Voleibol na Escola (II)

O saque “por baixo”

Desprezado pelos novos professores e treinadores, teve sua época áurea no Brasil até a metade dos anos 50. A partir dos Jogos Pan-americanos de 1955 os atletas brasileiros que lá estiveram trouxeram a novidade do saque “tênis” que se alastrou imediatamente, afastando o “por baixo”. Entre nós, seu principal divulgador foi o Bené, com quem me iniciei em 1958. Rapidamente aprendi sua técnica e, mais importante, seu valor tático. Em 1962, durante a fase de treinamentos com vistas ao Mundial de Moscou, empreguei-o com sucesso retumbante nos treinos coletivos. Ninguém sacava “por baixo”, somente eu, embora dominasse também a técnica do “tênis”. Penso que criei estratégias específicas para cada caso. Os gestos “construídos” quase sempre requerem uma adaptação estrutural. Assim é este tipo de saque. As dificuldades mais comuns se referem à adaptação ao novo movimento – uma posição de base que o favoreça, as noções de distância e altura e a um direcionamento da trajetória da bola. Podemos denominá-los de “pontos-chave” do movimento. Como fazer com que a aluna consiga sucesso no gesto o mais rápido possível?

Solução

a)  Principiantes que ainda não dominam uma técnica rudimentar, isto é, não observam a colocação à frente da perna contrária ao braço que executa o golpe na bola. Isto traduz-se em duas outras consequências: no direcionamento da trajetória da bola e no golpe na bola. Não havendo o necessário equilíbrio do corpo, não haverá técnica, isto é, sobram desperdícios. O fator decisivo está na posição da “perna contrária” (esquerda para os destros). A professora poderá levar suas alunas a colocarem uma das pernas à frente e, por meio de “ensaios e erros”, levá-las a esta descoberta. Permitir-lhes colocar um pé sobre uma linha de referência e “descobrir” qual a melhor forma. Nas suas “cabecinhas” (das alunas) algo lhes dirá que para obter mais sucesso é melhor daquela forma. A satisfação de haver conseguido e os elogios reforçam a memorização dos gestos exitosos, além da observação que uma fará da outra. Verifique também se os exercícios de “passe de peito” utilizados no basquete podem favorecer a observação do emprego do movimento das pernas no “conforto” da execução. Neste tipo de passe há deslocamentos do peso do corpo de uma perna para a outra e, por isso, devem estar uma à frente da outra. Fazê-las descobrir posições cômodas de equilíbrio similares (“transferência”). Se for o caso, leve-as a descobrir como se chuta em futebol.

b) Para aprenderem a direcionar a bola, será conveniente que sejam estimuladas a atingir alvos colocados em diferentes posições (laterais) e, as alunas, numa posição fixa em relação a eles. O mesmo princípio se aplicará no caso das alturas: alvos diferenciados perpendicularmente. Além disso, ensinar-lhes a regra do saque: ele pode ser executado de “qualquer lugar do fundo da quadra”. Seria oportuno que soubessem usá-la em seu benefício e da própria equipe. Alunas mais experientes já utilizam esse recurso.

c) Já que os movimentos são construídos, fazê-las experimentar uma série deles, pois só assim poderão eleger o seu preferido. Cabe à professora estimular esta sadia competição e descoberta, onde todos devem participar como se fora um grande torneio, pois as primeiras colocadas tendem a serem copiadas. E, em se tratando de uma competição – exibição -TODAS, sem exceção, devem participar especialmente as mais hábeis, uma vez que dominam a técnica correta. Este é um recurso que a professora deverá empregar sempre para qualquer gesto, considerando que as crianças aprendem também por imitação.

d) O movimento dos braços – empunhadura da bola e golpe com uma das mãos – é aprendido mais rapidamente sem maiores dificuldades. Observa-se, entretanto, que é mais cômodo e preciso golpear a bola com a mão ligeiramente fechada, com rotação do punho (em pronação).

e) O movimento global – considerar o saque para o iniciante como um primeiro obstáculo a superar no vôlei. E que tal aprendê-lo de uma forma global, isto é, como um movimento único? Se assim considerarmos, recomenda-se iniciá-lo de maneira que a aluna possa realizar um pequeno “giro” do tronco sobre a sua base (pés): ela se situaria, inicialmente, paralela à rede e realizaria um movimento conjunto de braços e tronco lançados, começando da direita para a esquerda (destros), girando até a direção desejada da quadra até o golpe na bola, que poderá ser “preso” (sem soltá-la da outra mão). Este giro substituiria, num primeiro momento, a ação rápida do braço que toca a bola, que muitos acham, erroneamente, tratar-se de um movimento de força.

Exercícios.  1) “Jogo de saques”- competição entre equipes; uma realiza os saques e, a outra só recepciona. Pontuação e revezamentos a critério da professora. 2) “Saques no alvo” – direcionar os saques para alvos colocados em diferentes posições e alturas; aproveitar os já existentes.

Utilização tática. As novatas talvez não tenham a exata compreensão do que seja colocar um saque numa determinada jogadora ou local da quadra. Com o desenvolvimento do saque com salto e cortada (“viagem”) muito difundido entre os atletas de alto nível, o ensino do saque por baixo restringiu-se à iniciação propriamente dita. Hoje, ninguém se atreveria a executá-lo, pois se trata de algo ultrapassado. Nas equipes principiantes federadas generalizou-se o uso do saque tênis, cujo movimento se assemelha ao serviço do esporte que lhe dá nome. Neste pequeno capítulo vamos nos referir à importância do saque e o que representa para uma equipe, não importa de que forma seja realizado. Procurarei destacar os aspectos táticos e sua representação no desenvolvimento e, muitas vezes, no resultado de um jogo, especialmente entre principiantes.

1. Lançar a bola para o outro campo de jogo no momento do saque, observada a respectiva regra, é suficiente para reiniciar o jogo e todos se divertirem. Entretanto, quando se inicia a “competição, as atletas começam a descobrir alguns detalhes que levam ao despertar tático inerente à qualquer disputa: percebem que alguns lances realizados sobre determinadas atletas acarretam erros com mais facilidade e, em consequência, acumulam pontos para a sua própria equipe. E este momento tem início a partir da primeira manifestação de ataque do jogo: o saque. Quando as crianças começam a dominar a sua técnica de execução, começam a dirigi-los sobre alvos pré-determinados, que pode ser uma determinada jogadora ou uma zona especial da quadra que dificulte a sua recepção ou mesmo o passe para o levantamento.

