Antigamente…
Lembro aos leitores que nos primórdios do voleibol no Brasil a arbitragem era um problema a ser contornado e que só foi resolvido muitos anos mais tarde. Naquela época invariavelmente um atleta mais velho, com alguma experiência na condução de uma partida era solicitado a arbitrar. Eram poucos os jogos e quase sempre estavam presentes às partidas. Assim, eram convidados pelos capitães das equipes a presidir o espetáculo. Eu mesmo, apesar de ainda jovem, apitei diversas partidas em Niterói e se querem saber, com elegância e invejável concentração. Um fato interessante é que nunca tive nas mãos qualquer exemplar das Regras do Voleibol e nunca soube quem a tivesse visto. O Regulamento e as Regras eram passados aos técnicos e atletas via oral. A cada alteração, um rebuliço geral para identificar qual seria o critério das arbitragens e o que fazer no que se referia à parte técnica ou tática dos integrantes das equipes.
Na tentativa de constituir um quadro próprio e mantê-lo, pensou-se em profissionalizá-lo. No dia 8 de novembro de 1944 o presidente da Federação Metropolitana de Voleibol enviou seu Vice-Presidente à Escola de Educação Física para solicitar ao Diretor, Capitão Antônio Lyra, a realização de um curso especial para juízes. O motivo: a falta de Oficiais naquele ano.

Com o incremento do esporte a partir do Mundial de 60 no Rio de Janeiro, a necessidade de formar árbitros aumentou e foi incentivada, então, com a recente criação do Quadro regular da Federação. Inclusive, com grandes promessas que viriam se concretizar alguns anos depois, como Eduardo Alcântara (Dudu) e Josebel Guimarães Palmeirim, além, é claro, de Newton Leibnitz e José Leiroz, todos moradores e também atuantes nos campeonatos niteroienses.
A partir da profissionalização, os cursos de arbitragem e as Regras do jogo começam a proteger a figura do árbitro contra desvarios ou má conduta de atletas através das sinalizações correspondentes e os cartões de indisciplina. As denominações evoluíram para 1° árbitro, 2° árbitro, apontador (dois) e juízes de linha, que podem ser em número de dois ou quatro. Alguns poucos árbitros e apontadores atuavam no voleibol carioca no início da década de 40. Entre eles, o juiz Antônio Santos Moreira, o popular Nena; Joel Moura, que funcionava como fiscal e os apontadores (ou mesários), Heitor Gonçalves e Sylvio Cintra. Outros pontuaram nas três ou quatro décadas seguintes, tendo sido lembrados pela Federação com os títulos de EMÉRITOS (1975) Newton Leibnitz, Sérgio Freire, Wilson de Lima, Wilson Costa, Oduvaldo da Silva Lins, Wilson Bezerra de França; em 1993, Wilson França. E, em 1992, com o título de Benemérito, o árbitro José Sant’Anna Menescal, também funcionário por longa data da entidade.Muitos indivíduos se profissionalizaram no intuito de uma segunda renda, uma vez que os horários dos jogos eram compatíveis com suas funções principais. Assim, vimos surgir um grande número de árbitros oriundos da Polícia Militar e do Exército – com curso de monitores na EsEFEx –, na sua maioria sargentos. Mais à frente surgem os jovens universitários, estudantes de Educação Física. Todos, sem exceção, cumprindo estágio na divisão denominada incorretamente inferior (infantil). A partir dali ganhavam experiência e os mais interessados permaneciam na função galgando patamares acima através de cursos mais avançados da federação. Muitos deles alcançaram o maior dos níveis, o Internacional. Todavia, percebíamos total descaso, um abandono mesmo, na formação inicial desses novos árbitros. Aqueles que os formavam, os professores – com certeza árbitros mais antigos –, não os orientavam no sentido de conduzir as partidas de forma mais solta e livre, de modo que as crianças pudessem evoluir e se manifestar naturalmente nos jogos. Ao contrário, eram mais realistas do que o rei, impondo rigidez demasiada nas suas interpretações. Era absolutamente impossível jogar voleibol com aqueles “apitadores vorazes!” Repetia-se, assim, o que ocorria nas divisões adultas: o árbitro sendo a figura principal do jogo e todos os atletas subordinados às suas decisões “soberanas e boçais”, um jargão que se consolidou nesses anos. Contudo, o tempo nos mostraria que muitos defeitos não são próprios da época – eles se repetem. Por exemplo, em Belo Horizonte (MG), ano de 1978, em partida válida pelo campeonato entre as AABBs de todo o país, atuavam Niterói e São Paulo. O último lance da partida foi um ataque paulista para fora, que daria a vitória aos niteroienses. Entretanto, a bola tocara no bloqueio (eu era este jogador) e, incontinente, acusei o fato indicando-o ao 1° árbitro com o gesto correspondente. Mas, para surpresa minha e geral, ele não considerou este fato e prevaleceu o que vira, ou melhor, não vira. E, apesar das ponderações, reclamações e até choro dos paulistas, manteve a sua marcação. De minha parte nada pude fazer já que todos, inclusive ele, tomaram conhecimento do meu gesto.
Como se depreende de alguns comentários relatados na imprensa desde 1956, as queixas no país para o desenvolvimento técnico do voleibol também recaíam no aspecto técnico das arbitragens que, tais como as equipes, se ressentiam de um maior intercâmbio com escolas mais desenvolvidas. As jogadas de ataque conhecidas hoje como bolas chutadas seriam impossíveis no voleibol daquela época, uma vez que a precisão esperada pelo levantador depende do seu toque na bola de uma forma dita carregada, impossível aos olhos daqueles árbitros. Certamente assinalariam bola presa ou conduzida.
Cigarro, arma!
Nos primórdios dessa fase – início dos anos 70’s – era permitido aos técnicos fumarem no banco de reservas. Os árbitros, especialmente o 2° árbitro, durante os intervalos dos sets, deslocavam-se até o fundo da quadra e ali também fumavam. Não havia respeito ou atitudes condizentes com o espetáculo. Outro, um militar, ameaçou sacar sua arma numa discussão de arbitragem em jogo entre juvenis. Por certo, alguma coisa deveria ser feita no sentido de se obter um desenvolvimento equânime entre a técnica dos atletas e as arbitragens. Esta fase de apuro de atitudes da arbitragem só teve início a partir da profissionalização dos atletas na década de 80, com a participação efetiva e permanente de Carlos Nuzman, que chegava a ponto de advertir o árbitro sobre a sua conduta.
Mão de Ferro vs. Associação de Árbitros
A esse respeito, o presidente da Federação de Volley-Ball, em 6.6.84, resolveu advertir os árbitros José Menescal, Ricardo Ferreira Gomes e Ricardo Amorim Vilarinho Cardoso, em virtude de afirmações constantes de relatório conduzido pela Comissão Administrativa da própria FVR. A proposta de constituição de uma Associação de Árbitros do Rio de Janeiro visava a estruturar problemas legais como patrocínio dos uniformes, intercâmbio dos árbitros do Brasil, realização de congressos e seminários e recepção de adesões de outros Estados. A decisão se fez necessária por ferir normas legais que regem o desporto nacional, estando as referidas atividades exclusivamente afetas ao âmbito da Federação de Volley-Ball do Rio de Janeiro e da Confederação Brasileira de Volley-Ball.
Na atualidade, os Cursos de Formação de Árbitros têm a supervisão da COBRAV, sendo realizados com as Federações e duração média de 2 meses em dias alternados.
