Nobre, da Faculdade de Motricidade Humana – Lisboa, 4 Dezembro de 2013

Programa

  • Abertura do Seminário

Magnífico Reitor da Universidade de Lisboa – Professor Doutor António Cruz Serra Presidente da AEFMH – Filipa Gonçalves

  • Perspetivas dos alunos e Professores de Educação Física

Oradores: Alunos do ensino secundário e professores de Educação Física Moderador: Professor Doutor João Jacinto (Professor na FMH – UL), Debate

  • Perspetivas dos alunos e Professores de Educação Física (Continuação)

Orador: Professor Doutor Luís Bom

  • Perspetivas das Instituições de Formação de Professores

Oradores: Representantes das diferentes instituições de ensino a nível nacional Moderador: Professor Doutor José Alves Diniz (Coordenador do Departamento de Ciências da Educação, FMH – UL), Debate

  • Perspetivas das Associações – Sociedade Portuguesa de Educação Física e Conselho Nacional de Associações de Professores e Profissionais de Educação Física Oradores: Nuno Ferro (Vice presidente da SPEF) e João Lourenço (Presidente da CNAPEF) Moderador: Professor Doutor Carlos Neto (Presidente da FMH – UL), Debate

Discurso de Encerramento: Presidente da FMH – Professor Doutor Carlos Neto/

 

2. – Obesidade ameaça crianças portuguesas

Risco: Portugal apresenta os segundos piores indicadores da Europa.

Por Joana Monteiro/André Pereira, 2 de março 2014.

Estudos alertam para os efeitos nocivos da má alimentação, pouca atividade física e estilo de vida sedentário. Um ritmo de vida acelerado, mas sedentário e alimentação em excesso e de má qualidade são condições para que os quilos a mais possam acumular-se desde cedo. Cerca de 15% das crianças portuguesas entre os 6 e os 9 anos são obesas e mais de 35% têm excesso de peso, conclui o estudo ‘Portugal – Alimentação Saudável em Números’, realizado em 2013 pela Direção-Geral da Saúde. E segundo dados revelados já este ano pela Organização Mundial de Saúde, as crianças portuguesas são as segundas mais obesas da Europa, logo atrás das gregas.
Leia mais... http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/ultima-hora/obesidade-ameaca-criancas-portuguesas

 

3. – Só 36% da população portuguesa faz exercício físico

 

Por Helder Robalo, 24 de Março 2014.

Uma sondagem Eurobarómetro conclui que 59% dos cidadãos da União Europeia nunca, ou raramente, praticam exercício ou fazem desporto. Em Portugal esse número sobe mesmo para os 64%. A sondagem incidiu sobre desporto e atividade física. De acordo com o Eurobarómetro, a Europa do Norte é fisicamente mais ativa do que o Sul e o Leste. 70 % dos inquiridos na Suécia afirmaram que praticam exercício pelo menos uma vez por semana, o que é ligeiramente superior à percentagem da Dinamarca (68%) e da Finlândia (66%), seguindo-se os Países Baixos (58%) e o Luxemburgo (54%). No outro extremo da escala, 78% nunca praticam exercício ou fazem desporto na Bulgária, seguidos de Malta (75%), Portugal (64%), Roménia (60%) e Itália (60%).

 

CONCLUSÃO

 

Entre os acadêmicos teóricos e o(a) professor(a) na prática escolar, quanto ainda devemos percorrer para que produzamos um BOM ensino neste novo século? Permanecer com as mesmas práticas ou devemos repensar o futuro das novas gerações? A que conclusões chegaram os doutos professores portugueses? Relembro um dos meus comentários sobre minha participação em seminário internacional na cidade de Florianópolis em que douta professora portuguesa nos brindou com 20 minutos de vídeo sobre turismo em Portugal. Fiquei pasmo com tamanha cara-de-pau! (irreverência) E nós, brasileiros, seríamos diferentes em algo? Participei de um encontro acadêmico na universidade federal cujo tema era “História da Educação Física na cidade do Rio de Janeiro”. A abertura da professora/mestre ou doutora (UFF) iniciou sua fala com a seguinte frase lapidar: “Confesso que não sei por que razão estou aqui, pois nada entendo do assunto”. O outro, também professor em duas universidades, ou por deficiência ou generosidade para acudir a colega, deixou-se relaxar em piadas como se estivesse em uma arquibancada do Maracanã a só falar de futebol e, mesmo assim, de futilidades. E, no entanto, lá estava eu com o livro da História do Voleibol no Brasil, com ênfase em fatos voltados para a cidade desde 1939, inclusive com aspectos da Educação Física em escolas e a condição privilegiada dos esportes nas praias, especialmente o voleibol. Além disso, não se espantem, a prática é generalizada no meio acadêmico para qualquer tipo de atividade. Muitos dos participantes fazem turismo nos eventos, uma vez que as despesas estão pagas por algum órgão e ninguém é de ferro. (relaxamento) Para acadêmicos participantes é principalmente uma contribuição para seus currículos através do “atestado de presença”. Durante anos realizam-se seminários, encontros, congressos, todos voltados para cabeças coroadas exprimirem seus conhecimentos adquiridos ao longo de práticas acadêmicas, universitárias, todavia, NADA de resultados PRÁTICOS. Por que será?

