Vôlei Português, Contributos

Rio Tejo e principais cidades com visitas ao Procrie.

Mesa de Discussão     

Mesmo à distância peço desculpas aos leitores portugueses sobre minhas apreciações a respeito do voleibol em Portugal. Meu interesse foi despertado a partir de dez./2005 quando teve início o Congresso Desportivo Nacional, cujo término só ocorreu em fevereiro de 2006 após um périplo que se desenvolveu em várias cidades com os principais expoentes e agentes dos mais altos escalões administrativos nacionais. E o que ocorreu a seguir? O que realizaram os gestores responsáveis pelos desportos? Cinco anos decorridos, vejam a seguir o que se comenta a respeito.  Anos depois, descobri o sovolei e, através dos comentários em “Fórum”, entrevistas ou reportagens, passei a acompanhar os seus passos quase que diariamente, tamanho o meu interesse. Poderão observar pelos meus incessantes comentários.

Aos meus leitores brasileiros e demais, peço paciência alertando que tentar colocar a nu uma realidade é tarefa benéfica quando se pensa em somar conceitos e experiências no sentido de contribuir para o desenvolvimento de uma comunidade. É bem possível que em nossas próprias cidades tenhamos os mesmos problemas ou, ainda pior, se não os identificamos sentimo-nos impotentes para caminharmos rumo a horizontes melhores na Educação de nossos filhos.

Migrações e Transferências 

Dizem os administradores desportivos que uma medida foi colocada em consenso com a Assembleia de representantes dos clubes para defenderem-se da migração dos melhores atletas para outras agremiações. Segundo alegam, sentir-se-iam lesados em seus investimentos. Isto ocorreu no Rio de Janeiro a partir da “profissionalização” do voleibol, em 1981. As empresas deram início à fase de patrocínios e formaram equipes da noite para o dia, “tomando os melhores atletas dos clubes”. Foi uma autêntica revoada e, pior, uma mudança violenta de mentalidade. O esporte, que anteriormente dizia-se que tinha forte apelo educacional, com a entrada de dinheiro, tornou-se vilão. E o pior é que até hoje a entidade máxima – Confederação Brasileira de Voleibol – tem programas de custo caríssimo para instituições, sob o manto hipócrita de “tirar das ruas as crianças (pobres)”, afastá-los das drogas etc.

Remonto à intervenção do Doutor José Curado constante dos Anais do Congresso com excelente pregação e conselhos a todos. Entre tantas sugestões, fala sobre a participação das diversas instituições governamentais de seu país e exalta a necessidade de se cobrar delas e suas subordinadas, ações de planejamento estratégico, além de méritos e deveres. Os problemas do desporto em Portugal se avolumam conforme vejo no noticiário e, como dizemos no Brasil, “não vemos luz no túnel”. À distância, parece que o Congresso Nacional foi só para inglês ver. Quero crer que, como no Brasil, o presidente se acercou de funcionários e colaboradores leais, mas se esquece (será?) de que são necessárias cabeças criativas, que trabalham no dia a dia da modalidade e que podem efetivamente contribuir com suas aspirações e inteligência no planejamento de estratégias adequadas aos novos tempos.  Como disse o Doutor José Curado, “são necessários mais do que cartolas e entendidos; são necessários formadores de homens”.

Como no caso brasileiro, creio que inicialmente devam realizar uma consultoria com empresa especializada para uma decisão profunda que certamente vai alterar muita coisa. Isto foi realizado no Rio de Janeiro antes da posse do atual presidente, no que se chamou Reunião Estratégica, quando se definiram os rumos a perseguir na nova administração. Foram criadas Metas a serem alcançadas. É um passo que deve ser estudado e debatido diante das alternâncias futuras. Analistas e dirigentes apontam várias circunstâncias como óbices ao desenvolvimento da modalidade em solo português. Entre elas, razões de ordem histórica, demográfica e econômica. Além dessas, a ausência de políticas desportivas que possam permitir e sustentar um projeto de médio e longo prazo. Em qualquer caso, falta a vontade de realizar e planejar projetos em profundidade.

Além disso, percebemos também um detalhe de importância vital. Trata-se de se definir uma Matriz ou escola portuguesa para o voleibol. O país tem suas circunstâncias e peculiaridades que devem ser respeitadas e tratadas conscientemente a partir de um planejamento de longo prazo. O imediatismo e, portanto, as improvisações, não conduzem a nada. O tempo passa e mais uma geração está perdida neste verdadeiro redemoinho de falta de imaginação e ideias.  Afora os problemas econômico/financeiros porque passam. Assim, permanecem historicamente repetindo o que não dá certo, dando voltas no mesmo lugar. Por que não incentivar a Associação Nacional de Treinadores a criar essa matriz? Esqueçam por algum tempo as receitas estrangeiras. Políticos e dirigentes de plantão permanecem no poder a legislar em causa própria e deixando de lado milhares de indivíduos e clubes à míngua. No caso do voleibol este comprometimento se agrava uma vez que as medidas vêem de fora (leia-se Fivb), ora com a implantação do Gira-Volei, Mass Voleyball, Volleyball at School e agora com o Cool Volley.

A seguir estaremos discutindo sobre o Desporto Escolar. Aguardem!

Freguesia de Sangalhos

Freguesia de Sangalhos. Fonte: Google Earth.

“A vila de Sangalhos é uma freguesia portuguesa do concelho de Anadia com 17,24 km² de área e 4 350 habitantes (2001). Foi vila e sede de concelho desde a idade média, vindo esse estatuto a ser confirmado ou oficializado pela carta de foral passada por Dom Manuel I em 1514. Manteve-se como sede de concelho até à primeira metade do século XIX. O progresso económico registado ao longo de grande parte do século XX deixou um conjunto patrimonial significativo, constituído principalmente por edifícios comerciais e industriais e por numerosas residências particulares, algumas com significativo valor arquitectónico, situadas principalmente em Sangalhos, São João da Azenha e Fogueira. Apesar da perda da importância politico-administrativa, Sangalhos teve ao longo do século XX épocas de grande prosperidade. Para isso muito contribuiu o dinamismo dos habitantes, traduzido na criação de um grande número de empresas, com destaque para as indústrias de bicicletas, pioneiras em Portugal, as caves e as cerâmicas. Graças a esse crescimento, Sangalhos voltou a adquirir o estatuto de vila em 1985″. (Fonte: Wikipédia)    

O que a vila de Sangalhos pode ter e outras (cidades) não?    

Decidi-me escrever sobre a Vila de Sangalhos por causa de um internauta ainda desconhecido, que, segundo estatística do Google Analytics, revela grande interesse pelo Procrie; nas duas visitas que realizou visitou 8 páginas em pouco mais de 6 minutos. Estive, então, dando uma olhada no Google Earth e Wikipédia para conhecer um pouco sobre a freguesia. Embora tenha uma população residente pequena, imagino que sua posição geográfica possa facilitar deslocamentos mínimos para um intercâmbio com outras vilas e cidades. Querem tentar? Creio que vale à pena, pois só têm a ganhar.    

Por outro lado, relembro que a meta do Procrie volta-se para a Educação e que o desporto é um dos meios utilizados. Além disso, não se cogita a competição, mas o lazer, e tão pouco a prospecção de talentos, mas a inclusão de TODOS. Assim, o voleibol pode ser uma excelente ferramenta, uma vez que pode e deve ser praticado por meninos e meninas, sem distinção, com forte apelo social e educacional. Ao crescerem, com o passar dos anos, saberão realizar suas escolhas de lazer ou se prosseguirão no desporto competitivo. Além disso, o fato de congregar poucas criaturas pode ser auspicioso uma vez que concentra em um só desporto todas as aspirações, desejos e empenho da comunidade. Repito que para aprender de forma eficaz não é necessária competição com grandes centros, mas um ensino com qualidade, ministrado por professor competente. Assim, creio que mesmo com a proximidade de Coimbra e do Porto, a freguesia possa oferecer treinamento de qualidade e ótimas oportunidades de desenvolvimento para suas crianças e jovens. Vejam a seguir.    

