A Rede Coberta – Lição V

Rede Coberta
Foto (original): Fivb/Divulgação.

Objetivos a alcançar

Em prosseguimento ao tema DEFESA, faço uma ressalva aos leitores para destacar a importância de um planejamento em suas atividades. Dessa forma, relembro os textos postados neste Procrie sob o título Lões de um Projeto, Perspectivas de Aprendizagem (3 art., nov./2009) sobre nossa atuação no Morro do Cantagalo, no Rio de Janeiro, projeto que antecedeu o Criança Esperança, alardeado pela TV Globo. Trata-se de uma proposta didática a ser empreendida para várias circunstâncias, especialmente em se tratando de indivíduos sem qualquer ou pouca atividade física dirigida. Assim, naquela oportunidade buscamos desenvolver preliminarmente:

  1. A conquista do ritmo do grupo
  2. Desenvolvimento da auto-estima
  3. Valor dos pequenos jogos e brincadeiras
  4. Capacidades de pensamento, aprendizagem, memória, linguagem, atenção, concentração
  5. A prontidão para a aprendizagem
  6. A pertinência de conteúdos
  7. Os métodos de descoberta na aprendizagem
  8. Fatores para ajustar a capacidade de aprender com disciplina e orientação própria, e de pensar racionalmente de modo continuado

Até chegarmos a um ponto desejável, observam-se detalhes que podem ser desenvolvidos de forma imperceptível e imprescindíveis para um bom rendimento do indivíduo (ou futuro atleta) – sua colocação dentro de quadra, a intuição no que se refere à antecipação. Isto é, sua construção mental como base de sua atuação tática futura, que de alguma forma podemos simplificar como aprender a pensar. (Leia mais em Aprender a Ensinar)

Inicialmente, é natural focar no aprendizado individual em detrimento do coletivo, justificada pela aquisição de uma técnica que permita ao treinador em futuro próximo aprimorar os aspectos coletivos da equipe, isto é, a tática a empregar em função dos adversários, ou mesmo no desenrolar de uma partida. Contudo, nossa preocupação reside no fato de os profissionais encarregados de propor as tarefas não estarem suficientemente instruídos quanto aos temas psicopedagógicos, mas voltados essencialmente para a consecução desse ou daquele exercício. (Reportem-se ao artigo Teoria vs. Prática). Assim, deixam de exigir a busca da perfeição nos gestos, isto é, no apuramento de uma técnica individual, sem a qual tudo permanecerá como dantes. Este a nosso ver o principal erro que se propaga geração após geração, independentemente se estamos na Formação ou mesmo no Alto Nível. Em suma, não convém que o indivíduo seja adestrado – repetir e repetir – mas levá-lo a compreender o que lhe é exigido (a tarefa), e a avaliar o seu progresso – ensino contingente. Caso necessite de ajuda, a acuidade, o conhecimento e a experiência do treinador contribuirão na difícil arte de ensinar. Isto é bem diverso do que simplesmente enunciar o exercício e aguardar o momento de realizar o próximo em um exaustivo processo muitas vezes melancólico. Mas será que os instruendos estão se esforçando para aprimorar a técnica de execução, ou simplesmente repetindo as mesmas coisas? Neste caso, simplesmente estarão reforçando o erro, o que consideramos um contra treino. Assim, que lhes sejam impostos problemas diários e que aprendam a buscar as soluções mais adequadas.

Cobrindo a rede

Nunca é demais lembrar que é sempre de bom alvitre colocar uma pitada de graça, alegria e surpresa nos treinos. Isto torna o ambiente propício à concentração e ao desempenho, deixando de ser repetitivo e enfadonho, do tipo que inspira pensamentos nos atletas como “aposto que já sei o que vem mais adiante!” Vamos juntos, então, dar a partida na intenção de criar alguns problemas para os instruendos de forma original e criativa – crianças ou adultos – e mais do que isto, avaliar uma a uma as soluções e comentários que geram como um todo. Poderíamos sem medo de errar, dizer que vamos Aprender Brincando; quer coisa melhor para despertar e manter o interesse dos indivíduos? Além disso, em uma disputa saudável, incentivar e destacar os comentários mais pertinentes após cada sessão de treinamento. Na montagem da foto pode-se perceber o grau de dificuldade e as implicações provenientes de ter parte da visão obstruída numa partida de voleibol.

– Que tal se cobrirmos a rede com um pano opaco e deixar que crianças inventem seus primeiros jogos e exercícios com a novidade?

– E se, em dado instante, interrompêssemos um treinamento de uma seleção adulta – feminina ou masculina – e introduzíssemos os mesmos jogos criados pelas crianças?

