Aprendendo com as Derrotas: Métodos de Ensino

MiniEuFavBairro INVERTIDA

Parece que sabemos todos o que fazer.

O problema é colocar em prática.

Identificando e Buscando Soluções  (parte I)

Por que perdemos? Onde erramos? Que devemos fazer? Quanto tempo para nos recuperar?

 

Escolas, Universidades, Cursos – Salto no Escuro – Escola – Educação Física nas Universidades –  Ensino a Distância – Centro de Referência em Iniciação.

 

Cremos que é uma pena só pensarmos neste assunto quando nos sentimos derrotados. Mas até nossas leis desportivas contribuem para nos acabrunharmos e nos sentirmos impotentes para alavancar o que quer que seja. O grupo que está no poder tem a tendência de nele permanecer até a morte. A mosca azul está em toda a parte!

Conversaremos sobre as derrotas recentes da Liga Mundial de voleibol e a Copa do Mundo de futebol e suas consequências, ou melhor, os cuidados e providências que se sugerem aos respectivos gestores –  CBV e CBF – em médio e longo prazo para prevenir e alavancar um grande salto quanto aos Métodos de Ensino disseminados pelo país.  No voleibol, desde 1975, sob o “padrão Fivb”, e na CBF, também os cursos rápidos de técnicos em futebol, predominantemente com o aproveitamento de ex-atletas. Testemunharão também o que este Procrie vem propondo em matéria de Ensino Escolar/Clube, inclusive para qualquer desporto. A conhecida e propalada Formação de Base.

Postulamos há muito (1976 e 1984) que a CBV formatasse um Centro de Referência em Iniciação Esportiva no Rio de Janeiro, com a finalidade de pesquisar metodologias modernas na Formação de atletas e, a seguir, divulgar para outros Estados (Núcleos) ensaios e conquistas aplicáveis a cada realidade, especialmente nas escolas públicas brasileiras. Atualmente, torna-se mais fácil pelas ferramentas da Internet. (Ver diversos artigos sobre Mini Vôlei sob o título Aprender a Ensinar e a História do Mini Vôlei no Brasil). Infelizmente, um dos assessores diretos da presidência vetou o projeto, tendo convencido o Nuzman em recuar do acordo que havíamos firmado verbalmente. Compreendamos também que os problemas são similares, independentemente do desporto a que se refira. Talvez a maior diferença esteja no montante de recursos envolvidos, o que é preocupante para todos. Como gerir uma montanha de dinheiro em favor de tantos?

Este artigo enfrenta o problema no qual pretendemos debater para a construção de ideias que nos indicarão os caminhos a percorrer no futuro, lembrando aos leitores que na gênesis do Procrie está assinalada nossa opção de criação de Núcleos de Referência em Iniciação Esportiva com ensinamentos aplicáveis a quaisquer esportes. E dissemos, que elegemos o voleibol como modelo, uma vez que fomos praticantes e técnico da modalidade. E não menos importante, interessados e pesquisadores da Arte de Ensinar, a partir do momento – 1974 – em que descortinamos uma metodologia de ensino do Mini Voleibol no Brasil. Há quatro anos vimos produzindo artigos nunca perdendo de vista nossa Missão de coorientadores em sua difícil obra educacional.

Como Surgem os Talentos, Seria por Acaso? – Como se Adquire Habilidade? – Como Treinar? – Cuidados nos Exercícios – Design Thinking – O Circuito do Ensino.

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Lições…

Preliminarmente, devemos esclarecer que as Confederações devem entre outros fins, administrardirigir, controlar, difundir e incentivar em todo o país a prática do voleibol em todos os níveis, inclusive o voleibol praticado por portadores de deficiências. Assim, como o esporte competitivo está dissociado do esporte recreativo, a quem caberia incentivar este último, até então esquecido solenemente? Seriam as Federações? A par de tudo, nota-se há algum tempo as ingerências nocivas do COB no gerenciamento das políticas esportivas (sic) no país, especialmente em nível colegial.

Talvez a única tentativa em voleibol relativa a problemas crônicos na Formação foi a que fizemos através da introdução do Mini Vôlei no Brasil (1974), atualmente aproveitada como fonte de recursos pela entidade, na forma de franquias – Viva Vôlei – ou patrocinadores particulares. Quanto à seleção, a competente comissão técnica deve estar procedendo a tais indagações, inclusive à luz de estatísticas e vídeos, pois o Bernardo é bastante inteligente e competente. Creio não ser preciso alertar à CBV sobre a visão de seu próprio trabalho, com certeza embutido no planejamento sobre a produção das peças de reposição e, muito mais importante, os Métodos empregados no Brasil, cuja responsabilidade atual parece ainda ser do Conselho de Treinadores.

Note-se que ele é presidido e conduzido por um único homem guindado ao posto por Carlos Arthur Nuzman desde sua posse na entidade há 39 anos. Todos os Cursos de Treinadores da CBV estão sob sua responsabilidade. Diga-se de passagem, o presidente do Conselho não participa ou opina sobre as seleções; ao que nos disse não é remunerado e que se atém exclusivamente aos cursos e relacionamento com o congênere da Fivb. Também o Setor de Seleções abdica de ingerência técnica, apenas administrativa.

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Do noticiário extraímos recentemente algumas opiniões alarmistas que poderão nos guiar na forma de pensar o problema (design thinking) e encontrar soluções. Vejamos algumas e após sua leitura, esperamos que VOCÊ participe com seus comentários.

