Evolução das Regras do Voleibol – Praga, 1949 (3)

Professor Roberto Pimentel, autor e pesquisador.

Dando continuidade à reprodução da série de artigos do Prof. Paulo Azeredo sobre as interpretações das modificações feitas nas Regras de Volleyball por ocasião do Congresso internacional de Praga ( set./1949), abrangeremos hoje os seguintes assuntos: Pedidos de tempo;  Substituições e Colocação dos Reservas e Técnicos. Boas leituras!

Fonte: Acervo Paulo Azeredo, ANO 1951  – Pág. 50, Publicado no Jornal… (?)

Palavras-Chave (Tags): Mudanças nas Regras, Pedidos de Tempo, Substituições, Colocação dos Reservas e Técnicos.

Pedidos de Tempo Os pedidos de tempo podem ser: a) para substituição; b) para descanso; c) para o juiz (pedido por ele próprio). Só os capitães e os técnicos podem pedir tempo. Para substituição cada quadro poderá pedir quantos tempos achar necessário, dentro do limite dos reservas inscritos e do número de substituições a que cada um tenha direito segundo a regra. Estes terão duração máxima de um minuto. Para descanso, cada equipe tem direito a dois tempos de um minuto por set , sendo que em caso de acidente, poderá ser de três minutos, desde que o jogador volte ao jogo (antes, era de cinco minutos). Para o juiz, o tempo é pedido por ele quando achar que o jogo deve ser interrompido por qualquer circunstância. Durante os pedidos de tempo nenhum dos dois quadros pode bater bola, o que era antes permitido.

Substituições  Pela nova Regra a substituição deverá ser feita em um minuto. Se levar mais tempo o juiz marcará para a equipe que a estiver procedendo a um “tempo para descanso” e, se essa equipe já tiver feito uso dos dois tempos a que tem direito por set, perderá o ponto ou o saque. O reserva que tenha entrado em jogo e volte à condição de reserva não poderá voltar ao campo nesse set. O que deu lugar ao reserva poderá voltar ainda uma vez, porém para o mesmo lugar de origem. Em caso de acidente com um jogador e desde que tenham sido esgotadas todas as substituições normais, um reserva qualquer poderá entrar no lugar do acidentado, não importando em que posição tenha atuado anteriormente.

Colocação dos Reservas e Técnicos – Os reservas e técnicos durante o jogo devem estar colocados no lado oposto àquele em que se encontra o juiz e, alternativamente, na lateral ocupada em jogo pela equipe adversária. Exemplo no desenho que transcrevemos abaixo. Aliás, esta colocação já existia na regra antiga, porém nunca foi observada, só sendo agora talvez devido às grandes modificações sofridas (pela atual), e à exigência dos atuais juízes da Federação de cumpri-la na íntegra. Esta é a razão pela qual tratamos desse assunto no presente artigo.

 

Comentário do Procrie: observe-se o detalhe da inversão dos bancos dos reservas e técnicos, justificado pela proibição de se falar aos jogadores em quadra durante a partida. Voltaremos apresentando as modificações no Bloqueio e as Instruções Durante os Pedidos de Tempo. Aguardem.

 

 

Arbitragem – Cursos e Conduta

Antigamente…

Lembro aos leitores que nos primórdios do voleibol no Brasil a arbitragem era um problema a ser contornado e que só foi resolvido muitos anos mais tarde. Naquela época invariavelmente um atleta mais velho, com alguma experiência na condução de uma partida era solicitado a arbitrar. Eram poucos os jogos e quase sempre estavam presentes às partidas. Assim, eram convidados pelos capitães das equipes a presidir o espetáculo. Eu mesmo, apesar de ainda jovem, apitei diversas partidas em Niterói e se querem saber, com elegância e invejável concentração. Um fato interessante é que nunca tive nas mãos qualquer exemplar das Regras do Voleibol e nunca soube quem a tivesse visto. O Regulamento e as Regras eram passados aos técnicos e atletas via oral. A cada alteração, um rebuliço geral para identificar qual seria o critério das arbitragens e o que fazer no que se referia à parte técnica ou tática dos integrantes das equipes.      

Na tentativa de constituir um quadro próprio e mantê-lo, pensou-se em profissionalizá-lo. No dia 8 de novembro de 1944 o presidente da Federação Metropolitana de Voleibol enviou seu Vice-Presidente à Escola de Educação Física para solicitar ao Diretor, Capitão Antônio Lyra, a realização de um curso especial para juízes. O motivo: a falta de Oficiais naquele ano. 

O exclente árbitro Newton Leibnitz, o Chapinha, em 1960.

Com o incremento do esporte a partir do Mundial de 60 no Rio de Janeiro, a necessidade de formar árbitros aumentou e foi incentivada, então, com a recente criação do Quadro regular da Federação. Inclusive, com grandes promessas que viriam se concretizar alguns anos depois, como Eduardo Alcântara (Dudu) e Josebel Guimarães Palmeirim, além, é claro, de Newton Leibnitz e José Leiroz, todos moradores e também atuantes nos campeonatos niteroienses. 

A partir da profissionalização, os cursos de arbitragem e as Regras do jogo começam a proteger a figura do árbitro contra desvarios ou má conduta de atletas através das sinalizações correspondentes e os cartões de indisciplina. As denominações evoluíram para 1° árbitro, 2° árbitro, apontador (dois) e juízes de linha, que podem ser em número de dois ou quatro. Alguns poucos árbitros e apontadores atuavam no voleibol carioca no início da década de 40. Entre eles, o juiz Antônio Santos Moreira, o popular Nena; Joel Moura, que funcionava como fiscal e os apontadores (ou mesários), Heitor Gonçalves e Sylvio Cintra. Outros pontuaram nas três ou quatro décadas seguintes, tendo sido lembrados pela Federação com os títulos de EMÉRITOS (1975) Newton Leibnitz, Sérgio Freire, Wilson de Lima, Wilson Costa, Oduvaldo da Silva Lins, Wilson Bezerra de França; em 1993, Wilson França. E, em 1992, com o título de Benemérito, o árbitro José Sant’Anna Menescal, também funcionário por longa data da entidade.Muitos indivíduos se profissionalizaram no intuito de uma segunda renda, uma vez que os horários dos jogos eram compatíveis com suas funções principais. Assim, vimos surgir um grande número de árbitros oriundos da Polícia Militar e do Exército – com curso de monitores na EsEFEx –, na sua maioria sargentos. Mais à frente surgem os jovens universitários, estudantes de Educação Física. Todos, sem exceção, cumprindo estágio na divisão denominada incorretamente inferior (infantil). A partir dali ganhavam experiência e os mais interessados permaneciam na função galgando patamares acima através de cursos mais avançados da federação. Muitos deles alcançaram o maior dos níveis, o Internacional. Todavia, percebíamos total descaso, um abandono mesmo, na formação inicial desses novos árbitros. Aqueles que os formavam, os professores – com certeza árbitros mais antigos –, não os orientavam no sentido de conduzir as partidas de forma mais solta e livre, de modo que as crianças pudessem evoluir e se manifestar naturalmente nos jogos. Ao contrário, eram mais realistas do que o rei, impondo rigidez demasiada nas suas interpretações. Era absolutamente impossível jogar voleibol com aqueles “apitadores vorazes!” Repetia-se, assim, o que ocorria nas divisões adultas: o árbitro sendo a figura principal do jogo e todos os atletas subordinados às suas decisões “soberanas e boçais”, um jargão que se consolidou nesses anos. Contudo, o tempo nos mostraria que muitos defeitos não são próprios da época – eles se repetem. Por exemplo, em Belo Horizonte (MG), ano de 1978, em partida válida pelo campeonato entre as AABBs de todo o país, atuavam Niterói e São Paulo. O último lance da partida foi um ataque paulista para fora, que daria a vitória aos niteroienses. Entretanto, a bola tocara no bloqueio (eu era este jogador) e, incontinente, acusei o fato indicando-o ao 1° árbitro com o gesto correspondente. Mas, para surpresa minha e geral, ele não considerou este fato e prevaleceu o que vira, ou melhor, não vira. E, apesar das ponderações, reclamações e até choro dos paulistas, manteve a sua marcação. De minha parte nada pude fazer já que todos, inclusive ele, tomaram conhecimento do meu gesto.  