O que acham que aconteceria em seguida em ambos os casos? Se você tem uma resposta é um bom sinal, independentemente se ela se ajusta a qualquer dos dois casos. O que importa, então, é que começamos a raciocinar juntos na mesma direção, isto é, buscamos novos estímulos que favoreçam um bom aprendizado. Quer participar dessa brincadeira?

Criatividade, originalidade e compartilhamento

Todos estão convidados a embarcar nessa viagem maravilhosa de livre pensar e descobrir até onde nos levam nossas descobertas!

 

Técnicas de Ensino: Papel do Professor

 

Como ensinar aos professores?

(com base no livro Como as crianças pensam e aprendem, David Wood)

Aula de demonstração da metodologia empregada pelo autor no mini vôlei. Colégio Catarinense, Florianópolis (SC).

Os debates sobre a natureza do desenvolvimento estão necessária e inevitavelmente ligados com conceitos de ensino. Um livro que verse sobre o desenvolvimento da capacidade cognitiva da criança, suas possibilidades de percepção, atenção, aprendizagem, memória, pensamento e linguagem, versa também sobre professores e o ensino. Certas teorias só atribuem aos adultos o papel de coadjuvantes no drama do desenvolvimento, enquanto outras os escalam para o papel principal.

 

 

Aula na UDESC, Floripa

Houve época em que constantemente frequentei Florianópolis (SC), uma vez que minha filha passou a residir e a trabalhar por lá. Foram quatro anos e ali nasceu a minha neta hoje com sete anos. Posteriormente a família retornou a Niterói, concluindo o ciclo da ponte aérea que estabelecêramos, eu e minha mulher. Numa dessas estadas, ofereci-me à professora de voleibol da Universidade Estadual (Udesc) – Fernanda – para realizar uma demonstração da metodologia empregada no mini vôlei seguida de uma conversa com os acadêmicos para conhecer-lhes as opiniões e, em alguns casos, dirimir dúvidas. Interessante foi o comentário da professora a respeito da minha percepção e entrega aos pequenos alunos, que ela captou quando me ouviu dizer: Quando em aula faço-me criança. De todos os presentes, somente ela entendeu o significado do que seja atuar como professor diante de um grupo de crianças e a simples lembrança da sentença, me fez admirá-la. Uma segunda apresentação, ainda em Floripa, foi no maior e tradicional educandário Colégio Catarinense, cujo coordenador de EF era o marido da professora Fernanda (peço desculpas, mas não recordo seu nome). A apresentação foi realizada com alguns poucos alunos e alguns professores alinhados com o coordenador para uma transformação na metodologia da escola. Além dos alunos, conseguimos aliciar os adultos presentes, inclusive a coordenadora pedagógica e um motorista, que se contagiaram com a alegria da aula e entraram no ritmo da aula. Tudo registrado em vídeo e fotos. Terminada a apresentação, já a caminho de casa, o coordenador indagou-me: “Percebi que você teve uma entrega demasiada no transcurso da aula que, inclusive o exauriu; como seria caso tivesse que realizar três ou quatro aulas no mesmo dia”? Respirei fundo, pois percebi sutileza na indagação e após alguns segundos respondi-lhe: “Ocorre que se eu fosse o professor do colégio, eu conheceria os meus alunos e eles a mim; em tal circunstância, eu os teria levado a se conduzir e se esmerar nas tarefas sem a presença do professor”. Vendo-o atordoado com a resposta procurei informá-lo: “Mas não se preocupe, isto é assunto para um Curso de Metodologia e Dinâmica de Aula que podem ser encomendados a qualquer momento”. E mais não foi dito.

Formação e condições de desempenho

A esse respeito vejamos o que nos ensina D. Wood: “O significado que se atribui a ser professor depende, entre outras coisas, da imagem que fazemos das crianças enquanto aprendizes. E qual a melhor maneira de criar as condições sob as quais os professores e aprendizes são capazes de desempenhar os seus papéis? As escolas oferecem um contexto que permita o surgimento de algo que se aproxime das condições ótimas de ensino e aprendizagem? O significado desse ótimo depende de como optamos por encarar o processo de desenvolvimento. Num certo nível, portanto, é impossível separar o estudo teórico do pensamento e aprendizagem infantis das questões morais, políticas e econômicas que giram em torno dos recursos que dedicamos à educação e do modo como formamos nossos professores. Embora não se tenha intenção de colocar essas questões em primeiro plano, elas inevitavelmente aparecerão como pano de fundo de muitas discussões”.

