Saque: técnica, tática & marketing

Ser ou não ser, eis a questão

Adquirindo conhecimento. Atualmente ando interessado em estabelecer relações entre a natureza dos textos e aprendizagens. Daí minha motivação em ampliar o diálogo com os interessados. Percebo que o estilo que se imprima ao blogue tem a ver com a busca conjunta de um domínio dos assuntos. Alie-se a isto a própria natureza da mídia – escrita ágil, com poucas palavras, que informa enquanto analisa e faz crítica. É uma escrita que tem o ritmo incessante dos acontecimentos e compatível com a dinâmica da vida atual. No meu caso, isso me ajuda a ficar informado, atualizado e aprender. Fica a sugestão para os meus leitores, que agora são muitos, para que participem, indaguem, discutam e aproveitem esta excelente ferramenta em que se pretende aprender e a compartilhar algum conhecimento. Chama-se a isto “troca de experiências”.

Bola ou búrica? Sorte ou azar? Quando criança, jogávamos muito o jogo bola de gude e num determinado tipo era necessária a escolha antecipada que o menino deveria fazer: ele lançaria a bola sobre a bola do adversário ou diretamente na búrica (pequeno buraco no chão de terra)? Esta providência foi resultado de muitas discussões, pois até então o jogador lançava a bola e no que acertasse – bola adversária ou búrica – estaria valendo. A partir dali, passou-se a definir a escolha antecipada. Isto redundou em providências táticas, pois passaram a examinar o contexto e a decidir o que seria melhor para eles. Essa regra foi também inserida no jogo de sinuca: o jogador deve enunciar a priori em que bola vai jogar e até mesmo a caçapa em que a bola vai “morrer”.

Ace! Brasil campeão mundial! Essas lembranças me foram inspiradas pelo excelente trabalho do Professor João Crisóstomo sobre a final do Mundial de Voleibol de 2002 na Argentina entre Brasil e Rússia: placar 14X13 para os brasileiros, no quinto set. Giovane, atleta que até dois pontos atrás se encontrava na reserva foi encarregado do saque para o Brasil. A partir da posição um (I), próximo à linha lateral, lançou a bola para o alto e para o lado – em direção à posição seis (VI) – em um salto com deslocamento em diagonal surpreendente, sacou em direção à posição quatro (IV) da quadra russa. “Ace”! Brasil campeão mundial!

Faço pequeno reparo à descrição do lance, pois assisti à cena no vídeo marqueteiro do próprio Giovane por duas vezes, em Florianópolis. Segundo ele, Giovane, “senti no ar que deveria inovar e alterar a direção do saque”. A bola tocou o chão adversário sobre a linha lateral correspondente, entre as posições IV e V. Mas tal não importa, pois talvez minha memória possa estar me traindo uma vez mais.

Saque marqueteiro. O lance citado – em que o Giovane decidiu a partida, e o campeonato – pode ser analisado com a mesma profundidade atribuída, mas de outros ângulos, isto é, consignando-se novas visões e, por isso, chegando-se a conclusões variadas. Um mesmo fato nunca é visto do mesmo modo pelos indivíduos presentes. Dentro de um shopingue, ouvi-o relatar esta história, a qual me atrevo a tirar possíveis interpretações. Naquele momento limitei-me a ouvir e esboçar um leve sorriso, pois não o conheço o suficiente para julgar. Contudo, como atleta de alto nível, suas qualificações estavam demasiadamente reduzidas, isto é, era um excelente “passador” e “atacante de entrada de rede” que, como dizíamos antigamente, “atacante de uma bola só”. Invariavelmente, os levantamentos para ele – sempre na “entrada da rede” (IV) – eram de bolas “chutadas” (rápidas) à meia altura e suas cortadas orientadas para a “diagonal” (entrada de rede adversária). Raríssimas vezes foi visto buscando outros pontos da quadra. Bem mais tarde, foi lançado como “atacante de bolas chutadas no meio de rede” com excelente aproveitamento, pois ninguém até então realizava este tipo de ataque. Seu saque nunca foi o ponto forte e, numa final, no ponto decisivo, não acredito mesmo. O atleta russo de entrada de rede (IV) fez golpe de vista e a bola tocou a linha. “Incrível, mas valeu”!

Conclusão. Voltando aos comentários do saque que decidiu um mundial, em igualdade de condições um detalhe pode fazer a diferença numa partida de voleibol. E no alto nível temos visto inúmeros casos através dos anos. Sorte, acaso, fatalidade? O leitor saberá tirar suas conclusões. Um cronista de basquetebol disse certa vez: “O jogo deveria ter um minuto de duração e o placar inicial partiria de 100 a 100”! Parece que estamos todos habituados a só perceber os detalhes no final das partidas; as outras fases parecem ser dispensáveis. Além disso, considere-se que um atleta fora de série não é aquele que ostenta o maior número de títulos, mas o que possui todos, ou quase todos os fatores necessários para a prática de uma modalidade esportiva, em altíssimo grau de adequação. Dessa forma, será muito pouco provável encontrar no voleibol moderno alguém com tais características, haja vista que os diferentes fatores – podemos dizer os fundamentos – estão distribuídos taticamente entre os componentes de uma equipe. Assim, são premiados (estatisticamente) “o melhor passador”, “melhor defesa”, “melhor levantador”, “melhor atacante”, e por aí vai… Isto me faz lembrar dois fatos que deixo para os leitores pensarem:

) Conversa com excelente profissional da equipe técnica da seleção brasileira masculina; indagado sobre o desempenho de um dos atletas no Mundial da Argentina (2002) disse-me categoricamente: “Ele foi eleito o melhor atacante do torneio”! No que retruquei: “Na minha primeira aula de Estatística o professor nos alertou para o perigo das conclusões apressadas, pois há que ter bom senso para interpretá-las”. E nova pergunta: “Por que então o atleta não jogou as duas últimas partidas, as finais”? Não houve resposta… (e não estava contundido)

) No início do apogeu do vôlei nacional – em 1984 – as atenções gerais estavam voltadas para três excelentes jogadores, os destaques da equipe: Bernard, Renam e Xandó. Os dois últimos com características semelhantes de ataque, principalmente vindos do fundo da quadra. Nessas circunstâncias, eram desobrigados da recepção do saque, com a missão exclusiva de ataque pela saída de rede com extrema potência. Ocorre que para não sofrerem a ação de bloqueio duplo, o que lhes prejudicava a eficiência, fazia-se necessária a participação do não menos excelente Bernard pelo meio da rede atraindo para si o respectivo bloqueador, pois era ágil e hábil em bolas rápidas, tendo para isto muita velocidade de braço. Isto fazia com que lhe fosse dada especial atenção, o que contribuía para liberar os atacantes de “ponta” (da rede) de bloqueios duplos, inclusive os que vinham do fundo (Renam e Xandó). Em muitos jogos pude ver a dificuldade que ambos possuíam e mais ainda, até de atacar com eficiência quando não tinham a possibilidade das “corridas de impulsão”. Enquanto isto, Bernard era o melhor passador – recepcionava e imediatamente atacava – e o mais eficiente, ainda que com bloqueio altíssimo à sua frente pelo meio de rede. Com certeza as estatísticas não detectavam as fintas (sem bola) que liberavam os dois “pontas” para as suas potentes cortadas.

No excelente texto do português Arlindo Miranda (sovolei/A Nossa Missão, Zona 7), ele reporta ao mesmo lance, agora com alguns detalhes do técnico Bernardo: “Perfeito: golpe forte, bola dentro, quase na linha (15-13). Éramos Campeões do Mundo. Uma curiosidade. Na manhã do jogo tínhamos acabado de treinar quando Giovane continuou se exercitando mais um pouco nos saques. Todo o mundo já estava se encaminhando para o ônibus e ele lá, testando um golpe, mais outro, outro mais. Acredite ou não, ele confidenciou aos companheiros qual era o objetivo do treinamento extra: ‘Estou caprichando no saque que vai acabar com o jogo’. A quem pensar que dei a Giovane uma instrução do tipo ‘Vai lá e saca na linha’ esclareço que não sou um estrategista tão poderoso. O que eu disse a ele foi muito diferente: ‘Giovane, entra e não perde o saque, pelo amor de Deus’. E quem pensa que ele fez somente o último ponto do jogo também se engana: os últimos 3 pontos foram dele”.

Antes do Mundial da Argentina a que me referi anteriormente, fui conversar com o Bernardo na Escola de Educação Física do Exército, no Rio de Janeiro, onde estava treinando a seleção. Queria mostrar-lhe que o atleta André Nascimento, canhoto, apesar de ser um dos melhores atacantes do mundo, apresentava (a meu ver) deficiências contornáveis que, se sanadas, aumentariam o seu potencial de acertos. Disse-me o treinador: “Infelizmente não há tempo agora para corrigi-lo”. E lá foram para a Argentina, retornaram campeões do mundo e o referido atleta, o “maior pontuador” dos jogos. E, pasmem, não atuou nas duas últimas partidas (as finais). Passados alguns anos, de repente o Giovane treina alguns saques antes de um jogo e é endeusado. Parece milagre?

Estratégias em jogo. E, por falar em ser ou não ser estrategista poderoso, tenho certeza de que o Bernardo é. Sabe liderar, mexer no time, fazê-lo vibrar e, mais importante, sabe conquistar a confiança do grupo. Mas isto não o torna o dono da verdade. A seu favor, lembrem-se do último set em que o Brasil venceu a Rússia na recente Liga Mundial: a equipe passou a colocar a bola em jogo no momento do saque, preocupando-se somente com os bloqueios. O que mudou o rumo do set e da partida. Sorte, azar? Não, pura competência estratégica. Quando se iniciou no voleibol, treinou no Fluminense, no Rio, com o competente Bené (artigo no Procrie). Com ele aprendeu a utilizar o saque estrategicamente. Quando treinador do feminino, no momento do saque, exibia uma placa de cartolina com a numeração correspondente onde a atleta brasileira deveria direcionar o saque, providência que funcionou por bom período. Todavia, se ele (Bernardo) prestou atenção, provavelmente deverá providenciar o aprendizado do saque tático que, positivamente a equipe brasileira ainda não aprendeu (ou não houve tempo para aprender).

O tempo, a memória, os interesses e as interpretações – a história de cada um – muitas vezes são antagonistas; em outras, nos auxiliam. Você conseguiria distingui-las umas das outras?

Treinamento de Defesa

A brasileira Maria Antonelli realiza uma defesa com sucesso. Foto: FIVB/DIVULGAÇÃO.

Segredos do Ensino

Aprendizagem ativa. O matemático húngaro George Pólya nos dá boas lições a respeito de ensino e aprendizagem que bem podemos aplicar ao nosso dia a dia: “O que o professor diz na sala de aula não é de forma alguma pouco importante. Mas, o que os alunos pensam é mil vezes mais importante. As ideias deviam nascer na mente dos alunos e o professor devia agir apenas como uma parteira. Este é o clássico preceito socrático e a forma de ensino que a ele melhor se adapta é o diálogo socrático”. E conclui com sabedoria: “Não partilhe o seu segredo todo de uma vez só – permita que os alunos o adivinhem antes que o diga – deixe que descubram por si mesmos, tanto quanto for possível”.

Detalhes que fazem a diferença

Há algum tempo, desde que dei início a treinos de Vôlei de Praia por volta de 1993 venho batalhando num dos aspectos do fundamento defesa que considero básico para qualquer atleta adquirir tal técnica. Nas poucas incursões que fiz a jogos ou mesmo treinos das grandes estrelas – masculino ou feminino – nunca percebi este que é para mim um detalhe fundamental para uma boa defesa. As fotos foram colhidas na Internet por ser um bom exemplo para divagarmos sobre o assunto que será dividido em dois aspectos: a aproximação (chegada) e o toque propriamente dito. Reparem que na primeira foto está suprimida parte da mão esquerda da atleta, impossibilitando a sua leitura, isto é, estaria com a mão aberta ou fechada? Um segundo detalhe, a atleta está em processo de queda, tendo se lançado para interceptar a bola no tempo (altura) que elegeu. Como estamos diante de algo estático (a foto), podemos realizar conjecturas a respeito: 1º) a bola ainda não chegou à mão da atleta; 2º) a atleta já tocou na bola.

A alemã Laura ludwig, 28 anos e 1, 80m, em mais uma intervençao. Foto: FIVB/DIVULGAÇÃO.