Como se depreende de alguns comentários relatados na imprensa desde 1956, as queixas no país para o desenvolvimento técnico do voleibol também recaíam no aspecto técnico das arbitragens que, tais como as equipes, se ressentiam de um maior intercâmbio com escolas mais desenvolvidas. As jogadas de ataque conhecidas hoje como bolas chutadas seriam impossíveis no voleibol daquela época, uma vez que a precisão esperada pelo levantador depende do seu toque na bola de uma forma dita carregada, impossível aos olhos daqueles árbitros. Certamente assinalariam bola presa ou conduzida

Cigarro, arma! 

Nos primórdios dessa fase – início dos anos 70’s – era permitido aos técnicos fumarem no banco de reservas. Os árbitros, especialmente o 2° árbitro, durante os intervalos dos sets, deslocavam-se até o fundo da quadra e ali também fumavam. Não havia respeito ou atitudes condizentes com o espetáculo. Outro, um militar, ameaçou sacar sua arma numa discussão de arbitragem em jogo entre juvenis. Por certo, alguma coisa deveria ser feita no sentido de se obter um desenvolvimento equânime entre a técnica dos atletas e as arbitragens. Esta fase de apuro de atitudes da arbitragem só teve início a partir da profissionalização dos atletas na década de 80, com a participação efetiva e permanente de Carlos Nuzman, que chegava a ponto de advertir o árbitro sobre a sua conduta.  

Mão de Ferro vs. Associação de Árbitros 

A esse respeito, o presidente da Federação de Volley-Ball, em 6.6.84, resolveu advertir os árbitros José Menescal, Ricardo Ferreira Gomes e Ricardo Amorim Vilarinho Cardoso, em virtude de afirmações constantes de relatório conduzido pela Comissão Administrativa da própria FVR. A proposta de constituição de uma Associação de Árbitros do Rio de Janeiro visava a estruturar problemas legais como patrocínio dos uniformes, intercâmbio dos árbitros do Brasil, realização de congressos e seminários e recepção de adesões de outros Estados. A decisão se fez necessária por ferir normas legais que regem o desporto nacional, estando as referidas atividades exclusivamente afetas ao âmbito da Federação de Volley-Ball do Rio de Janeiro e da Confederação Brasileira de Volley-Ball.

Na atualidade, os Cursos de Formação de Árbitros têm a supervisão da COBRAV, sendo realizados com as Federações e duração média de 2 meses em dias alternados.

Aspectos Legais – Caso de WO

Desenho: Beto.

Nota: O W.O. ou Walkover (em inglês) é a atribuição de uma vitória a uma equipe ou competidor quando a equipe adversária está impossibilitada de competir. Isto pode acontecer devido a não existência de um número mínimo de esportistas necessários para uma partida, desqualificação, não-apresentação de uma equipe na data e hora estabelecidos, entre outros. (Wikipédia)   

Sem entrar no mérito do julgamento, veja como procedeu e julgou o Tribunal de Justiça Desportiva caso similar de W. O. constante da NO nº34/84, de 22.5.1984:

Processo nº 32/84

Acórdão

“Rigidez no cumprimento das normas legais pode evidenciar, quando muito, excesso de zelo, mas nunca erro de direito. A faculdade do árbitro em retardar uma partida é condição essencialmente subjetiva, cabendo a ele avaliar e decidir”.

Do Relatório

Atlântica Esporte Clube e Botafogo F. R. cumprindo a tabela pelo campeonato Estadual Juvenil masculino, deveriam competir em rodada dupla, sendo o mando de campo da primeira. Terminado o jogo preliminar que reuniu a equipe da própria Atlântica, o primeiro árbitro foi informado por dirigentes do clube local que o jogo seria realizado em outra quadra, junto à anterior.

Dirigiu-se à quadra objeto da mudança em companhia dos atletas do Botafogo e alertou dirigentes da Atlântica que o tempo corria desde o término da partida anterior. Aguardou os 15’ (quinze minutos) regulamentares contados do término da preliminar e constatando a impossibilidade de iniciar o jogo pela ausência da relação e súmula, obrigações de fornecimento pela Atlântica que tinha o mando de campo, aplicou o WO à mesma, quando então, logo após, compareceram os atletas da Atlântica em uniforme ainda de aquecimento e fizeram-lhe chegar às mãos a relação e a súmula.

Inconformada com o resultado decorrente da aplicação do WO, a Atlântica intentou recurso que foi apreciado pelo Tribunal, tendo havido, ainda, a intervenção requerida pelo Botafogo, como terceiro interessado, entendido na lide como litisconsorte no polo passivo.

Da Decisão

Vistos e relatados os autos, após o depoimento do primeiro árbitro e os debates orais, houve o Tribunal manter o W.O. por maioria de seus membros, negando provimento ao recurso. (5×2)

Assim agindo, entendeu esta Corte, em analisando a documentação acostada aos autos, a douta argumentação dos ilustres patronos das entidades e o depoimento do primeiro árbitro, que o mesmo agira estritamente dentro dos preceitos emergentes do Regulamento da FVR, de forma rígida, mas jamais desprovida de legalidade.