 

Eis que a indagação lá de cima – Você trabalha ou dá aula? – bem define a situação. Acrescente-se  se a pérola com que nos brindou o professor José Pacheco: “Temos escolas do séc. XIX professores do séc. XX e alunos no séc. XXI”. Alguém acredita que os indivíduos atualmente envolvidos com Educação em modelos ultrapassados vá provocar alguma mudança que prejudique a sua tão aguardada aposentadoria?
Ocorre que há esperança com algumas investidas ocorridas em alguns países e até mesmo no ensino fundamental e médio no Brasil em regiões longe dos grandes centros e até de pobreza. Enquanto isto estaremos neste Procrie buscando soluções em favor de um melhor ensino esportivo para nossos filhos e netos. Junte-se a tantos outros que assim procedem e compartilhe suas ideias.

 

COMPARTILHAMENTO

Convido-os a nos unir, PORTUGUESES e BRASILEIROS, Professoras e Professores, Pais e Gestores Educacionais. Deixemos de lado o academicismo e construamos uma nova realidade. De minha parte já tenho rascunhada uma PRÁTICA NOVA  para centenas de alunos em suas próprias escolas. Só preciso de sua decisão para pesquisarmos juntos.

Afinal, VOCÊ QUER FAZER PARTE DESSE TIME?

 

Autonomia para o Autodidatismo

PraiaIcaraí
Clínica de Mini Vôlei, Praia de Icaraí, Niterói (RJ): 400 crianças se divertiram 2 vezes/semana durante 4 anos. Ilustração: Beto Pimentel.

 

Liberdade para Ensinar e Criar

Em 13/jan./14, Arlindo Lopes Corrêa postou mais um dos seus excelentes artigos sobre a Educação no país. Tenho sua permissão para divulgar seus ensinamentos também no Procrie, uma vez que alguns assuntos são pertinentes quanto à sequência que estou imprimindo relativa à Aprender a Ensinar. Valho-me de nossa comunhão de propósitos para anunciar sua experiência e cultura no tema.

Fica a sugestão para que os leitores enveredem pelo Blog do Arlindo e ali se ilustrem com um dos maiores especialistas brasileiro. Dessa forma perceberão a importância da “liberdade de ensinar”, livrando-nos das amarras das receitas técnicas (de bolo) e, principalmente, contribuindo para um crescimento do alunato muito além do imaginável. Em suma: livres para criar!

Aprender a Ensinar, Autodidatismo, Autonomia, Criar um Blog, Educação de Qualidade, Ensino a Distância, Formação Continuada, Resolver Problemas.

 Prioridades na Educação de Qualidade para o Brasil

“A necessidade de uma melhoria qualitativa da educação brasileira, abrangendo todos os seus níveis, é indiscutível e urgente. Todos os brasileiros preocupados com o futuro de nosso país estão conscientes disso e anseiam pelas realizações capazes de produzir essa mudança inadiável. As comparações internacionais disponíveis confirmam essa deficiência geral com clareza. Aí estão, por exemplo, os pobres resultados obtidos por nossos estudantes de 15 a 16 anos de idade nos testes do PISA (da OECD), os quais sistematicamente classificam o grupo de alunos representantes do Brasil nas últimas colocações dentre os países participantes. Da mesma forma, os rankings internacionais de qualidade dos estabelecimentos de ensino superior, em que a posição desfavorável de nossas universidades é uma triste constante”. […]

Autonomia para o Autodidatismo

“Reforçando o cabimento dessa sequência de  prioridades, um conceito que se deve lançar e difundir, nestes tempos de educação a distância em grande crescimento, tanto do lado da oferta quanto da demanda, é o conceito de ‘autonomia para o autodidatismo’. Trata-se daquele estado em que a pessoa já sabe e pode, por si só, buscar conhecimento de modo apropriado, sem recorrer à educação escolarizada, presencial. A partir da conquista desse estado de ‘autonomia para o autodidatismo’ a pessoa ganha a capacidade de multiplicar as possibilidades, ao seu alcance, de acesso ao conhecimento em geral, tendo em vista o arsenal tecnológico disponível no mundo atual e que pode ser usado, com ou sem adaptações, para fins educacionais. O momento em que esse estado é alcançado varia de pessoa para pessoa, em função de inúmeras variáveis, sendo mais relevantes o nível de  escolaridade concluído e a qualidade da educação recebida até então. Admitido esse conceito, o corolário é que sob o aspecto do indivíduo, a educação é mais prioritária antes que ele adquira essa autonomia. Ou seja, nos seus anos iniciais, especialmente na fase de alfabetização, a seguir no restante do ensino fundamental  e só depois no ensino médio. Outro ponto a ressaltar, nestes tempos de supremacia avassaladora das TIC (tecnologias de informação e comunicação) é que um dos objetivos específicos da educação deve ser o de fomentar, logo em seus anos iniciais, a  busca dessa autonomia libertadora, para que a pessoa possa centrar sua educação em  seus reais interesses e motivações, personalizando-a. É a educação para a liberdade, em que os alunos vão livrar-se das ‘xaropadas’ de professores que não dominando os conteúdos pertinentes e não tendo como ensinar verdadeiramente, passam a doutrinar os estudantes com o politicamente correto e todo o repertório ideológico que serve de álibi para encobrir suas deficiências de formação. Problema comum dos corpos docentes de muitos países, especialmente da América Latina, Brasil inclusive. Adquirida essa autonomia, o estudante já não dependerá tanto, para sua formação, da educação escolarizada, presencial, muitas vezes massificadora, projetada para atender a um ‘aluno médio’ que só existe em teoria”. […]

Ver o texto completo em… Prioridades na Educação de Qualidade para o Brasil, 13/jan./2014: http://arlindolopesc.blogspot.com.br