Uma segunda apreciação está colocada pela foto ao lado. Ela nos sugere que a atleta efetuou um movimento em direção à trajetória da bola e, percebendo que não teria a melhor posição para efetuar o seu toque, lançou-se com o apoio de ambas as pernas (joelhos) e, em um esforço inaudito, efetua o toque em manchete. Conjectura-se: 1º) Se há tempo para tocar a bola a mais de 1m de altura, inclusive com ambos os braços, por que a queda? 2º) em situações limites, de esforço extremo, em que altura deve-se procurar tocar a bola? Conclamo meus visitantes para conversarmos sobre o assunto, colocando nossas percepções e, dessa forma, aprendermos juntos o melhor caminho para o ensino. Estarei aguardando-os. Enquanto isto relembrem o texto a seguir, uma vez que é muito esclarecedor para o tema atual.

Exercícios e bons hábitos. Uma atleta para chegar a tal nível certamente passou, e deve estar passando, por um treinamento exaustivo. A escolha adequada, a qualidade, a forma de execução e o nível de exigência dos exercícios vão determinar a expressão de seus gestos e, sem dúvida, seu nível técnico neste ou outro fundamento. Assim, cabe ao treinador e à própria atleta decidirem o que treinar, como treinar e avaliar as mudanças de comportamento sem o que os exercícios tornam-se meras repetições. Além disso, se mal formulados ou executados, voltam-se contra a executante. Tanto no voleibol indoor, como no de praia, as atitudes dos protagonistas são similares, isto é, treinadores e atletas se descuidam quanto à necessidade de aprimoramento – Nível de Exigência e Qualidade– das principais deficiências técnicas. Já me entrevistei com vários deles, inclusive de seleções nacionais, e a alegação é sempre a mesma: “Não há tempo para corrigir”. O tempo passa e as consequências parecem não serem notadas. No alto nível do vôlei de praia, em que os atletas são “donos do próprio nariz” (tudo decidem, são os patrões), a figura do treinador é bastante delicada, uma vez que pode ser descartado a qualquer momento. Assim, quase sempre funciona como um “mordomo” de luxo. Como pode ele exigir aprimoramento, busca da perfeição, treinamento exaustivo do seu patrão? Durante treinamento de uma campeã olímpica na Praia de Ipanema (Rio de Janeiro), presenciei o treinador repetir que a sequência de saques em execução estava ótima numa evidente mensagem de puro agrado, embora a técnica empregada pela atleta deixasse muito a desejar. Como ela não errara nenhum dos serviços, para eles estava tudo bem! Em outro caso, eu era o treinador, uma das atletas desculpava-se comigo de não poder atender às minhas exigências, pois já era mãe, “trabalhava fora” e ainda tinha que treinar… Deixei-a brincar de faz-de-conta. Pouco tempo após, já com um jovem treinador, queixava-se de que pouco era exigida.

Antes de dar início às minhas razões, relembro alguns detalhes ditados pela Psicologia a respeito da formação de bons hábitos que fui buscar na obra de David Wood.

Mistério da vontade. Para entender os mistérios da vontade e do comportamento seria de bom alvitre não deixar de considerar o significado pedagógico dos exercícios a serem propostos na formação de bons hábitos. Para a aquisição de um comportamento consciente tenha-se em mente que antes de cometer algum ato temos sempre uma reação inibida, não revelada, que antecipa o seu resultado e serve como estímulo em relação ao reflexo subsequente: “Todo ato volitivo é antecedido de certo pensamento, isto é, acho que pego um livro antes de estender a mão para ele”. O fato básico é que a noção anterior do objetivo corresponde ao resultado final. Não estaria implícito aqui todo o mistério da vontade? “Pode-se afirmar que 99% dos nossos atos são executados de modo automático ou por hábito. Todos os nossos atos e até mesmo as falas comuns consolidaram-se em nós graças à repetição em forma tão típica que podemos vê-los quase como movimentos reflexos: para toda sorte de impressões temos uma resposta pronta, que damos automaticamente”. Por isso o objetivo do professor é infundir no aluno hábitos que na vida possam trazer proveitos.

Primeiro movimento. Reportando-nos à foto, imaginemos o que teria passado na cabeça da atleta antes de ela decidir se movimentar em direção à bola. E o quanto é importante o treinador ou professor saber para melhor avaliar e construir os ensaios necessários ao apuramento da técnica do atleta: “Quando penso em apanhar uma bola o estágio conclusivo depende do primeiro passo: de preparar-me em expectativa. A execução do primeiro movimento determina se toda a ação será executada. Logo, na minha consciência deve haver a noção sobre o primeiro movimento como réplica efetiva para todo o processo. Essa concepção do primeiro movimento que antecede o próprio movimento é o que constitui o conteúdo daquilo que se costumou denominar “sentimento do impulso”.

Sentimento do impulso. É uma modalidade de concepção antecedente sobre os resultados do primeiro movimento físico que deve ser executado. Noutros termos, toda a vivência consciente e o desejo, incluindo o sentimento de decisão e de impulso, são constituídos pela comparação das concepções sobre os objetivos que competem entre si. Uma dessas concepções chega a dominar, associa-se à concepção sobre o primeiro movimento que deve ser executado. E esse estado de espírito passa ao movimento. Temos a sensação de que esse movimento foi suscitado pela nossa própria vontade, porque o resultado final obtido corresponde à concepção anterior sobre o objetivo. Os primeiros ensaios que vi a esse respeito me transportam ao ano de 1975 durante o curso internacional com o técnico campeão olímpico Yasutaka Matsudaira. Na época foi exibido um filme sobre o sucesso japonês em que relata a metodologia e nuances do treinamento. Creio ser o único no Brasil que possui uma cópia telecinada, só não sei em que estado se encontra.

Trabalho pedagógico. Quem praticou algum desporto sabe que a mente tanto pode nos ajudar como derrotar. Além disso, especialmente os rapazes, poucos se interessam pelos treinamentos de defesa – cumprem-nos curricularmente sem grande empenho – optando por desperdiçar mais energias nas provas de ataque, em que dão vazão à demonstração de sua virilidade: “Quanto mais forte a cortada, mais ‘macho’ é o homem”. Ao treinador cabe a tarefa de desmistificar essa concepção, tal qual fizeram japoneses e americanos, em cujos jogos a plateia valoriza e aplaude efusivamente as grandes defesas, atualmente coisa rara nas equipes masculinas. Imagine quantas vezes deixou de promover algum movimento – especialmente de defesa – quando achava que a bola estava demasiadamente longe e, então, seria pura perda de tempo e desperdício de energia aventurar-se em seu encalço. Esse pensamento negativo certamente se tornará um hábito para o indivíduo não só no voleibol, mas em sua vida cotidiana. Relembre um de seus despertares em dia frio e os momentos que antecedem sua saída da cama: com certeza já travou um diálogo interno – o famoso mais um minutinho – que o faz adiar o ato de se levantar. Ou, então, realize o seguinte experimento com um dos seus atletas: coloque-se a 3m dele segurando a bola numa das mãos, tendo o braço esticado na horizontal. Repentinamente deixe a bola cair para que ele tente alcançá-la antes que toque o solo. Inicialmente todos acham impossível alcançá-la; posteriormente tem início alguma reação; e, com a continuidade dos exercícios, todos alcançarão sucesso. Conclusão: abandonam o pensamento negativo (“Não vou conseguir”) para o sucesso da investida: “Eu consigo!”

Esta é sem dúvida uma ação capaz de formar novas reações no organismo do indivíduo e à sua própria experiência – a base principal do trabalho pedagógico: “Não se pode educar o outro, mas a própria pessoa educar-se. Isto implica modificar as suas reações inatas através da própria experiência – os ensaios, as resoluções de problemas. Afinal, não duvide, toda riqueza do comportamento individual surge das experiências”.

Finalmente, indaga-se: “Qual o primeiro movimento físico que deve ser executado pelo atleta logo após o sentimento de impulso”? Algumas observações simples podem ser realizadas, por exemplo, a partir de lançamentos sucessivos da bola para um indivíduo que a recolherá ou rebaterá sem deixar tocar o solo. Dependendo da posição que ocupam em dado momento (frente um para o outro, ao lado ou atrás) a distância entre eles, a trajetória e a velocidade do lançamento, podemos criar um novo hábito a partir de novos motivos.

Comentários. Quer fazer algum comentário? Pense em voz alta, não se preocupe com o que vai dizer, mas exponha resumidamente suas convicções a respeito do assunto tratado. Esta é a melhor forma de conversarmos: Eu falo e, em seguida, você me diz o que pensa. Não deixe escapar as oportunidades na sua vida.

(continua)

 

Jabulani vs. Mikasa

Influência da Bola no Saque

Imagem: The University of Adelaide.

Durante os jogos da Copa do Mundo na África do Sul, as atenções estiveram voltadas especialmente para a bola oficial do certame – a Jabulani. Em alguns momentos, estive dialogando (entre blogues e e-mails) com um amigo que, de certa forma provocou-me. Dizia ele que (…)”Para atletas em alto nível, a bola do jogo tem muitos mistérios já desvendados com grande esforço e que, devidamente aproveitados, levam à vitória. Uma alteração importante em suas características – como parece ter ocorrido agora – pode anular anos de treinamento e tirar-lhes uma arma tática preciosa”. E concluía que os futebolistas de técnica individual mais refinada  são os que mais têm a perder com a mudança. A seguir relata suas experiências de busca de uma “intimidade” com a bola de voleibol, pois foi exímio atleta nas décadas de 50 e 60. Eis alguns trechos: ” A curiosidade decorreu em relação ao saque… com a observação do fabuloso e temido serviço das japonesas”; “Bola e saque, com aquela precisão nipônica, sugeria aplicações da Física, sobretudo da Dinâmica, com o uso dos conceitos de quantidade de movimento, velocidade e turbulência entre outros”. Pretendia melhorar seu desempenho e concluiu que “deveria executar um saque em que a bola se deslocasse parada, sem movimento de rotação”. (A bola que se jogava no Brasil na década de 60 era fabricada pela Drible G-18, com 18 gomos em sua face externa.) Percebeu, então, que a bola não era “homogênea, porque havia um peso um pouco maior no ponto em que a válvula era colocada e seu posicionamento em relação à área do golpe na bola teria influência sobre o desvio objetivado na fase final da trajetória, imediatamente antes de chegar ao defensor”.  E concluiu que por ensaios e erros descobriria qual o melhor ponto de impacto que deveria sofrer a bola: “Foi o que eu fiz para chegar a um saque desagradável para meus adversários: aquele em que o movimento da bola se tornava instável ao chegar ao defensor e descrevia o chamado swing, isto é, flutuava aleatoriamente”. Resgato, ainda, o comentário final que pretendo debater mais adiante: “Atualmente, o saque passou a ser predominantemente violento (dado com pulo e gesto de cortada). Saques que tenham swing (flutuantes ou bola parada) e confundam os defensores são cada vez menos relevantes, inclusive porque a sua defesa de toque é agora permitida e o toque não precisa ser perfeito como na regra antiga, o que facilita a recepção”.

Comentário por Roberto Pimentel (9.6.2010)

Destaco alguns aspectos que influenciam a flutuação da bola e que não me passaram despercebidos também no meu empirismo ao tentar ensinar o saque dos japoneses para crianças no Tijuca Tênis Clube em 1971. Inicialmente, a distância que a bola percorrerá (por isso o recuo máximo do atleta que o executa). Em seguida, a trajetória mais conveniente que se deve imprimir à bola. Em terceiro, o movimento balanceado do braço de modo a preservar as articulações do executor e, ao mesmo tempo, imprimir velocidade à bola. Por último, o toque na bola, com uma única flexão do polegar, de modo que se evite o impacto com a palma da mão, o que se traduziria em movimento de rotação na bola qual o saque americano muito bem executado pelo russo camisa 6, Yury Pojarkov no Mundial de 60 no Brasil. Além disso, o dedo flexionado no momento do impacto de alguma forma penetra na bola produzindo um movimento elástico, isto é, de ida e volta imediato, provocando um possível balançar, que será acrescido na sua descendência na quadra adversária pelas desigualdades da camada de ar. Não são estudos cinesiológicos, mecânicos ou físicos, apenas livre pensar. Espero ter contribuído se não para esclarecer, mas para acirrar um debate construtivo graças à sua brilhante e oportuna apreciação sobre a influência da bola no jogo.