2. “A toda ação corresponde uma reação igual e contrária”, é uma lei física. Aqui no nosso caso também pode ser aplicada. Toda vez que treinamos uma forma de sacar estamos, ao mesmo tempo, nos exercitando na forma de defendê-lo ou passá-lo à levantadora nas melhores condições. Se uma atleta coloca o saque em jogo simplesmente cumprindo a regra, não importa de que forma, a outra equipe tem um antídoto para ele, isto é, já foi segura e exaustivamente treinada a sua recepção. TODAS, com raríssimas exceções, sacam da mesma forma. Então, quando treinam os saques, com certeza treinam também a recepção. Como todas sacam da mesma forma, todas deveriam recepcionar sem maiores dificuldades. Acontece que as treinadoras, elas mesmas, se encarregam de especializar as passadoras, tal como acontece no alto nível. A esse respeito recordo de treinos de seleção brasileira feminina (talvez no início dos anos 90) antecedendo jogos amistosos contra a equipe cubana, reconhecida mundialmente pela força de ataque e de seus saques. Em nenhum instante houve exercícios de recepção com a utilização de tais saques, muito pelo contrário, as ações limitavam-se a colocar a bola em jogo sobre as atletas que não possuiam esta técnica. Dias depois, assisti pela televisão um verdadeiro desastre, como não poderia deixar de ser. Creio que faltou combinar com as adversárias como deveriam sacar.

3. O saque deve criar uma dificuldade para quem o recepciona – após a fase inicial de somente colocar a bola em jogo, deve-se aprender a dirigir o saque para qualquer direção da quadra e obter segurança nesse procedimento. É uma opção tática que a equipe deverá dispor sempre com excelentes resultados. Em cenas de jogos na TV já puderam observar como o Bernardinho orientava as atletas da seleção brasileira quanto à colocação dos saques na quadra adversária. Utilizava um diagrama, dividido e numerado para as seis posições regulamentares de rodízio, indicando para a sacadora a posição ou a jogadora adversária para onde deveria ser dirigida a bola. Quando existe uma jogadora que sabemos não possuir uma boa recepção de saque, inevitavelmente a equipe adversária deve explorar esta situação. Isto acarreta pontos diretos, dificuldades e até mesmo, incapacidade de ataques.

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4. O saque deve provocar um problema para a equipe adversária – além das situações vistas acima, podemos também usá-lo com objetivos táticos que minimizem ou neutralizem as situações de ataque de uma equipe. É o caso, p.ex., de saques curtos, próximos à rede, ou na saída da rede (posição 2, ataque-direito). Em outro momento, até mesmo um saque alto, no fundo da quadra, com queda da bola junto à linha de fundo, dirigido para a posição (1) (defesa-direita) tem o seu valor pelos transtornos que provoca na equipe, uma vez que, geralmente, não estão treinadas, isto é, não têm soluções imediatas para tais situações (passes longos). Notem que no vôlei de praia, estes dois exemplos têm muita valia, particularmente na categoria feminina, até pelo desgaste físico que provoca ao longo da partida.

Conceito. A adversária pode até pegar e passar bem o saque, entretanto, seu desgaste físico (especialmente na praia) para a tarefa é inegável e cumulativo, o que a prejudica em todas as futuras ações, quaisquer que sejam elas. É bem provável que sua intervenção imediata de ataque seja a parte mais prejudicada, produzindo erros sucessivos. “Não está treinada para esta situação”. E o que houve para isso? Simplesmente, com um inofensivo saque por baixo colocamos a bola aonde queremos, com bastante precisão; como as atletas não treinam recepção destes saques – ninguém os executa em treinamento – certamente não saberão recepcioná-los adequadamente em jogo. Até por que as equipes estão arrumadas taticamente para recepções de saques que já conhecem. Dessa forma, compete à aluna esperta aprimorar-se nos saques e, entre eles, o por baixo, que pode lhe dar muitas alegrias na sua vida esportiva por muito tempo. As providências táticas são similares às do ataque sem cortada.

Voleibol na Escola (I)

Voleibol vs. Queimada

Historicamente sabemos que existem e também são colocadas muitas dificuldades para o ensino do voleibol nas escolas, desde condições materiais às premissas de que as próprias crianças ainda não reúnem as condições psicomotoras necessárias para um satisfatório rendimento das aulas. Então, o futebol e o jogo queimada passam a ter prevalência por comodidade. Para desfazer alguns rótulos, proponho um acompanhamento mais detalhado e profícuo dos pontos abordados neste trabalho, que não tem fim. Ele apenas começa aqui. Deixo minha certeza de que o profissional de Educação Física é o ÚNICO que reúne as condições para ministrar aulas e treinamentos pertinentes à sua área de atuação. Contudo, é importante que esteja preparado e assim o queira. Inicialmente, os conselhos dados dizem respeito a anotações práticas entre aulas para colegiais e não em treinamento competitivo. E uma advertência. O discurso que se segue é, obviamente, tanto para estudantes de sexo masculino quanto do sexo feminino, até por que em nossa língua as expressões neutras são ”válidas e tendenciosas” para o sexo masculino. Não vai nesse uso gramatical qualquer discriminação de sexo. Limito-me a fazer sempre a preferência pelo feminino, até como uma homenagem às mulheres e, especialmente, às “minhas primeiras  professoras”. A elas se destinam os conselhos nesta pequenina obra. Mas valem também para as vestibulandas e alunas das universidades, a quem gostaria que entendessem melhor como funciona a alquimia dessas minhas questões. Esclareço que este ensaio trata apenas de uma série de considerações a respeito da maneira de apresentar uma situação de voleibol aos alunos. Fique claro, igualmente, que não estarei dizendo a ninguém o que colocar em pauta. Isto ocorre por conta de cada um. O tipo de questões a que me refiro é o que se efetua com certeza nas faculdades de Educação Física. Dado que minha experiência é limitada, é natural que a maior parte dos exemplos se refira a temas já estudados. Então desperto para algumas questões que constituem óbices a uma boa iniciação e devem ser enfrentadas de modo que o jogo se torne animado e divertido. Assim, participe!