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E por falar em liberdade de ensinarautonomia e autodidatismo, vejam a corajosa medida que está dando certo implementada por uma diretora em uma escola de São Paulo:

Escola em SP inova ao inverter turno de alunos

Uma das raras exceções em São Paulo é o da escola estadual Francisco Brasiliense Fusco, no Jardim Umarizal, na zona oeste da capital. Há cinco anos, a diretora Rosangela Macedo Moura resolveu desafiar a lógica predominante – em que alunos a partir do 6º ano (antiga 5ª série) estudam de manhã e os de anos anteriores, à tarde – e inverter de turno os estudantes. […]

“Todos os diretores têm autonomia sobre os horários, mas muito têm medo de mudar. Quando eu alterei os turnos aqui, muitos me criticaram, dizendo que eu estava inventando moda.”

Neste ano, todos os estudantes do 6º ao 9º ano do colégio ainda estão estudando à tarde. Mas Rosangela precisou passar para noite os do ensino médio. A diretora explicou que a mudança foi uma estratégia para que ela consiga, no ano que vem, implementar o período integral para todos os anos. “Eu preciso mostrar que tinha salas livre à tarde, para convencer as autoridades que tenho como encaixar todos os alunos no período integral.” Segundo a diretora, tomar essa decisão foi triste, mas necessária. “Foi por uma boa causa, porque já está mais que provado que as crianças aqui precisam ficar o dia todo na escola.”[…]

Leia mais no sítio do uol: www.uol.com.br/

 

 

Intercâmbio Brasil e Portugal (II)

Como Evoluir com Novas Ideias

A participação de todos – professores, treinadores, pedagogos, agentes educacionais, administradores, incluídos agentes de marketing – é imprescindível. Efetuar um planejamento pressupõe estabelecerem objetivos a serem cumpridos e, passo a passo, reformular suas diretrizes. Quem poderá fazê-lo?

Vocês mesmos devem buscar e certamente encontrarão as soluções apropriadas, não esperem que os dirigentes façam-no. Apresentem a eles um plano de metas a serem cumpridas e tratem de proceder a uma auto gestão, tornando-se autônomos e construtores do próprio fazer com o mínimo de conotações políticas. No Brasil é permitida a criação de Ligas desportivas, independentemente das federações estaduais (o futebol tem a “Liga dos 13”). E em Portugal, o que diz a lei? Ao que percebo pelas críticas no sovolei e pelos Anais do Congresso Desportivo Nacional português (2005-2006), os dirigentes de modo geral são muito criticados e apegados ao poder.

Educação Motora. Não conheço uma cartilha de receitas que possa ser usada para educar todas Mas crianças da mesma forma. Embora as crianças compartilhem de semelhanças básicas, as metodologias conhecidas sugerem que o professor deve responder às ideias únicas de cada criança de uma forma flexível. O que se pretende fazer é comunicar uma forma de pensamento sobre crianças e ações de modo que os professores sejam capazes de inventar suas próprias atividades, isto é, serem criativos, e não repetitivos aplicando técnicas de adestramento. Salienta-se ainda que os princípios gerais de ensino que delinearem devem sempre ser adaptados por cada professor a um grupo específico de crianças num determinado tempo, evoluindo passo a passo. E observem que essas técnicas podem ser utilizadas para quaisquer atividades desportivas.

Subsídios Pedagógicos para a estruturação das atividades:

  • Centralizar esforços na invenção de atividades que permitam às crianças agir sobre o material empregado – bolas, redes e principalmente outros objetos –, e observar as reações ou transformações. Esta é a essência do conhecimento físico, onde o papel das ações do sujeito é indispensável para o entendimento.
  • Desenvolver a autonomia: as crianças aprenderão a manipular os mais variados objetos e a atuar com eles, construindo suas próprias experiências.
  • As crianças são curiosas; levá-las a comentar e a questionar é uma excelente técnica pedagógica na promoção da autonomia. Lembrem-se de que não são as respostas que movem o mundo, mas as perguntas.
  • Considerar que a importância dos erros não deve ser negligenciada, visto que um erro corrigido é frequentemente mais instrutivo que um sucesso. Tirar proveito pedagógico em cada situação.

“A instrução, ou transmissão do conhecimento cumulativo do passado – “quem aprendeu a andar de bicicleta não esquece jamais” –, tem um lugar legítimo na educação do indivíduo. Isto é, deve haver uma forma indireta de ensinar que se entrose com, e apóie a construção material do conhecimento que se iniciou na infância. As ideias iniciais a serem apresentadas são apenas o começo de uma tentativa de desenvolver tal forma de ensino. Dentro em breve, espera-se, mais educadores se aprofundarão em pesquisas de causalidade. Não se pode esperar que a autonomia de um indivíduo se desenvolva totalmente se a educação foi limitada aos anos iniciais de sua formação. O uso de uma metodologia ou teoria significa mudanças drásticas na concepção do professor sobre o processo educativo. Quando o foco do ensino desvia-se do que o professor faz para como a criança constrói seu próprio conhecimento, o centro da sala de aula não mais será a matéria ou o método de ensino, e o pensamento do professor sofrerá uma revolução semelhante à revolução de Copérnico. A fim de estimular a autonomia, os professores  terão que parar de tentar enquadrar o indivíduo em um molde. A ideia é produzir adultos com mentes inquisidoras, críticas e inventivas. Também acredita-se que os formandos em tais escolas tenham maior probabilidade de continuarem aprendendo e se desenvolvendo pelo resto de suas vidas”. (Implicações da teoria de Piaget)