Comentário do interlocutor:

“No saque atuam sobre a bola em movimento – quando ela se desloca parada – duas forças componentes: uma horizontal decorrente de sua quantidade de movimento; outra vertical, devida ao seu peso. Há um momento em que a bola, depois de percorrer certa distância (e ultrapassar a rede), atinge a velocidade crítica, em que a resultante dessas duas forças passa a dirigi-la para o solo. Nesse momento, as variações de resistência do ar, a heterogeneidade da bola e as forças turbilhonares que sobre ela atuam podem gerar a flutuação. Distância da linha de saque, altura e intensidade do golpe na bola definem o lugar do campo adversário em que a velocidade crítica será atingida. Esse dedo flexionado que penetra na bola é science fiction ou algo psicológico que não posso explicar muito bem… Aliás, cuidado com ele”.

Foi-me sugerida a leitura do seguinte artigo, que pode ser visto na íntegra no endereço: http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/ Destaco um trecho interessante ao nosso diálogo:

Bola e aerodinâmica (Redação do Site Inovação Tecnológica, 10/06/2010 – Físicos explicam aerodinâmica da Jabulani, a bola da Copa) – “A Jabulani tem uma textura com pequenos sulcos e ‘aero ranhuras’, e representa uma ruptura radical com a bola Teamgeist ultra-suave, que foi utilizada na última Copa do Mundo. A nova bola é de fato mais rápida, faz curvas de forma imprevisível e é sentida como sendo mais dura no impacto. Os físicos afirmam que a maior dificuldade em lidar com a Jabulani deverá ser sentida pelos goleiros. Embora a Fifa tenha normas rígidas sobre o tamanho e o peso das bolas, eles não dispõem de regulamentação sobre a superfície externa das bolas. A Jabulani tem uma textura com pequenos sulcos e ‘aero ranhuras’, e representa uma ruptura radical com a bola Teamgeist ultra-suave, que foi utilizada na última Copa do Mundo. A Teamgeist foi uma grande tacada na última Copa do Mundo. Como ela era muito lisa – muito mais lisa do que uma bola de futebol comum – ela tinha uma tendência a seguir uma trajetória mais curva do que a bola convencional, e a cair mais repentinamente no fim da sua trajetória. Em comparação, os sulcos aerodinâmicos na Jabulani têm tendência a criar uma turbulência em volta da bola suficiente para sustentar seu vôo por uma distância maior, e é uma bola mais rápida, mais dura no jogo. A expectativa é que a Jabulani faça mais curvas do que qualquer bola encontrada anteriormente. Os jogadores também estão descobrindo novas oportunidades para lançar a bola de maneira errática, para desespero dos melhores goleiros do mundo. Ao atingir o goleiro, a Jabulani terá desviado e mergulhado, chegando com mais força e energia do que a Teamgeist, conclui o físico”.

Comentário por Roberto Pimentel (29/6/2010)

Destaco duas assertivas dos físicos, encampadas pelo meu interlocutor: 1) A nova bola (…)  é sentida como sendo mais dura no impacto; 2) Ao atingir o goleiro, a Jabulani terá desviado e mergulhado, chegando com mais força e energia do que a Teamgeist. Não pretendo polemizar, pois me falta a instrução científica. Quando coloquei o assunto pensei estar-me aculturando e estendi-me pensando também nos meus leitores. Futuramente colocarei este assunto no procrie. Como pude observar pela leitura da revista Veja, há coisas acontecendo que os olhos não podem ver. Esta é uma delas. Assim, se a cabeça de um indivíduo pode “entrar” na bola (dura), por que não o seu dedo numa bola mais macia? Como diria o Padre António Vieira, “há olhos de ver e olhos de enxergar”. Ainda bem que a ciência não é mais exata como antigamente e, sendo assim, tudo pode acontecer apesar das tentativas de explicação, que certamente não passam de teorias ainda não comprovadas. Lembro ainda que a FIVB alterou a calibragem (para menos) das bolas, tanto na praia como no indoor visando preservar os atletas dos impactos. Dessa forma, bola mais vazia, penetrações mais profundas.

(Para ampliar clique na imagem)

Imagem: Revista Veja.

E agora, o que dizer às crianças sobre o aprendizado do saque japonês, aquele balanceado? Devem ou não colocar o dedo? Vamos fazer uma enquete a esse respeito? Aguardo a opinião de todos vocês!

 

Intercâmbio Brasil e Portugal (II)

Como Evoluir com Novas Ideias

A participação de todos – professores, treinadores, pedagogos, agentes educacionais, administradores, incluídos agentes de marketing – é imprescindível. Efetuar um planejamento pressupõe estabelecerem objetivos a serem cumpridos e, passo a passo, reformular suas diretrizes. Quem poderá fazê-lo?

Vocês mesmos devem buscar e certamente encontrarão as soluções apropriadas, não esperem que os dirigentes façam-no. Apresentem a eles um plano de metas a serem cumpridas e tratem de proceder a uma auto gestão, tornando-se autônomos e construtores do próprio fazer com o mínimo de conotações políticas. No Brasil é permitida a criação de Ligas desportivas, independentemente das federações estaduais (o futebol tem a “Liga dos 13”). E em Portugal, o que diz a lei? Ao que percebo pelas críticas no sovolei e pelos Anais do Congresso Desportivo Nacional português (2005-2006), os dirigentes de modo geral são muito criticados e apegados ao poder.

Educação Motora. Não conheço uma cartilha de receitas que possa ser usada para educar todas Mas crianças da mesma forma. Embora as crianças compartilhem de semelhanças básicas, as metodologias conhecidas sugerem que o professor deve responder às ideias únicas de cada criança de uma forma flexível. O que se pretende fazer é comunicar uma forma de pensamento sobre crianças e ações de modo que os professores sejam capazes de inventar suas próprias atividades, isto é, serem criativos, e não repetitivos aplicando técnicas de adestramento. Salienta-se ainda que os princípios gerais de ensino que delinearem devem sempre ser adaptados por cada professor a um grupo específico de crianças num determinado tempo, evoluindo passo a passo. E observem que essas técnicas podem ser utilizadas para quaisquer atividades desportivas.

Subsídios Pedagógicos para a estruturação das atividades:

  • Centralizar esforços na invenção de atividades que permitam às crianças agir sobre o material empregado – bolas, redes e principalmente outros objetos –, e observar as reações ou transformações. Esta é a essência do conhecimento físico, onde o papel das ações do sujeito é indispensável para o entendimento.
  • Desenvolver a autonomia: as crianças aprenderão a manipular os mais variados objetos e a atuar com eles, construindo suas próprias experiências.
  • As crianças são curiosas; levá-las a comentar e a questionar é uma excelente técnica pedagógica na promoção da autonomia. Lembrem-se de que não são as respostas que movem o mundo, mas as perguntas.
  • Considerar que a importância dos erros não deve ser negligenciada, visto que um erro corrigido é frequentemente mais instrutivo que um sucesso. Tirar proveito pedagógico em cada situação.

“A instrução, ou transmissão do conhecimento cumulativo do passado – “quem aprendeu a andar de bicicleta não esquece jamais” –, tem um lugar legítimo na educação do indivíduo. Isto é, deve haver uma forma indireta de ensinar que se entrose com, e apóie a construção material do conhecimento que se iniciou na infância. As ideias iniciais a serem apresentadas são apenas o começo de uma tentativa de desenvolver tal forma de ensino. Dentro em breve, espera-se, mais educadores se aprofundarão em pesquisas de causalidade. Não se pode esperar que a autonomia de um indivíduo se desenvolva totalmente se a educação foi limitada aos anos iniciais de sua formação. O uso de uma metodologia ou teoria significa mudanças drásticas na concepção do professor sobre o processo educativo. Quando o foco do ensino desvia-se do que o professor faz para como a criança constrói seu próprio conhecimento, o centro da sala de aula não mais será a matéria ou o método de ensino, e o pensamento do professor sofrerá uma revolução semelhante à revolução de Copérnico. A fim de estimular a autonomia, os professores  terão que parar de tentar enquadrar o indivíduo em um molde. A ideia é produzir adultos com mentes inquisidoras, críticas e inventivas. Também acredita-se que os formandos em tais escolas tenham maior probabilidade de continuarem aprendendo e se desenvolvendo pelo resto de suas vidas”. (Implicações da teoria de Piaget)

Autonomia. Finalmente, pode ser útil mencionar que à medida que observamos os professores começarem a usar novos métodos de ensino, percebemos algumas vezes duas fases iniciais de mudança. Uma na qual eles se sentem paralisados na sala de aula. São frequentes comentários como “Eu era capaz de ensinar sem pensar no por que eu estava fazendo o que fazia”. Uma segunda reação posterior é tentar muitas intervenções. Isto parece originar-se da nova consciência dos professores da análise racional combinada com o velho hábito de ensinar falando. Com a experiência, geralmente o professor torna-se capaz de descentralizar-se e pensar mais em termos do que as crianças estão pensando, e essa descentralização resulta em uma intervenção mais adequada. Dizia eu durante aula numa universidade, “Faço-me criança enquanto produzo a aula”. 

Conclusão. Quando o professor supera as fases iniciais de reconstrução de sua forma de pensamento sobre o ensino, ele encontra um novo estímulo e uma nova confiança que provém da sua utilização dos instrumentos teóricos adequados para a análise de sua prática de ensino. Enfatizo que os relatos das atividades apresentadas em diversos momentos do meu blogue não são modelos para serem seguidos pelos professores. Eles são apenas algumas formas pelas quais em momentos específicos tentei usar a teoria com um grupo de indivíduos (crianças, jovens ou adultos). Portanto, os professores devem transcender essas ideias construindo por si próprio formas de aplicar os princípios esquematizados segundo a orientação pedagógica da escola.

Voleibol Feminino em Portugal

O Vôlei Feminino Português

(Postado no site português www.sovolei.com/Zona7, maio de 2010)

Há dois anos participei de um Congresso Internacional Desportivo no Brasil. Inscrevi-me particularmente para ouvir a  palestra de ilustre professora portuguesa a respeito da prática em seu país. Lamento dizer que saí decepcionado: 40 minutos foram dispensados às apresentações e à exposição de um vídeo turístico sobre Portugal. Nos dizeres dela, “Não poderia proferir uma palestra sem dar a conhecer a minha terra”.  Quando interpelada para dizer-me sobre o desporto feminino, foi evasiva. Afirmou que tudo estava muito bem, com excelente participação das mulheres. É evidente que não acreditei, posto que acompanhara o Congresso Nacional Desportivo português, com importantes pronunciamentos que reclamavam de providências de todas as instâncias governamentais e Federações. Qual o interesse de esconder a verdade? Apego ao cargo? Total desconhecimento do assunto? Insegurança e falta de criatividade? Ou, ainda, “deixa ficar como está até que ocorra a tão esperada aposentadoria”?

Em outro momento voltarei a falar sobre o assunto na busca conjunta de soluções.

Vejo pelo desabafo do Luís Melo publicado no “Zona 7” sob o título “Feminino, um problema de mentalidades”, que tem razão. Impressiona-me é o conformismo para reagir a esse estado de coisas. Todos sabem o que ocorre, mas ninguém experimenta dar o primeiro passo para a busca de soluções. Só a crítica é muito pouco. Aguardar providências do governo está comprovado que não sairão do marasmo a que estão relegados; e esperar que as instituições que comandam o desporto (COP, FPV etc.) são “morrer na praia”. Já tiveram mostras de que nada disso vai modificar o panorama. Vejam as propostas e conclusões do Congresso sobre as Lei de Bases: nada foi adotado e continua a mesma desde 2004. Parece ser natural em Portugal (e no Brasil).

Vimos no “Tempo Técnico”, por Carlos Prata, “A nova legislação para a Formação de Treinadores”, apresentada pelos dirigentes do IDP, referente a um Programa Nacional. Pretende ter uma “incidência muito grande (…) e provocar grandes alterações no nível dos Cursos de Formação” Alguém nutre alguma esperança que desta vez vai ser efetivamente implantada, ou será fruto de mais burocracia? E as suas universidades que formam os professores, mestres e doutores? Ou, de repente, alguma luz iluminou os governantes para o fato óbvio: voltar-se e cuidar de forma científica das novas gerações, deixando de lado o empirismo e as receitas técnicas da FIVB, ou até mesmo universitárias, que até hoje não surtiram qualquer resultado positivo. “Sabe-se muito, fala-se demais, e diz-se pouco”. Transpor os ensinamentos colhidos na teoria para a prática, vai aí muita água. As prateleiras, e agora a Internet, estão repletas de pesquisas de coisa alguma que não surtem o menor resultado. Há que se realizar uma grande guinada, “navegar por mares nunca dantes navegados”, marco da história dos portugueses.