1. Bernardinho perdeu a mão (… será?)

Bruno Voloch, no UOL, 7/jun./2014. “Era o que faltava. Perder para o Irã por 3 a 0 e dentro de casa. Se existia alguma dúvida, não existe mais. A seleção masculina está em crise, perdeu a confiança, não é mais respeitada e dá sinais de estar sem comando. Bernardinho assume a responsabilidade pelo fracasso, se desculpa e fala em frustração. Bruno diz que falta atitude, postura e cobra reação. Discursos fortes, corajosos”.

Procrie… No voleibolês da década de 60 já se dizia: Há técnicos que sabem dirigir uma equipe, têm estrela, e outros que sabem treinar seus atletas; difícil é acumular. Em alguns momentos da partida, a insistência (do técnico) em mostrar a um dos atletas como fazer um bloqueio, defender ou recepcionar, somente atestava a inoperância ou dos treinamentos – que não produziram resultados – ou a falta de qualidade técnica da maioria do que ali estavam. Em suma, ao dize-me com quem andas e te direi quem és, ajusta-se também ao voleibol: dize-me como treinas e te direi como jogas.

Procrie… UFA!!! Recuperação e surpresas. No dia 17 de julho a seleção masculina de vôlei teve uma espetacular vitória ao derrotar a Rússia (3 x 2) pela fase semifinal da Liga Mundial em Florença, Itália. Parabéns aos atletas e à comissão técnica. No dia seguinte, os brasileiros foram derrotados pelos iranianos (4ª vez, 1 x 3). Surpresas: os russos foram desclassificados para a próxima fase, brasileiros em segundo e iranianos em primeiro lugar da chave. A seguir, brasileiros e italianos se confrontaram, com vitória insofismável brasileira, credenciando para a grande final. Com a derrota dos iranianos para a equipe americana, aguarda-se um sensacional jogo hoje, domingo (20/jul./2014). Aconteceu a partida e os Estados Unidos venceram por 3 x 1. Conclusão: a renovação pretendida pelo técnico parece estar no caminho certo, esperando-se que a comissão técnica também esteja aprendendo com os erros. E, agora, “Como Treinar?” para enfrentarmos a maratona de jogos no próximo Mundial?

Notas colhidas de alguns integrantes da equipe brasileira após a partida final:

  • Precisamos fazer algo diferente, seja melhorar individual ou taticamente.
  • É encaixar, alguém jogar um pouco acima da média.
  • Vamos estudar, avaliar e fazer algo (técnico).
  • Precisamos jogar em nível melhor porque vai ser mais difícil no Mundial.
  • Se tiver que melhorar a concentração, vamos lá; se for parte física, vamos lá. 

Velho Problema, Formação Básica

O “vamos lá, vamos lá”, ouvido a todo instante durante as partidas parece não levar a lugar algum. Soa como destempero e consequente ausência de apresentar solução a problemas ocasionais latentes que a equipe não consegue resolver sem ajuda de fora. Esta deve ser a interferência ocasional do seu condutor técnico.

De longa data técnicos de seleções brasileiras em qualquer modalidade queixam-se (nas derrotas) de que não têm tempo para treinar taticamente suas equipes e que muitos atletas não possuem uma formação técnica básica nos fundamentos. Assim, haja improvisações, criatividade e, mais do que tudo, “sorte”. Além, é claro, de jogar com o Regulamento. Como registramos no início, “Todos sabemos o que fazer; o problema é colocar em prática”!

Será que já é o momento de voltarmos nossos olhos para a preparação BÁSICA de nossos pequenos atletas? E, principalmente, para os seus PROFESSORES, os facilitadores do aprendizado? Que importância damos aos condutores das escolinhas? E ainda mais grave, que Formação Pedagógica possuem? Como são formados e avaliados esses profissionais do Ensino?

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2. Essas circunstâncias podem ser transportadas quando o assunto é futebol?

Continuemos nossa conversa tentando obter subsídios dos problemas que impedem a construção de um projeto de Formação de Base e em que consiste nossa proposta de atuação. Vejamos então o que nos fala um dos mais experientes técnicos de futebol no Brasil, o Professor Carlos Alberto Parreira, em entrevista a ESPN publicada pelo UOL em 15/jul./2014, logo após sua saída de coordenador técnico da seleção brasileira na Copa do Mundo.

Problema da seleção: clubes formadores – Acho que deveriam olhar o que foi feito, o planejamento. O que se poderia pensar para o futuro é ser mais abrangente com as federações internacionais. Sou a favor de fazer cursos fora do país. Precisamos que os clubes invistam nas divisões de base e temos que formar em casa os jogadores.

Formação de treinadores – Até já começou a melhorar essa formação, mas ainda é pequena. Os europeus fazem isso há mais de 20 anos. A Alemanha tem mais de 20 centros formadores espalhados pelo país e os treinadores trabalham no mais alto nível. Isso tem de ser feito a médio e longo prazo, de cinco a dez anos. O Fernandinho (jogador da seleção) disse: “os jogadores estão sendo formados no exterior; são brasileiros, mas a formação é europeia”.

Prevendo a entressafra – Fica muito claro que não é fácil ganhar a Copa e que qualquer equipe pode passar por uma entressafra. Temos que fazer como os alemães que se preparam há dez anos, e não interromper um trabalho a cada um ou dois anos. Isso faz parte constante do aprendizado. Temos que fazer o que sempre fizemos e incrementar o trabalho de divisões de base, revelar jogadores de alto nível. As qualidades com escolinhas, treinadores (e gestores).