Autonomia. Finalmente, pode ser útil mencionar que à medida que observamos os professores começarem a usar novos métodos de ensino, percebemos algumas vezes duas fases iniciais de mudança. Uma na qual eles se sentem paralisados na sala de aula. São frequentes comentários como “Eu era capaz de ensinar sem pensar no por que eu estava fazendo o que fazia”. Uma segunda reação posterior é tentar muitas intervenções. Isto parece originar-se da nova consciência dos professores da análise racional combinada com o velho hábito de ensinar falando. Com a experiência, geralmente o professor torna-se capaz de descentralizar-se e pensar mais em termos do que as crianças estão pensando, e essa descentralização resulta em uma intervenção mais adequada. Dizia eu durante aula numa universidade, “Faço-me criança enquanto produzo a aula”. 

Conclusão. Quando o professor supera as fases iniciais de reconstrução de sua forma de pensamento sobre o ensino, ele encontra um novo estímulo e uma nova confiança que provém da sua utilização dos instrumentos teóricos adequados para a análise de sua prática de ensino. Enfatizo que os relatos das atividades apresentadas em diversos momentos do meu blogue não são modelos para serem seguidos pelos professores. Eles são apenas algumas formas pelas quais em momentos específicos tentei usar a teoria com um grupo de indivíduos (crianças, jovens ou adultos). Portanto, os professores devem transcender essas ideias construindo por si próprio formas de aplicar os princípios esquematizados segundo a orientação pedagógica da escola.

Voleibol, Brasil e Portugal (II)

Como evoluir com novas ideias

A participação de todos – professores, treinadores, pedagogos, agentes educacionais, administradores, incluídos agentes de marketing – é imprescindível. Efetuar um planejamento pressupõe estabelecerem objetivos a serem cumpridos e reformular suas diretrizes. Quem poderá fazê-lo? Vocês mesmos, não esperem as ações institucionais, ou apresentem a elas um plano de metas a serem cumpridas e tratem de proceder a uma auto gestão, tornando-se autônomos e construtores do próprio fazer com o mínimo de conotações políticas. No Brasil é permitida a criação de Ligas desportivas, independentemente das Federações estaduais (o futebol tem a “Liga dos 13”). E em Portugal, o que diz a lei? Não conheço uma cartilha de receitas que possa ser usada para educar todas as crianças da mesma forma. Embora as crianças compartilhem de semelhanças básicas, as metodologias conhecidas sugerem que o professor deve responder às ideias únicas de cada criança de uma forma flexível. O que se pretende fazer é comunicar uma forma de pensamento sobre crianças e ações de modo que os professores sejam capazes de inventar suas próprias atividades, isto é, serem criativos, e não repetitivos aplicando técnicas de adestramento. Salienta-se ainda que os princípios gerais de ensino que delinearem devem sempre ser adaptados por cada professor a um grupo específico de crianças num determinado tempo, evoluindo passo a passo.

Blogues. Atualmente, uma das melhores ferramentas de ensino universitário. O mérito de um blogue é que ele vai além das generalidades, dando ideias práticas e exemplos concretos, mas sem fornecer receitas ou um método pronto para usar. Alguns exemplos são fornecidos para algum balizamento inicial para os menos experientes no desporto. Os leitores poderão discutir como um professor pode e deve experimentar em sua própria classe criando várias situações e avaliando suas intervenções em vista das reações de seus alunos. A partir disso, entende-se muito bem o que vem a ser o caráter essencialmente “construtivista”, e o consequente ganho em autonomia para educar. Lembro que não estamos falando tão somente do ensino do voleibol, mas de múltiplas atividades na infância. Aqui tratamos de Metodologia e Pedagogia a empregar e a ser discutida. Fica então a sugestão para uma amplitude de troca de conhecimentos e informações: construam o seu próprio blogue e comuniquem-se entre si, pois dessa forma TODOS poderão expor suas ideias e experiências. O ganho é geral. Se preferirem, utilizem inicialmente o sovolei ou o procrie.

Subsídios pedagógicos para a estruturação das atividades:  1) Centralizar esforços na invenção de atividades que permitam às crianças agir sobre o material empregado – bolas, redes e principalmente outros objetos –, e observar as reações ou transformações. Esta é a essência do conhecimento físico, onde o papel das ações do sujeito é indispensável para o entendimento.  2) Desenvolvendo a autonomia: as crianças estarão aprendendo a manipular os mais variados objetos e a atuar com eles, construindo suas próprias experiências.  3) As crianças são curiosas; levá-las a comentar e questionarem é uma excelente técnica pedagógica na promoção da autonomia. Lembrem-se de que não são as respostas que movem o mundo, mas as perguntas.  4) O professor deve considerar que a importância dos erros não deve ser negligenciada, visto que um erro corrigido é frequentemente mais instrutivo que um sucesso. Tirar proveito pedagógico em cada situação.