Comentário, por Luís Melo (português, um dos dirigentes do sovolei).

Infelizmente Portugal está cheio desta gente. Muito espectáculo e pouco conteúdo. Muita parra e pouca uva, como se costuma dizer. O exemplo vem de cima. Quando os políticos responsáveis e as federações, desprezam o desporto feminino, porque irá uma professora qualquer fazer diferente? Pessoas que têm cargos de responsabilidade deviam ser as primeiras a usar o (pouco ou muito) poder que têm para mudar algo. Mas ao invés, fazem o que o Roberto diz e bem: “deixa ficar como está até que ocorra a tão esperada aposentadoria”. Não nos podemos conformar, e temos de lutar todos os dias, e todos juntos, para que haja uma mudança de mentalidades e uma mudança na gestão do desporto em Portugal.

Importância de um Bom Ensino (conclusão)

Psicologia no Esporte

Conforme o prometido, aqui está parte da entrevista do Dr. Victor Matsudo, um dos 2.400 médicos, psicólogos e pesquisadores de 140 países presentes ao Congresso Olímpico de Los Angeles, em 1984:

A psicologia esportiva conheceu grandes avanços nos últimos anos?

Quando o nível técnico é muito elevado, como acontece, por exemplo, numa Olimpíada, é que todos os atletas evidentemente são pessoas favorecidas geneticamente e devem ter também técnicos altamente capazes que as fizeram chegar a esse nível. De maneira que a decisão de quem vai ganhar a prova fica dependendo não de fatores orgânicos ou técnicos – todos são de alto nível – mas dos fatores psicológicos. Numa competição comum, é provável que uma pessoa que não esteja bem psicologicamente consiga se sobressair, mas em alto nível a condição psicológica acaba sendo um fator importante. O trabalho feito pelos psicólogos das equipes americanas era o mais democrático possível. Eles ficavam à disposição dos atletas e, quando havia o contato, faziam um serviço de apoio e não uma psicologia intervencionista, dessas que querem mudar a personalidade do atleta e são responsáveis pela má acolhida que os psicólogos têm no esporte. Uma novidade foi também o trabalho de abordagem dos psicólogos, que procuravam trabalhar em cima de suas falhas. Outra coisa muito utilizada foram as técnicas de autorrelaxamento, técnicas de ioga.

– Moses foi visto deitado na pista, momentos antes de uma largada.

Este é um bom exemplo. Ricardo Prado também possui uma técnica de relaxamento muito adequada. A máxima performance de um indivíduo só é conseguida na medida em que ele se abstrair ao máximo e se concentrar ao máximo no ato motor que está programado para executar, especialmente em esportes individuais. Atletas que não possuem o poder de concentração, nessas modalidades, não têm a menor chance de ser bons atletas a nível internacional.

– Mary Lou Retton teve algum trabalho especial de psicólogos?

Até a Olimpíada, ela teve o trabalho normal do grupo que assessorou todas as equipes americanas. Agora, um psicólogo irá trabalhar com ela, especialmente para combater a fobia do sucesso – que é um dos maiores problemas das performances de alto nível. Após um estrondoso sucesso, a pessoa sempre se pergunta: “E agora, será que nas próximas vezes chego lá?” Além disso, surgirão problemas com uma menina que passará a ganhar mais que toda a família junta.

– O psicólogo passou a ser mais aceito, a ter mais poder nas comissões técnicas?

A imagem do psicólogo maluco que quer mudar o comportamento do atleta provocou muitas rejeições nos meios esportivos, mas agora está mudando. O novo psicólogo ajuda o atleta a modular sua energia, suas reações, a enfrentar arbitragens, longos períodos de concentração fora de casa, plateias hostis, ou a expectativa da torcida, como aconteceu com os norte-americanos.

– O senhor esteve hospedado na casa do psicólogo-chefe da equipe americana. Descobriu algum “segredo de Estado?”

O professor Briant Cratty é o maior autor americano na área de psicologia do esporte e teve sob sua orientação a maioria dos profissionais que trabalhavam diretamente com as equipes americanas. Então vou contar algo que soube ali sobre o jogo de vôlei contra os brasileiros. A assessoria psicológica americana sabe que o atleta latino reage de forma diferente diante de um confronto altamente difícil e de outro apenas pouco difícil. Um dos maiores problemas que nós, brasileiros enfrentamos são as decepções que sofremos nas quadras ou nos campos de futebol, quando enfrentamos equipes reconhecidamente inferiores, ou quando poderíamos opor maior resistência numa partida e misteriosamente jogamos mal e somos derrotados. Então, em função de terem perdido os dois primeiros sets por 15×10, numa noite em que o Brasil apresentou uma de suas melhores atuações, os psicólogos sugeriram que os Estados Unidos entregassem o terceiro set para que, numa possível final, os brasileiros estimassem que as dificuldades para ganhar a medalha de ouro fossem menores que as reais. Nesta final, o Brasil acabou enfrentando um Estados Unidos bem mais forte que o esperado e que apresentou muitas jogadas que antes procuraram esconder dos brasileiros. Eles, ao contrário, conheciam todas as nossas bolas e o nosso potencial.

Vôlei de Praia, Brasil e Portugal

Tema: Formação no Voleibol de Praia 

Autora: Ana Rita Gomes; Publicado no site português www.sovolei.com /A Opinião de Ana Rita Gomes.

Resumo: Raros atletas de alta competição devido à cultura desportiva do país. Passantes estranham os atletas enquanto treinam. Como romper esta blindagem e alavancarmos o desenvolvimento do setor? Que objetivos a alcançar?

Objetivos: Divulgar a modalidade e conquistar adeptos; Representação feminina nos Jogos Olímpicos de Londres.

Voleibol de Praia (VP) e Voleibol Indoor (VI), por Roberto Pimentel.

Convite. Para que haja a necessária renovação em qualquer desporto torna-se imprescindível divulgar entre crianças e adolescentes a modalidade. A fórmula encontrada nos nossos tempos é realizar as competições na forma de espetáculos, tornando visíveis todos os aspectos do jogo e, principalmente, elevando os protagonistas campeões a níveis gloriosos. Faz parte do imaginário do ser humano, especialmente dos jovens. Em Portugal encontro um exemplo bem recente, o Gira Vôlei. Esta fórmula foi explorada por Matsudaira quando planejou a ascensão das seleções nacionais do Japão ainda na década de 60 – um ”plano de 8 anos” – e vem sendo seguida pela FIVB quando estabelece protocolos para realização de eventos. Lembro que ele era um Administrador de Empresa e, como tal, deu asas à imaginação desenvolvendo simultaneamente um planejamento técnico e marqueteiro. Fez com que boa parte da população aderisse ao voleibol numa época em que este esporte era pouco considerado no seu país. Conseguiu resultados culturais surpreendentes. No Brasil, foi seguido por Carlos Arthur Nuzman, que se manteve presidente da CBV por 20 anos e promoveu verdadeira revolução no esporte. O vôlei de praia brasileiro deve tudo à participação fundamental e incisiva do Banco do Brasil que, através do seu Departamento de Marketing elevou o esporte até então desconhecido a um dos mais vistos e aplaudidos em todo o território nacional. Para o Banco está sendo uma das suas maiores jogadas negociais, além de ter atraído o público jovem para sua clientela, antes bastante envelhecida.

Cultura. Ainda apoiado no exemplo japonês, observe-se que a mulher naquele país tinha uma posição secular de segundo plano em relação aos homens. Era-lhe servil e submissa. Lembro de cenas em que chegavam a ser esbofeteadas em pleno treinamento, não importando onde estivessem. Aos olhos estrangeiros soava como agressão e, ao mesmo tempo, espanto, por se sentirem tão resignadas àquela situação. Alguns diziam que seria uma forma de, no futuro, terem reconhecido seu esforço e valor, tornando-se independentes do jugo masculino. Sob este cenário, tornaram-se campeãs olímpicas em 1964, em Tóquio. Este é um exemplo. Sugiro que cada estudioso recue um pouco no tempo, pesquise comportamentos de seus avós e, à luz de novos conhecimentos possa apresentar soluções que favoreçam o desenvolvimento do desporto no seu país. Tenho a certeza de que vão precisar de especialistas na matéria, não comprometidos com o desporto, mas com Ciência e Administração (especialmente Marketing), uma vez que o vôlei – praia e indoor – cada vez mais se torna popular e profissional, o que induz muitos jovens à sua prática como forma de “trabalho”. Daí surge o conflito que é mundial: estudar ou trabalhar? No Brasil, e acredito que também em outros países, a segunda opção vem sendo vitoriosa até certo ponto. Atletas brasileiros e suecos já foram cognominados carinhosamente de “vagabundos” em seus países, uma vez que a atividade – treinos, competições – não lhes deixa tempo para outra coisa. No cenário feminino, as brasileiras de determinadas regiões, especialmente o nordeste, percebem que deu certo para homens e pode dar certo para elas. E tem dado, haja vista a dupla Juliana-Larissa. Mas o caso brasileiro é específico, mesmo porque sempre se jogou voleibol na praia, independentemente do voleibol em ginásio. É um assunto que deixarei para comentar em outra oportunidade.

Formação. A afirmação “Os novos jogadores que surgem no Circuito Mundial são formados no VP e não no VI, como há alguns anos” deve ser compreendida segundo um raciocínio histórico ou temporal. Até alcançar o patamar para frequentar um circuito desta envergadura são necessários muitos anos de prática e um longo aprendizado. Muitos não chegam lá, somente os melhores adaptados, a elite. É um procedimento que ocorre em todos os esportes. Imagino que aprender a jogar voleibol é muito mais fácil se realizado num piso regular e duro como o da quadra indoor. As necessidades de deslocamentos e os saltos são mais facilmente aprendidos, o que torna tudo mais agradável. O piso irregular e fofo de areia é o maior obstáculo a ser vencido por aprendizes. Como dizemos no Rio de Janeiro a respeito de indivíduos não acostumados a caminhar na areia, “tropeçam na areia”, o equivalente à perda total da coordenação motora em qualquer deslocamento. O VP no Brasil se desenvolve concretamente nas praias, uma vez que somos privilegiados neste sentido. Além disso, o clima também favorece e disponibiliza sua prática o ano inteiro. Embora algumas federações estaduais tenham programas para juvenis e sub-21, normalmente as duplas que se formam para estas competições advêm de equipes indoor. As causas desta migração são várias, desde possível não aproveitamento na equipe superior, relacionamento com treinadores, busca de liberdade, espírito aventureiro (muitas viagens) etc. Guindado à modalidade olímpica, o VP ganhou muito em status, tornando-se uma “profissão” para a maioria de seus praticantes. Se não tiver dedicação exclusiva, o atleta não conseguirá ter o mesmo padrão dos campeões e estará fadado ao insucesso. E para manter-se no grupo de elite, muito dinheiro faz-se necessário. Neste sentido, as federações nacionais assistem ou investem de alguma forma nos seus representantes, independente de patrocínios auferidos pelas duplas. Atualmente (julho/2009), desenvolve-se o Circuito Mundial na Noruega com sete duplas brasileiras, sendo quatro femininas e três masculinas. Diante do exposto, dificilmente um atleta, mesmo de ponta, conseguirá sucesso ou manter-se entre os melhores, se não tiver um histórico razoável nas competições de areia. Alguns tentaram como Tande, Giovani, Marcelo Negrão e Nalbert, todos campeões olímpicos no indoor, mas abandonaram em seguida. Eram destroçados nos circuitos nacionais brasileiros.   