A CBF não é formadora de jogadores – É o clube quem forma. Ela organiza as equipes para disputar competições sub 17, sub 20 e profissional. A CBF tem que incentivar os clubes.

A Alemanha – É um time formado há dez anos, com mais de 120 jogos, que vem sendo preparado. Joachim Low nunca tinha feito uma final e foi o primeiro título dele em dez anos. É questão de trabalho, intercâmbio. A sequência de trabalho e a continuidade são importantes.

Legado – Essa seleção deixou um legado intangível. Há muitos anos eu não vejo esse Brasil em torno de um objetivo, como o torcedor se uniu com essa seleção. Essa geração que apoiou, vai continuar a apoiar por mais três, quatro Copas. Os jogadores tiveram essa mensagem. O sonho não termina, ele foi interrompido. O trabalho começa daqui um mês e meio.

Técnico estrangeiro – Acho que não há necessidade de estrangeiro em qualquer seleção grande. Não sou contra a ideia, acho difícil implementar o trabalho com um estrangeiro. Pode ter palestras, intercâmbio. Grandes seleções têm que ser treinadas por técnicos locais.

Palestras e cursos – É importante os treinadores irem ao exterior para palestras e cursos. Promover esses fóruns, esse intercâmbio, é favorável a todos.

Qual seleção propôs algo novo taticamente? Para mim, a Alemanha não apresentou algo novo, mas um futebol com quatro, cinco craques em prol da equipe, experientes, entrosados, sabiam resolver os problemas. Não apresentaram nada de novo, mas eu gostei de ver.

3. Gestão desportiva… na CBF

Ainda a propósito do pós-Copa, encontramos uma opinião em Minas Gerais, Trata-se de Gestão (no caso, má gestão). O advogado Marcelo Luiz Pereira, pós graduando em Direito Desportivo e Negócios no Esporte, afirmou no sítio do CEV (16.7.2014):

(…) “Reitero, salvo melhor juízo, Gestão é a palavra chave, independentemente dos subsídios e vantagens concedidas aos clubes. Vou além, interessante que esta mudança se inicie na própria CBF, notório modelo fracassado de Gestão do Futebol e um verdadeiro sucesso no aspecto financeiro daquela instituição (lucros exorbitantes nos últimos anos). Por que será? Importante pensarmos e atuarmos juntos”.

4.  Blog do João Freire

O caso do futebol brasileiro (2ª parte), 17/jul./2014.

Eis a opinião de um dos mais respeitados professores de Educação Física do Brasil a respeito do ensino do futebol.

“De meu ponto de vista, essa história explica-se da seguinte maneira: a reinvenção do futebol à brasileira deu-se à revelia da educação física. Nossos jogadores foram forjados nos campos de várzea, nos pequenos espaços de areia, terra ou grama que grassavam pelo Brasil afora. Nossos jovens não aprenderam sozinhos, não foi uma mágica; aprenderam porque havia uma pedagogia, que eu chamo de pedagogia de rua, uma pedagogia popular, uma verdadeira escola em que crianças aprendiam com crianças e com os mais velhos, os jovens aprendiam a jogar jogando. Uma pedagogia tão sábia que ensinou que o melhor jogador era o que melhor sabia jogar, isto é, o que era mais lúdico – Garrincha como exemplo maior. Nosso professor de futebol não foi nenhum sistema sofisticado de educação física. Foi exatamente porque não foi a educação física, repito, branca e europeia, a nos ensinar o futebol que pudemos praticá-lo de um jeito só nosso”.

Procrie… Como ressalva ao texto acima, lembramos a pequena divergência entre o que postulavam Vygotsky e Piaget, suficiente para transformar uma metodologia a empregar no Ensino: construtivismo ou andaimização? (Leia mais… ) A par de tais discussões, acrescentem-se os conceitos metodológicos de treinamento profundo – teoria mielínica – alardeados pelo jornalista americano Daniel Coyle, conjugados a resultados de estudos na área da Neurociência. O que hoje a Neurociência defende sobre o processo de aprendizagem se assemelha ao que os teóricos mostravam por diferentes caminhos. Vimos buscando igualmente estender para outros desportos a concepção de um ensino com criatividade e imaginação, propondo Metodologia calcada no Aprender Brincando, Aprender Jogando, advinda dos ensinamentos de Gerhard Dürrwächter, professor alemão com quem convivemos em Ronneby, Suécia, em 1975, por ocasião do I Simpósio Mundial de Mini Voleibol (Fivb).

Leia mais… Procrie na Alemanha VOLLEY-BALL, SPIELEND LERNEN – SPIELEND ÜBEN, (Voleibol aprender brincando, aprender jogando).

 

Formação de Base

O objetivo do Procrie é fomentar ideias sobre o assunto e levar a quem quer que seja (web) sugestões aplicáveis a professores e treinadores em suas atividades nas escolas ou clubes. Postamos  no Prezi – sítio exclusivamente educacional – nosso Contributo ao Desenvolvimento do Voleibol, um encadeamento de ideias e soluções perfeitamente ajustáveis a todos os desportos. TODOS são chamados a participar

Temos certeza de que o modelo vigente nada acrescentou e não entendemos o desleixo e má gestão da entidade nesse sentido. A ideia de quem forma o atleta é responsabilidade do clube está completamente defasada e, certamente, nosso principal problema na Formação. É o que vigora até então no Brasil em TODOS os esportes. Como disse muito oportunamente o Prof. Parreira (ver acima): “A CBF tem que incentivar os clubes”. Mas como implantar tais incentivos? Os clubes não estão falidos? Não estão eles mal organizados?

