Lições do Mundial, Saque Tático

Recordo aos leitores que já destacamos o valor do saque tático na postagem sob o título “Saque: técnica, tática & marketing”. Darei continuidade após as observações do recente Mundial na Itália. Para tanto, reportemo-nos a 1968.

 

 

 

Jogos Olímpicos, cidade do México. Primeira realização na América Latina, os Jogos foram realizados na cidade do México, em uma altitude de 2.300m acima do nível do mar, entre 12 e 17 de outubro. Gerou alguma controvérsia a influência e os danos que o ar mais rarefeito poderia causar no desempenho dos atletas. Os cinco mil lugares do ginásio olímpico ficaram lotados durante os jogos matinais e vespertinos dos nove dias de competição. Repetiu-se a dobradinha de Tóquio (1964) no pódio: URSS no masculino e Japão no feminino. Ainda no masculino, o Japão obteve a segunda colocação e a Tchecoslováquia, a terceira. A equipe brasileira masculina obteve a nona colocação, enquanto que a feminina não logrou classificação para participar do certame.

Saque Tático. Uma das sensações era a equipe japonesa masculina comandada por Matsudaira e que buscava o título máximo com extrema competência. Na partida contra a (antiga) Tchecoslováquia estavam vencendo por 2 sets a zero. Antes de iniciar o set seguinte, o treinador tcheco determinou que sua equipe fizesse uso de saques altíssimos, inclusive aproveitando-se das dimensões do ginásio. A estratégia deu certa, pois desbaratou as combinações de ataque japonês, sua principal arma contra bloqueadores europeus. Ao final, Tchecoslováquia 3, Japão 2. E uma grande lição que poucos aprenderam e até hoje tampam os olhos para não ver as evidências: “O que é diferente, atrapalha, pois não é treinado”. E mais: “Criatividade sempre será válida, não importa a época e o tempo em que for usada”.

História: spin service, paraquedas e jornada nas estrelas.

Pesquisadores relatam que já existia nos EUA, na década de 40, o saque denominado spin service. Conforme relatava o professor Sílvio Raso, em Belo Horizonte empregavam um tipo de saque cognominado paraquedas, que chegava a atingir a altura de 8m em alguns casos. Sua recepção era bastante dificultosa e foi empregado no Campeonato Brasileiro de Porto Alegre (RS), em 1952. Como existiam poucos ginásios em 1953 – a maioria das quadras era aberta – Paulo Castelo Branco, atleta do clube Sírio e Libanês (Rio), realizava este tipo de saque e, do outro lado da quadra, Borboleta era um dos poucos a recepcionar com seu incrível toque de bola. Em 1960, jogando no Botafogo, também o autor fez uso dele na quadra aberta (junto ao mar), anterior à construção do ginásio do Mourisco. Possivelmente, atingia altura aproximada de 12m-15m sem muito esforço. Na década de 80 foi consagrado no Brasil pelo jogador Bernard, que o praticava nas areias de Copacabana: a bola atingia uma altura de 25m e descia a uma velocidade de 72km/h (acrescente-se o efeito que ele imprimia à trajetória da bola). Só conseguia fazê-lo em ginásios com teto muito alto, como o Maracanãzinho. Foi cognominado Jornada nas Estrelas.

Saque diferente. Mundial da Itália, 2010. Ao que parece, qualquer saque atualmente que não utilize o salto e a batida forte na bola, passou a ser tático. Isto é, todos sacam da mesma forma e o que for diferente, é tático. Pelo menos, para os locutores e analistas da TV. Vimos isso na partida Brasil e Rep. Checa. No tie-break vários jogadores brasileiros passaram a colocar a bola em jogo. Incrível é que a simples reposição da bola de forma diferente atrapalhou a equipe checa na recepção, inclusive de seu líbero, possivelmente o mais habilitado na recepção por toque. Contra Cuba não foi diferente: os saques direcionados para o jovem Leon anularam seu ataque potente, alijando-o da partida. E por mais verossímil que possa parecer, se a bola fosse lançada mais próxima da rede (posição IV) do lado cubano, mais dificuldade representaria. É pena que nenhum deles saiba fazê-lo com maestria.

Voltarei a falar sobre a tática do saque – beach e indoor – mais adiante. Esperem até lá!

Aspectos Legais e Histórias

Inauguração de Brasília 

Relevação de Faltas Disciplinares. Nota Oficial da FMV nº 59, de 23 de maio de 1960: Tendo o Conselho Nacional de Desportos tomado a deliberação de relevar as penas impostas pelos Tribunais de Justiça Desportiva do país, em virtude da inauguração de Brasília, e determinando que se cumpra tal ato na forma do art. 167, do Código Brasileiro de Football, ficam relevadas as faltas disciplinares praticadas até a data mencionada, por associações, dirigentes, atletas etc., tudo de acordo com o que contém no aludido dispositivo.

Independentemente de qualquer providência da Federação, o filiado Botafogo F. R., calcado na resolução acima, solicitou ao Conselho Nacional de Desportos (CND) a relevação das penas impostas a três de seus atletas. A FMV, na NO nº 67, de 7.6.1960, informa:

VI – Resolução do Conselho Nacional de Desportos. “Atendendo ao pedido do Botafogo de Futebol e Regatas, que teve atletas suspensos pelo Tribunal de Justiça dessa Entidade, vimos comunicar que o CONSELHO NACIONAL DE DESPORTOS, em sessão plenária hoje realizada, resolveu, interpretando a decisão pública no ‘Diário Oficial’ de 9 de maio do corrente ano que concedia relevação de penalidades, estendeu os benefícios dessa decisão aos atletas ANTÔNIO JOSÉ CLEMENTE, ALDO JOSÉ CANECA e ANTÔNIO JOSÉ VAGHI”.

a) Manoel Maria Paula Ramos – Vice-Presidente em exercício da Presidência.

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Ministério da Marinha

Nota Oficial nº 65, de 3 de junho de 1960:

Circular do Ministério da Marinha. O Ministério da Marinha, por intermédio da Circular nº 010/60, comunica a esta Federação que face às determinações do Conselho Nacional de Desportos, conforme Circular nº 34, de 21.5.1946, nenhum elemento da Marinha poderá ser incluído nas representações esportivas civis, sem a devida permissão do Centro de Esportes da Marinha. Assim sendo, os filiados a esta Entidade que contiver em seu plantel de Volley-Ball elementos pertencentes a nossa Marinha de Guerra, deverão dirigir-se a esta Entidade, por escrito, solicitando a forma de legalização dos mesmos.