Há quem sustente que o desenvolvimento humano em qualquer área se deve à economia e políticas bem aplicadas e sustentáveis. Trata-se de simplismo que desconsidera a complexidade do processo de desenvolvimento e ignora razões mais relevantes para explicar o sucesso de uma empreitada. As políticas têm o seu peso, mas o importante é a estratégia por trás delas. Sendo assim, Sangalhos pode nos dar um bom exemplo de desenvolvimento desportivo – não importa qual a modalidade – bem como cidades interioranas brasileiras, que estão completamente desassistidas e longe das competições das metrópoles e internacionais. Como?     

Eficiência e produtividade. A Federação Portuguesa de Voleibol (FPV) parece não ter clara suas políticas e muito menos estratégias que possam alavancar o esporte no país. Sua ideia parece ser a de expor o voleibol à competição internacional e facilitar a ida de seus principais valores (masculino) para se aprimorarem em outros países. Enquanto isto tem facilitada a “importação” de outros, principalmente brasileiros, além de técnicos estrangeiros para suas seleções nacionais. Para competir neste modelo, é preciso adotar técnicas e gestão típicas dos países ricos e mais desenvolvidos neste desporto. Não lhes basta uma melhor colocação nesta ou aquela competição, mas numa mudança radical em seus métodos. Há que se produzir ganhos de eficiência e produtividade que só advêm a partir da inovação, da criatividade. A modernização do voleibol no Brasil, p.ex., somente se acelerou quando se tornou necessária o enfrentamento para abertura da economia. Um pouco antes disto buscava-se a construção de uma Matriz (escola) que tivesse um perfil tupiniquim. A partir do início da década de 80, mesmo com a economia claudicante – inflação alta e problemas políticos até a década seguinte – a era do profissionalismo deu-nos condições para que modernizássemos as condições de treinamento e, por conseguinte, de competir em igualdade de condições no cenário internacional. Contudo, passadas 3 décadas, o voleibol brasileiro considerado o melhor do mundo, ainda se ressente do chamado ensino básico.     

A melhor estratégia está na Educação, pois ela será causa e não efeito do desenvolvimento. Na Rússia, na maior e melhor escola de tenistas (feminino), treina-se o apuramento da técnica durante 3 anos, quando aí sim, as atletas estão liberadas para participarem das primeiras competições. Há uma acuidade e exigência nos exercícios, em que se busca a perfeição dos gestos técnicos. O jogo vem depois. Parece que o modelo vem apresentando resultados favoráveis, haja vista o número de tenistas russas em evidência nos grandes torneios internacionais. Creio é chegado o momento de realizarem políticas nas quais não estamos acostumados a acreditar. É o caso de empreendedorismo e de estímulos à inovação, tal como fizeram os chineses na esteira de circunstâncias e políticas que sobreviveram ao desastre comunista. A importância maior recai na experiência de “velhos” professores(as) que superaram em muito o entusiasmo de docentes novatos.    

Meritocracia. Finalmente, os estudos mostram que planos que pagam bonificações a professores individuais não têm resultados significativos. Aqueles em que o pagamento é feito à escola, sim. Faz sentido: ensinar é tarefa sequencial e coletiva. Se o aluno teve uma péssima aula de matemática na segunda série, dificilmente se sairá bem na quarta. E assim é nos desportos. Todos temos conhecimento das assertivas de treinadores que, durante as competições, fazem todo tipo de improvisações no sentido de vencer a partida. Quanto à técnica e seu aperfeiçoamento, estas são relegadas a segundo plano: “Mais tarde voltaremos a treinar, pois agora não há tempo”! Na maioria dos sistemas o professor não tem incentivo para pensar no aprendizado do aluno, muito menos para ir ensinar em áreas distantes. Além disso, os dirigentes (líderes ou diretores de escolas) não têm controle sobre a variável principal do processo educacional: não podem contratar bons professores ou demitir os incompetentes. Assim, a parte mais importante da administração escolar (ou agremiação), não tem a ver com prédios e sistemas, mas com pessoas. Cabe ao líder a tarefa-chave de recrutar, treinar, motivar e reter os bons profissionais e identificar e afastar os maus.  

Repito então ao solitário internauta que frequenta o Procrie com tanta pertinência: “Queres aprender a ensinar as tuas crianças e jovens”? Estarei pronto para ajudá-lo na empreitada. Basta o seu sim!

Santa Maria da Feira

Fonte: Google Earth.

 

Dando continuidade às incursões em solo português, aproveito a oportunidade de uma notícia no sovolei para visitar esta cidade e seus arredores.       

Santa Maria da Feira é uma cidade portuguesa da Grande Área Metropolitana do Porto, situada na região Norte e subregião de Entre Douro e Vouga, com cerca de 11 040 habitantes. É sede de um município com 213,45 km² de área e 147 406 habitantes (2008), subdividido em 31 freguesias. O município é limitado a norte pelos municípios de Vila Nova de Gaia e de Gondomar, a leste por Arouca, a sueste por Oliveira de Azeméis e São João da Madeira, a sul e a oeste por Ovar e a oeste por Espinho. O município de Santa Maria da Feira inclui 3 três cidades – Fiães, Lourosa e Santa Maria da Feira – e diversas vilas (atualmente 13), entre as quais a destacar: Argoncilhe, Arrifana, Lobão, Mozelos, Nogueira da Regedoura, Paços de Brandão, Rio Meão, São João de Vêr, São Miguel do Souto, São Paio de Oleiros e Santa Maria de Lamas. (Wikipédia)         

Ao longo de todo o ano vários eventos levam mais longe o nome da cidade e da região, como no próximo dia 20 de janeiro, com a Festa das Fogaceiras. Alguém poderia me dizer a respeito? Ao todo, ainda segundo a Wikipédia, são nove os clubes desportivos: Acadêmico da Feira, Associação Desportiva de Argoncilhe, Clube de Futebol União de Lamas, Clube Desportivo de Paços de Brandão, Clube Desportivo Feirense, Clube Desportivo de Fiâes, Lusitânia Futebol Clube Lourosa, Sporting Clube de Santa Maria da Feira e Sporting Clube de São João de Vêr.         

Deu no Sovolei: “A AV Porto estabeleceu mais protocolo de colaboração no âmbito do Programa Gira Volei, desta feita com a CM de Santa Maria da Feira, que prevê a sua implementação junto dos alunos que frequentam as cerca de 70 Escolas do 1º Ciclo daquele Concelho. No acto de assinatura do protocolo realizado na passada 3ª Feira, a Autarquia foi representada pelo seu Presidente, Alfredo Henriques, e pela Dra Cristina Tenreiro, Vereadora do Pelouro da Educação, Cultura, Desporto e Juventude sendo a AV Porto representada por Joaquim Vilela, Presidente da Direcção. Já no âmbito deste acordo, a AVP fez duas acções de formação dirigida aos 80 Professores responsáveis pela Expressão Físico Motora das AEC’s daquela Autarquia, durante a interrupção lectiva do Natal. Já há mais de 10 anos que a AVP pretendia estabelecer este acordo. Durante este período, foram realizadas inúmeras reuniões que, por motivos vários, nunca permitiram a viabilização do protocolo pelo que o acordo agora celebrado foi vivido com particular satisfação, abrindo portas a uma maior intensificação da promoção do Voleibol naquele Concelho”.
 