Conhecendo suas alunas – Emoção e inteligência andam juntas[1]

A célebre frase “Penso, logo existo”, de René Descartes, ganhou nova versão: “Sinto, logo existo”. Os estudiosos asseguram que a emoção, por mais contraditório que pareça, pode e deve ser utilizada no ambiente em que se vive, como forma de alcançar melhores resultados, seja qual for a sua área de atuação. Estamos acostumados com a emoção sendo uma coisa dissociada da razão. A maioria das situações que enfrentamos no dia a dia, no entanto, não tem fundo lógico, mas emocional. Atualmente, nas mais diversas atividades, valoriza-se muito mais a capacidade que temos de crescer como equipe. “Quem é pouco inteligente emocionalmente tem dificuldades de colaborar e de crescer com o grupo”. Na prática, o que identifica uma pessoa emocionalmente inteligente é a existência de um forte senso de equipe, que permite que as diferenças pessoais e conflitos sejam amplamente utilizadas para maximizar resultados. Mas não é apenas a capacidade de trabalhar em equipe que torna uma pessoa inteligente emocionalmente. Mesmo porque o conceito de emoção inteligente é razoavelmente novo em nossa cultura e é preciso reavaliar antigos ensinamentos que levavam a crer que razão e emoção têm que andar separadas e que a emoção só atrapalha a razão. Para isso, o primeiro passo é reaprender a identificar as emoções e não mais ignorá-las.

Quadro emocional – Consiste na utilização de quadros com fotos dos participantes de uma equipe afixadas, onde pinos coloridos indicam o estado emocional de cada um, dia após dia. Uma atleta que esteja sentindo-se mal emocionalmente escolhe e coloca o pino vermelho ao lado de sua foto. O verde indica bem estar e o amarelo alerta. A intenção é deixar todos à vontade para expressar suas emoções, não apenas para as colegas de equipe, como também para a equipe técnica. De acordo com o indicativo oferecido, pode haver, inclusive, alteração da rotina de exercícios ou de jogo. Tarefas que possam requerer grande atenção não são indicadas, p.ex., para alguém que tenha alertado com o sinal vermelho, uma vez que pode estar sujeita a cometer erros. Esta técnica deve ser usada em todos os escalões da equipe.

Valorização das emoções nas atividades – É muito mais fácil e produtivo lidar com alguém quando se conhece o seu estado emocional. Quando se fala da emoção ela deixa de ser “tabu”. Identificada a emoção, é preciso aprender a gerenciá-la. É neste momento que começa a parte mais delicada do desenvolvimento da inteligência emocional. “Os estímulos do cotidiano têm influência no âmbito emocional. Em geral, acredita-se que a cada estímulo corresponde uma resposta no mesmo nível. Mas é possível criar respostas diferentes do estímulo”. Em outras palavras, aprender a racionalizar a emoção ou a processá-la de forma inteligente é a chave do que os especialistas chamam de inteligência emocional. Ao perceber-se diante de uma situação de conflito ou tensão, uma atleta emocionalmente inteligente não se deixa levar pelo impulso, nem “paga na mesma moeda”. Busca detectar que tipo de resultado atingirá com as variadas reações que possa perceber e escolhe a que mais se adequa ao resultado a que se quer obter. Não se trata de dissimular emoções ou reprimi-las, mas de aprender a expressá-las adequadamente. Observa-se que quando a emoção das integrantes de uma equipe é levada em consideração, os resultados são, em geral, mais positivos. Para os psicólogos, são justamente as líderes de uma equipe que mais necessitam de orientação neste sentido. “Tem que haver programas voltados para a equipe técnica, que é quem gerencia a equipe. Essas pessoas precisam, antes de qualquer um, a aprender a lidar com as suas emoções”. Observa-se, ainda, que as pessoas mais antigas têm mais dificuldade de lidar com as próprias emoções e também com as emoções alheias. Já as mulheres, em particular, demonstram inteligência emocional mais desenvolvida do que os homens. Para identificar uma atleta emocionalmente inteligente dentro de uma equipe é simples: “basta detectar aquela que atrai pessoas e cativa a confiança com facilidade. As grandes líderes são emocionalmente inteligentes porque escutam muito, têm direção e sabem comunicar com muita elegância”.

Métodos de avaliação – Esta avaliação começa a ser levada em consideração, embora ainda de maneira tímida. No caso de uma candidata à liderança (a levantadora, p. ex.) é fundamental que seja submetida a atividades em grupo que permitam avaliar sua criatividade, capacidade de interação, de agir e reagir. Características a serem consideradas: 1. Conhecimento das próprias emoções; 2. Sensibilidade para reconhecer as emoções alheias; 3. Conhecimento das formas de expressão de emoções mais adequadas a cada circunstância; 4. Habilidade para trabalhar em grupo; 5. Capacidade de cativar a confiança das demais no ambiente de atuação.

 [1] Com base no artigo de Letícia Kfuri, “Emoção e inteligência andam juntas”, Jornal do Commércio, 21/5/2.000.

Jornalista e Repórter da Fivb?

Jogos Olímpicos da Juventude: você é jornalista e quer ser repórter da FIVB?

A Federação Internacional de Voleibol (FIVB) acaba de lançar o concurso «Young Writers 4 Young Players competition» (Jovens Escritores para Competições de Jovens), tendo em vista a cobertura jornalística dos Jogos Olímpicos da Juventude, a realizar-se de 14 a 26 de agosto de 2010, em Singapura.
O concurso, destinado a jovens inseridos na faixa etária dos 18 aos 21 anos, foi criado para proporcionar a dois jovens jornalistas (um rapaz e uma moça) a experiência de fazerem a cobertura de uma competição internacional tão importante e interessante como os Jogos Olímpicos da Juventude.
Os dois vencedores do concurso irão trabalhar em colaboração com os elementos do Departamento de Imprensa da FIVB destacados para o evento, ficando a sua viagem e o seu alojamento a cargo da entidade. Para poderem participar os interessados terão de enviar um artigo sobre a prática do Voleibol nas camadas jovens do seu país de origem até ao dia 1 de abril de 2010.
O texto deve referir-se ao concurso «Young Writers 4 Young Players competition» e ser enviado para press@fivb.org Este endereço de e-mail está protegido de spam bots, pelo que necessita do Javascript ativado para ser visualizado. Os participantes devem possuir a carteira de jornalista ou, em alternativa, uma carta de apresentação do Editor-Chefe de um meio de Comunicação Social. 

(Texto reproduzido do site português Sovolei: www.sovolei.com)

Treinamento de Canhoto – I

Aprender a pensar

“Preocupo-me com a matemática nos currículos do secundário e tenho uma idéia ‘fora de moda’ acerca do seu objetivo; primeiro, e acima de tudo, ela deveria ensinar os jovens a PENSAR”. (Pólya)

Recordo-me do Bené (Benedito Silva), um pequeno grande apologista do voleibol arte, treinador de crianças do Fluminense F. C., iletrado, que dizia referindo-se a um de seus pequenos atletas: “Para ele temos que dar alguma inteligência”. Podem não concordar inteiramente, mas presumo que concordarão com isto até certo ponto: seria o equivalente aos postulados de Vigotski quanto à “zona de desenvolvimento proximal”. Se não consideram que ensinar a pensar é um objetivo prioritário, podem encará-lo como um objetivo secundário e teremos pontos comuns suficientes para a discussão seguinte. São famosas as queixas a respeito da falta de uma base sólida de ensino no país quando uma equipe não obtém sucesso em competições internacionais. Dizem os técnicos: “Como é possível realizar um trabalho de alto nível se os atletas ainda apresentam deficiências técnicas elementares”?