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Histórias

  1. Estreante no campeonato carioca de 1963, a equipe masculina da AABB-Rio sofreu assédio constrangedor da plateia quando de sua estreia no campeonato carioca contra o Fluminense. Alguns torcedores tricolores atiraram moedas sobre os atletas, tecendo impropérios contra a condição de “profissionais” de alguns jogadores que se transferiram para aquela agremiação a troco de emprego no Banco do Brasil. Interessante e felizmente que nada ocorreu com a equipe feminina da mesma Associação.
  2. Jogo entre o C. R. Icaraí e a AABB-Rio, ginásio do Caio Martins, 1961: depois de defesa desastrada, a bola tocou na tabela de basquete e retornou à quadra; foi devolvida sem que tocasse o solo; do outro lado um dos atletas segurou-a e enviou-a para o sacador. O juiz, um amador e em estado de embriaguez, validou o lance e ainda advertiu o atleta por reter a bola.
  3. Ano de 1962, após o retorno do Mundial da Rússia. O árbitro Newton Leibnitz (Chapinha), que não participara desse mundial, muito pretensiosamente e por “ouvir falar” (o árbitro do Brasil foi Walter Alves), resolveu que a recepção de saque no campeonato carioca doravante seria realizada por manchete, já que grande parte das equipes do Leste europeu e japonesas assim estava procedendo. Numa dessas partidas, Victor Barcellos, levantador muito habilidoso e figurante da equipe brasileira naquele evento, preparou-se para realizar uma recepção por toque, fez todos os movimentos preparatórios de flexão de pernas, elevou os braços e, no último instante, lembrou-se da advertência. Num gesto de pura criatividade, retirou as mãos e cabeceou a bola para um companheiro. Chapinha, que já estava predisposto a impor suas decisões, não conseguiu reter o ímpeto, assoprou seu apito e marcou “dois toques” do jogador.

Jogando com o Regulamento

O brasileiro é esperto ou malandro?

Alguns dirão que é normal neste país as pessoas deixarem as coisas para a última hora e, como o serviço público é burocrático ao extremo e muito lento, com isso abrem-se as “oportunidades” àqueles que querem “vender facilidades”. Outros vão dizer que o brasileiro gosta de se mostrar “esperto” e conseguir mostrar a todos que tem “bons contatos” para conseguir resolver os diversos problemas relacionados à área pública. Neste caso, ser “esperto” é ser “in”. E não pagar intermediários é ser “out”. 

Entendo o seguinte: só existe o corrupto se existir o corruptor ou alguém interessado em fazer as coisas de outra forma, que não de acordo com os passos legais e corretos. Mas, será que isso é apenas uma ilusão? Será que as pessoas trocariam a comodidade e a rapidez de pagar um intermediário para darem exemplos para nós mesmos e para os nossos filhos de como este país poderia e deveria ser? Será que somos tão individualistas a este ponto e será que a sociedade do “levar vantagem em tudo” já não permite que existam gestos como estes?  

O rancor dos brasileiros não era apenas contra a arbitragem polêmica do duelo. O ponteiro Murilo ainda guardava na memória as críticas do povo italiano contra a forma que a Seleção perdeu para a Bulgária, quando poupou alguns jogadores importantes como ele próprio e o levantador Bruno, que teve de ser substituído pelo oposto Théo, já que Marlon ainda se recuperava de uma doença no intestino. “Não foi apenas a nossa justiça, mas a de todo mundo. A imprensa italiana falou que a Rússia foi alvo da justiça por ficar fora da briga pelo título porque escolheram o caminho mais fácil. E o que foi hoje? Se não foi justiça, eu não sei o que é. Porque teve alteração nos grupos, no ranking e eles tiveram o caminho mais fácil. Eu acho que, se realmente foi feita justiça, fizemos por todo mundo”. O meio de rede Rodrigão preferiu amenizar o fato. “Eles não tiveram culpa não são eles que escolhem isso aí, são os dirigentes. Os jogadores não têm culpa do que aconteceu. A gente jogou para ir para final. Passou, importante é que cumpriu nosso primeiro objetivo”. 

Geração de Prata. Resultados do Brasil nas Olimpíadas de 1984, Los Angeles (EUA). Considere-se que houve boicote dos países socialistas liderados pela Rússia. 

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Brasil x Argentina     3x1 15x8  15x8  16x18 15x13
Brasil x Tunísia       3x0 15x5  15x9  15x2
Coreia do Sul x Brasil 1x3 4x15  13x15 15x13 8x15
Brasil x EUA           3x0 15x10 15x11 15x2
Brasil x Itália        3x1 12x15 15x2  15x3  15x5
EUA x Brasil (final)   3x0 15x6  15x6  15x7
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Noticiário jornalístico. Depois da derrota inesperada contra a Coreia do Sul, o Brasil voltava à quadra com a obrigação de vencer os Estados Unidos para poder passar para as semifinais. Veja relato jornalístico brasileiro da época:

“Quando pisou a quadra, o sexteto brasileiro sabia que precisaria jogar tudo o que sabia e, ainda recorrer à garra para obter a vitória obrigatória. O Brasil ganhou por 3 a 0, com parciais de 15×10, 15×11 e 15×2. O segundo set foi o mais longo disputado pelo Brasil em Los Angeles: durou 46 min. Surpreendentemente, o terceiro set foi o mais fácil de toda a Olimpíada para o Brasil, que repetiu o 15 a 2 que impôs à fraca Tunísia. Os Estados Unidos não esboçaram qualquer reação diante da superioridade brasileira. Este set durou 24 min. Foi uma partida perfeita e que levantou o moral dos brasileiros para a fase semifinal. Era a decisão da medalha. Passando pela Itália, o Brasil teria garantido uma medalha: de prata ou de ouro. O time ganhou de 3×1, com parciais de 12×15, 15×2, 15×3 e 15×5. A derrota para os Estados Unidos por 3×0, com parciais de 6×15, 6×15 e 7×15, não refletiu a realidade do atual estágio do vôlei masculino brasileiro. Sem tirar o mérito dos campeões, o fato é que o Brasil jogou mal e, normalmente, não perderia com tanta facilidade para a equipe norte-americana ou qualquer outro adversário, como aconteceu na final de dia 11 de agosto, pela decisão da medalha de ouro. Nesta partida, a seleção dos EUA devolveu a derrota sofrida na fase inicial dos Jogos. Nada deu certo para os brasileiros, enquanto os norte-americanos estiveram sempre muito bem”. 