Comprovada em audiência que a comunicação da mudança de quadra foi oficialmente solicitada pelo Clube que tinha o mando de campo, caberia a ele oferecer condições dentro do prazo estatuído no Regulamento, para que o jogo se iniciasse, fazendo chegar às mãos da autoridade e representante da FVR naquele ato – o primeiro árbitro – o material, bem como a presença de seus atletas, o que efetivamente só ocorreu após esgotar-se o tempo previsto.

Inflexível no cumprimento ao que dispõe a legislação esportiva, seguiu o primeiro árbitro o axioma ita lex dicit, fato inclusive confessado oficialmente pela própria Atlântica, conforme declaração expressa às fls.2/3 nos autos, in verbis:

“não alertou ninguém quanto ao fato de ter passado a contar, com inexorável rigidez, o tempo decorrido entre o fim da preliminar e o horário britânico para o início do segundo jogo”. (grifo nosso)

Retardar ou não uma partida constitui faculdade do primeiro árbitro, e in casu, decidiu cumprir apenas o Regulamento, vez que dera ciência àquela filiada, alertando-a inclusive de que o tempo corria para que oferecesse condições de início de jogo.

Desta forma, comprovado que a Atlântica por sua exclusiva culpa e risco, deu causa ao resultado (WO), tornar-se-ia, mesmo, um contra-senso jurídico, beneficiar-se, através do recurso, de sua própria desídia no cumprimento dos preceitos constantes no Regulamento Geral da FVR.

P. R. I.

Rio de Janeiro, 18 de maio 1984

ass.)      Dr. José Humberto Mendes Barbosa – Presidente

Dr. Jacob Zajdhaft – Juiz Relator.

Aspectos Legais e Histórias

Inauguração de Brasília 

Relevação de Faltas Disciplinares. Nota Oficial da FMV nº 59, de 23 de maio de 1960: Tendo o Conselho Nacional de Desportos tomado a deliberação de relevar as penas impostas pelos Tribunais de Justiça Desportiva do país, em virtude da inauguração de Brasília, e determinando que se cumpra tal ato na forma do art. 167, do Código Brasileiro de Football, ficam relevadas as faltas disciplinares praticadas até a data mencionada, por associações, dirigentes, atletas etc., tudo de acordo com o que contém no aludido dispositivo.

Independentemente de qualquer providência da Federação, o filiado Botafogo F. R., calcado na resolução acima, solicitou ao Conselho Nacional de Desportos (CND) a relevação das penas impostas a três de seus atletas. A FMV, na NO nº 67, de 7.6.1960, informa:

VI – Resolução do Conselho Nacional de Desportos. “Atendendo ao pedido do Botafogo de Futebol e Regatas, que teve atletas suspensos pelo Tribunal de Justiça dessa Entidade, vimos comunicar que o CONSELHO NACIONAL DE DESPORTOS, em sessão plenária hoje realizada, resolveu, interpretando a decisão pública no ‘Diário Oficial’ de 9 de maio do corrente ano que concedia relevação de penalidades, estendeu os benefícios dessa decisão aos atletas ANTÔNIO JOSÉ CLEMENTE, ALDO JOSÉ CANECA e ANTÔNIO JOSÉ VAGHI”.

a) Manoel Maria Paula Ramos – Vice-Presidente em exercício da Presidência.

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Ministério da Marinha

Nota Oficial nº 65, de 3 de junho de 1960:

Circular do Ministério da Marinha. O Ministério da Marinha, por intermédio da Circular nº 010/60, comunica a esta Federação que face às determinações do Conselho Nacional de Desportos, conforme Circular nº 34, de 21.5.1946, nenhum elemento da Marinha poderá ser incluído nas representações esportivas civis, sem a devida permissão do Centro de Esportes da Marinha. Assim sendo, os filiados a esta Entidade que contiver em seu plantel de Volley-Ball elementos pertencentes a nossa Marinha de Guerra, deverão dirigir-se a esta Entidade, por escrito, solicitando a forma de legalização dos mesmos.

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Histórias

  1. Estreante no campeonato carioca de 1963, a equipe masculina da AABB-Rio sofreu assédio constrangedor da plateia quando de sua estreia no campeonato carioca contra o Fluminense. Alguns torcedores tricolores atiraram moedas sobre os atletas, tecendo impropérios contra a condição de “profissionais” de alguns jogadores que se transferiram para aquela agremiação a troco de emprego no Banco do Brasil. Interessante e felizmente que nada ocorreu com a equipe feminina da mesma Associação.
  2. Jogo entre o C. R. Icaraí e a AABB-Rio, ginásio do Caio Martins, 1961: depois de defesa desastrada, a bola tocou na tabela de basquete e retornou à quadra; foi devolvida sem que tocasse o solo; do outro lado um dos atletas segurou-a e enviou-a para o sacador. O juiz, um amador e em estado de embriaguez, validou o lance e ainda advertiu o atleta por reter a bola.
  3. Ano de 1962, após o retorno do Mundial da Rússia. O árbitro Newton Leibnitz (Chapinha), que não participara desse mundial, muito pretensiosamente e por “ouvir falar” (o árbitro do Brasil foi Walter Alves), resolveu que a recepção de saque no campeonato carioca doravante seria realizada por manchete, já que grande parte das equipes do Leste europeu e japonesas assim estava procedendo. Numa dessas partidas, Victor Barcellos, levantador muito habilidoso e figurante da equipe brasileira naquele evento, preparou-se para realizar uma recepção por toque, fez todos os movimentos preparatórios de flexão de pernas, elevou os braços e, no último instante, lembrou-se da advertência. Num gesto de pura criatividade, retirou as mãos e cabeceou a bola para um companheiro. Chapinha, que já estava predisposto a impor suas decisões, não conseguiu reter o ímpeto, assoprou seu apito e marcou “dois toques” do jogador.

Evolução do Jogo e das Arbitragens (I)

Influência das arbitragens nos jogos   

Nesses textos confundem-se Arbitragem e Evolução do Jogo, uma vez que apitar um jogo sem critérios definidos torna-se dificílima a tarefa dos maiores protagonistas dos espetáculos – os jogadores. Embora a Regra do jogo fosse única para todos os países, as precárias condições de comunicação e intercâmbio – não havia a TV e muito menos a Internet – facultavam ao árbitro que participasse de um evento maior do calendário da FIVB (p.ex., um Mundial) que, ao retornar, ele (o árbitro), fosse o “dono da verdade” e soberano nas suas colocações. Era de se supor que interpretasse corretamente (sic) as decisões tomadas nos Congressos Técnicos. De regresso ao país somente o próprio sabia o que deveria ser feito e, no máximo, passava alguns detalhes aos seus pares, e a Confederação pouco divulgando ao público interessado as alterações e suas interpretações. Acrescentem-se as más traduções realizadas para o português por tradutores talvez profissionais, mas que desconheciam o jargão do voleibol. A este respeito tive a felicidade de dar minha contribuição, embora mínima, à elaboração das Regras editadas em 1998 no Brasil referentes ao período 1997-2000. Recebi inclusive um breve elogio dos responsáveis pela COBRAV, Jorge de Mello Bettencourt, o Jorginho, e o árbitro Josebel Palmeirim: 

Da COBRAV

“Para o amigo Roberto Pimentel, certos do muito que você contribuiu com a elaboração deste livro. Um forte abraço do Jorge Bettencourt e Josebel Palmeirim, em 21.9.1998”. 

