Como funciona a nossa mente
– O medo de perder é mais forte do que o prazer de ganhar?
– Uma pessoa mais bonita será mais competente?
Daniel Kahneman, psicólogo judeu autor do livro “Rápido e Devagar, duas formas de pensar”, desenha um mapa do nosso modo de pensar e oferece métodos para combater os erros que cometemos de modo inconsciente e para melhor aplicar a nossa capacidade de raciocínio analítico. Incentivo a leitura dos estudos sobre a tomada de decisão conduzida por este psicólogo, prêmio Nobel de Economia, relembrando aos leitores o artigo postado em 9/5/2010 sob o título “Importância de um Bom Ensino (I)”, Ali fizemos coro aos ensinamentos de Eleanor Duckworth, na sua obra “Importância de não aprender e o ato de ter ideias maravilhosas” (The Having of Wonderful Ideas, 1972). Assim ela se expressava sobre o aprendizado:
“Penso que a inteligência não pode desenvolver-se sem conteúdo. Fazer novas ligações depende de saber o suficiente sobre algo em primeiro lugar para ser capaz de pensar em outras coisas para fazer, em outras perguntas a formular que exigem as ligações mais complexas a fim de compreender tudo isso. Quanto mais ideias uma pessoa já tem à sua disposição, novas ideias ocorrem, e mais ela pode coordenar para construir esquemas ainda mais complicados”.
A arte de ensinar
Na formação esportiva, onde o ajustamento motor é dominante (ou indispensável), é grande o risco em proceder por adestramento para parecer ganhar tempo ou simplesmente por dificuldade de utilizar outra modalidade de aprendizagem. Tenho adotado algo como a interação, a negociação e a construção conjunta de vivências, que habilitem a criança (e adultos) a aprender a linguagem proposta. Para tal há sempre uma exigência de um elemento de interdependência e a capacidade de fazer descobertas acidentais. Hoje, tenho certeza que caminhei sempre por intuição nesse sentido, especialmente quando me recordo das atividades motoras a que era chamado a participar. (…) Por isto, quando me iniciei propriamente dito no voleibol aos 18 anos, tive um aprendizado acelerado, derrubando mitos: “Quem não aprendeu antes, não aprende mais”. Todas aquelas vivências se somaram às novas atividades, com independência e descobertas acidentais, pois não foi tão necessário alguém dizer-me o que fazer ou como criar algo. Por exemplo, que melhor exercício existe para aprender a antecipar-se do que o jogo de xadrez, que aprendi a jogar aos 8-9 anos? Sobre o mesmo assunto, consignamos em vários artigos os conceitos pedagógicos da novel teoria neural divulgada por Daniel Coyle em seu livro “O código do talento”.
Agora, chega-me às mãos essa obra-prima (Financial Times) de Kahneman, a qual devoro por dias na busca de um aprimoramento que me conduza a um aprender a ensinar mais eficiente. Resumindo, bons autores, bons ensinamentos. Aproveitemo-nos todos. Vejam alguns dos tópicos que selecionei em minha primeira abordagem às páginas (609) em sua visão inovadora sobre como nossa mente funciona e como tomamos decisões:
- Nossa mente funciona de duas formas: uma rápida e intuitiva, e outra devagar, porém mais lógica e deliberativa.
- A tomada de decisão é uma crença ilusória; estamos sempre expostos a influências que podem minar nossa capacidade de julgar e agir com clareza.
- Por que o medo de perder é mais forte do que o prazer de ganhar?
- Por que assumimos que uma pessoa mais bonita será mais competente?
- De que modo o humor influencia o desempenho de uma tarefa?
A Máquina associativa
- O trabalho mental que gera impressões, intuições e diversas decisões ocorrem silenciosamente em nossa cabeça. Normalmente nos permitimos nos guiar por impressões e sentimentos, e a confiança que temos em nossas crenças e preferências intuitivas em geral é justificada, mas nem sempre. Muitas vezes estamos confiantes quando estamos errados, e um observador objetivo tem maior probabilidade de detectar nossos erros do que nós mesmos.
- Aperfeiçoar a capacidade de identificar e compreender erros de julgamento e escolha, nos outros e afinal em nós mesmos, propicia uma linguagem mais rica e mais precisa para discuti-los. Pelo menos um diagnóstico mais apurado pode sugerir uma intervenção para limitar o dano que julgamentos e escolhas ruins muitas vezes ocasionam.
- A normalidade de uma multiplicidade de eventos poderá ser alterada por um evento. Esses eventos parecem normais porque convocam o episódio original, vão recuperá-los da memória e são interpretados em conjunção com ele.
Atenção e esforço
- Esforço mental: à medida que você se especializa numa tarefa, a demanda de energia diminui. Na economia da ação, esforço é um custo, e a aquisição de habilidade é impulsionada pelo equilíbrio de benefícios e custos.
- Custo & Benefício: os neurocientistas identificaram uma região do cérebro que avalia o valor global de uma ação quando ela é completada. O esforço que foi investido conta como um custo no cálculo neural.
- Linha de base: conjunto inicial de dados ou observações utilizados como referência em um estudo.
Priming, ideia, efeito ideomotor
- Conceito de priming: associação (rede) de ideias que se sucedem em nossa mente de um modo razoavelmente ordenado.
- O que é ideia? … “nódulos numa vasta rede, chamada memória associativa, em que cada ideia está ligada a muitas outras”.
- Ideias ativadas: a máquina associativa retrata apenas ideias ativadas, mas não considera (nem pode) informação que não detém.
- Efeito ideomotor: é um fenômeno de priming, em que uma ideia influencia uma ação; funciona nos dois sentidos.
O que você vê é tudo que há
A notável assimetria entre os modos como nossa mente trata informação que está presentemente disponível e informação de que não dispomos. O perigo das conclusões precipitadas: o que você vê é tudo que há.
- “Aparentemente não se deram conta da pouquíssima informação que tinham”.
- “Eles tomaram essa grande decisão com base em um bom relatório de um único consultor”.
- “Eles não queriam mais informação que pudesse estragar a história deles”.
Voltaremos ao assunto e, até lá, discutamos como ser um bom professor ou treinador.