Treinador. Pelas regras das competições geridas pela FIVB não é permitida a figura do treinador em quadra. Particularmente, no Brasil, a partir de algum tempo foi permitida a sua presença nos jogos, só podendo comunicar-se com os atletas nos tempos de descanso ou intervalos de cada set. Esta providência parece ter atenuado os desgastes emocionais que as competições inexoravelmente promovem. A ausência de substituições e o ataque sistemático a um dos contendores fazem parte do contexto do jogo, permitindo providências táticas e enriquecendo a disputa, tal como ocorre em outros desportos. Cada vez que uma dupla é formada, ou desfeita, entende-se que há conflitos desta natureza. Mais adiante, ao se providenciar nova composição, certamente este é o item primacial, além, é claro, dos temperamentos envolvidos (fator psicológico). Assim, a normalidade na formação das equipes tende para um indivíduo que preponderantemente estará responsável pelos bloqueios e, outro, pela defesa. Não se testou ainda qualquer coisa diferente até hoje. Isto leva os atletas a treinarem com afinco os fundamentos que lhe são específicos no momento do jogo, sem descurar, evidentemente, da preparação física, indispensável a todos, até mesmo pelo sistema de jogos consecutivos, muitas vezes no mesmo dia. Dessa forma alguns atletas sobrevivem ao tempo e até tornam-se campeões ainda que com pouca estatura, como é o caso no feminino de Jaqueline Silva (levantadora no indoor) e primeira campeã olímpica; Shelda, vice-campeã olímpica, de invejável currículo mundial e até hoje em atividade (com Ana Paula, no Mundial da Noruega). Na tentativa de tornar o jogo mais atraente, com ralis mais disputados, a FIVB houve por bem diminuir a área de jogo: dos 91m2 para os atuais 64m2. Uma providência que também contribuiu para a preservação do estado físico dos atletas. 

Atleta. Por que jogar VP? Qual objetivo? Com quem? Onde? Quanto é necessário investir? Com quem treinar? Por quanto tempo? Se os indivíduos pensassem antes de começar, talvez nem começassem, pois são tantas as dificuldades iniciais! Tenho uma intuição, por isto não científica. Creio que muitos jovens buscam uma afirmação – é próprio da idade – animada pelo clima que se cria em torno dos espetáculos.

VP e a metodologia. Pesquisa científica? Creio que não há. Pelo menos não conheço no Brasil. O meio universitário, que deveria contribuir para tal, e a própria entidade nacional são desacreditadas neste sentido. O empreguismo, as conveniências e outros desmandos contribuem para que as coisas se mantenham como estão. Se mudar periga a posição do servidor no seu emprego. A partir do ano 2000, a Confederação brasileira instituiu um curso para treinadores de praia, com níveis I e II, nos moldes da FIVB. Foi franqueado para professores e acadêmicos de Educação Física e a atletas (ou ex-atletas) de voleibol. Da noite para o dia foram impressos dezenas de exemplares de apostilas para instruir os alunos e convidados treinadores de renomados atletas campeões da especialidade. Nitidamente, no dizer de frequentadores de tal curso, houve uma pura e simples transposição dos dizeres do vôlei indoor para a praia. Alguns poucos treinadores relataram suas experiências, mas toda a metodologia foi “abortada” da quadra. Criticamente, todos estavam interessados no certificado que lhes permitiria participar das competições nacionais no banco da areia com seus pupilos e “fregueses”. Enquanto que, para a entidade nacional, tornou-se mais uma fonte de receita. Tenho minhas convicções – e poucas certezas – a respeito do que poderia vir a ser uma metodologia para o ensino do VP. Obviamente, considerados os dois primeiros aspectos quando se examina o assunto: a iniciação – formação dos atletas – e o treinamento de alto nível, este destinado a indivíduos profissionais. Para aprender algo, tornei-me voluntariamente um treinador de atletas de VP no início da década de 90. Foi um aprendizado salutar, pois a dupla que treinava tinha experiência de outros treinadores. Vivenciei todos aqueles momentos, ávido para conhecer seus efeitos. Aos poucos, e isto é comum no meio, conversávamos e discutíamos para encontrarmos melhores soluções para situações específicas. Percebi durante aqueles 9 meses ininterruptos (6 aulas semanais, 3h 30min/dia) como outros treinadores procediam e, a pouco e pouco, dei início à personalização ao meu modo de  ver e sentir as coisas. Ao presenciar algumas sessões nas praias cariocas constatei que os métodos empregados não fugiam ao roteiro das quadras (ginásios), com ligeiras adaptações quanto à circunstância do piso e o número de jogadores. Mas, em essência, o comportamento geral e o nível de exigências dos treinadores deixavam muito a desejar. Compreendi que, como eram sustentados (pagos) pelos atletas era natural que não fossem confrontados ou aborrecidos por qualquer pequeno detalhe, se é que tinham conhecimento dessas sutis miudezas técnicas.

VP e os jovens. Há algum tempo era preocupante para a diretoria técnica (indoor) da entidade nacional, a permissão concedida a atletas juvenis federados para participarem dos circuitos brasileiros de VP. Alegava que poderia haver um êxodo da quadra para a praia. Nunca houve. Tal como em Portugal, no Brasil muitos atletas que perdem a condição de juvenis pela idade não conseguem vaga nas equipes superiores. A federação criou alguns torneios com idades intermediárias para mantê-los em ação, mas não vingou, pois onerava os clubes, não havia disponibilidade de local para treinamentos, e um custo muito alto para logo a seguir, muitos atletas desistirem também por força de estudos – idade universitária – e primeiro emprego. Os que não querem estudar ou não conseguem empregos, tentam a sorte no novo empreendimento, a praia. Ou simplesmente, desistem do voleibol.

VP master. As praias cariocas permanecem pontilhadas de Redes (como são denominadas as quadras de jogo). Como se tem clima favorável joga-se o ano inteiro, todos os dias. Evidentemente, nos fins de semana há aglomeração, tantos são os candidatos a jogar uma “pelada” (gíria, partida, jogo, relativo a um set). Joga-se por diversão, puro lazer. Em Portugal, pelo que soube, existe um simpático grupo de master, presumo feminino, que se reúne e criam eventos na praia, tem até um site/blog. Achei formidável! Além disso, devo supor que o CPVP – Clube de Praticantes de Voleibol de Praia – também promova a modalidade.

Desporto escolar. Ao lançar o mini voleibol no Brasil, sugeri que o movimento tivesse origem nas escolas, o que custou a acontecer. Todavia, numa delas em minha cidade, consegui que formatassem o que denominaram “Recreio Alegre”. Consistiu em instalar no grande pátio ao ar livre, 13 quadras de minivoleibol e diversas tabelas (cestas) de basquete. Ficam à disposição dos alunos até hoje. Nenhum dos professores interfere nesta recreação voluntária totalmente consagrada e organizada pelos alunos. Eles mesmos constroem as regras do jogo, o rodízio de equipes e os torneios entre classes. Nunca lhes foi transmitido qualquer aprendizado técnico ou tático, no entanto, o professor/treinador das equipes do educandário declarou: “A partir da instalação das pequenas quadras a formação de equipes melhorou consideravelmente, pois os jovens já possuem um histórico do jogo”. Apesar de um deles vir a ser campeão mundial infanto-juvenil há algum tempo, a vitória maior da coordenação pedagógica foi a de oferecer oportunidades de desenvolvimento a TODOS os indivíduos com supervisão discretíssima, à distância, sem interferência ostensiva. Ter contribuído para a formação de um campeão foi um acidente. Numa visão maior, todos os que se locupletaram da atividade são os verdadeiros campeões. Outro aspecto refere-se à diminuição da violência na escola, pois convergem sua energia para o lazer. Recentemente, criaram sistema similar para o desenvolvimento da prática do badminton.  

Ineditismo. Em um outro educandário (4 mil alunos) experimentei uma outra experiência muito especial. É notório que o brasileiro só pensa em futebol, cultivamos a monocultura futebolística há muito tempo. Ao nascer, o filho homem é recebido com uma bola, que já começa a chutar enquanto mama. Na fase escolar oportunizam-se jogos frequentes nas aulas, nos recreios e torneios no fim de semana, estes sob os olhares atentos e vigilantes dos papais. As meninas, no entanto, não conseguem ultrapassar as barreiras discriminatórias que lhes foram impostas pela cultura machista e permanecem alijadas de uma atenção pedagógica eficiente dos docentes, os maiores responsáveis. Com um pouco de criatividade inseri-me junto a um dos professores e a partir de algumas demarches, conseguimos que a direção da escola autorizasse a criação de aulas extra-classe para alunos de 8-10 anos. Nesta primeira investida, 310 alunos aceitaram o convite. O problema, então, foi inverso: não havia espaço e horário para as aulas. Mas observou-se um comportamento inédito no recreio escolar: os meninos que até então só jogavam futebol nas balizas disponíveis, passaram a utilizá-las para jogar voleibol por conta própria. Creio que esta é a opção filosófica mais apropriada. Coaduna e satisfaz a Educação e a Iniciação Desportiva. Além disso, o que é feito para o voleibol pode ser feito para outros desportos. As opções são oferecidas e os alunos fazem as suas escolhas no devido tempo. O que reputo mais importante é que a ação seja planejada e organizada, auferindo e transmitindo crédito às pessoas – crianças e adultos. Para tal, é necessária ter experimentados vivências e muita segurança no “saber fazer”.

Importância de um Bom Ensino (II)

Lições de entrevistas

Sou um dos colaboradores do sovolei e deveras interessado no voleibol português. Acompanho suas notícias, entrevistas e resoluções desde 2005. Recentemente, meu interesse recaiu sobre entrevistas de dois de seus personagens atuantes. Reporto-me agora à entrevista de Valdir Sequeira em 25.3.2010, um dos atletas portugueses com mais sucesso e o único que no momento joga no mais competitivo campeonato da Europa. (www.sovolei.com/Entrevistasovolei). Com este texto, complemento os comentários da outra entrevista, do treinador e Professor de Educação Física português, Arlindo Miranda, sob o título “A Nossa Missão”, vinculada em www.sovolei.com/Zona7 em abril de 2010. Meus comentários estão neste Procrie/Fórum, sob o título “Importância de um Bom Ensino” (9.5.2010). Ao Valdir Sequeira, peço humildemente sua clemência por imiscuir-me em seus pensamentos e dizeres, mas tocou-me fundo sua espontaneidade e sinceridade. Imagino que após esta leitura poderá aquilatar mais propostas para o seu filhinho Valdir André. Perdoe este vovô distante. Lembrarei a todos sobre a pedagogia dos exercícios, metodologia e os cuidados de seu emprego não só no voleibol, mas em qualquer desporto. E mais, para o próprio desenvolvimento do indivíduo.

No Brasil, e penso que em muitos países, o ensino de qualquer desporto continua encontrando as mesmas dificuldades de outrora, isto é, sabe-se mais a respeito das técnicas de execução dos gestos, das táticas a empregar, de quase todos os ingredientes científicos, mas pouca atenção se dá – diria que nenhuma – aos primeiros aspectos da Formação dos futuros praticantes. Defino futuro praticante aquele indivíduo de pouca idade que se propõem a aprender algum tipo de esporte para o seu lazer e, quiçá, até como profissão. Em voleibol, como em qualquer outro desporto, o embasamento teórico está voltado para que as respectivas técnicas de execução dos gestos – as habilidades motoras específicas – devem ser aprendidas, aperfeiçoadas e exaustivamente treinadas por adestramento. Entretanto, essas habilidades motoras atuam em consonância com uma outra componente, a educação dos sentimentos ou do comportamento emocional, totalmente negligenciada.

“Educar sempre significa mudar”. Se não houvesse nada para mudar não haveria nada para educar. Que mudanças educativas devem realizar-se nos sentimentos? Todo sentimento é um mecanismo de reação, ou seja, é certa resposta do organismo a algum estímulo do meio. Logo, o mecanismo de educação dos sentimentos é, em linhas gerais, o mesmo para todas as demais reações. Estabelecendo estímulos diversos sempre podemos fechar novos vínculos entre a reação emocional e algum elemento do meio. A primeira ação educativa será a mudança daqueles estímulos com os quais está vinculada a reação. Este tema indica uma das regras psicológicas de suma importância: o exercício só é plenamente bem sucedido quando acompanhado de uma satisfação interior. De outro modo se transformaria numa cansativa repetição, contra a qual se rebela o organismo. Em suma, “o esforço coroado de êxito, eis a condição mais importante para se avançar”. Nas minhas práticas foi assim que procedi ao construir meus exercícios quando treinava solitariamente: tinha-os como verdadeiros desafios a serem conquistados com muita obstinação e esforço, plenamente recompensados. Nos treinamentos que realizei na minha carreira de treinador exigia individualmente o cumprimento de todas as fases do exercício, especialmente o ritmo, o que importava em repetição desde o início se houvesse algum deslize no seu desenvolvimento. E, detalhe, os companheiros não envolvidos acompanhavam toda a execução, apoiando e incentivando. Os exercícios tinham verdadeira produção teatral, ricos em plasticidade e descontração, traduzidas na alegria e satisfação dos indivíduos, inclusive, gerando plateia. Há alguns anos encontrei-me com um deles (em 1981 tinha 18 anos), que me agraciou com uma declaração demasiadamente generosa ao apresentar-me ao amigo: “Este foi o melhor e maior técnico que já tive”. Valeu a pena! Creio que na fase adulta de sua vida deve estar colocando em prática tudo que emocionalmente vivenciou naqueles tempos. Este é o verdadeiro campeão que buscamos!