Desconheço os termos do protocolo de colaboração bem como o acordo celebrado – obrigatoriedade na participação em eventos, cursos para docentes – mas destaco detalhes que possam interessar preponderantemente aos responsáveis pelas crianças e aos 80 professores feirenses (postado no sovolei em “Muitos jogos e a nova Taça Nacional”):     
 
O Circuito do Ensino – Muitos jogos e treinos tornam um indivíduo um bom atleta? Os novos treinadores não saberão responder, pois lhes falta reconhecer em que ponto começa e cessa sua influência. Todavia, eles afetam a vida de muitos indivíduos. A habilidade de ensinar excepcionalmente bem é um talento como qualquer outro, é uma combinação de habilidades que devem ser incorporadas com o tempo. Assim, as posições estão invertidas no cenário mundial: Os melhores técnicos e professores na formação deveriam ser pessoas mais velhas, todas aprendendo intensivamente como orientar e treinar outros indivíduos. Isto é um pré-requisito, pois constrói a parte mais essencial de suas habilidades – a Matriz, ou seja, a base de desenvolvimento. Estar a competir sem uma boa formação técnica é perda de tempo, não conduz a um pleno desenvolvimento do indivíduo. É preciso algo mais.
Assim, não percam jamais os seus propósitos pedagógicos desenvolvidos nas cerca de 70 escolas e aproveitem com cautela as ofertas que lhe são oferecidas. Lembrem-se que o compromisso do mestre é abrir espaços, ser o facilitador para que seus alunos cresçam em sabedoria e, posteriormente, façam suas escolhas.
Venho oferecendo aos professores portugueses um Fórum para discussões pedagógicas neste Procrie. Aos que chegam nesse momento, recomendo a leitura dos textos em “Metodologia e Pedagogia”, que estarão dizendo coisas do seu dia a dia nas escolas. Muito embora à primeira vista possa se considerar que somente tratamos de voleibol, destaco que todo o conteúdo pedagógico é aplicável a qualquer aula – seja matemática, ciências, linguagem, história -,  e, portanto, não importa a que desporte se volte o professor. Inclusive, recomendo a leitura de “Teoria vs. Prática”(10.2.2010), em que discuto e analiso a conveniência de uma prática generalizada na infância. A partir de mais algum tempo, estarei me enveredando pelo chamado “Código do Talento”, uma teoria neurológica calcada em estudos da mielina que aponta para a importância da qualidade nos treinamentos em qualquer área do conhecimento humano. Não percam!
 
Um fato que me aguça a curiosidade é conhecer o número de crianças, por sexo, da região. Como poderei saber?
     
  

Portugal de Norte a Sul

Cidades com internautas ao Procrie. Fonte: Wikipédia e Google Analytics.

Dando início à nossa viagem por Portugal, hoje estaremos visitando Póvoa de Varzim com um único visitante ao Procrie. Mais adiante, estaremos comentando sobre as  cidades no extremo sul do país, todas com alguma frequência ao site. Neste percurso, trata-se de descobrir-lhes a vocação para o voleibol e dar-me a conhecer para melhor corresponder às suas querenças. Lembrando que todo arcabouço pedagógico tratado aqui é factível de ser empregado para os desportos em geral e, mais importante, para a vida. Vejam que fui descobrir em trabalho acadêmico de estudantes portugueses excelentes ensinamentos com os quais estou comprometido do matemático húngaro George Pólya. Além disso, de outros textos, sabemos todos que o voleibol se desenvolve em solo nacional prioritariamente nas maiores cidades e próximo ao litoral. Quero crer que, como no Brasil, a brisa marinha é um convite ao lazer e à vida ao ar livre. Contudo, embora litorâneas, as cidades ao Sul carecem de infraestrutura e, possivelmente, de uma população infantil adequadas às necessidades de desenvolvimento de qualquer esporte coletivo. Afora, a tradição cultural. Isto é o que pretendo descobrir com a ajuda dos amigos portugueses.        

         

Póvoa de Varzim.  Perdôem-me os portugueses, mas escrevo também para uma legião considerável de brasileiros. Assim, sirvo-me da Wikipédia para dar-lhes a conhecer uma pequena grande cidade, cuja filha mais ilustre veio a ser a avó de minha esposa. Por isto, visitamos a cidade em 2007 e trouxe a foto ao lado. Ficamos realmente encantados. !         

Um habitante da Póvoa de Varzim é conhecido por Poveiro. Estima-se que em 2008 a população era de 66.655 habitantes, sendo que 60% dos quais viviam na cidade. O número sobe para 100 000 quando se considera áreas-satélite envolventes, tornando-a na sétima maior área urbana independente em Portugal, dentro de uma aglomeração policêntrica de cerca de três milhões de pessoas. Durante o Verão a população residente atinge os 200 mil; este movimento sazonal proveniente de cidades vizinhas é motivado pela praia e 29,9% das casas tinham uso sazonal em 2001, o mais alto do Grande Porto. A Póvoa de Varzim é a cidade mais jovem do Grande Porto, com uma taxa de natalidade de 13,665 e de mortalidade de 8,330. Ao contrário de outras zonas peri-urbanas do Grande Porto, não se constituiu como uma cidade satélite.            

Populares jogam voleibol na Praia Verde. Fonte: Wikipédia.

Município do Futuro. A Póvoa de Varzim de hoje é uma cidade cosmopolita. A qualidade de vida na cidade, tendo sido notada como o município mais desenvolvido no distrito do Porto e como o “Município do Futuro”, o desenvolvimento de infra-estruturas e os 15 minutos de distância que separam a cidade do Porto e Braga, tem levado à fixação de novos residentes, provenientes de cidades vizinhas, tais como Guimarães, Famalicão, Porto e Braga e à ascensão do setor imobiliário que poderá duplicar a população residente a médio prazo. Segundo a câmara municipal, 38% da população da Póvoa de Varzim praticam desporto, um valor superior à média nacional. Os desportos mais populares são o futebol e a natação. O Estádio Municipal e seus campos sintéticos do Parque da Cidade são o palco do campeonato inter-freguesias onde 19 clubes de futebol popular competem. Em frente ao complexo de piscinas públicas, acham-se as Piscinas do Clube Desportivo de Póvoa, um clube que se evidencia pela porção de praticantes em vários desportos: basquetebol, voleibol, hóquei em patins, automobilismo e atletismo. Existe ainda o Clube de Andebol da Póvoa de Varzim e o Póvoa Fustsal Club. O voleibol de praia e o futevôlei são desportos populares nas praias poveiras e foi aí que se começou a praticar futevólei, pela primeira vez, em Portugal. A Póvoa de Varzim possui 12 km ininterruptos de praias de areia dourada, formando enseadas divididas por rochedos.             

Para que não pensem o contrário, eis-me entre as flores de antiga fortificação em Póvoa de Varzim, maio de 2007.

Desenvolvendo o voleibol. Caso haja interesse para o desenvolvimento do voleibol na cidade, seria ainda interessante termos mais conhecimento do que se desenvolve nas escolas, a partir do ensino fundamental, o número de crianças e sexo. Por quê? Pelo que vimos acima e pelo que já deduzimos de outras leituras, o futebol é o esporte mais atraente no país e, com os 19 clubes na cidade, não é diferente. Contudo, há uma alternativa alvissareira que poderia se constituir em um problema: o público feminino. É bem provável, até por aspectos culturais, que as mulheres não pratiquem o futebol. Sendo assim, se uma metade (masculina) volta-se para os estádios, ou o pratica passivamente (torcedor), a outra parte (feminina) estará disponível para o voleibol. Trata-se de se chegar a elas, as meninas, o quanto antes. Para tanto, há que se promover algumas medidas de aspectos variados – pedagógicas e marqueteiras – no intuito de despertar a curiosidade revestindo todas as ações de plasticidade e encantamento. A nossa competição passa, então, a ver quem consegue mais adeptos para a modalidade, e não selecionar as “mais altas”, as “mais bonitas” ou as “mais ….” O que nos importa neste instante é exatamente a quantidade de crianças que se possa arregimentar e congregar com atividades alegres, divertidas e perenes, não importa a época do ano. Sugere-se envolvimentos entre os educandários, clubes e municipalidade. Até porque se estiverem praticando o nosso esporte – o voleibol – é sinal que na competição com outros desportos, nossa pedagogia é superior e muito mais atraente. Esta será, então, a nossa preocupação: “atrair e manter o maior número de adeptos”. Quem são os nossos concorrentes? Vocês, professores, saberão dizer melhor do que eu.         

Atenção. Faço uma ressalva para o cuidado que deverão ter com a atuação do Gira-Volei. A meu ver estão recaindo na seleção de talentos, pois suas práticas eventuais dizem mais do que suas visões, isto é, estimulam a competição e muito pouco a inclusão. Há algum tempo frequentei o site e constatei o que as crianças pensam e dizem na Internet. O que propomos no Procrie é muito mais do que premiar campeões, mas realizar na prática a harmonia e o bem querer entre as crianças. Poderão conhecer as premissas em “Quem Faz”.  Além disso, estimulamos e perseguimos ideais pedagógicos para todo e qualquer desporto e, assim, pensamos estar auxiliando professores e pais nas buscas de seus alunos e filhos. Não nos furtamos a colaborar em qualquer área desportiva, exceto a competição pela competição.            