A instrução, ou transmissão do conhecimento cumulativo do passado – “quem aprendeu a andar de bicicleta não esquece jamais” –, tem um lugar legítimo na educação de um indivíduo. Isto é, deve haver uma forma indireta de ensinar que se entrose com, e apoie a construção material do conhecimento que se iniciou na infância. As ideias iniciais a serem apresentadas são apenas o começo de uma tentativa de desenvolver tal forma de ensino. Dentro em breve, espera-se, mais educadores se aprofundarão em pesquisas de causalidade. Não se pode esperar que a autonomia de um indivíduo se desenvolva totalmente se a educação foi limitada aos anos iniciais de sua formação. O uso de uma metodologia ou teoria significa mudanças drásticas na concepção do professor sobre o processo educativo. Quando o foco do ensino desvia-se do que o professor faz para como a criança constrói seu próprio conhecimento, o centro da sala de aula não mais será a matéria ou o método de ensino, e o pensamento do professor sofrerá uma revolução semelhante à revolução de Copérnico. A fim de estimular a autonomia, os professores  terão que parar de tentar enquadrar o indivíduo em um molde. A ideia é produzir adultos com mentes inquisidoras, críticas e inventivas. Também acredita-se que os formandos em tais escolas tenham maior probabilidade de continuarem aprendendo e se desenvolvendo pelo resto de suas vidas. Enfatizo que os relatos das atividades apresentadas em diversos momentos do meu blogue não são modelos para serem seguidos pelos professores. Eles são apenas algumas formas pelas quais em momentos específicos tentei usar a teoria com um grupo de indivíduos (crianças, jovens ou adultos). Portanto, os professores devem transcender essas ideias construindo por si próprio formas de aplicar os princípios esquematizados segundo a orientação pedagógica da escola.

Autonomia. Finalmente, pode ser útil mencionar que à medida que observamos os professores começarem a usar novos métodos de ensino, percebemos algumas vezes duas fases iniciais de mudança. Uma na qual eles se sentem paralisados na sala de aula. São frequentes comentários como “Eu era capaz de ensinar sem pensar no por que eu estava fazendo o que fazia”. Uma segunda reação posterior é tentar muitas intervenções. Isto parece originar-se da nova consciência dos professores da análise racional combinada com o velho hábito de ensinar falando. Com a experiência, geralmente o professor torna-se capaz de descentralizar-se e pensar mais em termos do que as crianças estão pensando, e essa descentralização resulta em uma intervenção mais adequada. Dizia eu durante aula numa universidade, “Faço-me criança enquanto produzo a aula”. 

Conclusão. Quando o professor supera as fases iniciais de reconstrução de sua forma de pensamento sobre o ensino, ele encontra um novo estímulo e uma nova confiança que provém da sua utilização dos instrumentos teóricos adequados para a análise de sua prática de ensino.

Importância de um Bom Ensino (I)

A liberdade de não aprender e o ato de ter ideias maravilhosas

Penso que a inteligência não pode desenvolver-se sem conteúdo. Fazer novas ligações depende de saber o suficiente sobre algo em primeiro lugar para ser capaz de pensar em outras coisas para fazer, em outras perguntas a formular que exigem as ligações mais complexas a fim de compreender tudo isso. Quanto mais ideias uma pessoa já tem à sua disposição, mais novas ideias ocorrem, e mais ela pode coordenar para construir esquemas ainda mais complicados”. (Eleanor Duckworth, The Having of Wonderful Ideas, 1972)

Esse texto ocorreu-me a partir da leitura da entrevista do treinador e Professor de Educação Física português, Arlindo Miranda, sob o título “A Nossa Missão” vinculada em www.sovolei.com/Zona7 em abril de 2010. A ele peço perdão por minha intromissão.

Motivação e interesse

O que o professor ensina nunca é melhor do que o professor é. Ensinar depende da personalidade do professor – existem tantos métodos bons como existem professores bons. É sabido por todos os maus professores como não interessar o aluno por qualquer atividade física. E o que faz, então, um bom professor para atrair e manter as crianças em qualquer atividade? Será que ensinar é ensinável? Ensinar é uma arte e uma arte é ensinável? Existe alguma coisa que se possa denominar de métodos de ensino?

Como despertar o interesse?

Esta me parece uma excelente indagação para incrementarmos um processo de aprendizagem. O desenvolvimento de uma teoria eficaz do “ponto onde o aprendiz está” e a construção de uma “psicologia do assunto” que seja operável representam desafios formidáveis: “Qual o próximo passo a dar” aparenta ser uma exigência impossível. Para uma aprendizagem eficiente, o aluno deverá estar interessado nos conteúdos a aprender e sentir prazer nesta atividade. Você saberia como fazer para despertar e manter esse interesse?

A arte de ensinar

Na formação esportiva, onde o ajustamento motor é dominante (ou indispensável), é grande o risco em proceder por adestramento para parecer ganhar tempo ou simplesmente por dificuldade de utilizar outra modalidade de aprendizagem. Tenho adotado algo como a interação, a negociação e a construção conjunta de vivências, que habilitem a criança (e adultos) a aprender a linguagem proposta. Para tal há sempre uma exigência de um elemento de interdependência e a capacidade de fazer descobertas acidentais. Hoje, tenho certeza que caminhei sempre por intuição nesse sentido especialmente quando me recordo das atividades motoras a que era chamado a participar nas brincadeiras de rua, tais como subir em árvores, lançar pedras, nadar e pescar (de mergulho), andar de bicicleta, jogar xadrez, pular carniça e uma gama variada de desportos aprendidos em terrenos baldios. Por isto, quando me iniciei propriamente dito no voleibol aos 18 anos, tive um aprendizado acelerado, derrubando mitos: “Quem não aprendeu antes, não aprende mais”. Todas aquelas vivências se somaram às novas atividades, com independência e descobertas acidentais, pois não foi tão necessário alguém dizer-me o que fazer ou como criar algo. Por exemplo, que melhor exercício existe para aprender a antecipar-se do que o jogo de xadrez, que aprendi a jogar aos 8-9 anos?