Vamos neste instante apontar um problema que não é menos importante do que tantos ventilados. Trata-se do ensino universitário, formador de professores e técnicos. Já postamos um artigo em que resumimos a entrevista nada mais nada menos do que o reitor da USP.

Aprender a Ensinar 

Neste momento devemos nos remeter à Universidade, instituição formadora de professores, mestres, doutores, pesquisadores, que deveriam cumprir seu papel. Como ela se fecha nela mesma, fica dificílimo qualquer tentativa de romper o lobi construído. Cansamos de tentar e perdemos a paciência. A alternativa foi construirmos o Procrie e caminharmos por iniciativa própria. Se considerarem as estatísticas produzidas pelo Google Analytics, verão que estamos no caminho certo. Falta-nos ainda concretizarmos os Cursos Presenciais.

Em relação a um bom ensino, certamente vamos cair na premissa máxima de nossa cruzada, o Aprender a Ensinar. Sabemos que Ensinar é uma Arte, mas… Arte é ensinável? Sugerimos pequena leitura a respeito do que vem a ser design thinking e seu emprego na busca de soluções a problemas.

Conhecimento amplo e conhecimento restrito – Quando Piaget ministrava seu curso sobre inteligência, ele começava perguntando:

– O que é inteligência?

Ele então respondia:

– Inteligência é o que nos possibilita adaptarmo-nos a novas situações.

E continuava salientando que existem dois aspectos em qualquer ato de adaptação – nossa compreensão da situação e a invenção de uma solução baseada nesse entendimento.

Como surgem as ideias – A inteligência não pode desenvolver-se sem conteúdo. Fazer novas ligações depende de saber o suficiente sobre algo em primeiro lugar para ser capaz de pensar em outras coisas para fazer, em outras perguntas a formular, que exigem as ligações mais complexas a fim de compreender tudo isso. Uma vez que o conhecimento é organizado em uma estrutura coerente, nenhum conceito pode existir isoladamente. Assim, cada ideia é apoiada e colorida por uma rede de outras ideias. Em suma, “não há ideia burra”!

Processos de autorregulação – Como aplicar o design thinking no ensino de voleibol na escola? – Como ter ideias e resolver problemas? 

Leia mais… Aprender a Pensar

 

Escolas, Universidades, Cursos

Percebam o significado e a dimensão do alerta que nos coloca o Professor José Pacheco ao dizer:

Temos Escolas do séc. XIX, professores no séc. XX, e alunos no séc. XXI.

Independentemente da comunidade, cidade ou país em que vivemos e o que esperam de nós os nossos filhos e alunos em matéria de transmissão de conhecimentos? Estaríamos preparados para o embate pedagógico que se nos afigura neste século?

Esporte na Escola – Ensino Esportivo – Motivação e Interesse – Arte de Ensinar – Conciliando Educação Física e Esporte – Aulas e Cursos Presenciais.

Salto no Escuro

Do reitor da Universidade de São Paulo, Marco Antônio Zago, colhemos algumas impressões sobre o ambiente acadêmico em que vivemos no principal estabelecimento de ensino no país em sua entrevista à revista Veja ((ed. 2379, 25/6/2014):

“Os pesquisadores precisam se arriscar mais, sair da zona de desconforto que os leva a projetos de sucesso garantido de antemão. Isso permite que a vida deles transcorra sem surpresas positivas ou negativas, o tempo passa, eles criam vínculos estáveis e passam a dispor de uma estrutura de pesquisa. Para quê? Para continuarem repetindo experimentos consagrados. Tudo bem (…), mas não é essa abordagem que produz grandes e decisivas descobertas. Sem salto no escuro não surgem avanços revolucionários. Os que se arriscam mais são sempre os mais jovens. Depois eles se casam, têm filhos, ficam mais prudentes, e o sistema aceita. Atualmente, no Brasil, tanto as universidades quanto as agências de pesquisas premiam a prudência e inibem a inovação”.

Conclusão: “Temos de dar melhores condições de trabalho aos pesquisadores e reduzir as tarefas administrativas e burocráticas. As condições para fazer pesquisa competitiva estão no estabelecimento de um ambiente favorável, com parcerias como as que temos hoje. Não dá para criar pesquisa de qualidade isoladamente”.

Escola

Entenda-se que representa a principal forma utilizada pelas sociedades modernas de transmissão do conhecimento. A História nos diz que a Escola é uma invenção moderna, não faz muito tempo que foi criada, contudo os conhecimentos sobre Tecnologia da Informação e Comunicação, que nos atropelam de forma avassaladora há menos de 50 anos, realmente nos impedem de acompanhá-la passo a passo como fazem os alunos em centros mais avançados de ensino.

Universidade

Não pergunte o que a universidade pode fazer por você, mas o que você pode fazer pela universidade. (Kennedy)

Universidade do futuro, Stephen Kosslyn (Veja, 2/abr./2014)

Algumas opiniões de renomados professores:

– O conhecimento do cérebro (ciência cognitiva) é o caminho para aprimorar o aprendizado, inserir a escola no século XXI e deixar bem claro que cada pessoa vai até onde sua mente pode ir.