Levou algum tempo para que a CBV estipulasse um critério para as arbitragens no Brasil. O principal mentor dessa iniciativa foi o próprio presidente da entidade – Carlos Arthur Nuzman – que, mesmo durante os jogos, observava e tratava de advertir os árbitros quanto à sua conduta e atitudes. A FIVB em boa hora cuidou também para que o tema fosse universal. Aliás, emitiu cartilhas para todas as atividades pertinentes: cursos, regras, organização de campeonatos, transferências etc.        

Artigos e Críticas. Percebam alguns fatos e decisões de especialistas a respeito dessa difícil tarefa de julgar e fazer cumprir as regras do esporte. Vejam que a forma e os critérios das arbitragens não eram tratadas com os treinadores e muito menos com os jogadores. Muitos deles tiveram suas carreiras de atletas encerradas precocemente por tais circunstâncias. Aplicou-se a Lei de Darwin: “sobrevivem os que melhor se adaptam e não os mais fortes”. Como veremos mais à frente, o caos maior no Brasil foi em 1964, logo após as Olimpíadas de Tóquio, quando os árbitros cariocas impugnaram tempestivamente qualquer recepção por toque – “tinha que ser de manchete” – certamente por decisão superior que até hoje ninguém sabe de onde partiu. E, pior, sem qualquer aviso prévio aos interessados, os atletas.   

1. Não Sabemos Apitar Volleyball no Brasil (Ney Bianchi, cobertura do Mundial de Paris, Jornal dos Sports, 1956)      

Fala o presidente da Comissão de Arbitragem: “Não se assustem com a derrota de nossas moças frente às coreanas do norte. A rigor, elas jogam muito bem (o voleibol é o esporte nacional da Coréia), são calmas (e as nossas nunca o foram), têm um índice de ataque e saque excepcionais e estão acostumadas com as arbitragens daqui, que são como as nossas antigas, antes de aparecerem por aí os sabichões, os entendedores, os homens que sobem numa cadeira e liquidam a partida só com apitos”. Foi característica a palestra que mantivemos com Begilomini, no ginásio Barão de Pierre de Coubertin. O presidente da Comissão de Arbitragem do Campeonato esclareceu à reportagem: “Em razão da importância da competição e o valor das equipes presentes, nós decidimos adotar uma arbitragem com tendência para a severidade, pelo menos nas Poules (Chaves) Finais. Nas Chaves de Classificação, recomendamos aos juízes que fossem condescendentes, que facilitassem o jogo. E eles estão fazendo exatamente isso”. Agora vamos esclarecer. A arbitragem aqui não chega aos pés do que é aí no Brasil, onde um juiz sozinho ganha o jogo. A severidade aqui permite que o jogador coloque a bola que apanha por baixo com as duas mãos espalmadas, que efetue o passe com uma só mão. As defesas de cortadas e saques podem ser feitas sem nenhum perigo de marcação e desde que a bola permaneça no ar é válida. Para o europeu o voleibol se resume na lei universal que criou o jogo: enviar a bola sobre a rede com um máximo de três toques, esforçando-se para fazê-la cair no campo rival. O mais importante aqui é que o jogador consiga jogar a bola no chão adversário. Aí, sim, é ponto ou vantagem. Agora essa questão de tocar mal ou tocar bem, desde que não agrida frontalmente a regra (na concepção européia, é lógico) é supersecundária. Aqui, realmente, se joga voleibol com a finalidade para a qual ele foi criado! De uma coisa podemos estar certos. Pode ser que os resultados técnicos de nossas equipes não sejam muito bons. Todavia, a lição que nos ficará das arbitragens é relevante e deve ser estudada profundamente pelos nossos dirigentes. A CBV tem obrigação de IMPOR no Brasil inteiro o critério adotado pela FIVB, que é de facilidades (para eles severidade). É preciso evitar que de uma vez por todas os nossos juízes acabem com um jogo conforme entendem. Tudo o que foram dizer no Brasil sobre o Mundial de Moscou, o Europeu (último) e o sistema de arbitragens aqui é mentiroso ou então foi veiculado por leigos no assunto. Para nós, a satisfação de constatar o critério europeu pessoalmente foi uma satisfação, de vez que vimos confirmadas todas as crônicas que publicamos em séries aí e as quais foram em muitas ocasiões taxadas de presunçosas pelos “Donos da Bola”. Cumpre, portanto, que os dirigentes providenciem imediatamente para que possamos jogar o Voleibol Internacional.

Relembro os árbitros em 1956: Adib Simão, Edson Fonseca, Eduardo Menezes, Erasmo Delorme Batista, Jair Osmindo, Luciano Luiz José de Queiroz, Luciano Segismondi, Mário Miranda, Melchior Fernandes, Newton Leibnitz, Oduvaldo Lins, Pedro Moraes Sobrinho, Sérgio Freire, Valdemar Miranda, Valdir Ferreira Melo, Valter Alves, Wilson de Lima.

 2. Juízes Persistem nos Mesmos Erros (Arlindo Lopes Corrêa, Correio da Manhã, 1964)       

O flagelo das más arbitragens continua sendo desencadeado contra o voleibol carioca. O problema gira em torno da adoção do novo critério para punição de faltas cometidas no toque de bola, pois a regulamentação realizou-se intempestivamente e sem o devido trabalho prévio de elucidação aos interessados. Após as Olimpíadas, temos a certeza, tudo voltará ao normal e o esporte da rede poderá sobreviver e continuar agradando ao público, hoje abandonando gradualmente as quadras em face da mediocridade dos confrontos, decididos pelo saque e sem o colorido especial de outrora, suas manifestações de beleza, seu ambiente empolgante. Mudará porque, obviamente, o rigorismo dos juízes será abrandado e o mito do toque de bola será desfeito: os observadores brasileiros dos Mundiais de Moscou (Valter Alves e o técnico do Flamengo) pecaram fundamentalmente ao deixar-se impressionar pela atuação de um ou dois árbitros fracos, que destoavam dos demais juízes do certame internacional e puniam com excessiva severidade as jogadas de passe, recepção e levantada. Tanto é verdade que houve exagero, que os periódicos guanabarinos publicaram declarações de dirigentes de países europeus, da Cortina de Ferro, que lamentavam as exigências e diriam ser necessário – caso tal critério persistisse – que o número de toques fosse elevado de três para quatro. Assim, pela falta de bom senso e, em muitos casos, pela ignorância dos assuntos tratados no Congresso de Moscou, todo o voleibol brasileiro está sendo ludibriado por alguns espertos que querem fantasiar-se de pioneiros ou vencer campeonatos impondo, às suas vésperas, um novo sistema de arbitragem para o qual prepararam suas equipes durante alguns meses. A reação, entretanto, cresce e o Sr. Valter Alves, “o bandeirante do voleibol moderno” está sofrendo críticas severas e acabará afastado do quadro de árbitros da entidade, pela sua atuação falha, atendendo às queixas dos dirigentes da AABB e Fluminense.       