————————            

Na próxima postagem sobre o tema estaremos dando um grande salto até Sul do país, na Região do Algarve, percorrendo o Distrito de Faro, com Albufeira, Boliqueime e Portimão. Além da Wikipédia, gostaria da ajuda dos internautas que já frequentam o Procrie nesta região aprazível e que desconheço. Quem sabe surja um convite a visitá-los e promovermos aulas para 300-400 crianças simultaneamente? Aguardem-me!

Alegria no Futebol e no Voleibol?

Jogadores de Camarões comemoram histórica vitória sobre a Austrália no Mundial de vôlei. Foto: Fivb/Divulgação.

 

Interesses, Alegria e Xenofobia                   

O que estamos ensinando às novas gerações? As crianças quando jogam ou brincam parecem estar desligadas do mundo, concentradas nos seus propósitos. Obedecendo às regras do jogo aprendem todas a respeitar os seus contendores e, cessada a atividade, estimular o convívio social. Isto é o que se pretende repassar a elas. Todavia, entre o discurso e a prática parece que os interesses estão se sobrepondo à simplicidade e alegria da pura diversão.              

Lendo aqui e acolá notícias relacionadas ao voleibol deparei-me com um estranho no ninho em duas ocasiões. Trata-se do agora polêmico José Mário dos Santos Mourinho Félix, mais conhecido como José Mourinho, português que antes de iniciar a sua carreira de treinador de futebol, foi professor de Educação Física. Ele agora nos dá algumas lições de vida. Como meus ouvidos estão longe de sua voz, não o interpreto, mas aprendo a conhecê-lo melhor e tirar lições pedagógicas, o verdadeiro sentido deste texto.                   

Li no site português Sovolei (Luís Melo, “Sinais” José Roberto Guimarães e José Mourinho, 5.11.2010) uma análise e comentários a respeito da atuação entre os dois treinadores, um no voleibol e o outro no futebol a partir de um programa radiofônico. Aliás, fiquei muito satisfeito, pois dá uma dimensão maior e perspectivas de desenvolvimento do voleibol em Portugal, no qual o Procrie contribui com pequena parcela. Vejam o que disse o Luís Melo:                   

Quenianas realizam sonho e ganham admiração do Brasil. Foto: AFP

  

“Sinais” José Roberto Guimarães e José Mourinho. Todas as manhãs (8h50m) é transmitido o programa “Sinais” na rádio TSF. Em apenas 1 minuto Fernando Alves faz um exercício de análise interessante sobre o nosso quotidiano, abordando os temas mais variados da actualidade. No programa de hoje fez referência a José Roberto Guimarães, treinador da selecção brasileira de voleibol feminino, colocando-o no mesmo patamar de José Mourinho. Surpreendente mas reconfortante. Se já é inédito ouvirmos falar de voleibol nos meios de comunicação social, mais o é ainda quando vemos que, inesperadamente, alguém reconhece José Roberto Guimarães e sabe que na modalidade ele está ao nível de José Mourinho no futebol. Esta é mais uma prova que a modalidade começa realmente a conseguir ganhar mais notoriedade, e começa a ser vista como um desporto onde também há gente com a capacidade e qualidade dos “monstros mediáticos” do futebol.                   

Fernando Alves referia-se ao facto de a “Alegria” ter uma importância decisiva na nossa forma de viver, e pegou então nas palavras de José Roberto Guimarães no final do jogo do Campeonato do Mundo: Brasil 3-0 Quénia (25/15, 25/16, 25/11). O técnico quis relevar a equipa adversária “Foi muito legal ver como o time do Quénia jogou. Elas jogam com amor, alegria, vibram a cada ponto. A equipe evoluiu tecnicamente. É muito bacana ver um time da África, que não tem tanta tradição no vôlei, evoluindo dessa forma. Elas estão de parabéns“.      

José Mourinho também tinha feito referência há dias sobre a importância que tem a “Alegria” no desempenho de qualquer equipa. O técnico do Real Madrid fazia o balanço deste surpreendentemente bom início de época da equipa madrilena “Estamos bem. Somos uma equipa em construção, com jogadores novos e um treinador novo. Se os resultados são positivos, o processo de construção corre melhor. Quando vences, acreditas mais em ti, há mais alegria e a alegria faz milagres“. É de facto verdade, a “Alegria” faz milagres. Mas não é por obra e graça de Nosso Senhor. Estes dois mestres referem-se ao facto de a “Alegria” contribuir para a confiança e o bem estar nos treinos e na competição. Um atleta que treina e joga com alegria tem mais vontade de trabalhar, aprender, evoluir, corrigir, chegar mais longe e conquistar mais títulos. Este é um “Sinal” e de facto é fundamental, que no voleibol, todos os atletas, técnicos, dirigentes e também adeptos, tenham presente esta importante ideia. Esta atitude será mais um forte contributo para a evolução de todos e, consequentemente, para o desenvolvimento da modalidade.          

Comentário de Roberto Pimentel (12/2010). Não conheço o Professor José Mourinho a não ser pela TV. Admiro seu histórico que pude contemplar na Wikipédia. É vertiginoso e muito promissor e fico a pensar como teriam se beneficiado seus alunos da Escola Básica 2/3 José Afonso em Alhos Vedros. Pena que não deu continuidade ao trabalho como professor e talvez não tenha havido tempo suficiente para formar seguidores. Como se reportam a ele como uma figura mítica, despertou-me a curiosidade. E, então, busquei e encontrei algo que estava esquecido no tempo, um pouco lá atrás (4.8.2009) publicado no site do Centro Esportivo Virtual (CEV), por Leopoldo Gil Dulcio Vaz: Achei o Manuel Sergio… De forma semelhante, relata de próprio punho o revolucionário treinador José Mourinho, em um capítulo do livro Motrisofia (obra organizada que reúne uma diversidade de autores comprometidos em homenagear o filósofo Manuel Sérgio). Ele escreve: “Fiz o curso de Educação Física há mais de 20 anos, onde no meu primeiro ano conheci o Prof. Manuel Sérgio. Tinha uma convicção, queria ser treinador de futebol, mas na minha época estava no auge estudar Matveyv, porém a teoria do treinamento desportivo positivista não se alinhava a minha forma de pensar. Foi aí que o Prof. Manuel Sérgio me ensinou que para ser aquilo que eu queria ser, teria de ser um especialista na área das ciências humanas. Foi assim que aprendi que um treinador de futebol que só perceba de futebol, de futebol nada sabe. Se sou um treinador singular é porque não me esqueço das lições sobre emancipação e libertação. É preciso ser livre para fazer o novo… até no futebol”. (Motrisofia – Homenagem a Manuel Sérgio, de José Mourinho). (Veja mais sobre Manuel Sérgio na Wikipédia).        

Sendo assim, creio que encontrei alguém com quem comungo os mesmos pensamentos filosóficos, uma vez que prega a libertação do indivíduo pelo esporte. Como disse, “até no futebol”. Todavia, daí a compará-lo com o treinador brasileiro de voleibol José Roberto Guimarães, tenho que perdoá-los, pois não o conhecem bem. Ser um treinador campeão não é suficiente para atestar ser um “monstro mediático”, pois tenho presente na memória cenas incríveis de treinadores brasileiros campeoníssimos que mal distribuíam as camisas dos atletas. Que dirá a competência para orientá-los!        

E para falar em ALEGRIA, perdôem-me, é preciso muito mais, é preciso realizar o tempo todo. Será que só deve estar presente nas vitórias? Não se trata só e diplomaticamente de mostrar um exemplo africano. Mas realizar e transmitir isto à sua própria equipe, o que nunca conseguiu fazer. Aos amigos portugueses sugiro uma vez mais leituras dos textos colocados em Metodologia e Pedagogia, além de outros, em que sugerimos desde cedo que as crianças “Aprendam Brincando e Jogando”, e não se tornem meras figuras de “adestramento”. Os jogos são formas formidáveis de educar para a vida! Não desperdicemos tamanho potencial e nos fecharmos para ser campeão de coisa alguma. Vejam também o que já escrevemos sobre o “Interesse e Colorido Emocional” quando tratamos da importância da memória (Pedagogia Experimental).               

Interesses e acertos para justificar a derrota para a Bulgária no Mundial da Itália. Foto Celso Paiva, Terra.