Comentários e lições

O fato de ter passado na infância por outros desportos – atletismo, natação, basquete –, certamente contribuiu para a formação de uma memória motora ampla e variada. Em tese, para a prática do voleibol de alto rendimento requer-se um repertório de recursos técnicos somente possíveis para atletas que possuem memória motora compatível. Por isto os treinadores de seleções nacionais dizem sempre: ”Não há como treiná-los para refinar este ou aquele fundamento, pois estamos próximos da competição”. E acrescentam: “O erro vem da base (Formação)”. Pessoalmente tenho vários registros desse pensamento em diversas épocas. Alguns problemas estão detectados:

–    O treinamento precoce por adestramento surte os efeitos desejados, ou estaria agindo contra o próprio aprendizado?

–    O sistema de competições em que se valorizam os campeões em detrimento da grande maioria de vencidos, não seria mais desestimulante do que agregador?

–    A peneira – seleção e filtragem – de jovens aspirantes à prática competitiva, aliada à busca de indivíduos altos, não seria fator de limitação e desestímulo para milhares de crianças?

–    Como conciliar a prática desportiva com os estudos e o convívio social?

Essas observações nos convidam a examinar cada pensamento, cada palavra do jovem que se aproxima de qualquer desporto pela primeira vez. São os momentos de sua formação, em que cabe ao professor/treinador estar atento e bastante instruído para que não se percam possíveis candidatos pelo emprego de uma técnica de ensino inadequada. Como dissemos anteriormente, a metodologia do treinamento suscita uma das importantes regras psicológicas: o exercício só é plenamente bem sucedido quando acompanhado de uma satisfação interior. Em suma, “o esforço coroado de êxito, eis a condição mais importante para se avançar”.

(…) Bater parede… Exercitar-se contra uma parede é algo que traumatiza qualquer indivíduo, seja criança, jovem ou adulto. Era uma prática muito empregada no tênis, o famoso bater parede. É preciso muita força de vontade para superar tal castigo imposto a uma pessoa que está ali inicialmente para aprender a jogar e divertir-se. Todavia, entendo que muitos treinadores não dispõem de tempo para dedicar-se a este ou aquele candidato em determinadas fases de suas atividades à frente de uma equipe. Há momentos e brechas no calendário para fazê-lo com mais carinho e atenção. Mas jogar o indivíduo contra uma parede parece-me sádico. Já passei por esta situação quando tinha 20 anos. O treinador disse-me “Volte no início do ano que vem, pois agora estamos terminando nossas competições”. No ano seguinte encontrei-o como adversário num campeonato universitário brasileiro, pois ele também atuava. Surpreso, disse-me após o jogo em que perdera para a minha equipe: “Continuo esperando-o, volte lá”. Deve estar aguardando até hoje, pois nunca mais apareci. Receber a visita de um aspirante ao grupo é algo delicado, mas muito negligenciado pela maioria dos treinadores. Comparo ao atendimento de uma recepcionista numa grande empresa quando atende um telefonema. Como não sabe com quem está falando, torna-se o fiel da balança: dependendo de como atenda, a empresa poderá perder uma grande oportunidade de negócio. Há várias formas criativas de envolvermos um jovem iniciante entre os adultos de uma equipe, mesmo que ainda não possua uma técnica compatível com os demais. Mas nenhuma delas deve incluir a parede, ou o isolamento, pelo contrário, deve-se incentivar o maior contato com o grupo. Esteja sempre desperto para proceder da forma mais amistosa e carinhosa, ainda que isto seja motivo de mais trabalho. No futuro, certamente será recompensado. Resta aprender como fazê-lo de forma eficiente.

Treinos aborrecidos… Costuma-se dizer que “treino é coisa séria” e, então, não deve haver brincadeiras, falta de atenção ou empenho. A fase mais criativa de minha breve carreira de treinador foi em minha passagem por um clube carioca, em 1981. Conseguimos, todos nós – dirigentes, funcionários, atletas – formar um grupo coeso através da criatividade dos treinos. Mais ainda, ganhei o respeito e a admiração não só dos rapazes, mas da comunidade do voleibol, pois recebíamos diversos elogios pelas atuações nos campeonatos de que participamos. “Como foi possível”? Na maior parte, dando ludicidade aos treinos, conquistando a confiança, amizade e o respeito de todos, o que se traduziu em máxima atenção, empenho e dedicação. E um detalhe: na equipe adulta contávamos com quatro atletas juvenis eficientíssimos (18 anos). Isto sugere progressos e novas exigências, além de um significado pedagógico: todo caso de plena satisfação com os resultados acarreta certas mudanças no mecanismo nervoso da adaptação. Sugere ainda que apenas uma simples repetição ainda não assegura o momento do êxito, uma vez que só a execução bem sucedida de alguma ação propicia a formação da organização desejável no sistema nervoso central. Se o mesmo movimento se repete a cada instante, a exaustão leva a resultados insatisfatórios que impedem diretamente a formação de novos caminhos de menor resistência. Este pequeno grande detalhe nos leva a tergiversações infindáveis. Todos já devem ter assistido em cursos ou treinamentos de adultos a aplicação de inumeráveis exercícios objetivando este ou aquele elemento do jogo, implicando um ou mais jogadores, numa sequência às vezes variada de movimentos repetitivos. Por exemplo, assistindo um dos treinos de seleção brasileira (não me recordo o ano), analisei a sua construção e o seu objetivo. Era um treino de defesa individualizado para jogadores que, invariavelmente, ocupam a mesma posição ou área da quadra (I e II). No caso em questão tratava-se de atletas especialistas em ataques de “saída de rede”. Eram dois que se revezavam a cada ciclo de cortadas produzidas por três auxiliares situados no outro campo, posicionados sobre uma mesa; cada um deles nas posições de ataque convencionais. Invariavelmente, os ataques se sucediam em profusão, mas em constante monotonia, o que me pareceu comprometer a validade (qualidade) dos exercícios. Acertos ou erros, especialmente estes, não tinham o necessário diálogo entre treinador e atleta. Assim, cumpriu-se o ritual do treinamento (50 vezes), mas não creio que aqueles dois indivíduos tenham acrescentado qualquer aspecto de desenvolvimento no quesito defesa. Mas saíram bem cansados e, pior, teriam que repetir a mesma coisa nos dias seguintes. A meu ver, não acrescentaram nada ao seu cabedal técnico que, com certeza, não incluía saber defender. Lembrei-me do saudoso Adolfo Guilherme (Minas T. C.), que em 1966 à beira da piscina do Grêmio Náutico União, de Porto Alegre, me dizia após nosso jogo pelo campeonato de clubes campeões: “Não sei o que vocês de Niterói fazem (treinos), mas sempre encontramos muitas dificuldades para levá-los de vencida; como defendem”! Uma de nossas vantagens sabia ele, é que atuávamos impreterivelmente duas vezes na semana no voleibol de praia de forma descontraída e moleque.

(…) Melhor modo para aprender as bases do voleibol. Faço este destaque porque se trata de uma observação de um atleta experimentado, com 28 anos de idade, com passagens por diversas equipes do melhor campeonato do mundo, o italiano. Imagino que ele tenha presenciado métodos mais condizentes do que bater parede e não queira colocá-lo uma vez mais para os aspirantes ao voleibol? Qual seria, então, o melhor modo de se aprender as bases do jogo?

(…) As motivações... Percebe-se a influência dos grandes eventos na conquista de novos adeptos para um desporto. Os japoneses, marqueteiros por excelência, muito contribuíram para a divulgação do voleibol no mundo graças à atuação de Matsudaira nas décadas de 60 e 70, quando revolucionaram as técnicas do voleibol, foram campeões olímpicos – feminino e masculino –, além de encantarem o mundo com o seu “Circo”. Em 1975 (ou76?) ele esteve no Rio de Janeiro onde realizou um curso. Junto, deixou conosco um curta metragem sobre como foi feito o seu “plano de treinamento de oito anos” para transformar o Japão numa potência olímpica no voleibol. Posteriormente, fui o único no Brasil a ter acesso ao filme e, sempre que podia, levava-o a escolas e clubes para exibi-lo, inclusive com comentários. Hoje transformei-o em DVD. Assim, entendi que quanto mais pompa, mais envolvimento de pessoas e um trabalho correto, sério, mais adeptos vamos cooptar para o desporto. Pensando dessa forma, construí projetos em praias para até 400 crianças simultaneamente. Em 1991, projetei para a CBV curso para 1.200 crianças por várias praias do Brasil. Sucesso absoluto!

(…) Superação diária nos treinos… Pode ocorrer que o que se está propondo fazer não é o melhor para o indivíduo, invariavelmente, um padrão de comportamentos estereotipados, receitas técnicas, ou como dizemos por aqui, receitas de bolo. Quase sempre não há diálogo entre treinador e atleta, o que acarreta uma simples imposição dos exercícios, tornando uma repetição cansativa que invariavelmente leva ao cansaço e ao descaso. Despertar o interesse do indivíduo por uma tarefa é torná-lo corresponsável por ela, senão o único a executá-la, corrigir-se até que atinja a perfeita técnica da sua execução. Este deve ser o seu objetivo e prêmio: aperfeiçoar-se e descobrir novos desafios. Assim, treinar com nível de exigência definido e acessível é diferente de repetir exercícios, onde o nível de exigência é quase sempre relegado. A isto se chama Treino Profundo (ou de Qualidade). Destacam-se dois aspectos: 1) O indivíduo não é levado a pensar para decidir sobre a nova situação.  2) Sendo repetitivos, tornam-se exaustivos e, então, em que ponto devemos evitá-los?

(…) Antes de decidirem… pelo voleibol, quero que estudem e que terminem os estudos. Sábias palavras! Para não cansá-los em demasia, deixo meu testemunho: abdiquei de figurar na seleção brasileira na década de 60 (tinha 22 anos) em favor da opção de estudar, trabalhar no Banco do Brasil e constituir minha família. Continuei a prática do voleibol em clubes, cursei a Universidade, realizei pós-graduação em Técnica de Voleibol e tornei-me especialista na Formação, sendo pioneiro do mini voleibol no Brasil. Visitem www.procrie.com.br

Importância de um Bom Ensino (I)

A liberdade de não aprender e o ato de ter ideias maravilhosas

Penso que a inteligência não pode desenvolver-se sem conteúdo. Fazer novas ligações depende de saber o suficiente sobre algo em primeiro lugar para ser capaz de pensar em outras coisas para fazer, em outras perguntas a formular que exigem as ligações mais complexas a fim de compreender tudo isso. Quanto mais ideias uma pessoa já tem à sua disposição, mais novas ideias ocorrem, e mais ela pode coordenar para construir esquemas ainda mais complicados”. (Eleanor Duckworth, The Having of Wonderful Ideas, 1972)

Esse texto ocorreu-me a partir da leitura da entrevista do treinador e Professor de Educação Física português, Arlindo Miranda, sob o título “A Nossa Missão” vinculada em www.sovolei.com/Zona7 em abril de 2010. A ele peço perdão por minha intromissão.

Motivação e interesse

O que o professor ensina nunca é melhor do que o professor é. Ensinar depende da personalidade do professor – existem tantos métodos bons como existem professores bons. É sabido por todos os maus professores como não interessar o aluno por qualquer atividade física. E o que faz, então, um bom professor para atrair e manter as crianças em qualquer atividade? Será que ensinar é ensinável? Ensinar é uma arte e uma arte é ensinável? Existe alguma coisa que se possa denominar de métodos de ensino?

Como despertar o interesse?

Esta me parece uma excelente indagação para incrementarmos um processo de aprendizagem. O desenvolvimento de uma teoria eficaz do “ponto onde o aprendiz está” e a construção de uma “psicologia do assunto” que seja operável representam desafios formidáveis: “Qual o próximo passo a dar” aparenta ser uma exigência impossível. Para uma aprendizagem eficiente, o aluno deverá estar interessado nos conteúdos a aprender e sentir prazer nesta atividade. Você saberia como fazer para despertar e manter esse interesse?