Em 2003, constatei algo similar ao visitar o centro de treinamento de uma de nossas seleções. Agendei o encontro com o treinador para discutirmos a respeito do aproveitamento do único atleta canhoto. Tinha para mim que ele poderia desenvolver-se mais ainda, apesar de sua condição de titular absoluto e um dos melhores atletas mundiais. À primeira vista poderia parecer muita pretensão, mas tinha convicção e pleno conhecimento de causa, pois fui considerado um dos melhores atacantes canhotos de minha época, muito embora não fosse sinistro. Do diálogo com o treinador resultou na afirmação: “Não há tempo para fazer qualquer reparo técnico na sua formação”. Traduzindo: Deixa como está! Confesso que saí de lá frustrado, pois não pude colocar minhas considerações. Por outro lado, muito feliz por ter-me esforçado, sem medo de errar e escoimar-me do assunto. Por fim, seis anos depois, tomara que o atleta tenha mantido pelo menos a sua performance costumeira (não melhorou) e que os adversários contribuam para tal. Este fato me despertou a atenção para a seguinte indagação: “Será que sabemos transmitir a melhor técnica de ataque para um atleta sinistro”? Veja a historinha a seguir.

Há muitos anos – início de 1992 –, durante a realização do I Circuito de Vôlei de Praia do Banco do Brasil realizado em Niterói, encontrei-me com um ex-atleta de seleção brasileira, mineiro, ligado à direção do Minas Tênis Clube, de Belo Horizonte (MG). Como atuamos na mesma época, conhecia-me profundamente, inclusive considerava-me um atleta versátil e técnico. Como todos, achava também que era canhoto. A certa altura da conversa, indagou-me: “Você não poderia dizer-me como treinar um canhoto”? E explicou: “Trata-se de um rapaz ainda juvenil no Minas, com 2m de altura e bastante potencial a ser desenvolvido”. Disse-lhe que nunca encontrei quem efetivamente soubesse treinar um canhoto e que, eu mesmo me treinara. Assim, só haveria uma resposta: “Leve-me até ele ou traga-o para cá”. E mais não foi dito. Tratava-se de André Nascimento, que viria a se tornar um dos mais eficientes atacantes do voleibol internacional. O mesmo a quem me reporto no texto anterior. Não me recordo se em 2006 ou 2007, passeando pelo Shopping Beira Mar, em Florianópolis (SC), encontrei este atleta com a namorada e não me furtei em apresentar-me e dizer-lhe: “Parabenizo-o por suas performances, mas acho que poderia melhor se aprimorar”. Deve ter-me achado um louco. Contudo, pouco tempo depois, visitando o centro de treinamento em Saquarema, pudemos dar boas gargalhadas a este respeito.

Ainda sobre a formação técnica de um atleta canhoto, tive uma experiência bastante proveitosa em 1970, quando dirigi a equipe masculina do Tijuca Tênis Clube, do Rio de Janeiro. Nesta época, treinávamos somente as terças e quintas-feiras, das 20h às 22h. Após dois ou três treinos, apresentou-se-me um atleta que já atuara no clube em outra ocasião, talvez na divisão juvenil. Tinha estatura mediana – talvez 1,80m – forte, com excelente impulsão e… canhoto. Disseram-me seus colegas tratar-se de um atleta “meio-maluco”, isto é, tanto podia realizar portentosos arremates certeiros, como finalizações medíocres; simplesmente, ninguém sabia o que poderia acontecer quando era solicitado numa partida. Tecnicamente, era inconfiável. Nos primeiros ensaios deixei-o à vontade, procurando esmiuçar seu comportamento, dando-me a conhecer e buscando ainda a credibilidade do grupo. Quando julguei oportuno, aproveitei a oportunidade para insinuar-me mais concretamente sobre sua técnica de arremate. Realizávamos um coletivo quando ele não teve sucesso num ataque; neste momento, interrompi o ensaio e disse-lhe porque errara e como deveria proceder. Incontinente, retrucou com autoridade: “Você esqueceu que sou canhoto”? Como se me dissesse “Para me corrigir há que saber fazê-lo (com a mão esquerda)”! Este era o momento que esperava. Pedi-lhe que se afastasse da quadra e olhasse com atenção o que eu faria. Mandei que reiniciassem o coletivo e que a bola me fosse lançada, como no lance em que participou. E assim, pude mostrar-lhe na prática como proceder e ter sucesso, uma vez que sempre realizei ataques preferencialmente de esquerda, embora não seja sinistro. A partir dali estreitamos nosso relacionamento e conseguimos o que parecia impossível: o seu aprimoramento técnico. Mais adiante, numa partida contra o Fluminense, no seu ginásio nas Laranjeiras, vencemos de 3 sets a 2. Este rapaz atuou primorosamente, só tendo errado um ataque, ainda assim porque a bola não estava adequada ao arremate com a esquerda e, ao tentar com o outro braço, conduziu-a. Imagino que ele também jamais tenha esquecido esta façanha e, espero, tenha aproveitado a lição para aplicá-la no seu dia-a-dia.

Simpósio Mundial de Voleibol na Escola

Considerações sobre o Simpósio no Canadá

A Fivb e a federação canadense de voleibol organizaram um Simpósio (23-27/6/2007) para discussão de aplicativos e técnicas de ensino a serem desenvolvidas nas escolas. Participaram representantes das federações nacionais de oito países que discorreram sobre oportunidades das atividades para os alunos. O intuito da Fivb é estimular novas ideias, ou seja, criatividade sobre o tema. Pelo lado brasileiro, creio que estamos muito longe disso. 

Veja a íntegra em www.fivb.org/Programmes/VolleyballatSchool

Foi estabelecido um programa com quatro diferentes formatos:

  • Leitura: apresentação descritiva das características do sucesso dos programas nacionais.
  • Demonstração prática: apresentação em ginásio ilustrando o programa e suas perspectivas práticas.
  • Workshop: uma sessão no ginásio envolvendo participação ativa com os representantes.
  • Seminário: rodada de discussões com os principais experts (prática e oral).

O representante brasileiro foi o Professor Newton Santos Vianna Júnior, que fez um relato sobre as características e o desenvolvimento do esporte escolar no Brasil com ênfase no Programa Vivavôlei da CBV.