  

E, ainda por cima tal qual o futebol, o voleibol também virou um “grande negócio”, parece que vale tudo ultimamente, isto é, os meios justificam os fins. E o programa social para crianças com selo da Unesco?  E o patrocinador?  Por falar em celeumas, não é que a imprensa vem estimulando um bate-papo improdutivo e catastrófico para as partes? Cuidem-se os contendores e demais leitores para que não sejam levados por sentimentos nada condizentes com o nível que atingimos em matéria de consciência desportiva. Acredito que o bom senso prevalecerá, mas não posso deixar de alertar a todos. Prometo não mais publicar nada a respeito.         

Para onde estão nos levando (retirado do Terra – AFP – dezembro/2010)       Depois de o brasileiro Daniel Alves, do Barcelona, dizer que o técnico José Mourinho, do Real Madrid, “não descobriu o futebol”, o português respondeu com ironia, comparando o jogador ao cientista Albert Einstein. Daniel Alves havia dito que Mourinho era um grande treinador, mas que teve tantas conquistas graças aos bons jogadores com quem trabalhou. “Mourinho não descobriu o futebol e nem vai descobrir”. Na réplica, em entrevista coletiva, o técnico respondeu em tom sarcástico. “Todos temos a aprender com as pessoas inteligentes”, referindo-se ao lateral-direito. “O que Daniel Alves disse Einstein não diria melhor. Foi um português que descobriu seu país, mas não inventou o futebol. Tem toda a razão, não inventei o futebol”, declarou o treinador. De acordo com o jornal As, o brasileiro disse que considera o técnico do Real Madrid um “brincalhão”. A troca de farpas começou na semana passada, quando Daniel Alves descartou se transferir para o time merengue. O lateral direito mostrou que não gostou da declaração e rebateu neste domingo. “Talvez aos brasileiros não agrade que um português tenha nos descoberto”.                  

Xenofobia. E, finalmente, prestem atenção ao comentário abaixo, que relutei muito em transcrever. Tomara que seja um pensamento solitário, não compartilhado.         

De Nuno Sampaio (Terra, 12.12.2010). Acho estranho reclamarem tanto com o comentário do Mourinho. Vocês são os primeiros a aprender isso na escola. Os portugueses quando chegaram ao vosso território, não se chamava Brasil, e viviam lá os ameríndios. Com a presença dos portugueses, nós desenvolvemos a vossa civilização, com novas pessoas, nova cultura, nova língua, nova religião e…a formação de um país. Isto é história. A verdade é que se vocês existem, é devido ao ‘cruzamento’ entre portugueses, índios e africanos. Mesmo a palavra ‘Brasil’ deriva do povo europeu, os celtas. Eu concordo com o facto de dizerem que não vos descobrimos, mas criámos bases para que existissem cultura, história, país e o povo brasileiro com o que levamos nos barcos, com a ajuda dos índios, que se lembrem, não eram brasileiros.                 

E ponto final.

Desporto Escolar, Existe?

Desenho: Beto.

O Desporto Escolar Deve Ser a Base do Desporto Nacional?  (Parte I)                

Participo do CEV há algum tempo e vez por outra retorno com algum comentário. Recebi em minha caixa postal um tema para debate que transcrevo na íntegra, pedindo permissão ao mentor do CEV, Laércio, e ao próprio professor Sandow, autor do debate, mas que infelizmente, deixou de relatar o que se discutiu na “ultima” reunião. E, importante, qual a sua posição, uma vez que se trata de um professor da Universidade Estadual do Maranhão. Certamente esperam-se outros comentários para que as coisas tomem rumos diversos ao que aí está. Então, ilustrem-se com tais dizeres e se resolverem, participem com seus comentários aqui mesmo ou acolá. Boa leitura.         

Por Sandow de Jesus Goiabeira Feques, em 24-11-2010. Na ultima reunião promovida pelo Ministério do Esporte e COB que estive presente para discutirmos Jogos Escolares, foi apresentado um projeto que daria mais uma responsabilidade à escola brasileira. Ou seja, a Escola ficaria responsável pela preparação dos futuros atletas brasileiros. 

Por Mauro Roberto Guterres Santiago, em 24-11-2010. É lamentável, escola não tem esse fim e nem deve assumir essa responsabilidade, o esporte rendimento deve ser gerenciado, organizado por outros órgãos já existentes: Ligas, Federações, Confederações, COB etc. Com as competições escolares acaba que surgem talentos esportivos que devem receber tratamento, ou melhor, treinamento especial, não na escola, mas sim nos locais que promovam especificamente o desenvolvimento do atleta de alto rendimento. A função da escola é complexa e não cabe mais essa missão. O que deve acontecer é maior investimento na formação de atletas com planejamento responsável. Parabéns ao amigo Sandow por levantar esse debate. 

 
Por Roberto Affonso Pimentel, em 25-11-2010. Professor Sandow e aos amigos da “Ilha Encantada”. Os paraquedistas do incipiente ministério e do comitê brasileiro não têm compromisso ou qualquer responsabilidade com a Educação neste país. Ali existe uma única cabeça pensante e centralizadora que ora se inclina para um lado e, em seguida, tomba para um outro. Os demais, salvo raríssimas exceções, obedientes e disciplinados garantem seus empregos e mordomias. Insisti (2005) em desenvolver estudos para a Academia Olímpica e quedei-me, pois se trata de algo para constar, fingindo que existe institucionalmente. Basta ver quem se abriga por lá.
 
—————————————
Na época do Collor presidente foi criada uma Secretaria específica para tratar dos Esportes. Inicialmente usando a imagem de um ex-jogador de futebol, Zico, que não suportou, e em seguida, a do ex-atleta de voleibol Bernard. Mais à frente, o Pelé no ministério e os problemas gerados na administração do Indesp só contornados pelo Tubino anos mais tarde. Atualmente o ministro aconselha-se com os seus pares no Rio antes de tomar qualquer decisão. E o ministério da educação, passivo sem qualquer atitude, vai tocando coisa nenhuma, deixando a “banda passar”, debruçado na janela da vida, fingindo que fazem alguma coisa. Aliás, talvez seja até melhor, pois dessa forma não erram. 

Voleibol em São Luís               

Quanto à atividade esportiva no Maranhão, reporto-me tão somente a São Luis, pois andei me inteirando a respeito do voleibol escolar e meti-me numa conversa provocada pelo Leopoldo sobre um consenso de ideias e lideranças para tratarem do seu desenvolvimento. Percebi, mesmo à distância, que fazem exatamente o que se faz no país: alguns poucos são selecionados e participam dos jogos estudantis, encarados estes como base esportiva. Isto é, repetem-se, confundindo o ponto de chegada com o ponto de partida. Imagino que não estarei vivo para ver mudanças estruturais de pensamento e atitudes. Entretanto deixo singelas mensagens no Procrie (www.procrie.com.br) que, se lidas com atenção, poderão influenciar mentes jovens, ainda não corrompidas pela politicagem, ignorância e sede de poder.                  

Academia Olímpica Brasileira. Já que citei, transcrevo algumas de suas atribuições estatutárias colhidas na Internet em jun./2005:               

A Academia Olímpica Brasileira (AOB) (…) tem por objetivo o desenvolvimento da Educação Olímpica por meio de estudos e pesquisas no Brasil e por via de intercâmbio com entidades similares no exterior. O foco principal de atividades é a produção de estudos e investigações por pesquisadores e entidades universitárias, na perspectiva de utilização no contexto brasileiro de conhecimentos gerados localmente e de forma descentralizada. (…) a Educação Olímpica, ao ser testada e implantada no Brasil, assume como prioridade os valores de solidariedade, ética esportiva e excelência, (…) à vista do propósito social adotado pela Educação Brasileira em geral. (…) é uma entidade formativa de produção de conhecimentos… A AOB-COB é uma entidade educacional voltada para a busca de excelência acadêmica. Os membros da AOB são voluntários e se apresentam para participar nas oportunidades de geração e veiculação de estudos e pesquisas no Brasil e no exterior, (…) as perspectivas da AOB são de qualidade e não de quantidade na sua produção, incorporando-se ao esforço das universidades brasileiras para o desenvolvimento de conhecimentos científicos e filosóficos. Sob liderança do Dr. Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, a AOB/COB tem como presidente o professor Dr. Eduardo Henrique De Rose e, como vice-presidente, Bernard Rajzman. A secretária da entidade é Christiane Paquelet.             