– A universidade on-line revela a importância da tecnologia, ao mesmo tempo em que estimula o aluno a construir um pensamento crítico e a enxergar os dois lados de uma questão.

– A universidade atual necessita retirar a poeira dos séculos, entender e valorizar o novo que, inexoravelmente chega. (Benjamin Batista, BA)

– A origem dos conflitos e questionamentos sobre a finalidade do conteúdo ensinado na sala de aula reside na forma como esse conteúdo é ditado aos alunos – sem nenhuma aplicabilidade prática. Simplesmente não conseguem estabelecer uma conexão entre o seu dia a dia e a escola. (Alex Fabiano A. Oliveira, PB)

Educação Física nas Universidades

Um clube ou academia? Não pergunte o que a universidade pode fazer por você, mas o que você pode fazer pela universidade.

Poderão aquilatar os problemas que afligem o ensino universitário e a consequente educação escolar. Em que consiste a tendência mundial do trabalho desenvolvido pela AIESEPX, inclusive com atuação no Brasil, e o que se espera da universidade no séc. XXI? Percebam o alinhamento do Procrie com a entidade em http://www.aiesep.ulg.ac.be/. O site é hospedado pela Universidade de Liège.

Palavras-chave: Educação Física Escolar, Metodologia e Pedagogia para Professores, Procrie e AIESEPX, Sistema Universitário, Universidade do Futuro.

Leia mais… Ensino da Educação Física nas Universidades

 

Ensino a Distância

Quando lançamos a ideia de ensinar voleibol à distância, fomos desafiados por um dos maiores professores atuante há muito no cenário nacional e internacional. Dizia ele: “É impossível você ensinar a alguém dar um toque de bola residindo a quilômetros de distância”. Felizmente aceitei o desafio. Não sei se ele se tocou e tenha acompanhado o nosso trabalho no Procrie. É uma pena, pois trata-se de um técnico em voleibol, professor universitário, e principal influenciador na Metodologia de ensino no Brasil.

Recentemente, a Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) aprovou nesta terça-feira (8/jul./2014) projeto que define regras gerais sobre a realização de cursos de mestrado e doutorado a distância. A proposta acolhida foi o substitutivo da Câmara dos Deputados a projeto (PLS 264/1999) apresentado ao Senado pela ex-senadora Emília Fernandes. A matéria ainda será votada pelo Plenário do Senado. De acordo com o projeto, os programas de mestrado e doutorado a distância observarão, no que couber, as mesmas normas vigentes para o ensino presencial, permitindo-se as adequações necessárias às peculiaridades dessa modalidade do processo educacional. Em qualquer caso, no entanto, será exigida a realização presencial de exames e de defesa de trabalhos ou outras formas de avaliação de desempenho que venham a ser desenvolvidas com as inovações da tecnologia educacional.

Encontros Presenciais

“As metodologias e ferramentas da EaD quando bem planejadas, organizadas, executadas e avaliadas favorecem demasiadamente a aprendizagem. É oportuno mencionar que seria muito apropriado em não abdicar das formas híbridas, aquelas que combinam encontros presenciais com atividades em ambientes virtuais de aprendizagem, principalmente no campo de estudo e atuação profissional em Educação Física”. (Patrick R. Coquerel)

Leia mais… Vai a Plenário Projeto Que Trata de Cursos de Mestrado e Doutorado a Distância

 

Continua…

 

Ensinar Vôlei e Futebol, que Diferença?

Curso para professores e ex-atletas de vôlei de praia, CBV.

Será que um técnico de futebol – Guardiola, José Mourinho, Carlos Alberto Parreira – conseguiria conversar sobre metodologia de treinamento no voleibol com o Bernardinho ou José Roberto? E, ao contrário, estes últimos seriam capazes de analisar um treinamento ou comentar uma partida de futebol? E todos eles, e VOCÊ que me lê neste momento, o que teriam a dizer sobre o treinamento de FORMAÇÃO de atletas, não importa o desporto? Salvo raríssimas exceções, quem sabe o que está realizando com os jovens? Será que o ensino universitário, o cursinho ou a própria prática são suficientes para um bom desempenho do orientador?

Faço parte de uma Comunidade de Esportes Virtual (CEV) que congrega milhares de professores e interessados constituindo-se no maior Fórum no Brasil. Ali são expostas notícias, comentários, dúvidas, de forma democrática e elegante, que deixam a todos confortáveis para o debate. Aliás, iniciei-me no CEV para só então criar algum tempo depois o Procrie. Foi uma excelente escola para mim. Por estes dias (11/jan.2012) mais uma vez veio à baila o assunto ventilado em relação ao jogo Barcelona e Santos pelo mundial de clubes. Agora, diretamente ao assunto “Aproveitamento de  Juniores nas Equipes Profissionais”, postado por Daniel A. R. Koscak. Eis a seguir nosso diálogo bastante frutuoso.