COMENTÁRIO: Ninguém inventa nada se for servil ao conhecimento passado.

Pelo visto continuam a repetir os mesmos erros. Não há criatividade, a metodologia está estagnada há muito e não se apercebem que as crianças de qualquer nacionalidade não se importam em aprender as técnicas do jogo, mas querem apenas BRINCAR. No que tange à formação dos professores, especialistas ou não, estes dificilmente terão condições práticas para desenvolverem algum trabalho consistente por dois motivos: o deficiente ensino universitário e os cursos de formação no País. Há uma constante e nociva influência de se pretender formar atletas, prospectar talentos, o que reduz o número de adeptos e praticantes. Quanto aos verdadeiros educadores, acautelem-se: “A dúvida nos ensina o caminho da busca de querer ser para dentro, diferente da ilusão e fascínio de querer ter e mostrar para o mundo o que se tem”.

Importância da Dúvida. No ensaio “A Dúvida” (Relume Dumará), o filósofo tcheco Vilém Flusser diz que “duvidar é um estado de espírito que pode significar o fim de uma fé ou o começo de outra. Em dose moderada, estimula o pensamento. Em dose excessiva, paralisa toda atividade mental”.

Voleibol Escolar na “Ilha Encantada”

Mensagem ao presidente da Federação Maranhense de Voleibol, ao “Grupo do Vôlei” e aos professores da rede pública estadual. 

Prezado Biguá,

Estou de volta ao seu blogue. Fiquei pesaroso pela notícia do falecimento do Nereu, meu amigo de longa data. Que o Senhor o tenha na sua PAZ e que conforte sua família e amigos.

Atendendo ao seu convite… “Estivemos reunidos (FMV e Grupo do Vôlei)  no Colégio Educator (…) estamos  aproveitando a oportunidade para convidar alunos dos cursos de Educação Física, das escolas particulares e da UFMA, técnicos formados, capacitados…” Tecerei alguns comentários como contributos ao “planejamento” que poderão realizar para o desenvolvimento da modalidade. E a partir das primeiras avaliações, estender o projeto para o estado. Os senhores, melhor do que ninguém saberão como proceder. Encarem minha participação como um ato de compartilhamento, de vontade de ajudar.

Tenho mantido breve diálogo com o Leopoldo Vaz no (no CEV) a respeito do desenvolvimento do voleibol no Maranhão. Aproveitei e dei uma lida em outras postagens suas. Interessei-me pela notícia da reunião com o Grupo do Vôlei e com a implantação dos centros Viva Vôlei. Acrescento que há algum tempo acompanho o vôlei escolar em São Luis através do blogue do Colégio O Bom Pastor, editado pelo Professor Cláudio José Reis de Brito, um dos integrantes daquele grupo. Muito tempo já passado, também entabolei conversações com o Professor Geraldo Magela a respeito do emprego do mini voleibol escolar. Percebo um excelente clima de cooperação entre os interessados. Como também é esta a minha intenção, atrevo-me a compartilhar minhas experiências no ramo e, certamente, enriquecer-me.

Numa das minhas primeiras participações no blogue do “Bom Pastor” reparei que o vôlei estava sendo desenvolvido “apenas” entre escolas particulares. Além disso, havia ruídos em relação aos JEMs, alguns problemas de gestão (e possivelmente de interesses) impediam uma abrangência maior. Quando indaguei ao Professor Cláudio sobre a “quantidade” de alunos que participavam dos jogos, ou mesmo das atividades na escola, ficou de realizar um levantamento e responder-me em seguida. Creio que não houve tempo para fazê-lo devido às suas múltiplas atividades. Mas, por comentários de terceiros, cheguei à conclusão de que o universo de praticantes é restrito, inclusive com velada discriminação à participação de alunos das escolas públicas. Estas, com problemas não resolvidos pelos gestores públicos, que agora se propõe a prestigiar e organizar os JEMs. Imagino que o apoio da Federação se dará basicamente com mera divulgação, o que sem dúvida poderá facilitar a obtenção de algum patrocínio. Creio ter lido comentário sobre a situação financeira que, como todas as demais federações, carecem de verbas que a CBV não repassa. Por outro lado, a implantação de centros Viva Vôlei em todo o estado é um assunto deveras delicado pelo valor a ser despendido na operação. Além do mais, uma vez que está voltado para atender a “crianças carentes”, certamente serão instalados em escolas públicas, repletas de problemas. Que uso seus professores farão dos equipamentos? Os cursos de formação de instrutores oferecidos estão muito aquém do que é preciso para lidar com crianças que precisam muito mais do que se exercitar numa redinha de voleibol. Existem outros meios muito mais econômicos para atender esta população desassistida, inclusive aos seus professores, pessimamente remunerados. Informo ao prezado presidente que tive experiências gratificantes ao realizar curso de formação para professores de escolas públicas no Rio e, solidariamente, coloquei-me à disposição da Secretaria Municipal para acompanhá-los em seu trabalho nas escolas, dando-lhes apoio pedagógico e moral. Sozinhos jamais conseguirão chegar a bom termo naquele mister. A criação de meu site – www.procrie.com.br – é o testemunho desta minha preocupação: prestar serviço pedagógico a quem estiver interessado.  

O Leopoldo Vaz colocou no CEV um apelo feito pela Professora Clherismar e do “grupo da rede municipal” no sentido de obter assistência técnica voltada para “implementar as práticas esportivas”. Diz ele, ainda, que aguarda o resultado da reunião realizada na AABB com dirigentes da Federação e representantes do “grupo do vôlei”, ao tempo que me apresenta àquela professora consigna minha intenção de ajudar no que for possível. Veja a seguir o texto completo postado no CEV.

Atletismo Escolar – Como Planejar?