A arte de ensinar

Na formação esportiva, onde o ajustamento motor é dominante (ou indispensável), é grande o risco em proceder por adestramento para parecer ganhar tempo ou simplesmente por dificuldade de utilizar outra modalidade de aprendizagem. Tenho adotado algo como a interação, a negociação e a construção conjunta de vivências, que habilitem a criança (e adultos) a aprender a linguagem proposta. Para tal há sempre uma exigência de um elemento de interdependência e a capacidade de fazer descobertas acidentais. Hoje, tenho certeza que caminhei sempre por intuição nesse sentido especialmente quando me recordo das atividades motoras a que era chamado a participar nas brincadeiras de rua, tais como subir em árvores, lançar pedras, nadar e pescar (de mergulho), andar de bicicleta, jogar xadrez, pular carniça e uma gama variada de desportos aprendidos em terrenos baldios. Por isto, quando me iniciei propriamente dito no voleibol aos 18 anos, tive um aprendizado acelerado, derrubando mitos: “Quem não aprendeu antes, não aprende mais”. Todas aquelas vivências se somaram às novas atividades, com independência e descobertas acidentais, pois não foi tão necessário alguém dizer-me o que fazer ou como criar algo. Por exemplo, que melhor exercício existe para aprender a antecipar-se do que o jogo de xadrez, que aprendi a jogar aos 8-9 anos?

Profissionalismo vs. amadorismo

Inicialmente, as motivações dos personagens – atleta e treinador – que compõem o mundo do voleibol são distintas. Além disso, mais à frente, no alto nível, surge o inevitável “dirigente” com suas aspirações de poder e vaidades, e o “patrocinador”, com seus interesses mercantilistas.

Motivações do treinador  – Na prática, e podemos também deduzir das declarações de alguns treinadores, elas nos remetem sempre ao relacionamento com os atletas (ou futuros atletas). Isto pode ser observado quando se prospecta e acentua o potencial atual e o possível rendimento atlético do indivíduo. Neste momento, estão desprezados quase sempre os aspectos sócio-emocionais. Ou então, quando nos damos conta que num dado instante qualquer peça (indivíduo) pode ser trocada por outra em melhor estado, isto é, que apresente melhor rendimento. O que está em jogo sempre é a competência do treinador em constituir um grupo (equipe) vencedor. Sua motivação é a conquista, ser um campeão, tornar-se celebridade, ter o reconhecimento dos outros, e, certamente, afirmar-se profissionalmente com um ótimo salário. Quiçá, ser o treinador nacional, o ápice da carreira e de sua realização. Por isto o treinador ”da vez”, o que está em evidência mundialmente, torna-se referência. Atualmente, reproduzem-se citações encontradas em livro do Bernardo Rezende: “Perfeito: golpe forte, bola dentro, quase na linha (15-13). Éramos Campeões do Mundo”. E outras tantas formas ufanistas, em claro desabafo de endomarketing.

O jovem e suas motivações

Antes de ingressar nos treinamentos o indivíduo deve aconselhar-se primeiramente com seus pais/responsáveis, ou mesmo com um bom professor, de modo a que possa se balizar nas escolhas que terá pela frente em sua vida. Neste momento, ensinar a pensar é uma tarefa primacial. Por outro lado, se na sua fase infantil teve influência dos adultos pela forma com que se relacionavam com elas – autônoma ou heterônoma – essas formas se pronunciarão mais cedo ou mais tarde na vida adulta influenciando sua tomada de decisão e comportamento. Daí a responsabilidade dos adultos que lidam com crianças e adolescentes compreenderem e imaginarem o que a criança está pensando, pois se trata do aspecto mais desafiador de qualquer tipo de ensino. Nem sempre é possível saber, naturalmente, mas a observação cuidadosa e criteriosa pode levar o professor a educar seu poder de avaliação. Destaque neste processo para a teoria vigotskiana das “zonas de desenvolvimento proximal”.

Na prática, os clubes quase sempre têm suas divisões inferiores, obrigatórias em muitos lugares, favorecendo uma possível renovação e prospecção de talentos. Entretanto, daí decorre uma competição desenfreada entre os próprios atletas na escala de acesso às categorias superiores e uma consequente evasão de indivíduos não aproveitados nos escalões superiores. Aos mais renitentes resta a tentativa de “duelar” em outras agremiações numa tentativa desesperada de manter-se no ramo competitivo. De uma forma ou de outra, haverá sempre uma permanente substituição de peças nos escalões inferiores. Entre os adultos esta alternância é um pouco mais demorada exatamente pelo reduzido número de atletas em condições técnicas para substituí-los. Ao jovem não aproveitado resta retornar aos estudos e à vida tornando-se um praticante eventual do desporto. A motivação para se iniciar numa nova tarefa se manifesta por diversos fatores. Particularmente imagino que desde o imponderável, à pressão familiar. É evidente que o professor de Educação Física na escola funciona muitas vezes como fiel da balança: tanto pode ser o facilitador como o detonador de aspirações. Aliás, como qualquer outro das demais matérias. O jovem pode aspirar ser um grande jogador de voleibol ou de qualquer outra modalidade. Entretanto, nesse percurso há uma série de obstáculos a serem vencidos que, às vezes, independem de sua vontade, constituindo-se o maior deles a habilidade natural mínima para determinados movimentos. Ocorre que até certa idade pode valer-se de outros recursos que compensem, mas, na fase adulta, a competição torna-se mais restrita e, provavelmente, sucumbirá diante de um outro mais bem dotado nesta arte.

Componente psicológica

Invariavelmente, não se pode fugir à assertiva sobre as componentes que compõem o universo dos desportos: a técnica, a tática e fatores sócio-emocionais (ou psicológicos). Muito embora todas sejam expressivas no cômputo geral, há certa relevância na última delas, uma vez que a técnica e a tática são expressões basicamente relativas à forma de se exercitar, de adestramento, e, portanto, passíveis de serem copiadas e imitadas por todos, havendo ligeiras diferenças quanto à habilidade individual inata. É o que leva alguns entendidos a dizerem que uma equipe de ponta depende em muito da “safra”, isto é, do tempo em que se aglutinam indivíduos da alta qualidade técnica.  Nas competições de “ponta”, ou mesmo nos embates entre equipes do mesmo nível, o que pode fazer grande diferença é a componente emocional, especialmente dos seus treinadores. Já se dizia que para conhecer uma equipe basta conhecer-lhe o técnico. Ao contrário do que muitos afirmam, não é necessário estarmos numa final olímpica, ou mesmo de um mundial, para encontrarmos uma situação de tensão psíquica extrema. A equipe brasileira feminina passou por essa experiência no jogo contra a Rússia quando disputavam a medalha de bronze numa Olimpíada. Em fato anterior, em Barcelona (1992), os rapazes brasileiros levaram de vencida a equipe holandesa na final, sagrando-se campeões: não tínhamos qualquer responsabilidade de ganhar aquele jogo, enquanto que a Holanda, até mesmo por ter derrotado a temível Itália, tornou-se favorita ao troféu maior. Costumo dizer, sem menosprezo à conquista, que “ganhamos sem querer”, pois tenho consciência de como a equipe foi preparada e o que se esperava dela. Inclusive, os tempos pós-medalha viriam confirmar essa assertiva. Existe ainda uma consideração psicológica referente à participação brasileira em Olimpíadas que nos remete ao ano de 1984, em Los Angeles (EUA), quando nos sagramos vice-campeões. Sobre este episódio recorro à opinião de um especialista, o Dr. Victor Matsudo, à época diretor-geral do vanguardista Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul, em São Paulo, e assessor internacional do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. Ele foi um dos 2.400 cientistas, médicos, psicólogos e pesquisadores de 140 países a participar do Congresso Olímpico de Los Angeles. Voltarei a falar deste assunto logo a seguir. Aguardem.

Final de jogo x final olímpica

(…) “Perfeito: golpe forte, bola dentro, quase na linha (15-13). Éramos Campeões do Mundo”; (…) “Os últimos 3 pontos foram dele”. Não me parece ter coerência com (…)”Giovane, entra e não perde o saque, pelo amor de Deus”. Todavia, deixemos de lado a coerência dos fatos e o apelo divino para examinarmos outro aspecto mais importante.

Recordo-me de fatos que envolvem a “entrada em jogo” de um atleta pelo saque, isto é, do banco de reservas para a realização imediata do serviço. Como técnico e como atleta já passei por esta experiência, felizmente também com sucesso. Claro que a tensão de uma final mundial (ou olímpica) traz uma carga emocional muito mais forte para ambos, treinador e atleta. Todavia, tentem considerar racionalmente ambos os fatos, não considerados os “aspectos exteriores”, isto é, simplesmente um jogo entre duas equipes. Concluiremos que é um fato corriqueiro no voleibol, tratando-se de mais uma estratégia de jogo. Os novatos na profissão logo se apercebem disto e, na medida do possível, usam com proficiência. O que difere preponderantemente são as circunstâncias, o quadro emocional que envolve a todos, inclusive os assistentes presentes e distantes (TV). E, claro, principalmente aos protagonistas. Do folclore criado pelos envolvidos – cada um percebe a realidade do seu jeito – pode-se tirar proveito e adquirirmos ensinamentos das lições concedidas. Creio ser muito difícil aos vitoriosos aprenderem algo; é tarefa para os derrotados, e aqui está a primeira lição de vida, muito evidenciada pelos japoneses: A importância dos erros não deve ser negligenciada, visto que um erro corrigido é frequentemente mais instrutivo que um sucesso imediato. Tive paciência em ouvir em duas oportunidades o relato do Giovane, ambas em Florianópolis (SC). As palestras foram complementadas por um vídeo muito bem produzido sobre o atleta.

Estratégia do saque

(…) “Vai lá e saca na linha; esclareço que não sou um estrategista tão poderoso”.

O Bernardo é um dos melhores estrategistas em ação, confirmado pelos resultados que vem obtendo em sua carreira de treinador, tanto em equipes femininas, quanto masculinas. Inclusive tem a fama de só “falar naquilo” (o vôlei). Quanto à estratégia de saque, quando criança – categorias mirim ou infantil – teve seu aprendizado no Fluminense F. C. (Rio de Janeiro) com o saudoso Benedito Silva, o querido Bené. Este atuara como levantador nas décadas de 40 e 50 e era o maior especialista em saques por baixo. Tornou-se técnico e passou para seus pupilos a arte de aproveitar a técnica do saque para proveito da equipe. Enquanto a maioria dos atletas punha a bola em jogo, alguns dos seus conseguiam levar o caos aos adversários. Eu, por exemplo, fui um deles, ainda que só tenha me iniciado aos 18 anos de idade. Recordo-me de treinos da seleção brasileira na Escola Naval, Rio, com vistas ao Mundial da Rússia em 1962. Num dos treinos coletivo, ao encaminhar-me para o saque imaginei o que poderia realizar sacando por baixo, pois conhecia a todos e suas deficiências na recepção. E, ainda, o desafio seria maior, pois estaria sacando contra a equipe titular. “Foram quatro pontos seguidos e um desastre para todos, inclusive provocou a intervenção abrupta do treinador (Sami) para as considerações raivosas do tipo: Como não conseguem passar a bola de um saque por baixo”? Esclareço aos mais novos que na época nenhum adulto, muito menos naquele nível, sacava daquele modo: todos usavam o tipo tênis, pois não queriam passar por retrógrados (e também porque não sabiam fazê-lo). Quando ainda dirigia a seleção feminina, víamos pela TV as imagens do Bernardo sentado no banco a orientar a sacadora quanto ao local da quadra adversária a ser atingido: exibia para ela uma plaqueta com o número correspondente à zona desejada por ele. As moças sacavam o tipo tênis nessa época. Ao passar a treinar a seleção masculina não usou tal recurso. Penso que deveria, pois à exceção de 2-3 atletas, os demais colocavam a bola em jogo e, acreditem, quase sempre sobre o líbero adversário, em princípio o melhor passador. Poder-se-ia alegar que não havia tempo durante os treinos para mudar a característica do jogador ou coisas do gênero. Dessa maneira, imagino que tanto em jogos no alto nível como em qualquer outra divisão ou competição, a atitude do treinador é capital: ele sabe (ou deveria saber) do que é capaz cada um de seus atletas e a responsabilidade que passa a eles. O dilema do treinador passa a ser: “Deixo o jogador decidir”? Ou, ao contrário, “Decido por ele”? Ou, então, “Não erre; ponha a bola em jogo”.