 

    

Lesão e Superação

Problemas médicos

Como os interesses políticos, os favorecimentos e o excesso de atividades podem influenciar e prejudicar o rendimento de um atleta em qualquer modalidade? O médico da delegação tem poder de veto? E o fisioterapeuta é o “faz-tudo”?  

Histórias 

1) Na primeira olimpíada em que o voleibol se fez presente foi em Tóquio, Japão, no ano de 1964. A delegação brasileira masculina se fez presente somente com dez atletas. Dias antes do embarque, o COB informou à CBV sobre esta decisão, alegando contenção de despesas. Nunca foi justificado até porque foi o ano da entrada no poder dos militares e o COB já tinha em suas fileiras vários generais. Aliás, todos os postos chaves do esporte, como o Conselho Nacional dos Desportos (CND). No que se refere à equipe de voleibol, era comentário geral que um dos atletas estava lesionado no joelho ainda nos treinamentos precários no Brasil. Certamente, agravado pelo emprego de exercícios hoje totalmente condenados, como o canguru, além de subidas e descidas de degraus de arquibancadas. Diga-se ainda que a equipe ficou reduzida a seis atletas por contusões durante os jogos.

2) Em 1984, na Olimpíada de Los Angeles, mais uma vez a delegação estava composta com pelo menos dois atletas sem condições ideais para a competição antes de embarcarem e, ainda assim, viajaram. Até então, a seleção era um grupo fechadíssimo em torno de seu treinador que detinha todo o poder. E sabíamos todos que dos 12, somente dez tinham condições de atuar na equipe.  

3) Há muitos anos, em conversa com um dos supervisores da CBV, ele comentava que um dos problemas com o estado físico dos atletas residia na má execução das atividades nos próprios clubes, ou até mesmo, na sua ausência. Quando convocados, tinham que passar por um período de reavaliação e tratamento. Interessante, que anos depois, inclusive com melhor aparato de equipamentos e equipe médica adequada, alguns problemas surgiram na seleção, como o caso de Schanke (?), que saiu de quadra em um jogo pela seleção direto para a mesa de cirurgia de um hospital, com problemas de circulação na mão.  

4) Dois anos após a conquista olímpica de 1992 houve um êxodo dos atletas atraídos pelo milionário voleibol italiano. Não durou muito e após a temporada italiana, creio que ainda em 94, Nuzman promoveu uma festa com toda pompa no Centro Cultural do Banco do Brasil, no Rio, com jornais, TVs, autoridades e convidados. Ele, ainda presidente da CBV, sugeriu e engendrou o retorno dos cinco atletas campeões olímpicos que atuavam na Itália – Carlão, Maurício, Tande, Giovane e Marcelo Negrão. O Banco do Brasil, tendo a frente o seu presidente Andréa Calabi, arcou com as despesas, inclusive os seus salários. A CBV distribuiu os atletas por diversos clubes/empresas. Interessante foi um dos argumentos invocado: “Estaria protegendo os atletas – citou o Tande – de maus tratos, isto é, era obrigado a atuar sem condições físicas adequadas, mesmo estropiado”. O sexto atleta titular daquela olimpíada, Paulão, que não se transferira para a Itália, tornou-se presidente de um clube no Paraná, além de também atuar na equipe que conseguiu a duras penas montar. Foi esquecido solenemente, não tinha carisma e por isso a imprensa não lhe dava a mínima atenção. Caiu no esquecimento. 

5) A história se repetiria após a virada do século: da equipe bicampeã mundial (2006), somente um jogador atuava no país. Para atenuar a busca de dólares e euros no exterior, foi montado um esquema marqueteiro com a principal emissora de TV brasileira para transmissões dos jogos da Liga Nacional. Com isto, os salários em reais tornaram-se razoavelmente competitivos, especialmente por estarem em casa e falarem a mesma língua. Ainda assim, um ou outro abdicou como o jogador Tande que logo após o campeonato mundial da Itália retornou ao seu time na Rússia. Como a situação econômica do país é estável e até invejável diante das maiores economias mundiais, é natural que se possam oferecer melhores salários aos “nossos heróis”. 

6) A emoção de Murilo quando foi anunciado o melhor jogador do Mundial de Vôlei (2010) tinha uma razão. O ponteiro teve de superar ao longo da competição uma dor interminável na panturrilha, que causou cãimbras e o fez jogar no sufoco em algumas partidas. Com o alívio do dever cumprido, o camisa número 8 afirmou que nunca viu a seleção passar por tanta dificuldade em um torneio em que saiu vitoriosa. Foi a mais difícil pelos problemas físicos. Até em 2009 nós conversávamos que nunca tinha acontecido muitos problemas físicos na equipe ao longo das competições, dizíamos que éramos muito sortudos por isso. Mas neste mundial foi complicado. Primeiro já pelo problema do Marlon, que não era um problema físico e sim fisiológico, e ele superou… Depois o problema do Bruno na semifinal, quando sentiu o tornozelo esquerdo e o meu na panturrilha e hoje também sentindo o tornozelo. “Isso é ainda melhor para gente tentar se ajudar em quadra”.  

7) O atleta Giba, desde os jogos da Liga não atuava e não atuou efetivamente nesse mundial, possivelmente poupado por motivos médicos. Passou a ser o “segundo” do técnico, dando apoio e instruções aos seus colegas. Todavia, no Brasil, deixou escapar uma brincadeira pouco saudável para um atleta de seu nível: “Creio que a Fivb deveria daqui para frente realizar um campeonato mundial com todos os outros países; aquele que vencer, disputará com o Brasil quem será o campeão”. Lamento, mas notei certa empáfia em suas palavras. Como deve ser difícil voltar a por os pés no chão após vôos tão altos! E lembrar que em 2002 foi pego no exame antidoping na Itália, fato este abafado na grande imprensa, inclusive com a ida de um bombeiro à Bota. Certamente a divulgação do fato comprometeria a boa imagem do garoto-propaganda do patrocinador oficial.       

 

A Mulher e o Voleibol

Foto: Terra.

 

Com o término do Mundial feminino disputado no Japão, e depois de muitas lágrimas choradas, a vida das profissionais do voleibol volta ao normal, se isto é o que se chama “vida”. Enfim, é uma profissão como qualquer outra e a escolha é individual. Mas o sonho de se tornar independente financeiramente e estar diante dos holofotes e câmeras de TV com sua imagem pelo mundo inteiro realmente deve mexer com a cabecinha de muitas garotas, especialmente as menos afortunadas de berço. Nesse particular, chamo a atenção para o interesse que o Vôlei de Praia desperta tanto para os rapazes quanto para as moças. Na entrevista que concedeu ao Terra, a cearense Juliana Felisberta, melhor atleta do ano pela segunda vez consecutiva, deixa transparecer este sentimento de busca da independência financeira através do esporte quando lembrou o inicio de sua carreira esportiva: “No começo éramos duas meninas imaturas, sem nenhuma estrutura, longe da família e sem dinheiro. Morávamos juntas, dividindo um apartamento. Começamos do nada e crescemos juntas”, relatou, lembrando de uma lesão de Larissa na época, que colocou em dúvida o futuro da dupla”. Hoje a realidade é totalmente diferente. Larissa chegou a afirmar que poderia, inclusive, abandonar as quadras no ano passado, pois o esporte havia garantido segurança tanto profissional como financeiramente. E arremata ao ser perguntada sobre o que fazer quando parar de jogar: “não penso em ser técnica, mas quero colaborar de alguma forma com o vôlei, pois foi o esporte que me ajudou a ser quem eu sou hoje”. Ela tem um exemplo bem próximo, o seu técnico Reis, também cearense e que atuou durante algum tempo no início da carreira no vôlei de praia ao lado do campeoníssimo canhoto Márcio. Contudo, chamo a atenção para o fato de que a vida de intensos treinamentos, viagens, compromissos internacionais, busca de patrocínios, tudo isto impede que a jovem tenha o que se chama uma vida “normal”. Como tudo a sua volta impele a compromissos inarredáveis, a atleta torna-se refém do próprio labor. E isto numa das melhores fases da sua existência e, especialmente, em se tratando de mulher. Afora os estudos, impossíveis de serem efetuados graças à repleta agenda de jogos e treinos, constituir família, nem pensar tão cedo.   