Malandragem Brasileira. E agora, atente para um breve comentário sobre essas duas partidas entre Brasil e Estados Unidos, contada pelo Dr. Victor Matsudo ao repórter Zuba Coutinho em entrevista à revista Placar, de 7.9.84, pág. 37-40:  

– “No vôlei, os EUA entregaram o primeiro jogo contra o Brasil por decisão de um psicólogo. Mas este é apenas um dos segredos que a Olimpíada esconde”. O senhor esteve hospedado na casa do psicólogo-chefe da equipe americana. Descobriu algum “segredo de Estado?”
– O Professor Briant Cratty é o maior autor americano na área de Psicologia do Esporte e teve sob sua orientação a maioria dos profissionais que trabalhavam diretamente com as equipes americanas. Então vou contar algo que soube ali sobre o jogo de vôlei contra os brasileiros. A assessoria psicológica americana sabe que o atleta latino reage de forma diferente diante de um confronto altamente difícil e de outro apenas pouco difícil. Um dos maiores problemas que nós, brasileiros, enfrentamos são as decepções que sofremos nas quadras ou nos campos de futebol, quando diante de equipes reconhecidamente inferiores, ou quando poderíamos opor maior resistência numa partida e misteriosamente jogamos mal e somos derrotados. Então, em função de terem perdido os dois primeiros sets por 15×10 e 15×11, numa noite em que o Brasil apresentou uma de suas melhores atuações, os psicólogos sugeriram que os Estados Unidos entregassem o terceiro set para que, numa possível final, os brasileiros estimassem que as dificuldades para ganhar a medalha de ouro fossem menores que as reais. Nesta final, o Brasil acabou enfrentando um Estados Unidos bem mais forte que o esperado e que apresentou muitas jogadas que antes procuraram esconder dos brasileiros. Eles, ao contrário, conheciam todas as nossas bolas e o nosso potencial. Depois dizem que nós somos os reis da malandragem”. 

Aspectos Legais – II

Erro de Direito e Erro de Fato – II

Decorridos 24 anos, e sem entrar no mérito do julgamento, vejam como procedeu e julgou o Tribunal de Justiça Desportiva caso similar de W. O. constante da Nota Oficial nº34/84, de 22.5.1984.

Processo nº 32/84 – Acórdão. “Rigidez no cumprimento das normas legais pode evidenciar, quando muito, excesso de zelo, mas nunca erro de direito. A faculdade do (de o) árbitro em retardar uma partida é condição essencialmente subjetiva, cabendo a ele avaliar e decidir”.

Do Relatório. Atlântica Esporte Clube e Botafogo F. R. cumprindo a tabela pelo campeonato Estadual Juvenil masculino, deveriam competir em rodada dupla, sendo o mando de campo da primeira. Terminado o jogo preliminar que reuniu a equipe da própria Atlântica, o primeiro árbitro foi informado por dirigentes do clube local que o jogo seria realizado em outra quadra, junto à anterior. Dirigiu-se à quadra objeto da mudança em companhia dos atletas do Botafogo e alertou dirigentes da Atlântica que o tempo corria desde o término da partida anterior. Aguardou os 15’ (quinze minutos) regulamentares contados do término da preliminar e constatando a impossibilidade de iniciar o jogo pela ausência da relação e súmula, obrigações de fornecimento pela Atlântica que tinha o mando de campo, aplicou o W.O. à mesma, quando então, logo após, compareceram os atletas da Atlântica em uniforme ainda de aquecimento e fizeram-lhe chegar às mãos a relação e a súmula. Inconformada com o resultado decorrente da aplicação do WO, a Atlântica intentou recurso que foi apreciado pelo Tribunal, tendo havido, ainda, a intervenção requerida pelo Botafogo, como terceiro interessado, entendido na lide como litisconsorte no polo passivo.

Da Decisão. Vistos e relatados os autos, após o depoimento do primeiro árbitro e os debates orais, houve o Tribunal manter o W.O. por maioria de seus membros, negando provimento ao recurso (5×2). Assim agindo, entendeu esta Corte, em analisando a documentação acostada aos autos, a douta argumentação dos ilustres patronos das entidades e o depoimento do primeiro árbitro, que o mesmo agira estritamente dentro dos preceitos emergentes do Regulamento da FVR, de forma rígida, mas jamais desprovida de legalidade. Comprovada em audiência que a comunicação da mudança de quadra foi oficialmente solicitada pelo Clube que tinha o mando de campo, caberia a ele oferecer condições dentro do prazo estatuído no Regulamento, para que o jogo se iniciasse, fazendo chegar às mãos da autoridade e representante da FVR naquele ato – o primeiro árbitro – o material, bem como a presença de seus atletas, o que efetivamente só ocorreu após esgotar-se o tempo previsto. Inflexível no cumprimento ao que dispõe a legislação esportiva, seguiu o primeiro árbitro o axioma ita lex dicit, fato inclusive confessado oficialmente pela própria Atlântica, conforme declaração expressa às fls.2/3 nos autos, in verbis: “Não alertou ninguém quanto ao fato de ter passado a contar, com inexorável rigidez, o tempo decorrido entre o fim da preliminar e o horário britânico para o início do segundo jogo” (grifo nosso). Retardar ou não uma partida constitui faculdade do primeiro árbitro, e in casu, decidiu cumprir apenas o Regulamento, vez que dera ciência àquela filiada, alertando-a inclusive de que o tempo corria para que oferecesse condições de início de jogo.

Desta forma, comprovado que a Atlântica por sua exclusiva culpa e risco, deu causa ao resultado (W.O.), tornar-se-ia, mesmo, um contra-senso jurídico, beneficiar-se, através do recurso, de sua própria desídia no cumprimento dos preceitos constantes no Regulamento Geral da FVR.

P. R. I. – Rio de Janeiro, 18 de maio 1984

ass.)      Dr. José Humberto Mendes Barbosa – Presidente   –   Dr. Jacob Zajdhaft – Juiz Relator.

Treinamento de Defesa – II

Foto: Fivb/Divulgação.

Tempo: passado e futuro

Em 3o de julho publiquei o primeiro artigo com este título. O tema é o fundamento defesa em voleibol, quer seja individual ou coletivamente. Lá, dei os primeiros passos para estimular a maneira de pensar o treinamento dos atletas. Da mesma forma faço-o agora esperando despertar os leitores para o leque de opções que o assunto encerra. Tenham redobrada atenção e jamais desconsiderem a história e o tempo, ambos são nossos aliados. Lembrando Santo Agostinho, “Se nada sobrevivesse, não haveria o tempo futuro, e se agora nada houvesse, não existiria o tempo presente”. E continua: “De que modo existem aqueles dois tempos – o passado e o futuro – se o passado já não existe e o futuro ainda não veio”? E fala-nos sobre o presente: “Quanto ao presente, se fosse sempre presente e não passasse para o pretérito, já não seria mais tempo, mas eternidade”. Portanto, não fiquem parados, tirem bom proveito de seu tempo!

Lições do Mundial

Desde que houve a mudança na Regra da contagem para Pontos por Rally,  ocorreram várias mudanças de comportamento entre os atletas no jogo. Uma delas, o risco no próprio saque. Entretanto, com o aprimoramento e o intercâmbio global entre jogadores, equipes e seleções nos extensos calendários continentais e mundiais, as equipes tendem a se nivelar com tamanha distribuição de talentos. Agora, por exemplo, é a Turquia que resolveu investir no voleibol, depois de igual procedimento no futebol e basquetebol. Estão contratando jogadores, técnicos, enfim, investindo maciçamente, talvez até para entrar no seleto grupo dos países da Comunidade Europeia.