Daniel Koscak – A equipe campeã do mundial interclubes da FIFA 2011, esse time do Barcelona que enche os olhos dos espectadores, nos faz pensar sobre o aproveitamento das categorias de base, na equipe principal. Um time que possui mais da metade de seus atletas titulares oriundos das categorias de base, é algo para se impressionar e se seguir o modelo. Ainda mais quando se trata de um modelo adotado há mais de 30 anos, e que vem apresentar seus resultados no fim da década passada e início dessa década, e que contraria os princípios de nosso futebol nacional, o qual se discute a qualidade atual e o futuro em uma próxima Copa do Mundo. Apesar de termos equipes que investem de forma significativa nas categorias de base, a transição juniores-profissional em muitas delas não ocorre de forma adequada, a meu ver, colocando em xeque o desempenho e muitas vezes até o futuro de atletas com qualidade que são desaprovados na equipe profissional. Tome-se o exemplo da equipe do Corinthians, bicampeão mundial sub-17 vencendo a equipe do Barcelona em ambas finais. Não se veem os atletas serem aproveitados na equipe profissional, (o time campeão brasileiro em 2011 possuía como titular apenas o goleiro Julio Cesar formado nas categorias de base) ao contrário da equipe catalã. Fora a questão de que o lucro com atletas formados na base é muito maior do que se contratarem atletas profissionais. Não estou dizendo que não se deve contratar, mas o lucro quando o atleta vem da base é muito maior, e pode superar os investimentos feitos. Lembro-me da venda do zagueiro Breno ao futebol alemão, que na época rendeu aos cofres do São Paulo uma quantia que permitia construir mais de um CT como o de Cotia. Se for uma questão de modelo de gestão, e de cultura, ainda é possível mudar, pois talentos nosso país tem de sobra, e isso é indiscutível, mas hão de ser lapidados, e hoje em dia infelizmente (ou felizmente), somente isso já não é necessário para ser o maior país do mundo no futebol e vencer campeonatos.

Roberto Pimentel – (com base no livro “O código do talento”, de Daniel Coyle)

Qualquer discussão sobre o processo de aquisição de habilidades deve levar em conta um misto de descrença, admiração e inveja intensas que sentimos quando vemos um talento aparentemente saído do nada. É um sentimento que nos leva a perguntar: “De onde veio aquilo“? Como esses indivíduos, que parecem ser iguais a nós, de repente se tornam tão talentosos? Em seu livro Coyle recorre a um professor de matemática frustrado, Adriaan Dingeman De Groot, nascido em 1914, psicólogo holandês. Após alguns estudos, testes e experiências comprovou na prática que “a diferença entre alguém que compreendia uma linguagem e alguém que a desconhecia era uma diferença de organização”. Assim, a habilidade consiste em identificar elementos importantes e agrupá-los num sistema significativo. Esse tipo de organização em blocos maiores e carregados de sentido é o que os psicólogos chamam de chunking. A pesquisa científica tem mostrado como as habilidades são construídas por pedaços e também se aplicam às ações físicas, como um ginasta aprende exercícios de solo quando monta e interliga seus blocos, eles próprios feitos de outros blocos. Ele agrupa vários movimentos musculares do mesmo modo como agrupamos várias letras para formar qualquer palavra. De Groot publicou seu estudo em 1946, sem nenhuma repercussão. O trabalho do psicólogo holandês foi descoberto 20 anos depois por Anders Ericsson, que reconheceu De Groot como um pioneiro da psicologia cognitiva. Quer me parecer que outro holandês – Johan Cruijff – logo após o retumbante sucesso da metodologia empregada pela seleção de seu país em 1974 com o técnico Rinus Michels, dispôs-se a desenvolvê-la na formação de novos atletas a partir de sua instituição voltada para o futebol. Repare que o efeito mostrado pela equipe atual do Barcelona não exclui o talento, muito ao contrário, cria condições para que ele se manifeste e desenvolva, a partir da contínua posse de bola, uma vez que a equipe atua em bloco e determinada a impedir que o adversário jogue. Por outro lado, uma equipe que atue à base de dois ou três atletas (Santos) ficará impedida de efetuar suas principais jogadas, uma vez que não consegue neutralizar a eficiente marcação sob pressão em todo o campo de jogo. Possivelmente seja uma explicação por que o Messi não consegue atuar tão bem quando no selecionado argentino.  

“Cruijff construiu o edifício e os técnicos do Barça que o sucederam apenas trataram de restaurá-lo e reformá-lo”. (Josep Guardiola) “Se, atualmente, há no futebol jogadores polivalentes que podem atuar sem posição fixa no campo, sem prejuízo de suas atuações individuais, muito se deve a este genial craque e não menos a seu treinador no Ajax, Barcelona e na Seleção Neerlandesa, Rinus Michels”. (Wikipédia)

Como poderá concluir, basta lembrar ou observar ainda hoje como são instruídos os nossos jovens atletas. Aliás, parece-me que a Confederação Brasileira de Futebol instituiu um curso de técnicos de futebol que em dois meses (?) habilita qualquer indivíduo para a função. Este também um dos diferenciais na formação em qualquer esporte, pois não evoluem e simplesmente repetem as mesmas receitas dos nossos avós. Confira textos sobre o assunto também em www.procrie.com.br/: Habilidade vs. Talento, Como se Adquire Habilidades? (I, II), Como Ensinar, Psicologia e Forma de Treinar. Espero-o por lá com seus comentários.

Daniel Koscak Ótima contextualização Roberto, com certeza irei conferir o link que você me passou. O que ainda me dá certa esperança é ver que alguns treinadores do interior de SP tentam desenvolver tal sistema de jogo (Futebol Total), e posso acompanhá-los de perto, sem o medo de irem na contramão do que acontece de forma geral no futebol nacional. Talvez adotem tal sistema pelos bons resultados obtidos nos últimos anos, mas ainda é necessário discutir o sistema de forma mais ampla, não somente dentro das 4 linhas. Basta analisar certas questões como a ausência do regime de concentração como ocorre em nosso país, e outros tópicos que chegam a entrar no parâmetro cultural. Gostaria de aproveitar a oportunidade para perguntar se os estudos na Metodologia e Pedagogia da iniciação do voleibol, os quais você se refere em seu perfil, aplicam-se ao futebol e de que forma.