Prezado Leopoldo, Apreciei deveras o texto acima e o convite aos professores a planejar e participar de atividades escolares mais condizentes e profícuas. Algumas entidades internacionais estão apresentando “programas” para escolares, no intuito de angariar mais e mais adeptos. No caso da CBAt, conheci seu presidente há muito quando ainda militava no desporto universitário, através dos programas de iniciação deflagrados pelo SESI Nacional, a partir de sua sede no Rio de Janeiro. Pessoa inteligente, educada e de muito valor moral. Nesta época, fui coordenador de voleibol dos programas realizados principalmente no Nordeste e lancei as bases de um plano nacional para o ensino do voleibol PARA TODOS: o Mini Voleibol. Creio que estava muito à frente do meu tempo, pois somente no ano seguinte (1975), a FIVB realizou o I Simpósio Mundial de Mini Voleibol (Suécia), ao qual compareci e realizei palestra. Durante anos fui a única voz que clamava neste deserto de “cabeças” (dirigentes) do esporte. Mesmo amigo do Nuzman, pouco consegui. Fiz muita coisa solitariamente na “minha praia”, em Niterói e no Rio. Tornei-me referência na área na comunidade do voleibol carioca. Somente muitos anos mais tarde, o Ary Graça convidou-me para coordenar tecnicamente o programa Viva Vôlei da CBV. Desliguei-me em seguida, pois se opunham questões filosóficas e mercantilistas. Bem sabe de minhas participações neste CEV, pois me recomendou em blogues de seus colegas maranhenses para que participassem das discussões acerca da iniciação do voleibol, tema que dei partida para discussões. Parece que os colegas não se interessaram. Vejo agora que nos conclama com grande apetite: (…)  Mãos à obra… depois podemos trabalhar com o Grupo de Voleibol, com os amigos do Handebol,… ”Quando chegar a vez do Grupo do Voleibol, caso haja interessados, estarei pronto para colaborar e a servir no que for preciso. Aliás, coloquei “no ar” um novo blogue exatamente neste sentido, cujo endereço é www.procrie.com.br (em fase experimental). Trata-se do PROJETO DE UM CENTRO DE REFERÊNCIA EM INICIAÇÃO ESPORTIVA virtual, que poderá ter a participação de qualquer interessado. As premissas pedagógicas já estão ali para serem discutidas, criticadas e, se aceitas, colocadas em ação. Espero contar com sua divulgação e, quando fizer sua visita, deixe o seu comentário, bastante importante para mim devido à sua experiência e valor incontestável. Parabéns uma vez mais pela iniciativa e tomara que os seus sonhos se realizem. Roberto Pimentel.

Acrescento trecho de informações pertinentes sobre a situação do esporte colegial em São Luís, extraídas do próprio blogue do Leopoldo, em 4.2.2010, que imagino seja do conhecimento de todos.

“Oliveira Ramos
Ótima pergunta a se fazer aos dirigentes atuais do Atletismo maranhense. Onde anda a Federação? Onde anda a SEJUSP? Onde andam os professores de educação física? Esses sei que estão nas escolas, mas tão sem condições de trabalho que dá pena! Quando algum quer fazer uma coisa, mínima que seja, para dar conta do salário que recebe, tem pelo menos 10 outros dizendo que não dará certo e envenenando as direções, dizendo que só quer aparecer… pois pelo mínimo que façam, aparece como um grande trabalho, pela nulidade do trabalho dos outros – nenhum! Essa nossa realidade… mormente depois que a política de valorização das escolas particulares, com as mudanças implementadas a partir da administração do meu amigo, Emilio Moreira – Judô – na Coordenação dos JEMs… valorização e preferência das equipes de escolas particulares, onde as escolas publicas foram alijadas… de qualquer disputa… ‘roubo’ de atletas – os bons – das escolas públicas, com ofertas de bolsas nunca completas e depreciativas, desses alunos-atletas – não conseguem se adaptar`ao novo status de ‘menino riquinho’ – vide o caso do Tião, da Nildes e de tantos outros… se entusiasmaram com os bem de vida e não tenham nem onde morar – aquela não era a sua vida… sem apoio psicológico a essas crianças… Hoje, é o Bolsa Atleta, em que parte dos recursos auferidos pelos alunos-atletas é ‘dividido’ com o técnico… posso citar casos…mas é isso aí, onde tem trabalho, aparece…”

Enquanto aguardo a manifestação da Professora Clherismar, coloco-me em expectativa para conhecer (se me for permitido) as deliberações traçadas na reunião da AABB.

Entre algumas contribuições que posso lembrar, recomendo a leitura do artigo “Mini voleibol na escola” postado em www.procrie.com.br/minivolei   Estou dando ciência ao Leopoldo e ao Cláudio José do teor deste texto, enquanto reitero todo o meu apoio aos que desejam sinceramente a melhoria do ensino no estado. Roberto Pimentel.

Tecnologia e Voleibol

Um dos grandes desafios que aceitei há algum tempo foi o de “ensinar voleibol pela web”. Um dos meus interlocutores desafiou-me afirmando ser totalmente impossível a tarefa: “Como ensinar a alguém dar um toque na bola se está a quilômetros de distância”? Resolvi então investir na criação deste blogue e compartilhar ideias e conhecimento com professores estejam onde estiverem. A tecnologia nos favorece nesse contato, como atesta a reportagem que reproduzo com muito carinho. Será que levarei de vencida o desafio? Certamente que preciso de vocês, pois sozinho não conseguirei!

Descobri ainda que esteja atualizado em Tecnologia da Informação (TI), haja vista a excelente matéria publicada em Veja (25.3.2009), de Caio Barretto Briso, Kleyson Barbosa, Luís Guilherme Barrucho e Sofia Krause, sob o título “Escola do futuro: Quem vai ensinar – e o quê – ao aluno do século XXI”, que trasncrevo a seguir.

O novo aluno: domínio tecnológico, desafio pedagógico. O desafio da escola: manter-se indispensável .

A facilidade com que os alunos interagem com a tecnologia também impôs uma mudança de comportamento em sala de aula. Hoje, já não é exclusividade dos mais jovens manter blogs, atualizar perfis em redes sociais ou bater papo com amigos na internet. A geração digital passou a exigir que o professor fizesse o mesmo – e ele está mudando pouco a pouco. Os motivos são claros. Em um mundo onde todos recorrem à rapidez do computador, nenhuma criança aguenta mais ouvir horas de explicações enfadonhas transcritas em uma lousa monocromática. “A tecnologia faz parte do cotidiano de todos os jovens. Os alunos esperam que o professor se utilize disso em sala de aula. Seu papel mudou completamente, mas continua essencial. Ele guia o processo de aprendizagem, sendo o elo entre o aluno e a comunidade científica”, afirma Linda Harasim, professora da Universidade Simon Fraser, em Vancouver, no Canadá. O problema é, justamente, adaptar a tecnologia ao conteúdo pedagógico. É consenso entre os especialistas que não basta apenas investir em laboratórios, salas multimídia e projetores de luz. Muitas escolas, mesmo aquelas que gastam rios de dinheiro em equipamentos de última geração, deixam de lado o treinamento dos professores. Sem mudança na metodologia, as novas ferramentas são subtilizadas. “Passamos praticamente uma década do novo milênio e nosso modelo educacional ainda reflete a prática dos séculos XIX e XX. A internet ainda é usada, geralmente, como tampa-buraco ou enfeite nas salas de aula tradicionais”, acrescenta Harasim.