Detalhes fazem a diferença

Cada vez mais o nível das seleções nacionais vem se elevando com o aparecimento de muitos atletas que podem fazer a diferença em um jogo. As estatísticas, ao final de cada partida, sempre apontam para os detalhes maiores, isto é, número de intervenções em cada fundamento, % de eficiência (ou não), o melhor disso, o “mais ….”, mas escapa aos olhos e à digitação dos encarregados de selecionarem esses dados pequenos detalhes que passam imperceptíveis a muitos, especialmente treinadores. Certa feita um cronista de basquete disse: “Uma partida de basquete deveria ser disputada com as equipes com 100 pontos cada; e o tempo de jogo, somente um minuto”. Uma das interpretações que podemos dar é que todas as emoções, estratégias e circunstâncias do jogo estão concentradas nos seus instantes finais. Ele, o minuto final, descreve e resume tudo o que se passou anteriormente e, certamente, o imponderável ditado pelo emocional dos litigantes, surgirá nesses instantes. Assim, se as equipes se nivelarem durante todo o transcurso da partida somente no derradeiro minuto saberemos quem é a vencedora. Qual delas? Não sabemos, mas pode-se pensar a respeito, isto é, talvez “aquela que errar menos”. Tenho a impressão de que todos concordarão uma vez que se minha equipe não errar e a adversária cometer um só erro, tenho assegurado a vitória. É claro que isto é um simplório exercício de lógica sobre a hipótese do cronista. Mas já ocorreu no voleibol. Relembro o fato a seguir.

Olimpíada em Barcelona

Calquemo-nos agora nesse jogo histórico acontecido não muito longe no tempo, foi em 1992. A final de voleibol dos Jogos Olímpicos jogada entre Itália e Holanda teve desfecho dramático e único. Inclusive, culminou com a mudança no sistema de contagem dos pontos. A Regra vigente até então era a aprovada no Congresso Mundial em que dizia: “O 5º set decisivo será disputado no sistema de ‘pontos por rally’, em que cada saque corresponde a um ponto. O placar final do set foi limitado em 17 pontos, com um ponto de diferença”. Ora, aconteceu que neste jogo teve o 5º set (tie-break) e esteve empatado em 16 pontos. Com o 17º ponto da Holanda, o árbitro deu como encerrada e a vitória olímpica à equipe. Os representantes italianos protestaram, fizeram um recurso à Fivb e esta resolveu mudar a Regra: “Nos empates em 16-16, o jogo continua até que uma das equipes consiga uma vantagem de dois pontos”. É a que vigora até nossos tempos, embora a contagem limite do tie-break seja 15 pontos. A partir desse fato a Federação Internacional só realiza mudanças efetivas nas Regras após as Olimpíadas.

Pontos por Rally

E por que contei esta história? Não lhes parece semelhante a do cronista sobre o basquetebol, guardadas as devidas proporções? Isto é, dá-se muita atenção ao  último ponto, ele é o ápice, ele é quem decide o término da contenda, com ele o árbitro finaliza tudo. Mas e os outros pontos, quantos erros e virtudes para se chegar lá? Algum atleta italiano teria sido negligente ou incompetente em algum lance? E este não fez a diferença? Assim, como se comportam emocionalmente os atletas nos 4 primeiros sets de uma partida de voleibol? Que diferença pode haver no comportamento emocional no set decisivo e os anteriores? Estar sempre à frente no placar tem influência psicológica no andamento da partida? Como deve agir um treinador nos diversos momentos do jogo para sanar problemas dessa natureza? Enfim, como considerar e treinar tais aspectos?

Treinamento de defesa

Relação entre bloqueador e defensor. Foto: Fivb/Divulgação.

Por que não cuidar, então, de não errar “nem em treinos”? Qual deve ser o nível de exigência? Como posso me superar para fazê-lo e, mais ainda, como estar atento para “compensar” qualquer falha eventual de um companheiro?  Se eu estivesse jogando atacaria todas as bolas na direção do jogador mais fraco no fundamento defesa que, por exemplo, seria o Vissoto, com seus 2.12m. Basta ter olhos de ver, especialmente quando ele está “atrás”, em que sempre troca de posição para ficar em (I) e, dali poder efetuar os ataques de fundo. Ocorre que bem à sua frente, em (II) está o levantador (Bruno), o mais baixo bloqueador. Assim, todos os adversários deveriam volver seus ataques, especialmente de entrada de rede e meio de rede na direção dos mais fracos defensores. Se não o fazem, com ligeira pitada de ironia, pode-se concluir que as “estatísticas” nada dizem a este respeito, ou não consta do Manual da Fivb. O que faz, então, o treinador? “Há que conviver com o problema da melhor forma possível”! Ainda mais em se tratando de atleta que só atua em uma posição e, como dizíamos antigamente, de “uma bola só”. Todavia, sabendo usá-lo e não decepcionando nas suas investidas, é um GRANDE (2,12m) trunfo para a equipe. Contra a Rep. Checa foi sacado da equipe em boa hora, pois não estava bem, embora ainda ache que o levantamento para ele pode ser mais alto, dada a sua envergadura e lentidão nos deslocamentos. Teve até bloqueio simples do canhoto Hudecek (1,95m).

Brasil e Alemanha

Na recente partida entre as seleções dos dois países (6.10), observei um lance que reputo como um daqueles já comentado em textos sobre a Iniciação e Formação de jogadores. Creio que se desenrolava o 3º e último set da partida que seria ganha pelo Brasil (3×0). Um jogador alemão salta na saída da rede (II) para o ataque e, tendo percebido a chegada do bloqueio duplo, evita o ataque por cortada e, simplesmente, lança a bola com uma das mãos em direção ao fundo da quadra adversária (em V), encobrindo o defesa-esquerda brasileiro que se aproximara para a cobertura do bloqueio. Contava ele, com toda certeza, que o defesa-centro – creio que o Dante, mas não importa seu nome – estaria pronto para a sua própria cobertura, isto é, não havendo o impacto violento, estaria disponível para o respectivo deslocamento lateral até V, o que não aconteceu. O atleta brasileiro ficou “pregado” ao chão, sem qualquer reação. Considerando que a bola foi lançada sem força a uma distância razoavelmente grande – da rede ao fundo de quadra, entre 8m e 9m, por que será que o jogador brasileiro não esboçou qualquer reação para realizar a defesa que consistia na tática da equipe em dar cobertura aos “alas” que quase sempre se deslocam um pouco à frente? Notei, inclusive, que o líbero voltou seu olhar como se lhe interpelasse: “Por que não foi na bola, estava tão fácil”?