Vejam o texto a seguir, um ensaio sobre a obra piagetiana que trata da formação e o comportamento psicológico dos indivíduos desde a sua infância e a sua influência na fase adulta.

Comportamento psicológico

Como poderíamos caracterizar o comportamento psicológico nas equipes de alto nível do voleibol? Os indivíduos se comportariam como os novatos na aprendizagem guardadas as devidas proporções? Não seria possível atribuir-lhes a real importância desde os primeiros ensaios desportivos?

Para falarmos desse assunto faço um breve preâmbulo para entendermos a diferença entre autonomia e heteronomia. Heteronomia é definida como sendo governado por outros, enquanto autonomia significa ser governado por si mesmo. A moralidade da heteronomia é caracterizada por obediência e conformismo às regras externas e/ou aos desejos de outros, enquanto que a moralidade da autonomia é caracterizada pela convicção pessoal sobre valores e regras que são construídos por nós mesmos. Exemplificando: o aluno heterônomo obedece ao professor sem medo de punição ou desejo de ser recompensado de alguma forma. Quando o aluno mais autônomo obedece, não é por mera obediência, mas por uma disposição de cooperar com uma solicitação que ele considere razoável e sensível. Quando não vê qualquer razão para obedecer, o aluno mais autônomo resiste e pergunta: “Por que eu tenho que fazer isso?” Este é também um pensamento crítico, bastante cultuado pelos judeus.

Ensino crítico

“Os judeus são ensinados a reverenciar a rebeldia intelectual – rebeldia sintetizada em Abraão, ao destruir os deuses e inaugurar o monoteísmo. Nada mais é do que os educadores chamam de ensino crítico; contestar sempre as verdades estabelecidas, princípio básico da pedagogia moderna. É um treinamento decisivo para quem deseja mais do que reproduzir, mas inventar. O bom educador deve ensinar a seus alunos a olhar sempre com uma ponta de desconfiança aquilo em que todos acreditam e dar uma ponta de crédito a ideias ou projetos que todos desmerecem. Ninguém inventa nada se for servil ao conhecimento passado”. Na medida em que o adulto encoraja a criança a pensar por si mesma, suas possibilidades de tornar-se autônoma (“crescer”) são intensificadas na mesma proporção. Para mim, autonomia é o objetivo primeiro porque não pode haver autonomia moral sem autonomia intelectual, e vice-versa. Se a criança pequena aprende constantemente regras morais preestabelecidas e não lhe é permitido questionar o adulto, suas experiências não lhe proporcionarão oportunidades suficientes para desenvolver uma atitude de avaliação crítica do que o adulto lhe diz. A repressão sobre o comportamento moral, portanto, é uma repressão sobre o desenvolvimento intelectual. Concluindo, a moralidade também é construída por cada indivíduo de “dentro para fora”.

Uma decisão histórica – No dia 2.5.2010, na decisão do campeonato paulista de futebol, jogavam as equipes do Santos e do Santo André. Disputa muito acalorada que resultou na expulsão de três atletas do Santos e um do Santo André. Contudo, a categoria e habilidade de um atleta santista de 21 anos de idade foi o destaque nos últimos momentos, o que redundou na conquista do campeonato. E ele foi além. Faltando ainda alguns minutos para o término do jogo, o técnico do Santos resolveu realizar uma substituição e indicou-o para sair. Qual não foi a surpresa de todos: o jogador gritou que não sairia, indicou sua resolução por gestos, e não coube outra atitude ao treinador senão a de designar um outro atleta. O que acham da decisão do jogador?  

Objetivos sócio-emocionais e cognitivos – Cognição e emoção, na realidade, uma não existe sem a outra. Quer um exemplo? Observe-se o bloqueio emocional que a maioria dos adultos tem hoje com relação à Matemática. É o resultado de se forçar um conhecimento indigesto, preestabelecido, pela garganta abaixo do estudante; quando este tem um bloqueio emocional sobre alguma coisa, o resto da aprendizagem cessa. Essa visão indissociável entre emoção e cognição pode ser confirmada pela observação de cada professor. O interesse das crianças na aprendizagem é adversamente afetado por sentimentos como insegurança, frustração, raiva e medo. As dificuldades sócio-emocionais perseguem todas as crianças de tempos em tempos, e o professor nessas ocasiões deve preocupar-se primeiro com esses problemas. Conclui-se que se as crianças propõem ideias, problemas e questões sobre conteúdo específico, e se elas colocam em relação objetos e acontecimentos as operações estão destinadas a se desenvolver.

Conclusão

No voleibol competitivo há um afunilamento natural nos praticantes, pois nem todos que se iniciam nas categorias de base chegarão à idade adulta para prover as equipes principais. O limite de atletas por equipe (12 a 15) é o principal fator limitante. Como consequência, somente os mais aptos tecnicamente ascenderão para as divisões imediatamente superiores. Os não aproveitados, então, são dispensados peremptoriamente e o único caminho para continuarem atuando seria buscar seu lugar em outra agremiação, agora competindo com outros indivíduos que, a critério do treinador, terão o seu destino selado. Ou, ainda, praticar o esporte por lazer.

Política e Educação Física no Paraná

Ginásio do Tarumã e Centro Rexona, Curitiba

Políticas Públicas e a Educação Física no Paraná        

Luciano, em 11-11-2009.   Sabemos que nos últimos tempos muitas políticas foram desenvolvidas em prol da educação no Paraná. Acreditamos que muitas delas avançam na busca de uma escola e de uma Educação Física compromissada com os interesses da classe trabalhadora. Mas até que ponto de fato avançamos? O que ainda precisa ser feito? Quem se propõe a arriscar uma breve análise?       

Roberto Pimentel11.11.2009.   Sobre a EF e as políticas públicas no Paraná tive uma pequena parcela há algum tempo através do Centro de Excelência Rexona, que se desenvolvia no ginásio do Tarumã, na capital. O Bernardo adquiriu comigo o material de mini voleibol que desenvolvi e adaptou-o às condições daquele ginásio. E, tempos atrás, seus dois principais auxiliares – Ricardo Tabach e Hélio Griner – já me conheciam desde o Fluminense do Rio, e participaram de breve curso comigo. Por sua forte influência no cenário nacional, por sua capacidade empreendedora (é formado em Administração), o Bernardo imaginou aquele Centro também como forma irradiadora de novos conhecimentos atuando também na formação continuada de professores da região, numa concepção excelente de divulgação de novos saberes. Assim, muitos professores e acadêmicos do estado participaram de cursos e estágios oferecidos pela organização.  Lembro-me que também estive por lá para fazer uma palestra, atendendo pedido do próprio. O projeto se desenvolveu por outros municípios, pois passou a contar com o apoio do Governo do Estado. Creio mesmo que sua inauguração deu-se em Palácio, com pequena exibição em uma quadra de mini voleibol ali montada. Independentemente, tentei algumas vezes contatos com dirigentes de Secretarias de Curitiba (não me lembro se também do Estado) e, como de costume, nada consegui. Atrevo-me a dizer pelo que vi quando visitei e conversei com estagiários que lá trabalhavam, que tenho uma contribuição muito intensa para o desenvolvimento da Educação Física no estado. O direcionamento pedagógico para as finalidades de uma Educação Física saudável requer muito mais atenção e estudos específicos. Visite o meu blog e compreenderá o que quero dizer: www.robertoapimentel.blogspot.com  (atual www.procrie.com.br)     

Luciano, 6.1.2010.   Você tocou em um acontecimento em termos de políticas públicas e Educação Física no Paraná bastante marcante e controvérso nos últimos tempos. Sem dúvida as parcerias com o estado promoveram o volei no Paraná. Conheço pouco dessa história, mas entre aqueles que não vêem com bons olhos aquela iniciativa está a acusação de privatização de um espaço público, da terceirização das obrigações do estado e de recursos públicos sendo utilizados para o benefício de todos. Isso porque em tese as escolhinhas que faziam parte do programa atendiam a um número muito pequeno de pessoas e que a utilização de um espaço público, o ginásio do Tarumã, fosse controlado e utilizado por um empresa, no caso, o rexona. Não conheço melhor os termos desse processo, como se deu a parceria, os resultados alcançados, os recursos utilizados, portanto não tenho como me posicionar a priori. Contudo a discussão que esse tema traz, e que a meu ver é maior, e tende a aumentar com a proximidade da copa e das olimpíadas, é a relação entre esporte e política pública. Na verdade gostaria de polemizar no seguinte sentido: como de fato o esporte atua de forma positiva para a formação e a vida das pessoas? O que justifica tanto invstimento nele, a ponto de superar o invstimento em saúde e em educação, por exemplo? Será que o que se coloca em jogo são os interesses da população mesmo, ou se utiliza um discurso pŕo-esporte, partindo do entendimento que esse é em si bom, mesmo que não se mostre como, para atingir outros fins? Se é isso, quais são esses fins? Sei que tem muita gente que acredita no potencial do esporte, e imagino pelo seu texto que você seja uma dessas pessoas. Não há mal nenhum nisso. Contudo, é necessário aprofundar e esmiuçar para que queremos esse esporte. Formar atletas? Para que? Formar cidadãos? De que forma? Promover o esporte? Para quê? Apenas algumas provocações para acender o debate.     

Nei, 3.4.2010.   Para retomar o tópico e dizer que as provoações do Luciano são pertinentes. que o Estado do PR fez muitas coisas…. mas… gostaria de dizer. O governo atual (reeleito) fez uma “limpa” em tudo que houve na administração anterior… 94-02. O problema foi que tudo foi colocado no mesmo “saco”, de Banestado às boas propostas, nas quais incluo a do Volei. Se no geral, muitas coisas se justificaram ao longo do últimos anos como acertadas, em muitas tantas perdemos tempo e os atrasos continuam….e eu diria que o esporte é uma delas. Particularmente, considero o trabalho da SEED/PR como de muita força, disposição e capacidade na atual administração, isso inclui um redimensionamento da Educação Física escolar, com uma clara concepção educacional crítica, que salvo uma certa “mão-de-ferro” às vezes, tem coerência e acertos. Essa EFE realmente é pensada na formação de cidadão, em cultura corporal de movimento que discuta conhecimentos e objetive a utilização na vida e no cotidiano, nos aspectos de lazer e qualidade de vida. DAÍ SIM!!! Agora, querer estender essa perspectiva para o trabalho com o Esporte, via  Paraná esportes…..(q fez meio de campo com programa Segundo Tempo, proposta federal – aliás com belo trabalho do prof. Amauri da UEM) … bem é forçar um pouco….. Sugiro, que como vc Luciano, abriu a discussão… coloque algumas dessas “ações” das PPEL no PR, para que possamos continuar.     

Roberto Pimentel, 4.4.2010.   Perdoem-me o tempo passado para retornar ao assunto. Há algum tempo, ofereci meus serviços à Prefeitura de Curitiba, sem resposta. Não me queixo, dado que me acostumei, pois outras também agiram da mesma forma: Quem é ele? Acha que não podemos realizar aquilo? Todavia, o Bernardo e a Rexona têm um peso marqueteiro e político considerável. O programa de mini vôlei ali instalado e posteriormente estendido para escolas estaduais teve a minha inspiração. Como também o Viva Vôlei da CBV (fui o coordenador técnico). Neste último, “despedi-me” por não concordar com a filosofia: as franquias visam lucro. No caso de Curitiba, imagino que houve mais poder político e uso de imagem do que qualquer outra coisa. Ocorre que em qualquer lugar ainda é assim. E o que devem fazer aqueles que só querem o melhor para as crianças e os novos professores? Em palestra no ginásio do Tarumã a convite do Bernardo, tive breve contato com alguns professores paranaenses. Chamou-me a atenção um comentário de uma professora que em sua primeira visita, não se cansava de elogiar o que vira. Estava estupefata! E dizia-me que “em 15 anos de profissão, trabalhando nas melhores escolas paranaenses, nunca vira nada igual”. Isto é, não conhecia o mini vôlei. E, imagino, continua a ignorá-lo até hoje. Implantaram uma “coisa” que não sabem como fazê-la crescer e se desenvolver, isto é, não fazem mais do que repetir o que “aprenderam”. Abstenho-me de colocações políticas. Se precisarem de ajuda, vejam se o que venho oferecendo em www.procrie.com.br (ver Sumário dos Testos) poderá auxiliá-los para o futuro. Além disso, atrevo-me a lembrar a obra deixada por Jean Le Boulch (Psicocinética) com variados temas para um feliz gerenciamento público da atividade física da população.