Após as Olimpíadas de 64, o que se viu no campeonato carioca foi uma aberração! Os jogadores foram “obrigados” pelos árbitros a recepcionar os saques de manchete, levantar de manchete e, caso não conseguissem o ataque por cortada, deveriam devolver a bola à quadra adversária também de manchete. 

Lembro os juízes e oficiais de mesa em 1964: Alberto Jorge Teixeira, Antônio Aurélio F. Carvalho, Armando Coelho, Elias Xavier de França, Floriano Manhães Barreto, Glênio Guimarães, José Alves de Souza, José Fernandes Tude Sobrinho, José Tavares, Luciano Segismondi, Mário Gomes de Almeida, Mário Miranda Barbosa, Milton de Almeida, Nelmo Pragana, Newton leibnitz, Oduvaldo da Silva Lins, Ronaldo Baranda, Sérgio Freire, Therezinha A. Moraes, Waldyr Ferreira de Mello, Walter Alves, Wilson B. França, Wilson Costa e Wilson de Lima.

(continua)

Situações Inéditas e Hilárias

Arbitragem e Estórias

A partir dessa postagem, estarei consignando a pouco e pouco alguns lances, situações cômicas, facetas resultantes de equívocos e, às vezes, até constrangedoras que pontificaram e marcaram época ao longo do tempo ajudando-nos a contar essas “estórias”.  Inclusive aspectos polêmicos que envolveram a interpretação das Regras do jogo em tribunais esportivos. Vejam algumas delas.

1. Década de 40, durante um jogo do campeonato de Niterói (RJ), um dos atleta pediu permissão ao juiz para ir ao banheiro e foi atendido; enquanto isso o jogo esteve paralisado aguardando o seu retorno. Era bastante comum as equipes terem no máximo oito atletas e, neste caso, estava reduzida ao mínimo (seis), sem dispor de qualquer reserva. Para que não deixassem de atuar, o juiz agiu com bom senso e o jogo continuou tranquilamente, o que bem reflete o consenso de uma bela época, por isto denominada de “Romântica”. Em outras ocasiões, com o consentimento da equipe adversária, era permitida a inclusão de um atleta da 2ª Divisão (atuavam na preliminar) para completar os seis jogadores indispensáveis ao jogo.

2. Década de 50, partida entre os clubes Vila Isabel e América, e um dos destaques era o atleta Jorginho, que atuava pelo Vila e compôs a seleção brasileira de 1956. Num lance de defesa da sua equipe, o que parecia uma bola perdida, Jorginho conseguiu recuperar a bola e lançou-a alta junto à rede (2º toque). Aguardou que um dos companheiros completasse a jogada, o que seria o ataque (3º toque), mas como ninguém tomou a iniciativa, irritou-se já que seu esforço foi em vão e o ponto já estava perdido. Lançou-se em direção a bola e atacou-a com raiva e violência. A equipe do América ficou aguardando apenas o apito do árbitro confirmando a vantagem a seu favor. Entretanto, para surpresa geral, o juiz Pedro Moraes Sobrinho, distraído, validou o lance, atribuindo o ponto ao Vila Isabel.

 

Expectativa das Arbitragens em 1956

Acerca das impressões de José Gil Carneiro de Mendonça a partir de suas expectativas quando se dirigia ao Mundial de Paris, em 1956:

(…) “De qualquer maneira, a lição nos será utilíssima e o nosso vôlei muito progredirá com os ensinamentos que lá iremos colher. E, finalmente, poderemos saber realmente como se ‘apita’ em voleibol”.

Como se depreende, as queixas para o desenvolvimento técnico recaíam no aspecto das arbitragens que, como os atletas, ressentiam de um maior intercâmbio. As jogadas de ataque conhecidas hoje como bolas chutadas seriam impossíveis no Brasil de 56, uma vez que a precisão esperada do levantador dependeria do seu toque na bola de uma forma dita carregada, impossível aos olhos dos árbitros. Tempestivamente assinalariam bola conduzida.

Este e outros aspectos permitiam aos árbitros “decidirem” lances das partidas segundo o seu humor ou, o mais provável, sob as ameaças e pressão das torcidas locais. Assim quando o “mando de campo” era de determinada equipe, as invasões de bloqueio, que não eram permitidas pelas Regras, eram assinaladas preponderantemente contra a equipe adversária. Na partida de retorno, então no ginásio da outra equipe, o mesmo fato se repetia, sempre para o time que tivesse o “mando de campo”.  Não existia uma uniformidade nas arbitragens e os protagonistas pouca instrução técnica tinham a respeito. Sempre foi uma “segunda” fonte de receita para aqueles que se propunham a arbitrar. E a Federação contemporizava as falhas argumentando a pouca disponibilidade no mercado de indivíduos para a tarefa. De fato, não existia igualmente uma Escola de árbitros.

Se gostaram do tópico, entrem no blogue e comentem. Estarei ao aguardo de suas “estórias”, pois me foram contadas por árbitros e atletas.

Juiz de Cima e Juiz de Baixo

Juiz de Cima e Juiz de Baixo

Houve tempo em que se denominava “juiz” o condutor da partida.  A equipe de arbitragem passou a ser constituída de um juiz de cima – conduzia a partida do alto de sua cadeira –, de um juiz de baixo, que permanecia de pé, no lado oposto, próximo ao poste, e de um mesário, sentado à mesa no lado oposto ao juiz principal. Bandeirinhas ou fiscais de linha eram raros e recrutados segundo a importância do jogo e entre representantes das equipes envolvidas – um de cada.

As cadeiras dos juízes eram confeccionadas de madeira e poucos clubes davam-se ao luxo de possuí-las.  Quase sempre o improviso vigorava e, como na foto ao lado de 1940, utilizavam-se as escadas. As poucas e raras cadeiras representavam perigo para seus usuários, pois careciam de cuidados especiais. Às vezes chegavam a ser sacudidas por atletas raivosos contra a arbitragem de algum lance de jogo. Quando o clube não apresentava uma cadeira em condições favoráveis, os juízes utilizavam uma cadeira normal para estarem um pouco mais acima do nível dos atletas, mas ainda sem uma visão conveniente da quadra como um todo, pois não alcançavam o nível superior da rede. Na foto seguinte observa-se o improviso – o banquinho junto ao poste – nos Jogos de Cambuquira na década de 50.    