Sobre este lance falarei um pouco mais em outra oportunidade. Farei relato do que vi em treino da seleção brasileira, inclusive com o considerado melhor líbero e defensor do mundo, Sérgio, o Escadinha. Enquanto isto proponho debatermos também o lance visto pelo lado alemão: “Por que o atleta teria realizado o ataque daquela forma”?
Até lá que tal aquecermos o nosso bate-papo? Comentem!

Aspectos Legais – I

Erro de Direito e Erro de Fato – I

Assunto palpitante há algum tempo, as análises e julgamentos a respeito do que seria erro de direito e erro de fato nunca foram suficientemente explicadas. Mesmo para treinadores e atletas mais esclarecidos o assunto era deixado de lado, cabendo tão somente ao Departamento Jurídico do filiado se pronunciar a respeito. Tão logo fosse julgada a questão, seria fato passado. Todavia, conforme o Relator que expôs o Acórdão a seguir, presume-se que o árbitro de uma partida desportiva saiba discernir e interpretar a lei constante das Regras e Regulamentos. O caso que se apresenta ocorreu numa partida pelo campeonato da FMV entre dois filiados. Ocorre que por algum motivo o árbitro só deu início ao jogo após alguns minutos além do tempo regulamentar. Terminada a partida, a equipe perdedora fez consignar na súmula protesto pela validade daquele resultado. O caso, então, foi encaminhado ao Tribunal de Justiça Desportiva da Federação Metropolitana de Volley-Ball (FMV) que, em reunião de 11 de maio de 1960, analisou e julgou matéria analisada no Processo nº 12, em que o filiado América F. C. protestou contra a validade do jogo realizado em 27 de abril de 1960 com o Botafogo de Futebol e Regatas, 1ºs Quadros Femininos.

Em Nota Oficial nº 55, de 14/5/1960, a FMV dá conhecimento do resultado da decisão do Tribunal de Justiça.

Acórdão. Proc. Nº 12, de 1960.

Ementa: A realização de uma competição desportiva fora da hora regulamentar não constitui erro de direito, capaz de invalidá-la. O próprio erro de fato, para efeitos de direito penal, só é de ser tomado em consideração, como argumento, quando relevante. O hecho desnudo, como advertem os tratadistas, é sempre irrelevante, até mesmo para o Direito Penal Disciplinar, ou Desportivo.

Vistos etc.

Acórda, por maioria de votos, o Tribunal de Justiça Desportiva da Federação Metropolitana de Volley-Ball em negar provimento ao recurso manifestado a fls., por falta de fundamento legal. Alega o Recorrente que o fato de um árbitro dar início a uma partida depois da hora regulamentar constitui erro de direito, que anula o resultado daquela, tal como se ela não tivesse sido realizada. Nada mais inexato em matéria de direito.

De erro de direito dá-nos perfeito exemplo, em acórdão memorável, o Supremo Tribunal Federal, através do voto proferido pelo saudoso Ministro Hermenegildo de Barros: – “Dá-se o erro de direito, por exemplo, quando a lei proíbe que um menor de 18 anos faça testamento e, apesar disto, o testamento é feito”. No caso dos autos, se se pudesse falar em erro de fato, tal erro, na verdade, seria até irrelevante. Nem, portanto, como erro de fato a matéria, para os fins previstos, poderia ser levada em consideração, dada a sua irrelevância evidente. Se se pudesse anular uma partida realizada simplesmente porque um árbitro determinou que ela se iniciasse fora do horário pré-estabelecido, então chegaríamos por via de consequência, a anular os julgamentos do Tribunal, todas as vezes que estes não fossem realizados no dia marcado. A lei, realmente, prevê que, com o pedido de vista de um processo, por um juiz, o julgamento se realizará na sessão imediata. Haveria, porventura, erro de direito se o tal julgamento não se efetuasse como manda a lei? Não se leve ao exagero a teoria do erro de direito. Há muita diferença entre ignorância da lei e má ou errônea interpretação da lei. No caso, ocorre até que o juiz tem o “arbítrio de apreciar outras causas” não previstas em lei, para a apreciação da possibilidade ou não da realização dos jogos. Houve no caso, um corriqueiro erro irrelevante, que NÃO PODE, DATA VENIA, TORNAR SEM EFEITO UMA PARTIDA REGULAR, COM RESULTADO REGULAR. Se o Recorrente saísse vitorioso do campo, alegaria ERRO DE DIREITO, para anular sua vitória? Parece-nos que não.

Erro de direito, para que se fixe uma noção norteadora, no campo desportivo, é, por exemplo, o seguinte: – Um jogador, dentro das regras do futebol, bate um penalte e consegue fazer o tento. Mas vem o juiz e o anula, porque o jogador chutou com o pé esquerdo. Aí está o erro de direito. O juiz desconhecia, por completo, a lei e anulou, por ignorância, um gol legítimo. Mas, quando o juiz não ignora a lei, mas APENAS A INTERPRETA, mal ou bem, não se pode falar em erro de direito, mas apenas, em erro de fato. E, no caso, esse fato seria até irrelevante. Mas é sabido que “un error com relevância para el derecho solo puede estribar en un hecho de transcendência jurídica”. “El error sobre los hechos desnudos es un error que juridicamente no tiene importancia alguna”. – sustenta Jimenez de Asua, com remissão a Savinghy, Franz Von Liszt e Binding.

Por estes motivos, negando provimento ao recurso, para proclamar a validade da partida impugnada, o Tribunal resolve ainda determinar que nova vista do processo seja aberta ao Dr. Auditor, face ao seu requerimento final, no parecer de fls.

Rio de Janeiro, 12 de maio de 1960.

a) SERRANO NEVES – Relator.

Arbitragem e Curiosidades

Cursos de Formação de Árbitros – II

Conduta, fumo. Nos primórdios dessa fase – início dos anos 1970 – era permitido aos técnicos fumarem no banco de reservas. Os árbitros, especialmente o 2° árbitro, durante os intervalos dos sets, deslocavam-se até o fundo da quadra e ali também fumavam. Não havia respeito ou atitudes condizentes com o espetáculo. Outro, um militar, ameaçou sacar sua arma numa discussão de arbitragem em jogo entre juvenis. Por certo, alguma coisa deveria ser feita no sentido de se obter um desenvolvimento equânime entre a técnica dos atletas e as arbitragens. Esta fase de apuro de atitudes da arbitragem só teve início a partir da profissionalização dos atletas na década de 80, com a participação efetiva e permanente de Carlos Nuzman, que chegava a ponto de advertir o árbitro sobre a sua conduta nos jogos.