Profissionalismo vs. amadorismo

Inicialmente, as motivações dos personagens – atleta e treinador – que compõem o mundo do voleibol são distintas. Além disso, mais à frente, no alto nível, surge o inevitável “dirigente” com suas aspirações de poder e vaidades, e o “patrocinador”, com seus interesses mercantilistas.

Motivações do treinador  – Na prática, e podemos também deduzir das declarações de alguns treinadores, elas nos remetem sempre ao relacionamento com os atletas (ou futuros atletas). Isto pode ser observado quando se prospecta e acentua o potencial atual e o possível rendimento atlético do indivíduo. Neste momento, estão desprezados quase sempre os aspectos sócio-emocionais. Ou então, quando nos damos conta que num dado instante qualquer peça (indivíduo) pode ser trocada por outra em melhor estado, isto é, que apresente melhor rendimento. O que está em jogo sempre é a competência do treinador em constituir um grupo (equipe) vencedor. Sua motivação é a conquista, ser um campeão, tornar-se celebridade, ter o reconhecimento dos outros, e, certamente, afirmar-se profissionalmente com um ótimo salário. Quiçá, ser o treinador nacional, o ápice da carreira e de sua realização. Por isto o treinador ”da vez”, o que está em evidência mundialmente, torna-se referência. Atualmente, reproduzem-se citações encontradas em livro do Bernardo Rezende: “Perfeito: golpe forte, bola dentro, quase na linha (15-13). Éramos Campeões do Mundo”. E outras tantas formas ufanistas, em claro desabafo de endomarketing.

O jovem e suas motivações

Antes de ingressar nos treinamentos o indivíduo deve aconselhar-se primeiramente com seus pais/responsáveis, ou mesmo com um bom professor, de modo a que possa se balizar nas escolhas que terá pela frente em sua vida. Neste momento, ensinar a pensar é uma tarefa primacial. Por outro lado, se na sua fase infantil teve influência dos adultos pela forma com que se relacionavam com elas – autônoma ou heterônoma – essas formas se pronunciarão mais cedo ou mais tarde na vida adulta influenciando sua tomada de decisão e comportamento. Daí a responsabilidade dos adultos que lidam com crianças e adolescentes compreenderem e imaginarem o que a criança está pensando, pois se trata do aspecto mais desafiador de qualquer tipo de ensino. Nem sempre é possível saber, naturalmente, mas a observação cuidadosa e criteriosa pode levar o professor a educar seu poder de avaliação. Destaque neste processo para a teoria vigotskiana das “zonas de desenvolvimento proximal”.

Na prática, os clubes quase sempre têm suas divisões inferiores, obrigatórias em muitos lugares, favorecendo uma possível renovação e prospecção de talentos. Entretanto, daí decorre uma competição desenfreada entre os próprios atletas na escala de acesso às categorias superiores e uma consequente evasão de indivíduos não aproveitados nos escalões superiores. Aos mais renitentes resta a tentativa de “duelar” em outras agremiações numa tentativa desesperada de manter-se no ramo competitivo. De uma forma ou de outra, haverá sempre uma permanente substituição de peças nos escalões inferiores. Entre os adultos esta alternância é um pouco mais demorada exatamente pelo reduzido número de atletas em condições técnicas para substituí-los. Ao jovem não aproveitado resta retornar aos estudos e à vida tornando-se um praticante eventual do desporto. A motivação para se iniciar numa nova tarefa se manifesta por diversos fatores. Particularmente imagino que desde o imponderável, à pressão familiar. É evidente que o professor de Educação Física na escola funciona muitas vezes como fiel da balança: tanto pode ser o facilitador como o detonador de aspirações. Aliás, como qualquer outro das demais matérias. O jovem pode aspirar ser um grande jogador de voleibol ou de qualquer outra modalidade. Entretanto, nesse percurso há uma série de obstáculos a serem vencidos que, às vezes, independem de sua vontade, constituindo-se o maior deles a habilidade natural mínima para determinados movimentos. Ocorre que até certa idade pode valer-se de outros recursos que compensem, mas, na fase adulta, a competição torna-se mais restrita e, provavelmente, sucumbirá diante de um outro mais bem dotado nesta arte.

Componente psicológica

Invariavelmente, não se pode fugir à assertiva sobre as componentes que compõem o universo dos desportos: a técnica, a tática e fatores sócio-emocionais (ou psicológicos). Muito embora todas sejam expressivas no cômputo geral, há certa relevância na última delas, uma vez que a técnica e a tática são expressões basicamente relativas à forma de se exercitar, de adestramento, e, portanto, passíveis de serem copiadas e imitadas por todos, havendo ligeiras diferenças quanto à habilidade individual inata. É o que leva alguns entendidos a dizerem que uma equipe de ponta depende em muito da “safra”, isto é, do tempo em que se aglutinam indivíduos da alta qualidade técnica.  Nas competições de “ponta”, ou mesmo nos embates entre equipes do mesmo nível, o que pode fazer grande diferença é a componente emocional, especialmente dos seus treinadores. Já se dizia que para conhecer uma equipe basta conhecer-lhe o técnico. Ao contrário do que muitos afirmam, não é necessário estarmos numa final olímpica, ou mesmo de um mundial, para encontrarmos uma situação de tensão psíquica extrema. A equipe brasileira feminina passou por essa experiência no jogo contra a Rússia quando disputavam a medalha de bronze numa Olimpíada. Em fato anterior, em Barcelona (1992), os rapazes brasileiros levaram de vencida a equipe holandesa na final, sagrando-se campeões: não tínhamos qualquer responsabilidade de ganhar aquele jogo, enquanto que a Holanda, até mesmo por ter derrotado a temível Itália, tornou-se favorita ao troféu maior. Costumo dizer, sem menosprezo à conquista, que “ganhamos sem querer”, pois tenho consciência de como a equipe foi preparada e o que se esperava dela. Inclusive, os tempos pós-medalha viriam confirmar essa assertiva. Existe ainda uma consideração psicológica referente à participação brasileira em Olimpíadas que nos remete ao ano de 1984, em Los Angeles (EUA), quando nos sagramos vice-campeões. Sobre este episódio recorro à opinião de um especialista, o Dr. Victor Matsudo, à época diretor-geral do vanguardista Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul, em São Paulo, e assessor internacional do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. Ele foi um dos 2.400 cientistas, médicos, psicólogos e pesquisadores de 140 países a participar do Congresso Olímpico de Los Angeles. Voltarei a falar deste assunto logo a seguir. Aguardem.