——————————————–   

Ranking Mundial Feminino da FIVB   

Apesar da decepção com o vice-campeonato, a Seleção Brasileira, da líbero Fabi, permanece na ponta do ranking. Foto: Fivb/Divulgação.

 

Os dez melhores: 1º Brasil: 240 pontos (0) – 2º Estados Unidos: 205,5 (0) – 3º Itália: 165,75 (+1) – 3º Japão: 165,75 (+2) – 5º China: 157 (-2) – 6º Rússia: 143,75 (+1) – 7º Cuba: 104,5 (-1) – 8º Polônia: 98,25 (0) – 9º Sérvia: 83,75 (0) – 10º Alemanha: 77,25 (+5)   

Apesar da decepção com o vice-campeonato, a seleção brasileira permanece na ponta do ranking. A prata no campeonato mundial foi suficiente para isto. Agora a equipe soma 240 pontos, bem à frente dos Estados Unidos, segundo colocado com 205,5. Campeã da disputa, a Rússia ultrapassou Cuba e é sexta, com 143,75 pontos – a colocação apenas mediana acontece porque as russas não disputaram o último Grand Prix, que conta pontos ao lado dos campeonatos continentais de 2009 e das Olimpíadas de Pequim. A honrosa medalha de bronze no mundial rendeu ao Japão duas posições na lista, deixando a rival China para trás e dividindo o terceiro lugar com a Itália. Entre os primeiros colocados, quem mais subiu foi a Turquia, que passou da 22ª para a 12ª colocação.   

——————————————–   

Superliga Nacional Feminina   

Foto: Terra.

 

A Confederação Brasileira de Volleyball (CBV) lançou, a 17ª edição da Superliga feminina, no Jockey Clube Brasileiro, no Rio de Janeiro. O torneio começa dia 27 de novembro. A solenidade teve a presença de atletas como Fabi, Sheilla, Fabiana, Dani Lins, Mari e Paula Pequeno. A expectativa é de que a disputa seja muito equilibrada, ainda mais com a chegada de atletas estrangeiras, como as cubanas. A competição terá 12 equipes e, na fase classificatória, elas jogarão em turno e returno. Oito times vão as quartas de final, que serão disputadas em série melhor-de-três partidas, assim como as semifinais.   

Nota: Com base em reportagens postadas no Terra e Gazeta Esportiva.

Pedagogia Experimental – o Saque

Sequência dos movimentos no saque. Foto: http://www.fivb.org.

Referências

Para auxiliar o leitor em suas leituras, compus acima uma relação de 15 títulos em que de alguma forma teço comentários sobre o saque, ou sua história, algum fato curioso, sua evolução ou mesmo a utilização tática. Terão, assim, um acervo importante para deliberarem e discutirem com seus alunos sobre o emprego do saque em diversas circunstâncias. Espero não me esquecer de, invariavelmente, acrescentar um título toda vez que se fizer necessário. Peço a contribuição de vocês e boas leituras.

1.   Saque e Histórias

2.   Saque Tático e Barreira

3.   XV Campeonato Mundial de Voleibol Feminino –  Gamova 

4.   XV Campeonato Mundial de Voleibol Feminino – Semifinal  

5.   Saque que Faz a Diferença  

6.   Como Sacar? 

7.   XV Campeonato Mundial de Voleibol Feminino – Surpresa Checa

8.   Saque: técnica, tática @ marketing

9.   Jabulani vs. Mikasa 

10.Mundiais de Voleibol no Brasil, 1960 (V I)

11.O Jogo na Década de 50

12.Evolução das Regras, 1960

13.Voleibol na Escola (VI)  

14.Evolução das Regras, 1980-99 ‎

15.Voleibol na Escola (II) 

———————————

Como Ensinar?

A metodologia a empregar é fundamental para o desenvolvimento motor da criança ao longo da sua vida. Compreendido dessa forma chamo a atenção dos professores para se inteirarem das teorias mais modernas da Psicologia a respeito de fatores fundamentais no ensino. Não cabe neste espaço esmiuçar o assunto, até mesmo por ser extremamente teórico, mas para aqueles que venham a se interessar, não deixem de ler nas obras de Vigotski sobre a percepção e seu desenvolvimento na infância. Querem um exemplo? Revejam com atenção a sequência do saque exibida no início da página. Como ensinar à criança o movimento do saque, através de exercícios de partes isoladas ou, ao contrário, com a percepção do conjunto? Aqui vamos encontrar as bases da nova teoria estrutural da percepção e às mudanças no desenvolvimento da percepção na infância. Indagado que tipo de exercícios educativos recomendaria para que um atleta se desenvolvesse no salto com vara, famoso técnico americano respondeu: “Simplesmente faça-o saltar”. A ideia que serve de base à nova teoria da percepção é de que a vida psíquica não está constituída por sensações ou ideias isoladas, que se associam umas às outras, mas por formações integrais isoladas, que foram denominadas estruturas, ou imagens, ou gestalts.

Adestrar ou Ensinar?

Inicialmente se o professor quer que algo seja bem assimilado deve preocupar-se em torná-lo interessante. A memória funciona de modo mais intenso e melhor naqueles casos em que é envolvida e orientada por certo interesse. Entende-se interesse como um envolvimento interior que orienta todas as nossas forças no sentido do estudo de um objeto. O interesse produz um efeito preparatório sobre o nosso organismo durante a assimilação de uma nova reação. Toda pessoa sabe que efeito inusitadamente aumentativo exerce o interesse sobre o psiquismo (ver “Pedagogia Experimental”, 6.11.2010). O importante mesmo é despertar o interesse em querer aprender e este é obtido através do “colorido emocional.” As tarefas posteriores se sucederão normalmente como ensinar a pensar, a espontaneidade e a criatividade. Para que algo seja interessante é necessário que não seja exaustivamente repetido. O professor deverá cuidar para que seus alunos tenham sempre uma motivação a mais nas suas aulas, um motivo ou novidade que os mantenha atraídos e surpresos. Nisto consiste o valor que os jogos oferecem: a oportunidade de manifestação interior.

Ensino com Qualidade

Espero ainda que ao assistir alguma partida em qualquer nível, venham a se lembrar das leituras, esbocem um leve sorriso e imaginem como deveria o atleta sacar. Se você é o professor ou treinador, cabe a responsabilidade de despertar o ensino tático para todos os alunos. Perceberá, igualmente, que raciocínios e condutas similares se aplicam aos outros fundamentos, guardadas suas características. Dessa forma, não será necessário fazer como no alto nível, em que um treinador elevava uma placa numerada para mostrar às atletas o direcionamento do saque; ou calar-se e deixar que lancem a bola sobre a líbero adversária. E isto, em ambas as categorias, masculina e feminina.

Finalmente, baseio-me no Aprender a Pensar, tanto para docentes quanto para instruendos.

 