Associação de Árbitros. A esse respeito, o presidente da Federação de Volley-Ball, em 6.6.84, resolveu advertir os árbitros José Menescal, Ricardo Ferreira Gomes e Ricardo Amorim Vilarinho Cardoso, em virtude de afirmações constantes de relatório conduzido pela Comissão Administrativa da própria FVR. A proposta de constituição de uma Associação de Árbitros do Rio de Janeiro visava a estruturar problemas legais como patrocínio dos uniformes, intercâmbio dos árbitros do Brasil, realização de congressos e seminários e recepção de adesões de outros Estados. A decisão se fez necessária por ferir normas legais que regem o desporto nacional, estando as referidas atividades exclusivamente afetas ao âmbito da Federação de Volley-Ball do Rio de Janeiro e da Confederação Brasileira de Volley-Ball.

Histórias (continuação)

3. Bola por fora. Em meados da década de 50 ainda havia muitas dúvidas sobre a validade de determinados lances. Um deles aconteceu quando um atleta, ao defender uma cortada, não conseguiu recuperá-la e esta ultrapassou a rede por baixo. Antes que ela tocasse o solo, o jogador da equipe adversária segurou-a e, incontinenti, enviou-a para o sacador para repô-la em jogo. Qual não foi sua surpresa, quando o juiz puniu-o por ter segurado a bola “antes que ela tocasse o solo!”

4. Moedas na quadra. Ano de 1958 ou 59, jogo Botafogo F. R. x CIB (Centro Israelita Brasileiro), categoria juvenil, na antiga quadra do clube alvinegro, onde hoje está um posto de combustíveis e, em cima, a piscina. A equipe do CIB foi agredida pela torcida com arremesso de moedas de pequeno valor, em nítida atitude anti-semita. O fato se repetiria anos mais tarde, em 1963, no jogo Fluminense e AABB por outros motivos. 

5. Toque duplo. Década de 80, partida entre Bradesco e Pirelli, no Maracanãzinho, pelo campeonato sul-americano de clubes e conduzida pelo árbitro argentino Norberto D’Agostino. Bernard realizou um dos seus saques jornada. Do outro lado, torpor total para a sua recepção. No “deixa que eu deixo”, o levantador da equipe William, que estava atrás, pronto para infiltrar, acabou tendo que realizar a recepção do saque, fazendo-o com maestria. Contudo, como era o levantador, todos os seus companheiros deixaram que ele mesmo realizasse o levantamento (esqueceram-se de que ele havia dado o primeiro toque). Não se fazendo de rogado, William continuou o lance e procedeu ao levantamento e o ataque foi realizado com sucesso para espanto de todos. Foi o maior quiproquó (*)!

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(*) Do latim quid pro quo, que significa “uma coisa pela outra”, inicialmente o conceito referia-se a um diálogo no qual uma pessoa era confundida com outra, gerando, na maioria dos casos, uma situação cômica. Num sentido lato, utiliza-se quiproquó para designar um equívoco ou uma confusão de palavras. (infopedia)

 

Evolução e História do Voleibol

(Clique no desenho)
Fonte: Fivb, Josebel G. Palmeirim, Roberto A. Pimentel – Arte: Michel Maron.

 

Menção honrosa. Com base principalmente nos dados fornecidos pela Fivb faço um retrato da evolução do voleibol no mundo desde sua criação em 1895 até o final do séc. XX. O meu agradecimento ao professor e excelente árbitro Josebel G. Palmeirim, que dedicou sua vida à nobre função com maestria, tornando-se um dos melhores árbitros do Brasil e da Federação Internacional. Atualmente é o presidente da COBRAV, Comissão Brasileira de Arbitragem de Voleibol, e também diretor de cursos da Fivb. Veja a seguir noticiário argentino: “Comenzó este martes (11.8.2010), en el CeNARD, el 1º Curso para Candidatos a Árbitro Internacional, organizado por el Centro de Desarrollo Regional del Voleibol FIVB de la Argentina, que se llevará a cabo hasta el 16 de agosto. En la ceremonia inaugural estuvieron presentes el Subsecretario de Deportes de la Nación Marcelo Chames, el Presidente de la Confederación Argentina de Deportes Carlos Speroni, el Director del CDRV de la Argentina Gabriel Salvia, el Presidente de la Federación Metropolitana de Voleibol, Vicente Finelli, el Director del curso, el brasileño Josebel Palmeirim, y el instructor FIVB de Argentina, Juan Ángel Pereyra. Son en total 19 asistentes de 11 países (Argentina, Aruba, Canadá, Irán, México, Paraguay, Perú, Serbia, Uruguay, Estados Unidos y Venezuela) los que participan de esta primera intervención del CDRV FIVB de Argentina en el arbitraje”.    

Josebel Palmeirim, o 3º da esquerda para a direita. Foto: Galeria FeVA, Cursos del CDRV.

 

 Volley-Ball Centenário. Devemos reconhecer os esforços da Associação Cristã de Moços – ACM para que o voleibol se difundisse por todo o mundo. Entretanto uma parcela desse mérito se deve às Forças Armadas americanas também responsáveis pela explosiva promoção do jogo, tanto fora como dentro do país. Acompanhem os relatos passo a passo.         

Cronologia           

1895 – A ACM contribuiu para o mundo esportivo com a criação de dois jogos – basquete e voleibol – que depois de cinco décadas tornaram-se populares em todo o mundo. Em 1895, na cidade de Holyoke, Massachusetts, William G. Morgan, diretor de Educação “Física da YMCA – Young Men’s Christian Association –, desenvolveu a idéia de um jogo num pátio. Chamou-o de Mintonette. Para isto, estendeu uma rede de tênis no meio de um ginásio, numa altura aproximadamente de 1,90m acima do solo e dividiu ao meio o espaço (quadra) de 15,20m. Pensou em incorporar ao seu novo jogo elementos do tênis, beisebol e handebol. O jogo começava, então, com uma saída (saque) por sobre a rede e, para tanto, foram concedidas três ”saídas“ a cada sacador, antes de se permitir ao time adversário que sacasse. Quando a bola batia no chão, ou quando o jogador falhava ao passar a bola por sobre a rede, resultava isto numa “saída” ou saque para o adversário. Como a bola permanecia em contínuo vaivém, basicamente um voleio, o novo jogo foi batizado de VOLEIBOL (A.T. Halstead, professor do Springfield College).           

1896 – Após uma demonstração na ACM, vizinha de Springfield, o nome “Mintonette” foi substituído por “Volleyball”.           

1900 – Expandido para Dayton, Ohio. Várias experiências foram realizadas e, nesse ano, a Associação dos Diretores de Educação Física da ACM adotou um novo conjunto de regras: a rede subiu para 2,13m; foram eliminados os turnos e padronizaram a bola; o “jogo” (set) seria jogado em 21 pontos. As regras foram modificadas por W. E. Day que, depois de aceitas, foram publicadas. O Canadá foi o primeiro país estrangeiro a adotar o voleibol.           

1906 – Cuba descobre o voleibol nesse ano graças a Augusto York, um oficial das Forças Armadas dos EUA. 

1907 – O voleibol passa a ser considerado um dos jogos mais populares ao ar livre. 