Final de jogo x final olímpica

(…) “Perfeito: golpe forte, bola dentro, quase na linha (15-13). Éramos Campeões do Mundo”; (…) “Os últimos 3 pontos foram dele”. Não me parece ter coerência com (…)”Giovane, entra e não perde o saque, pelo amor de Deus”. Todavia, deixemos de lado a coerência dos fatos e o apelo divino para examinarmos outro aspecto mais importante.

Recordo-me de fatos que envolvem a “entrada em jogo” de um atleta pelo saque, isto é, do banco de reservas para a realização imediata do serviço. Como técnico e como atleta já passei por esta experiência, felizmente também com sucesso. Claro que a tensão de uma final mundial (ou olímpica) traz uma carga emocional muito mais forte para ambos, treinador e atleta. Todavia, tentem considerar racionalmente ambos os fatos, não considerados os “aspectos exteriores”, isto é, simplesmente um jogo entre duas equipes. Concluiremos que é um fato corriqueiro no voleibol, tratando-se de mais uma estratégia de jogo. Os novatos na profissão logo se apercebem disto e, na medida do possível, usam com proficiência. O que difere preponderantemente são as circunstâncias, o quadro emocional que envolve a todos, inclusive os assistentes presentes e distantes (TV). E, claro, principalmente aos protagonistas. Do folclore criado pelos envolvidos – cada um percebe a realidade do seu jeito – pode-se tirar proveito e adquirirmos ensinamentos das lições concedidas. Creio ser muito difícil aos vitoriosos aprenderem algo; é tarefa para os derrotados, e aqui está a primeira lição de vida, muito evidenciada pelos japoneses: A importância dos erros não deve ser negligenciada, visto que um erro corrigido é frequentemente mais instrutivo que um sucesso imediato. Tive paciência em ouvir em duas oportunidades o relato do Giovane, ambas em Florianópolis (SC). As palestras foram complementadas por um vídeo muito bem produzido sobre o atleta.

Estratégia do saque

(…) “Vai lá e saca na linha; esclareço que não sou um estrategista tão poderoso”.

O Bernardo é um dos melhores estrategistas em ação, confirmado pelos resultados que vem obtendo em sua carreira de treinador, tanto em equipes femininas, quanto masculinas. Inclusive tem a fama de só “falar naquilo” (o vôlei). Quanto à estratégia de saque, quando criança – categorias mirim ou infantil – teve seu aprendizado no Fluminense F. C. (Rio de Janeiro) com o saudoso Benedito Silva, o querido Bené. Este atuara como levantador nas décadas de 40 e 50 e era o maior especialista em saques por baixo. Tornou-se técnico e passou para seus pupilos a arte de aproveitar a técnica do saque para proveito da equipe. Enquanto a maioria dos atletas punha a bola em jogo, alguns dos seus conseguiam levar o caos aos adversários. Eu, por exemplo, fui um deles, ainda que só tenha me iniciado aos 18 anos de idade. Recordo-me de treinos da seleção brasileira na Escola Naval, Rio, com vistas ao Mundial da Rússia em 1962. Num dos treinos coletivo, ao encaminhar-me para o saque imaginei o que poderia realizar sacando por baixo, pois conhecia a todos e suas deficiências na recepção. E, ainda, o desafio seria maior, pois estaria sacando contra a equipe titular. “Foram quatro pontos seguidos e um desastre para todos, inclusive provocou a intervenção abrupta do treinador (Sami) para as considerações raivosas do tipo: Como não conseguem passar a bola de um saque por baixo”? Esclareço aos mais novos que na época nenhum adulto, muito menos naquele nível, sacava daquele modo: todos usavam o tipo tênis, pois não queriam passar por retrógrados (e também porque não sabiam fazê-lo). Quando ainda dirigia a seleção feminina, víamos pela TV as imagens do Bernardo sentado no banco a orientar a sacadora quanto ao local da quadra adversária a ser atingido: exibia para ela uma plaqueta com o número correspondente à zona desejada por ele. As moças sacavam o tipo tênis nessa época. Ao passar a treinar a seleção masculina não usou tal recurso. Penso que deveria, pois à exceção de 2-3 atletas, os demais colocavam a bola em jogo e, acreditem, quase sempre sobre o líbero adversário, em princípio o melhor passador. Poder-se-ia alegar que não havia tempo durante os treinos para mudar a característica do jogador ou coisas do gênero. Dessa maneira, imagino que tanto em jogos no alto nível como em qualquer outra divisão ou competição, a atitude do treinador é capital: ele sabe (ou deveria saber) do que é capaz cada um de seus atletas e a responsabilidade que passa a eles. O dilema do treinador passa a ser: “Deixo o jogador decidir”? Ou, ao contrário, “Decido por ele”? Ou, então, “Não erre; ponha a bola em jogo”.