Equipamento. A engenhoca (3ª foto, mais abaixo) foi utilizada durante muito tempo no Brasil e em outros países da América do Sul. Somente com o apogeu japonês é que começamos a importar e a copiar novos designers para diversos equipamentos, proporcionando conforto e segurança  para os árbitros.

A última foto dá-nos uma ideia como era “montada” a rede no Sul-Americano de Caracas, em 1969 . A cena representa a grande final feminina entre Brasil e Peru, vencida pela equipe brasileira. Alguns detalhes chamam a atenção: a cadeira do árbitro, a forma de sustentação da rede – cordas enroladas no poste – e a proximidade do público junto à quadra. Nota-se que não havia ainda a obrigatoriedade das antenas, apesar da recomendação do Congresso Técnico realizado na cidade do México por ocasião das Olimpíadas de 68: utilização das antenas como limite do espaço aéreo da rede para facilitar as decisões da arbitragem (bolas por fora).

Muitas confusões eram originárias da falta de experiência, de indecisões em lances dúbios e, principalmente, da insegurança e pressão exercida por alguns atletas sobre o juiz. A esse respeito, Quaresma volta a nos relatar fato ocorrido em 1964 durante a partida no ginásio do Mourisco entre as equipes do Botafogo F. R. e da Sociedade Hebraica, dirigida pelo árbitro da FMV, Newton Leibnitz,  carinhosamente apelidado de Chapinha: “Como não havia fiscais de linha designados pela Federação, os capitães das equipes indicaram duas pessoas para a função. Evidentemente, um sócio ou torcedor de seus respectivos clubes. Durante a contenda, houve dois lances em que o árbitro considerou o ataque efetuado pela Hebraica como ‘fora’ e, concomitantemente, o fiscal de linha (da Hebraica) assinalou bola ‘dentro’. Prevalecendo-se da sua autoridade e calcado na Regra, Chapinha fez valer sua marcação em primeira instância e, a seguir, foi surpreendido pela reação do fiscal que, injuriado, deixou o bastão no solo e abandonou a quadra. Chapinha ainda tentou demovê-lo, dizendo que ele teria que ficar até o final da partida, no que o ex-fiscal retrucou: – ‘Não sou seu empregado!’ Talvez atrapalhado pelo ineditismo da reação, o árbitro marcou falta técnica contra equipe da Hebraica, consignando um ponto para o Botafogo. A Hebraica protestou na súmula do jogo alegando Erro de Direito. O Tribunal de Justiça da FMV anulou a partida e foi marcado novo jogo entre as equipes”.

Diga-se de passagem, a equipe de arbitragem designada pela Federação para os jogos não contemplava a figura dos bandeirinhas. Em comum acordo os capitães poderiam indicar dois espectadores para atuarem como tais. Já começava a necessidade daqueles servidores uma vez que as jogadas de ataque ganhavam velocidade.

Arbitragem no Rio, 1987-88

1987 

Dando sequência à série de dados e nomes que ajudaram a construir a História do Voleibol no Brasil e invariavelmente nunca lembrados, apresento extensa relação dos “homens do apito” no final da década de 80, sensivelmente agitada pelos feitos da seleção masculina. Esta é mais uma justa homenagem que resgato. Obrigado a todos e, se cometi alguma injustiça nas citações peço compreensão e perdão. 

Árbitros. Antônio Carlos da Silva, Arizoli Nascimento, Carlos Eduardo Assis, Carlos Eduardo Mansur Gomes, Edson Costa, Edson Lemos Felicíssimo, Elisabeth Py Klein, Eronildo Correa da Silva, Faissal R. Raydan, Humberto Ibrahim Gonçalves, Jefferson Pinto Serra, João Franklin, Jones Alves Bulhões, José de Sant’Anna Menescal, Josebel Guimarães Palmeirim, Luiz Alberto Camões, Luiz Carlos do Amaral, Murilo Aguiar, Nei Marques Coutinho, Nereu Marques, Paulo Piccolo, Paulo Roberto Queiroz Lima, Ricardo Gomes, Roberto Barbosa da Silva, Roberto Rodrigues dos Santos, Roberto Vasconcellos, Sérgio Luiz Cantini, Wellington Feitosa.

Conceito dos Árbitros; No início de ano de 1988, o Diretor de Árbitros, Cel. Carlos Reinaldo Pereira Souto, fez publicar na NO nº15 (3.3.88) a conceituação sobre os 28 oficiais que prestaram serviços à FMV na temporada anterior (ver acima). Por motivo óbvio, deixo de transcrever a opinião do diretor: “Os demais integrantes do quadro de árbitro da FEVERJ carecem de experiência e principalmente necessitam de maior prática; têm ainda um caminho a percorrer antes de atingir um nível Nacional”.

1988

Os árbitros eram convocados através de Nota Oficial (NO) para todo e qualquer evento, inclusive reuniões para tratar assuntos diversos. Veja um desses instantes. Entenda-se aqui que “Árbitros” está subentendido a “Equipe de Arbitragem”. 

Ficha de Chamada da Reunião de Árbitros (às 20h, na Hebraica, 92 árbitros)