Algumas experiências que colhi observando conduta de professores em escolas públicas e privadas levaram-me a considerar alguns aspectos condizentes com o trecho acima. Numa escola pública de Niterói, onde resido, levei à direção meu oferecimento para criar condições de se efetuar experimentalmente uma aula semanal de EF na praia. Para tanto, eu disponibilizaria todo o material necessário a ser empregado com a metodologia do mini vôlei. A diretora sugeriu-me que conversasse com os professores (4 ou 5) e, em seguida marcamos a reunião. Após minha explanação entramos na fase de questionamentos. Em dado momento uma das professoras indagou-me: “E nesses dias, quem daria as aulas para as crianças”? Mais uma vez respirei fundo e desabafei: “Não creio que você vá perder a oportunidade de se desenvolver e deixar de ir junto com seus alunos, mas se assim pensou, reforça a ideia que a sociedade faz dos professores de EF”. Em outra, em um CIEP do subúrbio do Rio de Janeiro, deparei-me com uma atitude diametralmente oposta e feliz. Um professor de EF candidatou-se a Diretor-Adjunto da escola e conheci-o num momento de febril atividade na recuperação física da escola. Sozinho, consertava algum material didático funcionando como um carpinteiro; adiante, enquanto falávamos, não perdia tempo e levava de um para outro local  alguns móveis, até que conseguimos chegar à quadra coberta externa. Falou-me resumidamente das atividades ali desenvolvidas e ouviu-me em seguida sobre o que poderia ser ampliado para desenvolver outras atividades voltadas para as crianças. Concordou e prontificou-se a reformular o projeto que já havia esboçado, tanto para o mini vôlei, como para o mini basquete. Não tive oportunidade de ali retornar, mas creio firmemente que seu empenho e dedicação foram bem sucedidos em favor dos seus alunos. Contenho-me nos exemplos para não deslocar o leitor dos objetivos desse artigo.

Busca da melhor metodologia

Nessa escolha há que considerar alguns aspectos de conduta, como: Ensino contingente; Zona de desenvolvimento proximal; Adestramento e repetição; Transferência; Auto-instrução. A visão dessa metodologia faz com que a tarefa da educação e ensino pareça menos assoberbante na medida em que as crianças individualizam a própria aprendizagem e auto-instrução (p.ex., aulas para 40 alunos, ou mesmo sem o professor). E aqui têm início as diferenças entre a atuação do verdadeiro professor e de um treinador.

Características para uma aprendizagem individualizada e cooperativa

Relembro os textos postados neste Procrie sob o título Lições de um Projeto, Perspectivas de Aprendizagem (3 art., nov./2009) sobre minha atuação no Morro do Cantagalo, no Rio de Janeiro, projeto que antecedeu o “Criança Esperança”, alardeado pela TV Globo.

1) A conquista do ritmo do grupo (equipe); 2) desenvolvimento da auto-estima; 3) valor dos pequenos jogos e brincadeiras; 4) capacidades infantis de atenção, concentração, memória, pensamento, aprendizagem e linguagem; 5) a prontidão para a aprendizagem; 6) a pertinência de conteúdos; 7) os métodos de descoberta na aprendizagem; 8) fatores que contribuem para ajustar a capacidade infantil de aprender com disciplina e orientação própria, e de pensar racionalmente de modo continuado.

Aprendizagem individualizada – Arquiteta da própria compreensão, desenvolve a capacidade de auto-correção e auto-instrução, que acarreta credibilidade à concepção como agentes do próprio desenvolvimento. Como pode um professor ensinar algo se ele mesmo não sabe como fazê-lo? Será que para ensinar é preciso saber ensinar ou basta desfilar uma série de baboseiras pelos ouvidos do indivíduo e esperar que ele aprenda? Afinal, o professor não foi feito para ensinar e o aluno para aprender? Vejam como é importante a leitura e sua compreensão e, principalmente, a prática a ser desenvolvida com seus alunos, não importando as suas idades. Tivemos experiências muito proveitosas empregando a mesma metodologia tanto com crianças (Praias de Icaraí, Copacabana, Ipanema) como com adultos (AABB-Rio) com ou sem coordenação motora específica, muito menos para o voleibol.  Em tais circunstâncias, desenvolvemos alguns aspectos que estão alinhavados a seguir de forma sutil que levaram uns e outros a terem o sentimento de auto-realização em alta.

Tentem responder às indagações e estarão percorrendo um novo caminho de realizações e aproximação maior com os seus alunos em qualquer matéria:

  1. O que é instrução eficaz?
  2. Como e quando as crianças generalizam o que lhes é ensinado, aplicando a outros problemas?
  3. Os adultos raciocinam logicamente tal como supõe a teoria piagetiana?
  4. O que é perícia?
  5. Como investigar o impacto do ensino sobre o desenvolvimento das capacidades infantis?

——————