1908 O voleibol chega ao Japão por Hyozo Omori, um graduado do Colégio Springfield, que realizou a primeira demonstração das regras do novo jogo na ACM de Tóquio.  

1910 Tem início também na China com Max Exner e Howard Crokner; jogavam até 21 pontos com 16 jogadores de cada lado. No mesmo ano, Elwood Brown (diretor nacional de Educação Física da ACM) foi convidado pela Divisão de Trabalho Estrangeiro para ir às Filipinas a fim de promover o voleibol além mar; em apenas dois anos organizou os primeiros Jogos do Extremo Oriente, em Manila, com times representativos da China, Japão e Filipinas. Nos EUA, deu-se um ímpeto decisivo no jogo por Prevost Idell, também um diretor da ACM de Germantown. Em muito pouco tempo existiam 5 mil campos de jogo públicos e particulares. Na América do Sul, a modalidade foi inaugurada oficialmente nesse ano, no Peru.         

(continua…)

Sistemas de Informação no Voleibol

             

Informação e Estatística     

Meu primeiro contato com as chamadas “Estatísticas” do voleibol ocorreu às vésperas do XII Campeonato Mundial masculino realizado no Brasil, em 1990. As “chaves” se desenvolveram em várias cidades – Curitiba, Brasília e Rio de Janeiro – culminando com os jogos finais no Maracanãzinho. A FIVB enviou o seu mais destacado técnico especialista (talvez o criador) do sistema Horst Baacke, um alemão da ex-Alemanha Oriental. Efetuou cursos nas três cidades assessorado pelo presidente do Conselho de Treinadores da CBV, o Comandante Célio Cordeiro Filho. Participei do curso no Rio como ouvinte, uma vez que não me interessava atuar na especialidade durante os jogos. Foi muito interessante, apesar de alguns problemas na tradução com a intérprete, sem qualquer intimidade com o jargão do voleibol. Não me recordo quantos dias, mas creio que não passou de uma semana. Foi utilizado o ginásio principal da Escola de Educação Física do Exército, desde aquela época a quadra principal da CBV. Coincidentemente, num daqueles dias recebemos a visita da seleção principal da Itália que realizou treino amistoso com uma seleção brasileira de novos, concentrada naquela unidade militar.          

O curso desenrolou-se na parte da tarde com algumas aulas teóricas e as práticas, sempre no ginásio, com a utilização de equipes infanto juvenis de clubes cariocas, especialmente do Fluminense. Contudo, não tenho certeza, mas tenho a vaga impressão que o técnico alemão atribuía 5 valores – de zero a 4 – para representar cada intervenção de uma atleta. Assim, em caso de erro absoluto (nota zero); algum resultado, mas ainda bastante deficiente (nota 1); relativo sucesso, mas com defeito (nota 2); quase perfeito, mas podendo melhorar (nota 3); e finalmente, nota 4 para a atuação perfeita. Ora, era tarefa impossível de ser assimilado rapidamente por olhos estranhos ao vôlei, representado pelo contingente de estagiários universitários, ávidos somente pelo diploma de participação para enriquecimento de currículo. E quando havia ralys extensos as dificuldades se multiplicavam. Enfim, quem cria alguma coisa sabe também como manipular.          

Felizmente, pelo que veremos a seguir, as notas – agora denominadas NÍVEIS – foram reduzidas a somente três. O bom senso parece ter prevalecido, muito embora o sistema não consiga (a meu ver) prevenir ou apontar detalhes importantes que escapam ao observador com menos vivência. Números são números, nada mais. Sempre se disse no Brasil que as estatísticas servem àqueles que as produzem, especialmente quando não devidamente interpretadas. Lembro-me de minha primeira aula na Faculdade e a história contada pelo professor: “Jovem acadêmico realizou um levantamento estatístico na cidade do interior, tendo constado ao final do trabalho que 50% dos médicos morriam”. Indagado como chegou tão rápido à conclusão, disse: “Na cidade só encontrou dois médicos e um deles morrera.”  Podemos apreciar a seguir o que a Fivb decidiu duas décadas depois. Sirvo-me da tradução de Luís Melo, do site português Sovolei, onde tenho a primazia de assinar artigos técnicos.          

Sistemas de Informação no Voleibol (SIV). As tecnologias tiveram um avanço imenso nas últimas décadas, e nunca mais o mundo saberá funcionar sem, por exemplo, os Sistemas de Informação (SI). Esses sistemas estão presentes nas nossas vidas, mesmo se por vezes não nos damos conta por eles. Servem para recolher, processar, transmitir e divulgar dados que representam informação relevante para o utilizador. No voleibol também se utilizam os SI. O VIS (Volleyball Information Systems) é um software da FIVB que foi inicialmente produzido para fins estatísticos nos jogos de voleibol. Está preparado para recolher dados de todas as ações de jogo e também do nível das mesmas. A FIVB considerou que existem 6 ações de jogo… Serviço, Recepção, Passe (leia-se Levantamento), Ataque, Bloqueio e Defesa. Estas podem ter 3 níveis: Excelente, Normal e Erro.           

Três das ações de jogo são consideradas como competências para pontuar (serviço, ataque e bloqueio), e as outras três competências para evitar o ponto (recepção, levantamento, defesa). Para que uma ação pontuadora seja excelente, ela deve terminar a jogada e conquistar o ponto. Uma ação normal permitirá que a jogada continue. Para ações que evitam o ponto, será excelente aquela recepção que permita ao levantador ter todas as opções de ataque disponíveis. Quanto ao levantamento, este será excelente se apenas existir um jogador no bloqueio. Esta informação será importante para, por exemplo, nomear os melhores atletas em jogos ou competições. Existem 7 rankings diferentes:           

1. Maior pontuador… atleta que marca mais pontos, por ações de ataque, bloqueio ou serviço; 2. Melhor ataque… calculado pelo nº de pontos, menos o nº de faltas, dividido pelo total de tentativas; 3. Melhor bloqueio… atleta com melhor média de bloqueios, com ponto, por parcial; 4. Melhor serviço… atleta com melhor média de aces por parcial; 5. Melhor defesa… atleta com melhor média de defesas por parcial; 6. Melhor distribuição… atleta com melhor média de passes perfeitos por parcial; 7. Melhor recepção… calculado pelo nº de recepções perfeitas, menos o nº de faltas, dividida pelo total de tentativas. Atualmente o VIS já consiste numa base de dados e um conjunto de portais web. Através de um simples interface (aplicação ou browser web) o utilizador pode criar competições, introduzir informação sobre clubes, equipes, atletas, árbitros ou ginásios. Também já é possível adicionar fotografias para todos estes itens. A última versão do VIS contém também calendários, comunicados de imprensa e transferências. Todas as transferências de jogadores serão feitas eletronicamente através do VIS, acabando com os certificados de transferência em papel. Uma explicação de como tudo se processará pode ser vista em vídeo.       