Amauri Batista Duarte, Ana Cláudia Pereira Lopes, Ana Cristina da V. Cabral Pinto, André Maurício Conceição Martins, Andrea Luíza Bastos, Ângela de Carvalho Mattos, Antônio Barbalho de Souza, Antônio Carlos Martins A. Marques, Antônio Carlos da Silva, Antônio Carlos Neves de Carvalho, Arizoli Carvalho do Nascimento, Bruno Antoun Collares, Carlos Eduardo Francisco de Assis, Carlos Eduardo Mansur Gomes, Carlos Eduardo Silveira, Carlos Salvaterra Pinheiro, César Augusto Dias Costa, Cláudio Jorge Yunes, Cláudio Bernard R. da Conceição, Cleber Tourinho, Edson Aragão Cardoso, Edson Gagliard, Edson Lemos Felicíssimo, Edson Soares Pereira, Eliana Machado A. do Rego, Elisabeth Py Klein, Elzir Martins de Oliveira, Eronildo Corrêa da Silva, Faissal Rafik Merched Raydan, Fernanda Simone Paiva, Flávio Valença Ribeiro, Glória Maria Soares, Gontran de Carvalho Neto, Guilherme Lima Jatobá, Heloísa Vieira Simões, Humberto Ibrahim Gonçalves, Isair Baptista G. Vasconcellos, Ivone Charles da Luz, Jane de Souza Guimarães, Jefferson Pinto Serra, João Carlos M. de Souza, João Francelino da Silva, João F. C. Ferreira Neto, Jones Alves Bulhões, Jorge Roberto Ruffoni, José Sant’Anna Menescal, Josebel Guimarães Palmeirim, Lúcia de Carvalho Machado, Lúcia Imbrósio, Luciene Bastos, Luiz Alberto Camões, Luiz Antonio Tôrres, Luiz Carlos do Amaral, Luiz Fernando dos Santos, Luiz Roberto da Silva, Marcelo Luiz C. Damasco, Marcos Gaertner, Maria Amélia V. Bôas Agra, Maria da Conceição Piccolo, Maria Izabel B. de Moraes, Mauriza Pedroso Mazza, Murilo Lima de Aguiar, Natalino G. de Souza Filho, Nei Marques Coutinho, Nereu Martins Marques, Paulino Lima, Paulo Piccolo, Paulo Roberto Queiroz Lima, Paulo Roberto Saraiva, Paulo Solimar Alves C. Lima, Régis Fonseca, Ricardo Ferreira Gomes, Ricardo Nunes Borga, Roberto Barbosa Silva, Roberto Rodrigues dos Santos, Roberto de Vasconcellos, Ronaldo da Silva Figueiredo, Rosane Pereira Guimarães, Ruben José da Silva Filho, Sérgio Luiz Cantini, Sérgio Luiz da Silva Paraná, Silene Bento Faria Rodrigues, Sylvia Cristina de Assis Beja, Tereza Christina B. Ferreira, Tereza Moreira, Tereza Pires, Thereza Ferreira, Tony Chung Chan, Vera Lúcia Cardoso Prieto, Wellington Silva Feitosa, Wilmar Antonio Cerca Peixoto, Wilson Bezerra de França.

Taxas de Arbitragem

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Discriminação        Válidos até 31/3/1988         Válidos até 31/12/1988
                  Cz$ (Cruzados) (*)  OTN (**)  Cz$ (Cruzados)     OTN     
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Árbitros
Internacional         1.275,00         2,13        6.320,00        2,13
Nacional                833,00         1,39        4.125,00        1,39
Aspirante a Nacional    680,00         1,13        3.350,00        1,13
Regional A              527,00         0,88        2.610,00        0,88
Regional B              374,00         0,62        1.840,00        0,62
Regional C              306,00         0,51        1.515,00        0,51
Regional D              255,00         0,42        1.245,00        0,42
Estagiário              204,00         0,34        1.000,00        0,34
Apontadores            
Categoria Extra         714,00         1,19        3.530,00        1,19
Categoria A             680,00         1,13        3.350,00        1,13
Categoria B             595,00         0,99        2.940,00        0,99
Categoria C             340,00         0,56        1.660,00        0,56
Estagiário              170,00         0,28          830,00        0,28
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Fonte: NO da FMV nº1/88, de 5.1.1988.
(*) – Moeda criada pelo Plano Cruzado em 28/2/86. 1 Cz$ = mil cruzeiros novos.
(**)– Obrigações do Tesouro Nacional – por conta do Plano Cruzado (congelamento de preços), a ORTN mudou para OTN e foi congelada durante o período de 1 ano com o valor de Cz$ 106,40. 

Observações: 1) Em jogos extras, que definam o campeão do turno, returno e o campeonato, as taxas serão majoradas em 100%.  2) Em jogos amistosos, as  taxas serão majoradas em 50%.  3) Em jogos no interior do Estado, as taxas serão majoradas em 100%; os árbitros serão ressarcidos das despesas de pousadas (quando for o caso), alimentação e transporte.  4) O Filiado que solicitar um árbitro para acompanhar a sua delegação responsabilizar-se-á por uma diária de 5,00 OTN.  5) Em jogos televisados, o direito de arena será negociado para cada caso.  6) Em jogos interestaduais da categoria Adulto, as taxas serão majoradas em 200%; nas demais categorias, em 100%.  7) Em jogos amistosos internacionais as taxas serão majoradas em 300%.

Voleibol em Nictheroy (II)

Os campeões: em pé, da esquerda para a direita, Hamilton, Ney, Gastão Rodrigues e Reynaldo (Tonelada). Agachados, na mesma ordem, Conrado Van Erven, Oscarzinho e Paulo Fernando.

 Década de 40 – Parte 2   

1946 –   Neste ano deu-se a estréia do Clube Tatuí no campeonato niteroiense, tendo se sagrado campeão da 2ª Divisão. O Clube de Regatas Icaraí foi o campeão da 1ª Divisão e bicampeão da Divisão Feminina, embora perdendo a invencibilidade. O campeonato feminino foi disputado entre seis equipes: IPC, CRI, Tatuí Clube (estreia), Canto do Rio, Barroso e Praia das Flechas.  

O CRI (feminino) partiria para o tri em 1947 e para o tetra em 1948, chegando ao decacampeonato em 1954. Nesse ínterim, venceriam também os IX Jogos Abertos de Cambuquira e o Torneio dos Campeões, no Rio de Janeiro.  

Interessante notar o regulamento da competição, transcrito em periódico da época:  

INSTRUÇÕES  

Em primeiro lugar, isto é, às 20:30 horas. Dez minutos após o término do primeiro jogo, deverá estar na quadra a 1a divisão. Dez minutos após o término da 1a divisão deverá entrar na quadra a segunda.  

Quando não houver o jogo da Divisão Feminina, o da 1ª iniciar-se-á às 21 horas em ponto. Se não houver o jogo feminino nem o da 1ª Divisão, o da segunda terá início às 21,45 horas.  

O Clube que deixar de comparecer à hora local designadas para um jogo:  

Penalidade: Perda do ponto e multa de Cr$ 20,00 por quadro que não comparecer.  

d) O Barroso F. Clube não disputará o returno do Campeonato. O Praia das Flexas Clube continuará apresentando a 1ª e a Divisão Feminina.  

DELIBERAÇÕES DO DAV – Departamento de Arbitragem de Voleibol:  1) Pedir aos srs. juízes para marcar falta técnica toda vez que um jogador chutar a bola;  2) Designar os juízes do Praia das Flexas Clube para dirigirem o encontro Tatuí e Regatas.  3) Constava dos Regulamentos do Voleibol que, mesmo sem o comparecimento da equipe escalada para a arbitragem, o jogo deveria ser realizado. Para isso, os capitães das equipes – em comum acordo – solicitariam que um dos presentes ao jogo fizesse uso do apito. Isto perdurou durante muito tempo, até a década de 60 e a consequente profissionalização do Quadro de Arbitragem.  