Roberto Pimentel – Daniel, e colegas professores ou não de qualquer desporto. A Pedagogia e a Metodologia pretendem descobrir princípios e normas aplicáveis à VIDA. Estão calcadas em teses que a Psicologia nos provê a cada momento. (In)felizmente não há verdades, mas trata-se de uma busca incessante. Assim, para entender e melhor aplicar seus ensinamentos, cabe a qualquer indivíduo que se propõe educar e ensinar outrem estar devidamente habilitado e instruído. Como verá após algumas leituras, não lhe basta possuir um diploma. Tenho certeza absoluta que tão pouco as faculdades de Pedagogia conseguem se sair bem nesta tarefa. É uma calamidade!

Veja no Procrie – www.procrie.com.br/novosumario/uma extensa relação de postagens. As mais remotas (final da relação) estão recheadas de assuntos pertinentes que tanto se aplicam ao voleibol como a qualquer outro desporto e, especialmente, a todas as condições de aprendizagem do conhecimento humano. Realizei palestras para estudantes de Física (UFRJ) sobre como “Aprender a Ensinar” e, para um grupo de professores, “O Marketing no Voleibol, como ganhar dinheiro” (Universidade Estácio de Sá e Univ. Gama Filho). Os princípios pedagógicos do matemático húngaro G. Pólya, tanto se aplicam às ciências exatas, como ao futebol, basquete e ao ensino de História e Línguas. Em “Lições de um Projeto, Perspectivas de Aprendizagem” (3 artigos) e “Teoria vs. Prática” (postados em nov./2009) há interessantes abordagens que podem nortear o início de qualquer trabalho com jovens. Há pouco, neste mesmo CEV (Comunidade Futsal, Iniciação Esportiva?), um colega nosso encantou-se com o Procrie e solicitou permissão para postar alguns dizeres em seu próprio blogue. Sinaliza-se, assim, a importância de leituras sobre Psicologia Pedagógica para exercer a nobre tarefa de um professor e até mesmo de um treinador. 

Visite também o sítio educacional PREZI no PROCRIE: http://prezi.com/9nhuhq5t7coh/procrie/

Como Ensinar

Desenho: Beto Pimentel.

Aquisição de Habilidades 

“Não se trata de reconhecer um talento, o que quer que isso venha a ser. Nunca saí à procura de alguém que fosse talentoso. Primeiro, é preciso trabalhar os fundamentos e logo se percebe para onde caminham as coisas”. (Robert Lansdorp)

Aquisição de Habilidades,  Avaliando o Treinamento, Percepção, Talento.

Há que se destacar na aquisição de habilidades e no desenvolvimento de talentos dois aspectos. A habilidade, como um processo celular, que se desenvolve mediante o treinamento profundo através de um processo similar à ignição de um carro; ela fornece a energia inconsciente para esse desenvolvimento. E os raros indivíduos com o impressionante dom de combinar essas forças para desenvolver o talento em outros. Em outras palavras, “como combinar estes dois elementos”?

Em 1970, dois especialistas em psicologia da educação, ganharam uma oportunidade de ouro: partindo do zero, elaborar e implantar um programa de leitura numa escola experimental de um bairro pobre de Honolulu. Financiado por uma fundação educacional havaiana, o projeto envolveu 120 alunos de pré-escola (4 a 6 anos de idade) à segunda série (8 anos). Dois anos após, quando a escola abriu as portas, puseram em prática as ideias pedagógicas mais avançadas da época, muitas delas referentes a estratégias do professor para aumentar o percentual de tempo que os alunos permanecem concentrados no que quer que tenham de fazer em sala de aula, aplicando-se ao máximo nas tarefas propostas. Os pesquisadores eram inovadores, dedicados e tenazes. Nem por isso tiveram êxito e, em 1974, começaram a questionar seriamente a própria metodologia. Os dois estavam na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), onde deram algumas aulas e tentaram compreender por que o projeto marcava passo. Uma tarde um deles teve uma ideia: fariam do melhor professor que pudessem encontrar o objeto de um estudo ultra detalhado e utilizariam os resultados dessa pesquisa para aperfeiçoar o seu projeto de ensino. O professor escolhido, que trabalhava na UCLA, foi John Wooden, treinador titular do time de basquete. O professor concordou que os dois cientistas bisbilhoteiros observassem seus treinamentos. Eles ocuparam assentos à beira da quadra para ver o mago realizar o primeiro treino da temporada. Como ex-atletas, conheciam as boas e velhas ferramentas para conduzir bem um treino: exposições ilustradas com esquemas desenhados no quadro-negro, discursos de incentivo, punições aos indolentes como correr mais voltas, elogios aos aplicados. Então o treino começou…  (do livro “O código do talento”).

Como ver um treino e aprender com ele? Que tipo de comentários resultam das observações e indagações realizadas?