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Repetição ou Qualidade nos Treinos?        

Dois ou três anos depois que me iniciei no voleibol, solicitava quase sempre a um ou mais amigos que me acompanhavam – ou solicitava de um conhecido na arquibancada – que anotasse os meus ERROS. Felizmente não eram muitos, apesar de participar da maioria dos lances do jogo. Lembro que estou falando da década de 60. E cada vez passaram a ser menores, a ponto de dispensarem lápis e papel. Como consegui tal façanha? Treinando com QUALIDADE, isto é, exigia-me demasiadamente nos treinos em qualquer lance de que participasse e sempre buscando a bola. O nível de exigência chegava a extremos, inclusive nos jogos na praia, pelos quais fui convocado para a seleção brasileira. Que tal os treinadores e jogadores (individualmente) adotarem esse comportamento? Em outra oportunidade falarei sobre nível de exigência nos treinamentos e tentarei estabelecer uma relação com as “estatísticas” comentadas nessa postagem. Se algum dos leitores tiver conhecimento de causa ou mesmo outra ideia, seria uma boa oportunidade de nos comunicarmos e nos locupletarmos todos.      

Conduta do jogador. Chamo a atenção para um outro detalhe embutido na afirmação acima: (…) “sempre buscando a bola”. Veremos isto no desenvolvimento do tema Defesa em Voleibol, ou a qualquer momento caso se manifestem. Até breve.      

      

Fundamentos e Curiosidades

Evolução do Voleibol: os Fundamentos

(Fotos: Fivb, Divulgação) 

O jargão dos bate-papos sobre esporte, sempre dominado pelo vocabulário futebolístico, foi enriquecido de novas palavras vindas do vôlei, a partir do sucesso das seleções brasileiras nos Mundialitos – do Rio e de São Paulo. Em resumo, esta era, em 1982, a terminologia básica do voleibol.

Saque. Coloca a bola em jogo, constituindo-se, por isso, na primeira manifestação de ataque. É dado depois de a bola estar solta, com uma das mãos, aberta ou fechada, dentro dos poucos segundos que se seguem à autorização do árbitro. O saque é considerado faltoso – e punido com a reversão – se a bola tocar num jogador da própria equipe sacadora; se não passar por cima da rede (sem tocá-la); se tocar numa das antenas laterais fixadas na rede; ou se cair fora dos limites da quadra sem ter sido tocada por um jogador adversário.

Recepção. Passe efetuado pelo jogador que recebe o saque do adversário. Fundamento que adquiriu tanta importância a partir do momento em que o saque foi aperfeiçoado e criou dificuldades crescentes para ser bem defendido, que a Comissão de Técnicos da FIVB decidiu considerá-lo um fundamento à parte, embora, a rigor, trate-se de um passe.

  

  

Levantamento. Cada bola que um jogador dirige a outro na construção da jogada de ataque é um passe. O ideal é que o passe vá para a mão do levantador para que as jogadas ensaiadas possam ser realizadas com eficiência. Uma equipe que passa mal a bola, ou seja, que não dê ao seu levantador boas condições de armar o ataque, facilita o trabalho de defesa do adversário e diminui a possibilidade de sucesso de seus próprios atacantes.

Ataque. Ação do jogador que envia a bola para a quadra adversária, por cima da rede. De dentro da zona de ataque – determinada por uma linha traçada a três metros, paralelamente à rede – só podem atacar os jogadores que estiverem naquela posição. Os jogadores da zona de defesa podem efetuar qualquer tipo de golpe de ataque, com a bola em qualquer altura (até 1976, só podiam atacar a bola quando estivesse abaixo da altura da rede), desde que, quando tomarem impulso para o salto, nenhum dos pés esteja tocando ou ultrapassando a linha demarcatória da zona de ataque. No entanto, depois de golpear a bola, podem cair dentro dessa zona. Para facilitar a arbitragem, essa linha demarcatória foi estendida além dos limites laterais da quadra.

Bloqueio. Ação permitida somente aos jogadores da linha de ataque para interceptar a bola próximo à rede proveniente da quadra contrária. Pode ser individual, quando um único jogador o realiza, duplo ou triplo. Durante o bloqueio, o toque na bola pode ser efetuado com as mãos, braços, cabeça ou qualquer parte do corpo acima da cintura. E são permitidos um ou mais toques (rápidos e sucessivos) por um ou mais bloqueadores, desde que durante a mesma ação. O bloqueio não conta como toque. Portanto, após o bloqueio, a equipe tem três toques para colocar a bola na outra quadra. O bloqueio não pode interferir na armação da jogada do adversário. Só é válida a interceptação da bola quando a jogada de ataque do outro time se completar. O bloqueio de saque, que era válido, foi proibido.

Defesa. Consiste em um conjunto de técnicas que tem por objetivo evitar que a bola toque a quadra após o ataque adversário. Além da manchete e do toque, algumas ações específicas podem ser aplicadas pelo atleta, o que requer entre outras, capacidade de reação, flexibilidade, reflexo, velocidade etc. Alguns movimentos são característicos: entre os homens, o “peixinho”, em que o atleta se atira no ar como se estivesse mergulhando; as mulheres fazem-no atirando-se de lado. E o “rolamento”, em que o atleta rola literalmente sobre o próprio corpo após o contato com a bola, prevenindo-se contra lesões inoportunas. 

  

Curiosidades. Tapinhas e abraços

Comportamento e Estímulos – Detalhe marcante da influência japonesa foi o cumprimento entre os atletas a cada jogada. Transformado em incentivo, mesmo quando falhava, o jogador era estimulado pela sua participação no lance. Entre os homens consagrou-se o simples tapinha de mãos por todos os seis atletas em quadra. Entre as mulheres, além daquele toque de mãos, um grande abraço estimulante e cativante. Finalmente, também foram os japoneses que contribuíram para o entendimento entre o único levantador e os cinco possíveis atacantes: as jogadas ensaiadas em exaustivos treinos são “decodificadas” por sinais realizados com as mãos momentos antes do saque adversário. Quando de sua estada no Brasil, em 1975, Matsudaira deixou como legado um filme em cores (16 mm), de aproximadamente 20 min, que a federação japonesa produziu e distribuiu ao mundo. Trata-se de uma excelente produção, que resume o trabalho realizado ao longo dos oito anos de preparação, rico em aspectos marqueteiros e comerciais, pois ofereciam cursos e davam aulas ao mundo. Vários brasileiros fizeram estágio no Japão – Paulo Márcio, Bebeto, Sérgio Pinto, José Roberto, entre outros. Este único exemplar é da CBV, mas o autor, com autorização da entidade, produziu duas cópias telecinadas (VHS).

Códigos. Alguns dos códigos utilizados pelos atletas, especialmente o levantador.