Arbitragem e Estórias
A partir dessa postagem, estarei consignando a pouco e pouco alguns lances, situações cômicas, facetas resultantes de equívocos e, às vezes, até constrangedoras que pontificaram e marcaram época ao longo do tempo ajudando-nos a contar essas “estórias”. Inclusive aspectos polêmicos que envolveram a interpretação das Regras do jogo em tribunais esportivos. Vejam algumas delas.
1. Década de 40, durante um jogo do campeonato de Niterói (RJ), um dos atleta pediu permissão ao juiz para ir ao banheiro e foi atendido; enquanto isso o jogo esteve paralisado aguardando o seu retorno. Era bastante comum as equipes terem no máximo oito atletas e, neste caso, estava reduzida ao mínimo (seis), sem dispor de qualquer reserva. Para que não deixassem de atuar, o juiz agiu com bom senso e o jogo continuou tranquilamente, o que bem reflete o consenso de uma bela época, por isto denominada de “Romântica”. Em outras ocasiões, com o consentimento da equipe adversária, era permitida a inclusão de um atleta da 2ª Divisão (atuavam na preliminar) para completar os seis jogadores indispensáveis ao jogo.
2. Década de 50, partida entre os clubes Vila Isabel e América, e um dos destaques era o atleta Jorginho, que atuava pelo Vila e compôs a seleção brasileira de 1956. Num lance de defesa da sua equipe, o que parecia uma bola perdida, Jorginho conseguiu recuperar a bola e lançou-a alta junto à rede (2º toque). Aguardou que um dos companheiros completasse a jogada, o que seria o ataque (3º toque), mas como ninguém tomou a iniciativa, irritou-se já que seu esforço foi em vão e o ponto já estava perdido. Lançou-se em direção a bola e atacou-a com raiva e violência. A equipe do América ficou aguardando apenas o apito do árbitro confirmando a vantagem a seu favor. Entretanto, para surpresa geral, o juiz Pedro Moraes Sobrinho, distraído, validou o lance, atribuindo o ponto ao Vila Isabel.
Expectativa das Arbitragens em 1956
Acerca das impressões de José Gil Carneiro de Mendonça a partir de suas expectativas quando se dirigia ao Mundial de Paris, em 1956:
(…) “De qualquer maneira, a lição nos será utilíssima e o nosso vôlei muito progredirá com os ensinamentos que lá iremos colher. E, finalmente, poderemos saber realmente como se ‘apita’ em voleibol”.
Como se depreende, as queixas para o desenvolvimento técnico recaíam no aspecto das arbitragens que, como os atletas, ressentiam de um maior intercâmbio. As jogadas de ataque conhecidas hoje como bolas chutadas seriam impossíveis no Brasil de 56, uma vez que a precisão esperada do levantador dependeria do seu toque na bola de uma forma dita carregada, impossível aos olhos dos árbitros. Tempestivamente assinalariam bola conduzida.
Este e outros aspectos permitiam aos árbitros “decidirem” lances das partidas segundo o seu humor ou, o mais provável, sob as ameaças e pressão das torcidas locais. Assim quando o “mando de campo” era de determinada equipe, as invasões de bloqueio, que não eram permitidas pelas Regras, eram assinaladas preponderantemente contra a equipe adversária. Na partida de retorno, então no ginásio da outra equipe, o mesmo fato se repetia, sempre para o time que tivesse o “mando de campo”. Não existia uma uniformidade nas arbitragens e os protagonistas pouca instrução técnica tinham a respeito. Sempre foi uma “segunda” fonte de receita para aqueles que se propunham a arbitrar. E a Federação contemporizava as falhas argumentando a pouca disponibilidade no mercado de indivíduos para a tarefa. De fato, não existia igualmente uma Escola de árbitros.
Se gostaram do tópico, entrem no blogue e comentem. Estarei ao aguardo de suas “estórias”, pois me foram contadas por árbitros e atletas.