Vejam o texto a seguir, um ensaio sobre a obra piagetiana que trata da formação e o comportamento psicológico dos indivíduos desde a sua infância e a sua influência na fase adulta.

Comportamento psicológico

Como poderíamos caracterizar o comportamento psicológico nas equipes de alto nível do voleibol? Os indivíduos se comportariam como os novatos na aprendizagem guardadas as devidas proporções? Não seria possível atribuir-lhes a real importância desde os primeiros ensaios desportivos?

Para falarmos desse assunto faço um breve preâmbulo para entendermos a diferença entre autonomia e heteronomia. Heteronomia é definida como sendo governado por outros, enquanto autonomia significa ser governado por si mesmo. A moralidade da heteronomia é caracterizada por obediência e conformismo às regras externas e/ou aos desejos de outros, enquanto que a moralidade da autonomia é caracterizada pela convicção pessoal sobre valores e regras que são construídos por nós mesmos. Exemplificando: o aluno heterônomo obedece ao professor sem medo de punição ou desejo de ser recompensado de alguma forma. Quando o aluno mais autônomo obedece, não é por mera obediência, mas por uma disposição de cooperar com uma solicitação que ele considere razoável e sensível. Quando não vê qualquer razão para obedecer, o aluno mais autônomo resiste e pergunta: “Por que eu tenho que fazer isso?” Este é também um pensamento crítico, bastante cultuado pelos judeus.

Ensino crítico

“Os judeus são ensinados a reverenciar a rebeldia intelectual – rebeldia sintetizada em Abraão, ao destruir os deuses e inaugurar o monoteísmo. Nada mais é do que os educadores chamam de ensino crítico; contestar sempre as verdades estabelecidas, princípio básico da pedagogia moderna. É um treinamento decisivo para quem deseja mais do que reproduzir, mas inventar. O bom educador deve ensinar a seus alunos a olhar sempre com uma ponta de desconfiança aquilo em que todos acreditam e dar uma ponta de crédito a ideias ou projetos que todos desmerecem. Ninguém inventa nada se for servil ao conhecimento passado”. Na medida em que o adulto encoraja a criança a pensar por si mesma, suas possibilidades de tornar-se autônoma (“crescer”) são intensificadas na mesma proporção. Para mim, autonomia é o objetivo primeiro porque não pode haver autonomia moral sem autonomia intelectual, e vice-versa. Se a criança pequena aprende constantemente regras morais preestabelecidas e não lhe é permitido questionar o adulto, suas experiências não lhe proporcionarão oportunidades suficientes para desenvolver uma atitude de avaliação crítica do que o adulto lhe diz. A repressão sobre o comportamento moral, portanto, é uma repressão sobre o desenvolvimento intelectual. Concluindo, a moralidade também é construída por cada indivíduo de “dentro para fora”.

Uma decisão histórica – No dia 2.5.2010, na decisão do campeonato paulista de futebol, jogavam as equipes do Santos e do Santo André. Disputa muito acalorada que resultou na expulsão de três atletas do Santos e um do Santo André. Contudo, a categoria e habilidade de um atleta santista de 21 anos de idade foi o destaque nos últimos momentos, o que redundou na conquista do campeonato. E ele foi além. Faltando ainda alguns minutos para o término do jogo, o técnico do Santos resolveu realizar uma substituição e indicou-o para sair. Qual não foi a surpresa de todos: o jogador gritou que não sairia, indicou sua resolução por gestos, e não coube outra atitude ao treinador senão a de designar um outro atleta. O que acham da decisão do jogador?  

Objetivos sócio-emocionais e cognitivos – Cognição e emoção, na realidade, uma não existe sem a outra. Quer um exemplo? Observe-se o bloqueio emocional que a maioria dos adultos tem hoje com relação à Matemática. É o resultado de se forçar um conhecimento indigesto, preestabelecido, pela garganta abaixo do estudante; quando este tem um bloqueio emocional sobre alguma coisa, o resto da aprendizagem cessa. Essa visão indissociável entre emoção e cognição pode ser confirmada pela observação de cada professor. O interesse das crianças na aprendizagem é adversamente afetado por sentimentos como insegurança, frustração, raiva e medo. As dificuldades sócio-emocionais perseguem todas as crianças de tempos em tempos, e o professor nessas ocasiões deve preocupar-se primeiro com esses problemas. Conclui-se que se as crianças propõem ideias, problemas e questões sobre conteúdo específico, e se elas colocam em relação objetos e acontecimentos as operações estão destinadas a se desenvolver.

Conclusão

No voleibol competitivo há um afunilamento natural nos praticantes, pois nem todos que se iniciam nas categorias de base chegarão à idade adulta para prover as equipes principais. O limite de atletas por equipe (12 a 15) é o principal fator limitante. Como consequência, somente os mais aptos tecnicamente ascenderão para as divisões imediatamente superiores. Os não aproveitados, então, são dispensados peremptoriamente e o único caminho para continuarem atuando seria buscar seu lugar em outra agremiação, agora competindo com outros indivíduos que, a critério do treinador, terão o seu destino selado. Ou, ainda, praticar o esporte por lazer.