1° Simpósio Mundial de Minivoleibol, FIVB – 1975 Ronneby, Suécia.
Inicialmente, com uma ponta de saudosismo, reporto-me ao início de minha cruzada em favor de uma educação de qualidade para crianças. Deixo consignado como tudo aconteceu. Perdoem-me a emoção que se descortina em cada linha, mas, acreditem, tudo aconteceu assim.
Fábrica de sonhos. Quando se tem como oferta produzir qualquer tipo de educação para “400 mil alunos em 4 anos”, pensa-se em se trabalhar também com marketing e comunicação, onde todas as temáticas passam a ser de seu interesse e o sentimento é de estar num país que não tem olhos de ver, que ainda não acordou para a sua realidade.
O tempo passou muito rápido desde que voltei das primeiras experiências em 1974-75, mas ainda preciso compartilhar com vocês. Fui convidado a realizar um curso em Recife (PE) e, no ano seguinte, a participar de um encontro mundial sobre iniciação ao voleibol em terras longínquas, quase no topo do mundo, lá na Suécia. Esta foi a primeira vez que a Federação Internacional resolveu discutir com professores o tema e o seu papel no desenvolvimento do esporte. Na mesma sala, muitos docentes e técnicos de diversas nacionalidades, gente importante do esporte, com muita experiência, autores consagrados. Todos unidos, próximos, para falar em linguagem simples de como ensinar a aprender o movimento e como isso era importante de ser compreendido. À nossa volta, prontos para as aulas práticas, uma dúzia de lindas crianças suecas, todas entre 10-13 anos de idade, com seus olhares azuis, faces rosadas e cabelos loiros, quase brancos.
Durante oito dias permanecemos num verdejante hotel na pequena cidade de Ronneby, pouco mais ao sul da capital Estocolmo. Corria o mês de julho, pleno verão para eles e o sol insistia em não se retirar, aquecendo corpos alvejados pelo longo inverno, como se compensasse tanta ausência. O firmamento jamais se entregava à noite, prejudicando o brilho das estrelas. Neste cenário, várias demonstrações, aulas, palestras, filmes, debates e discussões em torno do tema ajudaram a construir e preencheram nossos dias. Em slides, calcamos nossa fala numa das mais animadas reuniões: versava sobre o emprego do jogo de PETECA na iniciação ao vôlei. Tivera o cuidado de fotografar a atividade em várias praias do Rio e Niterói, o que contribuiu para uma verdadeira descontração entre os participantes. E até por que o meu intérprete foi o mexicano Ruben Acosta, até pouco tempo o presidente da FIVB.
Ficamos muito tempo sem nos falar, eu e os meus pares. Os responsáveis pela educação ou pelo esporte do Brasil em momento algum se deram conta do interesse que aquele encontro despertou em outras nações e sua importância ao serem discutidos temas pertinentes. Percebendo o quanto o mundo hoje é pequeno, assistimos a humanidade se digladiar. Somos, realmente, uma sociedade de resultados, imediatista, sem qualquer pretensão ao planejamento, pesquisa ou estudo. Fui obrigado a me mexer, a me mostrar para, obstinadamente, não deixar morrer o sonho de ajudar a construir um outro mundo para as crianças.
Lembro das formigas, das abelhas, as sociedades perfeitas onde todos parecem saber o que devem fazer. Porque, afinal, todos têm o mesmo foco: construir um mundo melhor. E você bate com a cara na porta porque isto é tarefa do governo, esbarra nos interesses escusos, na insensibilidade dos dirigentes e dos próprios pais. Mas tudo isso é compensado quando se vê um sorriso de criança, pobre ou rica, numa confraternização que mostra que pelo menos a utopia é possível. E isto vivenciei, tanto na Barra e Ipanema – bairros nobres do Rio de Janeiro –, como no Morro do Cantagalo e nos CIEPs da periferia. Um dia, tenho certeza, ainda verei um número que desconheço – multiplicado por 100 mil – estará por aí, nas escolas, nas praças, com suas bolas e bonecas, alegres e divertidos, a brincar e a jogar. E em todos pequenos corações a inscrição: “um outro mundo é possível”!