II Campeonato Brasileiro de Voleibol, Belo Horizonte (MG). O Campeonato foi realizado no período de 22 a 28 de junho de 1946. A equipe feminina de Minas tornou-se bicampeã, tendo vencido também no masculino. Entre os participantes, Pernambuco (só no masculino), Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal. O Estado do Rio, através da FFD, participou desse evento com uma delegação assim constituída:  

Chefe – Prof. Osvaldo Gonçalves de Souza, diretor do Departamento Autônomo de Voleibol da FFD.  

Técnico (masc.) – Aguinaldo Mendonça, do IPC; Técnico (fem.) – Afonso Caminha, do CRI; Acompanhante – Sra. Myrtila V. E. Caminha; Auxiliar – Sr. José Izidro Leite.  

Jogadores – Nelson Abreu (Nelsinho), Sílvio Batalha, Bernardo Wohrle, Newton Gomide, Jampérsio Rodrigues, Eduardo Frederico, Klaus Wohrle e Roberto Braga.  

Jogadoras – Úrsula Hanning, Lígia Limoeiro Patituci, Norma Teles Pires, Zuleika Bastos, Cora e Iraci Serejo, Nilza Rocha Lemos, Maria Auxiliadora Varela (Zombinha), Adayr Falcão e Nilza Bruno Figueiredo.  

 1947 – Além dos campeonatos da cidade, vários torneios e jogos amistosos foram realizados por nossas equipes. Em dezembro, participação das seleções masculina e feminina no torneio do Cinquentenário de Belo Horizonte. Destaques para as volistas Norma, de Uberlândia e Zombinha, de Niterói. O próximo Campeonato Brasileiro seria realizado em São Paulo, em 1948.  

  

Equipe do Tatuí, bicampeã niteroiense em 1946-47. Em pé, da esquerda para a direita, Hildebran, Gomide, Roberto Braga, Ney, Milton e Altayr; agachados e na mesma ordem, Cid, Jorge Natto, Sylvio e Pedro. Acervo: Ney Jopper; foto de Walter Cotta.

Mundial de Paris (VII)

O Volley Nacional e o Mundial de Paris

As seleções contavam ainda com o apoio de Gil Carneiro que, além de representante da CBV junto à FIVB, era também correspondente dos Diários Associados, jornal que patrocinou sua ida para a cobertura do Mundial. Átila, mesmo cortado, viajou por conta própria simplesmente para assistir aos jogos. Vejam a crônica de Gil Carneiro no O Jornal sob o título O Volley Nacional e o Mundial de Paris:

“Seguiram os selecionados brasileiros para o Campeonato Mundial de Paris. Tiveram as seleções dois meses de treinamento com concentrações rigorosas em Volta Redonda e Agulhas Negras. As exibições de despedida que realizaram tiveram o dom de provar que infelizmente não iremos com a força máxima de nosso voleibol. De relance, podemos anotar as ausências de Selma, Lilian, Maria Lilia, Parker, Gilberto e Átila, que a Confederação justifica como medida de ordem disciplinar. Ora, nós que militamos no voleibol sabemos perfeitamente que tais ausências se dão somente por fatos políticos, devido ao ambiente que imperava na entidade, antes da posse do Professor Otacílio Braga. Empossado este, muita coisa mudou, mas o tempo foi curto demais para sentir em toda a sua plenitude o ambiente e perceber as injustiças. Atletas estão afastados devido a fatos insignificantes ocorridos no México; outros estão incluídos na delegação após terem feito coisa muito pior no Sul-Americano de Montevidéu.

A equipe brasileira presente ao Sul-Americano de Montevidéu,1956

– O que se viu no Maracanãzinho¹ na noite de 23?

O público, todo ele ligado ao vôlei e, a par das injustiças, demonstrou seu desagrado ao torcer contra os selecionados e vibrar com a derrota da equipe masculina. Insistem os dirigentes e o técnico Sami em afirmar que a derrota foi devida ao ambiente e ao despeito dos jogadores que integraram a seleção carioca. Absolutamente, pois ambiente muito mais adverso encontraram em Montevidéu e encontrarão em Paris e não foi pelo despeito que os guanabarinos venceram e sim por possuir elementos mais categorizados que, mesmo sem treinamento, tiveram capacidade para formar um conjunto mais harmonioso e se o jogo foi equilibrado, deve-se unicamente ao toque de bola defeituoso na defesa do saque, que redundou em numerosos pontos para o selecionado brasileiro.Os grandes males do selecionado masculino estão na baixa estatura de seus integrantes, no sistema empregado e ainda na falta de classe de alguns elementos, haja vista que o técnico não teve coragem de utilizar nada menos do que quatro jogadores que, obrigatoriamente, deveriam ser melhores do que os integrantes da equipe carioca. Dizemos mal do sistema empregado, não por não acharmos ideal, mas por não possuirmos elementos capacitados para empregá-lo. Os convocados não sabem ‘levantar’ muito bem, principalmente bolas na ponta, que precisam ser rápidas e não muito altas. E sem levantadas não há cortadas, não existindo ataque eficiente. E a baixa estatura anula praticamente o bloqueio, arma de defesa número um do vôlei moderno, pois ninguém se iluda que iremos defender cortadas dos americanos, russos ou mesmo mexicanos no fundo da quadra!Já o feminino carece unicamente de levantadoras. Não existem boas levantadoras no selecionado! O público assistiu foi ao show dado por Selma na defesa das cores da FMV. E esta moça foi afastada porque precisava de alguns dias para conseguir uma substituta no seu emprego; como era carioca, nada lhe foi concedido, enquanto Urbano só se apresentou em Agulhas Negras praticamente no fim da concentração! Mas é mineiro e a entidade estava sendo muito exigida pela Federação mineira. Caso Zezé, Neucy e Gilda acertem, existe esperança para o selecionado feminino. Iremos fazer a cobertura do certame mundial. Não conhecemos as equipes dos países da Cortina de Ferro, mas sabemos da fama de seu poderio. Vamos torcer pelo nosso sucesso e esperar que as deficiências sejam suplantadas e que o Brasil faça uma boa figura nesta sua primeira apresentação nas quadras europeias. De qualquer maneira, a lição nos será utilíssima e o nosso vôlei muito progredirá com os ensinamentos que lá iremos colher. E, finalmente, poderemos saber realmente como se ‘apita’ em voleibol”.

Arbitragem – Como se depreende, as queixas para o desenvolvimento técnico recaíam no aspecto das arbitragens que, como as equipes, se ressentiam de um maior intercâmbio. As jogadas de ataque conhecidas hoje como bolas chutadas seriam impossíveis no Brasil de 56, uma vez que a precisão esperada do levantador dependeria do seu toque na bola de uma forma dita carregada, impossível aos olhos dos árbitros. Tempestivamente assinalariam bola conduzida.

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¹ Amistoso contra um combinado carioca formado principalmente com atletas do Fluminense F.C.