O professor de informática Jean Marconi, de Brasília, acompanhou de perto a dificuldade imposta pelos novos recursos tecnológicos. Quando o colégio onde trabalha investiu pela primeira vez em equipamentos digitais, a direção não se preocupou em desenvolver um novo método de ensino nem capacitar os professores. Marconi aproveitou a formação em tecnologia da educação e propôs à escola treinar seus colegas. Hoje, segundo ele, todos já têm contato com as novidades e criam projetos para suas próprias disciplinas. “O colégio tinha a proposta, mas andava a passos lentos. Fui, então, de professor em professor despertando a curiosidade. Consegui que houvesse uma integração entre o conhecimento do educador e a tecnologia. Mas há alguns que ainda têm medo de mexer com essas ferramentas”. Para a pedagoga Sílvia Fichmann, coordenadora do Laboratório de Investigação de Novos Cenários de Aprendizagem (LINCA) na Escola do Futuro da USP, um dos motivos pelos quais os professores ainda resistem em utilizar a tecnologia é o receio de perder o posto de detentor único de conhecimento. “A internet rompeu com uma série de paradigmas. O professor, hoje, tem de se conscientizar de que não sabe tudo e precisa ser muito mais parceiro do aluno na busca pelo saber”, afirma. Sílvia diz que não é fácil lidar com as novas ferramentas, mas cabe ao educador coordenar e orientar as tarefas. “O problema é que existem três tipos de professor: os que preferem o método tradicional, aqueles que não sabem utilizar a tecnologia e, finalmente, os que se adaptaram ao novo contexto. Eles convivem em uma mesma sala de aula, o que impede a adoção completa da tecnologia”, completa.

Lousa interativa – As novas ferramentas nunca preocuparam a professora de Ensino Fundamental Éride Rosseti, de São Paulo. Com 32 anos de magistério, a educadora assistiu a passagem do quadro-negro para o magnético e maneja, agora, sem problemas a lousa interativa, que permite salvar as tarefas feitas pelos alunos, além de exibir imagens, músicas e vídeos. Incentivada pelo colégio, ela participa de cursos de capacitação e é usuária da comunidade virtual da escola, na qual posta comentários sobre as aulas e exercícios de fixação. “Com a tecnologia, posso interagir com os alunos em tempo real. É uma forma de eles não se sentirem sozinhos quando estão fazendo a lição em casa. As crianças adoram e o professor tem de cumprir o papel social de abraças as novas tecnologias”, diz. Criar um blog foi a alternativa encontrada pela professora de ciências carioca Andrea Barreto para incentivar o hábito da leitura entre seus alunos da rede pública. Sem recursos, ela criou um espaço virtual, no qual os jovens podem tirar dúvidas e participar das discussões feitas em sala de aula. “Percebi a necessidade de ensinar dentro desse novo contexto depois que vi o desinteresse dos alunos. Mesmo os alunos mais carentes acessam a internet das lan houses e isso aumentou o rendimento”, observa.

Mas a educação high-tech também oferece riscos, sobretudo devido à variedade de informação presente na web. Com a experiência de quem mantém um blog, tem conta no Orkut e usa diariamente o MSN, o professor de química Paulo Marcelo Pontes, de Recife, diz que não há como evitar que um aluno deixe de acessar bate-papo ou qualquer outra ferramenta disponível na rede. “Competir com isso traz mais desestímulo do que satisfação. O professor tem de produzir materiais e conteúdos que façam os estudantes participarem ou se interessarem pelo que está sendo divulgado”, conclui.

Experiências e Recompensas

Experiências de Internautas. Solução de Problemas 

Registro de experiências minhas e de internautas em suas comunidades. Participe, diga-me o que está realizando ou pensa fazer a respeito. Quer uma ajudinha?

Muitas lembranças ressoam ainda em minha mente, são momentos belos e inesquecíveis. Prometo reavivá-los neste espaço sem a preocupação cronológica. Gosto de escrever quando me brotam estas lembranças e elas não me avisam quando vêm, chegam de surpresa. Parece que o tempo brinca comigo, jogando-me de um lado ao outro. Nestes momentos, sou um mero intérprete de sua vontade! 

Comentários. Os maiores de todos, sem dúvida, advêm dos sorrisos e expressões das crianças com quem tive contato em aulas. Reproduzo alguns deles para que futuramente você mesmo possa ouvi-lo de viva-voz de seus alunos. Tenha um pouco de paciência com meu sentimentalismo:

– “As aulas de educação física tinham que ser sempre assim!” Niterói, RJ

– “Quer vir ser nosso professor de educação física?” Florianópolis, SC

– “Nunca tinha jogado e hoje consegui pela primeira vez.” Uma professora, Rio de Janeiro, RJ

– “Depois do que vi, não sei como dar minha aula amanhã!” Uma professora, Rio de Janeiro, RJ

– “É incrível! Você consegue prever as reações das crianças.” Um professor, Niterói, RJ

– “Você se difere porque dá aula com muito amor.” Diretor da UERJ, Rio de Janeiro, RJ

– “Minha filha mudou completamente, não falava. Agora é outra!” Uma mãe, Niterói, RJ

– “A melhor coisa de Niterói é a vista do Rio; a segunda, este projeto (na praia para 300 crianças).” (de um paulista) Niterói, RJ

Dedicatória. A professora Nilce, que frequentou um Curso de Atualização que realizei para professores do Ensino Fundamental da Secretaria de Educação do Rio de Janeiro obsequiou-me com o livro “Multieducação, Núcleo Curricular Básico” editado pela Secretaria que muito me enriqueceu. Destaco sua impressão que fez consignar na obra: “Mestre Roberto Pimentel,  Tenho certeza que ao ler esta proposta pedagógica, além da identificação com o seu trabalho, o Senhor terá condições de avaliar o quanto o minivôlei irá contribuir na construção do conhecimento de nossas crianças. Sua aluna Nilce, 17.05.98.”

Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. No início da década de 90 apresentei um Projeto à Secretaria de Educação do Rio de Janeiro. Tratava-se de incluir na grade escolar o Minivoleibol com aproveitamento de suas instalações e pessoal praticamente com custos irrisórios. O universo escolar regulava em torno de 600 mil alunos. A introdução se realizaria a pouco e pouco, de acordo com as necessidades da Secretaria. Cursos seriam ministrados aos professores que optassem pelo emprego da modalidade nas respectivas unidades. O Projeto assinalava, inclusive, que o esporte contemplado num primeiro instante tratava-se do voleibol, mas que a pedagogia empregada poderia ser estendida a outros desportos. Notem que não procurei a Secretaria de Esportes por vários motivos, entre eles, o número de alunos, as instalações e, mais importante, os professores já pertencentes às escolas. Além do mais, as crianças já estariam nos locais das aulas, não implicando duplo deslocamento, o que inviabilizaria o processo. O Departamento de Educação Física da Secretaria acolheu o Projeto, examinou e exarou a seguinte avaliação: “Projeto interessante, rico pedagogicamente, que se coaduna com o Núcleo Curricular Básico Multieducação. A atividade básica do projeto é a prática do voleibol de uma forma mais lúdica. Neste sentido, há o favorecimento da participação de todas as crianças, não havendo uma submissão rígida à forma técnica do desporto, possibilitando-se a participação, independente da habilidade individual de cada indivíduo. Em suma, trata-se de uma atividade agregadora cuja metodologia pode ser estendida a outros esportes. A relação custo/benefício pode ser favorável. A Secretaria atenderia inicial e experimentalmente um determinado número de escolas com pouco dispêndio mensal – dentro dos recursos disponíveis – o que pode se tornar uma ação bastante multiplicadora a seguir”. 

Infelizmente não foi efetivado.

Aprender a Ensinar Voleibol

 

Marina Celistre  (1ª à esquerda) e Mário Filho nos Jogos da Primavera do Jornal dos Sports.

O trabalho se acumula e muita coisa quero colocar neste blogue. Percebo que o espaço está diminuto e vejo a necessidade de ampliá-lo para maior conforto dos internautas. Assim, estou diligenciando para acrescentar um novo endereço brevemente. Aguardem. Enquanto isto, tomem conhecimento de algumas das minhas atividades:
1. Técnicas de Ensino do Voleibol

Na mais recente contribuição para os leitores do www.sovolei.com/TempoTécnico (um site português em que sou colaborador), e em especial para os que estão envolvidos na aprendizagem da modalidade , abordo várias vertentes das Técnicas de Ensino do Voleibol. Da pedagogia do exercício, ao esforço e satisfação, passando pelo comportamento emocional e aperfeiçoamento técnico, são alguns dos temas sobre os quais deixo uma reflexão e opinião, aberta à discussão de todos.
2. Modelos de Ensino, Universidade do Porto 

Foi postado no site do CEV (Centro Esportivo Virtual), do qual também participo, um convite à discussão de trabalho orientado pela Professora Doutora Isabel M. R. Mesquita, titular da cadeira de voleibol na Faculdade de Desporto, Universidade do Porto (Portugal) intitulado “Modelos de ensino dos jogos desportivos: investigação e ilações para a prática”. Contou com a colaboração de Felismina R. M. Pereira e Amândio B. dos Santos Graça. Pretendo preparar comentários a respeito.
3. História do Voleibol de Praia no Rio de Janeiro

Estarei relembrando “notícias” sobre o início dos Jogos de Praia promovidos por Mário Filho através do Jornal dos Sports. O primeiro Torneio foi realizado em Copacabana (Posto 4), em 1946, com a “concorrência numerosa de um público entusiasta e seleto, inclusive inúmeras famílias, a presença da maioria em traje de banho de mar, a variedade dos chapéus de sol, o bom gosto que presidiu a ornamentação do ‘estádio’ improvisado na areia, o sensacionalismo dos jogos e o cavalheirismo que imperou tanto dos disputantes quanto da assistência, enfim, tudo se congregou para garantir cem por cento de êxito da festa do volley de praia. A participação da mais alta autoridade desportiva do país, Dr. João Lyra Filho, presidente do Conselho Nacional de Desportos, por si só emprestaria especial importância à festa inaugural do Torneio de Volleyball de Praia, de iniciativa do Jornal dos Sports. Deve, pois, ser apontado como um verdadeiro acontecimento social-desportivo, a festa que marcou a abertura do certame”.
4. Memória e esporte

“A memória ajuda a definir quem somos. Na verdade, nada é mais essencial para a identidade de uma pessoa do que o conjunto de experiências armazenadas em sua mente. E a facilidade com que ela acessa esse arquivo é vital para que possa interpretar o que está à sua volta e tomar decisões”.

A partir da excelente reportagem da revista Veja (Edição 2147/13 de janeiro de 2010) estarei me aprofundando na sua importância para o desenvolvimento do indivíduo. É uma área que certamente estarei solicitando apoio a especialistas do assunto, como a Dra. Suzana Herculano e escritos de Vygotsky. E não se esqueçam, conto com o apoio, incentivo e, principalmente, a ajuda de todos. Participe, sugira um tema. Sua participação é valiosíssima.

Até lá.

Professor ou Treinador?

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Aulas do Fluminense F. C., três vivências inesquecíveis!

VoleiBeneCanto do Rio

No final da década de 70, “convidei-me” para realizar algumas aulas para o Bené, no Fluminense, no ginásio de baixo, como era conhecido o local em que realizava os treinamentos de mirins e infantis. Fronteiriço, uma outra quadra servia aos treinos de basquete. Ao lado, e um pouco mais acima, o antigo ginásio, onde foram realizados os primeiros Jogos Sul-Americanos, em 1951, treinavam os infanto juvenis.

Levo sempre o material pertinente: 4 mini redes, 50 bolas de tênis, bolas (bexigas) plásticas coloridas etc. Inicialmente o grupo estava composto de 16 crianças que me foram apresentadas e, a seguir, demos início à aula: naquele espaço, somente eu e os jovens atletas.  Com o desenvolvimento dos trabalhos, aconteceu algo inédito no clube: inúmeras pessoas se aperceberam de que havia algo diferente naquele local e, curiosos, acorreram para se inteirarem. O treinamento do ginásio principal também foi interrompido por instantes para que todos se certificassem do que ocorria lá embaixo e Bené percorria as instalações próximas para conclamar as pessoas a verem o que ocorria. Não cabia em si de contentamento. De minha parte, muito discretamente e sem muito esforço, simplesmente propunha aos meninos tarefas que se sucediam com intervalos mínimos. Apenas sugeri-lhes que deveriam fazer a algazarra que quisessem. Foi uma grande bagunça, isto é, gritaria e muito divertimento durante todas as demais sessões.

Quando propus jogos nas miniquadras, um outro fato chamou-me a atenção: alguns atletas do ginásio principal– infanto juvenis – desceram e se me apresentaram solicitando participar dos jogos de duplas, no que foram imediatamente atendidos. E até me desafiaram para a competição. Penso ter dado o meu recado e “vendido meu peixe”!

Um espetáculo imperdível! Continue lendo “Professor ou Treinador?”