Poderão ver respostas a essas perguntas talvez no tamanho de meia página de caderno. Isto é, ninguém que realiza cursos, especialmente no exterior, está alertado ou se preocupa com isto. Querem isto sim, o imediativismo tal como as crianças, nada de pensar, mas conhecer os exercícios que são executados para o desenvolvimento dos atletas. Então, o curso se resume à memorizar (filmar) o que se realiza em termos práticos, deixando de lado todo o escopo metodológico e pedagógico. Há algum tempo li comentários de um técnico estrangeiro que esteve em Saquarema (RJ), no centro de treinamento das seleções brasileiras de voleibol. A mim me pareceu um turista em viagem de recreio. Outro, um brasileiro, foi contemplado com uma viagem ao Japão para se inteirar e aperfeiçoar. Retornou ao Brasil, e pasmem, permaneceu fiel ao que fazia há anos, isto é, nada incorporou ao seu conhecimento. Um terceiro, este mais experiente, disse-me após retornar também do Japão: “Eles falam pouco, e começam a dizer algo só muito mais tarde, após testarem sua paciência e interesse em observar o que ocorre”.

Um segundo aspecto trata-se da divulgação do conhecimento adquirido. Como todos competem entre si através de seus respectivos clubes por que divulgar o que foi aprendido? Este pensamento prevalece mesmo quando é a entidade máxima do desporto que patrocina o curso. Inclusive, não é cobrado absolutamente nada ao viajante em seu retorno. Foi, viu e voltou! E tudo continua como estava.

(continua…)

O Circuito do Ensino

Um Mapa para Professores e Treinadores

Um professor afeta a eternidade, ele nunca sabe em que ponto cessa sua influência. (Henry Brooks Adams)

Estarei comentando daqui para frente uma nova teoria neural sobre o desenvolvimento de habilidades. Trata-se do treinamento profundo adotado e difundido por Daniel Coyle, um jornalista esportivo e um dos editores da revista Outside. Vive com a mulher e os quatro filhos na cidade litorânea de Homer, no Alasca, onde treina um time da liga mirim de beisebol que tem alcançado resultados cada vez melhores.

Coyle é autor do livro “O Código do Talento”, que trata de uma ideia simples: a fábrica de talento. Esta consiste no acesso a um mecanismo neurológico no qual certos padrões de treinamento direcionado constroem uma habilidade. Trata-se de uma zona de aprendizagem acelerada, zona essa à qual podem ter acesso aqueles que sabem como fazê-lo. Em suma, decifraram o código do talento. Este se baseia em descobertas científicas revolucionárias sobre um isolante neural chamado mielina, atualmente considerado por alguns neurologistas o Santo Graal da aquisição de habilidades. Vejam por quê.

Toda habilidade humana, seja ela a de jogar beisebol ou a de tocar Bach, é criada por cadeias de fibras nervosas que transmitem um minúsculo impulso elétrico – em resumo, toda habilidade nossa depende de um sinal que viaja por um circuito. Qual o papel da mielina nesse processo? Do mesmo modo que a borracha protege um fio de cobre, a mielina reveste essas fibras nervosas, tornando o sinal mais forte e mais rápido por impedir que os impulsos elétricos extravasem. Quando disparamos nossos circuitos da maneira certa, quando buscamos movimentar um taco de beisebol ou tocar uma nota musical, nossa mielina reage, recobrindo o circuito neural com camadas isolantes, e cada nova camada aumenta um pouco mais a habilidade e a velocidade. Quanto mais espessa se tornar a mielina, melhor ela isolará as fibras e mais rápidos e precisos serão nossos gestos e pensamentos.

Importância da mielina

É importante por várias razões: 1) É universal, todos podem desenvolvê-la e, embora o façam mais rapidamente na infância, também o fazem ao longo da vida. 2) Não é seletiva, seu crescimento viabiliza todo tipo de habilidade, mental ou física. 3) É imperceptível, não podemos vê-la ou senti-la, e só notamos seu aumento pelos efeitos quase mágicos que provoca. 4) Mas a grande importância da mielina reside no fato de que seu estudo do funcionamento nos forneceu um impressionante novo modelo para a compreensão do que seja a habilidade. Trata-se de “um isolante celular que recobre os circuitos neurais e cresce em reação a determinados sinais”. Quanto mais tempo e energia alguém investe no tipo adequado de exercício, ou seja, quanto maior sua permanência na zona, disparando os sinais certos pelos circuitos, maior a habilidade adquirida. Noutras palavras, maior a mielina obtida.

Muito embora possam nos parecer muito diferentes, todas as aquisições de habilidade e, portanto, todas as fábricas de talento, se baseiam nos mesmos princípios de ação. Como disse o Dr. George Bartzokis, um neurologista e estudioso da mielina que trabalha na Universidade da Califórnia em Los Angeles, “Todas as habilidades, toda a linguagem, toda a música, todos os movimentos são feitos de circuitos vivos, e todos os circuitos crescem de acordo com certas regras”. Tenistas, cantores e pintores não parecem ter muito em comum, mas todos eles melhoram aperfeiçoando gradualmente seu timing, sua velocidade e sua precisão, aprimorando os circuitos neurais, obedecendo às regras do código do talento – em suma, produzindo mais mielina.

O livro é dividido em três partes e cada uma delas é dedicada a um dos três processos: treinamento profundo, ignição e orientação de um grande treinador. Tais processos correspondem aos três elementos fundamentais do código do talento. Cada um é útil em si, mas sua convergência é a chave para criar qualquer habilidade. Na falta de um deles, a aquisição da habilidade fica mais lenta. Combinando-os, ainda que por apenas seis minutos, tudo já começa a mudar.