Saque e Histórias

 Um pouco de blá, blá, blá…

1) Este fato passou-se comigo quando rapaz, aos 22 anos de idade. Em 10 de setembro de 1962, a seleção brasileira masculina deu início à preparação para disputar o Mundial que seria realizado em Moscou. A concentração e os treinamentos foram realizados na Escola Naval, no Rio de Janeiro, e a maioria dos atletas pertencia a clubes da própria cidade. Neste ano não disputei qualquer campeonato e tão pouco treinei, pois me dedicara única e exclusivamente para prestar concurso ao Banco do Brasil, um excelente empregador à época. Inclusive, as provas foram realizadas nos dias 8 e 9 de setembro, véspera do início dos treinamentos. Compareci à Escola Naval e dediquei-me às práticas com máximo empenho, até para desanuviar a mente ante a expectativa do resultado das provas. Em resumo, estava ali não para “viajar para o exterior ou ter a “honra de pertencer à seleção brasileira”, mas para relaxar sobre aquilo que era muito mais importante para mim. Enquanto isto, vários atletas se anteciparam a realizar preparação física por conta própria em academias de ginástica fortalecendo seus músculos e garantir sua respectiva vaga. Pela manhã fazíamos a preparação física (incipiente), à tarde o treino de fundamentos (inconsequente) e, à noite, o coletivo, agora com a presença do treinador oficial, que não podia estar em outros horários, certamente sem dispensa de seu trabalho. Num desses treinos coletivos e atuando pela equipe pretensamente reserva, aconteceu o fato inusitado. Só era utilizado o tipo de saque tênis e não conhecíamos ainda a manchete. Então, a recepção dos saques era realizada somente de toque e, como disse anteriormente, a maioria dos atletas ali presentes, especialmente os titulares, atuavam no voleibol carioca e, portanto, conhecia-os a todos, especialmente suas características de jogo, inclusive suas deficiências. O treino se desenrolava normalmente e eu me divertia vendo a competição entre titulares e especialmente os reservas para assegurarem a sua vaga. Em certo momento, quando me competia o saque, resolvi fazer uma peça a todos e pensei: “Vou sacar por baixo e ver o que acontecerá”!  Lembro uma vez mais que esse tipo de saque era obsoleto, estava em desuso há muito; era considerado por todos um saque ridículo, só usado pelos antigos atletas na praia. Mas foi aí que o treino mudou completamente. A partir do meu saque foram feitos 4 pontos diretos, com a marcação de “dois toques” pela arbitragem. Foi um verdadeiro desastre e o jogo foi interrompido por vários minutos pelo treinador oficial que, esbaforido, não conseguia entender como os melhores atletas do país não conseguiam defender um saque por baixo. Quando do retorno ao jogo, resolvi colocar a bola simplesmente em jogo, usando o saque tênis e esboçando um leve sorriso de dever cumprido, pois conseguira dar o meu recado que hoje repasso a vocês que me lêem. Um detalhe que só vim a saber muito tempo depois: Quaresma, um dos melhores atletas do Brasil e presente àquele Mundial inclusive como capitão da equipe,  confessou-me, (…) “Naquele coletivo, você foi o melhor de todos que estavam no ginásio”.

Para pensarem

Aquele rapazinho dedicara-se aos estudos por praticamente todo o ano, não treinou e tão pouco jogou, e quando chamado a fazê-lo naquele nível, destacou-se sobejamente. Como explicar?  Falaremos nisso futuramente, com o tema Jogar com Alegria e sem compromissos, a não ser de estar bem consigo mesmo e cuidar para fazer sempre o melhor. Nessas circunstâncias, a Criatividade é sua principal aliada. Ah! Ia-me esquecendo. No quinto dia fui dispensado e voltei feliz para casa desejando sucesso a todos sem qualquer pesar ou mágoa.

2) Recordo-me de que na década de 80, talvez início dos anos 90, vez por outra a CBV promovia alguns jogos internacionais com o fito de manter em atividade nossas seleções e dar-lhes a necessária experiência. O calendário da Fivb era ainda insuficiente, restringindo-se aos Mundiais e Olímpicos. Somente no início de 90 surge a Liga Mundial. Sendo assim, procediam-se jogos principalmente com a seleção russa, americana e cubana. Normalmente, 6-7 partidas em solo pátrio e outro tanto no estrangeiro. Vou recordar cenas de treinamento no Rio de Janeiro quando nossa seleção feminina se preparava para mais uma contenda contra as cubanas no Maracanãzinho. Poucos dias antes treinaram normalmente e, ao final, duas atletas permaneceram em quadra para ajuste da recepção do saque, claro, com vistas ao saque das cubanas. Ocorre que o treino procedeu-se de forma bastante confortável e ameno para as atletas, reconhecidamente  ineficientes nesse fundamento. Foram 40 minutos de desperdício, com saques tipo “bola em jogo”. Ao ver aquilo exclamei: “Será que teriam combinado com as cubanas alguma coisa”? Não deu outra. No dia do jogo assisti à partida pela TV. As cubanas massacraram nos saques violentos e as brasileiras, coitadas, sem saber como se livrar daquele autêntico bombardeio. Com certeza a culpa foi atribuída ao passe (recepção) que não estava em um bom dia. Ou, então, não houve tempo para treinar o fundamento…!

3) Guardadas as proporções, certa feita um professor da escola de meus filhos  e não especializado em voleibol, indagou-me sobre como deveria orientar suas alunas num torneio inter-colegial que estava próximo de se realizar. Ele não queria que as alunas sofressem qualquer trauma ou desilusão, pois eram muito mais fracas tecnicamente que as outras equipes. Sem conhecer as alunas ou qualquer das equipes, disse-lhe simplesmente: “Faça com que suas alunas, TODAS, saquem por baixo e enviem a bola sempre alta, no fundo da quadra adversária”.  Algum tempo depois, findado o torneio encontrei-o por acaso e confessou-me num largo sorriso: “Você não sabe o que aconteceu! Foi uma verdadeira revolução, pois nenhum dos demais professores conseguia explicar como o nosso time ganhou o torneio; mal sabiam jogar”! E ao pé do ouvido, baixinho, declarou-me em tom muito reservado: “Mal sabem eles que o detalhe dos saques funcionou plenamente”!

4) Durante bom tempo resolvi aprender a treinar atletas do voleibol de praia. Os treinos eram próximos de minha residência, na Praia de Icaraí, bem em frente ao Pão de Açúcar e ao Cristo Redentor, no Rio. Cenário mais maravilhoso certamente não existe. Para poupar minhas articulações dos ombros, há muito que deixara de lançar bolas por “cima”; fazia com muita eficiência com movimentos por baixo (abaixo da linha da cintura) e, para não conduzir ou imprimir qualquer rotação à bola, contraía o polegar sobre a palma da mão, esta em concha. A posição torna-se bastante favorável inclusive para defesas próximas ao solo e direcionamento dos lançamentos. De tanto praticar, tornei-me perito no saque utilizando esta técnica. Constitui-se em pequena variação do saque por baixo, acrescido de detalhe importantíssimo: a bola depois de batida não gira no ar e sofre influências do ar e, talvez, da própria penetração do polegar na sua parte externa (ver “Jabulani vs. Mikasa”). Assim, ela como que flutua no espaço e, na queda, sofre pequenas oscilações que dificultam o recepcionador. Além disso, esmerei-me na direção dos lançamentos em qualquer ponto da quadra. Meus treinandos que o digam!

1º Curso de Treinadores de Vôlei de Praia, EsEFEx (Rio de Janeiro)

Por ocasião de um dos Circuitos de Vôlei de Praia do Banco do Brasil em Niterói, estive a conversar com alguns atletas que, à tardinha, após os jogos daquele dia, dirigiam-se para as quadras e realizam alguns ajustes aos seus treinamentos. E foi num desses momentos que para atestar que minha teoria sobre o saque colocado estava correta foi que desafiei um dos jogadores. Ele teria que recepcionar três saques dirigidos na sua direção e, se o fizesse com perfeição, o direito de cortar na minha direção com força máxima. Aceito o desafio, dirigimo-nos à quadra, tendo ele levado um companheiro para efetuar os levantamentos. E para facilitar as levantadas, ficou postado junto à rede inicialmente. Lembro aos leitores que nessa época a quadra oficial na praia era ainda de 81 m².

Resultado.  1º saque: observara que ele estava ligeiramente mais atrás do meio da quadra; então enviei a bola a menos de um metro da rede. Seu deslocamento foi desastroso e pior o passe, simplesmente não houve ataque.  2º saque: como não me conhecia e havia pressão de outros atletas que por ali estavam, creio que resolveu não dar a segunda chance para mim e adiantou-se para frente, ficando mais próximo à rede; lancei a bola com ligeira altura (acima dos ombros dele) pela sua esquerda e com força suficiente para que caísse sobre a linha de fundo. Outro desastre, pois teve que recuar, elevar ambos os braços para trás e à esquerda; tocou na bola que imediatamente foi para fora, além da linha de fundo. O levantador somente sorriu.  3º saque: em tom amistoso, disse-lhe antes de sacar: “E agora, você não sabe se será curto ou longo, aonde vai se colocar, mais para frente ou para trás”? Ficou em silêncio quase sepulcral. Mais uma vez lancei a bola curta, e mesmo tendo recepcionado, lançou a bola para o parceiro no meio da quadra. Enquanto  o levantador corria da rede para o meio da quadra, ele próprio teve que realizar o mesmo movimento, pois tocou na bola próximo à rede. Para efetuar o levantamento o atleta percebeu que o recepcionador não estava em posição para ataque, pois deveria estar atrás da linha da bola (de levantamento). Então, simplesmente lançou a bola para o alto onde estava o vulto do companheiro. Este que retornava jamais teria condições de atacar. E, assim, realizamos na prática o que queríamos demonstrar.