O Tempo e suas Lições

Vissoto (6) e Rodrigão em bloqueio duplo. Foto: Fivb/Divulgação.

Lições do Mundial: Divertimento ou Competição? 

Celso Paiva, que cobriu os jogos desse mundial para o site Terra (out./2010)  conversou com o jogador Leandro Vissotto e mostrou a parte de sua história como atleta de voleibol no início de carreira. Tenho certeza que é um exemplo bem comum e onde todos poderão tirar boas lições, especialmente os “papais não torcedores”. Para o treinador ou dirigente pouco se lhe dá, pois seu interesse está voltado para GANHAR, não importa o preço a pagar. Algo como “os fins justificam os meios”, onde “o importante NÃO é competir” ou, “temos que tirar as criancinhas da rua”. Finalmente, autênticos educadores: “Só o esporte educa”.

Leandro Vissotto. O camisa número 6 da seleção brasileira se destaca pela altura pouco habitual para um jogador que atua como oposto. Com 2,12m, ele é o atleta mais alto da equipe e tem larga experiência internacional, já que atuou na Itália nas equipes do Latina, Taranto e Trentino. Mas não foi sempre nesta posição que Vissotto jogou durante sua carreira. “Quando eu iniciei do mirim para o infantil, o meu treinador me colocou de meio de rede por conta da altura. Mas nunca gostei dessa posição porque é meio como um zagueiro no futebol, porque você corre, protege e quando toma o ponto a culpa sempre é sua.

Vissotto admite que a pressão que ficou em cima da seleção depois do jogo contra a Bulgária, no qual a equipe poupou alguns titulares e saiu vaiada, fez diferença na moral da equipe durante o duelo com os checos. “Não tinha um jogador ontem que não pensasse no assunto. A gente fica com aquela vontade na partida de superar a pressão habitual de momentos como esse”, concluiu o jogador.

Fiz um resumo dos detalhes que me interessaram debater e que certamente podem contribuir na nobre missão de um EDUCADOR:

– “Meu treinador me colocou de meio de rede (…) Mas nunca gostei dessa posição (…) Então eu comecei a errar tudo de propósito até ele perceber”. 2º – “Se interessou pelo vôlei graças a um empurrãozinho de suas irmãs (…) Nunca acompanhei muito e fui meio forçado porque elas faziam eu ir”.  – “Na carreira, o mais sofrido foram as diversas lesões (…) As contusões principalmente no início da carreira”.  – (…) “Teve problemas com a língua (na Itália) (…) Era complicado ir em um restaurante ou no supermercado para conseguir se comunicar”.  – (…) Falta de comprometimento de algumas equipes do país europeu (…) Os times não pagavam em dia, era bem complicado”.

Vissotto e a bola 8; e tatuagens no corpo de outros atletas. Foto: Terra.

No Mundial da Itália.   – Vissotto (ao lado) disse que todos os jogadores têm um momento crítico.  2º – Sofrendo com a irregularidade durante os jogos admitiu que a frustração que viveu durante a vitória suada contra a República Checa foi grande. Cometendo vários erros, o jogador acabou substituído por Theo no terceiro set e pouco voltou para a partida no restante.  No banco, o semblante era de muita frustração pelas coisas erradas. – Em um dos retornos, durante entrada no quarto set para fazer a inversão (no qual se troca a posição do oposto e do levantador), ainda se irritou por não ter a permissão do árbitro para entrar no jogo, por ter demorado muito. No momento de raiva, sobrou para a plaquinha com o número da camisa do levantador Bruninho, que foi quebrada.   – ” Todo atleta tem aqueles dias que entra e as coisas não vão do jeito que ele espera, faz parte”, disse. A gente está aqui para apagar essas coisas (maus desempenhos). Não tenho que pensar muito, cada partida é diferente”. – “Admite que a pressão que ficou em cima da seleção depois do jogo contra a Bulgária, no qual a equipe poupou alguns titulares e saiu vaiada, fez diferença na moral da equipe durante o duelo com os checos. “Não tinha um jogador ontem que não pensasse no assunto. A gente fica com aquela vontade na partida de superar a pressão habitual de momentos como esse”. Assim, se no próprio país os problemas extra-quadra interferem, imaginem um atleta atuar no exterior. É muito provável que terá uma carga extra por conta não só da aceitação na própria equipe – lembrando que disputa a vaga com nativos e outros estrangeiros – como acentuou, e ainda da cultura do país, pois não só de voleibol vive o homem. Na sua imensa maioria, esses jovens estão despreparados intelectualmente até por força de sua escolha profissional. Adotaram o esporte como fonte de recursos para sua sobrevivência. Com isso, abandonam prematuramente os estudos e família. Mesmo no Brasil, vemo-los a atuar ora numa equipe em algum estado e, a seguir, em outro, distante de tudo e de todos. São profissionais nômades, ciganos, sem raízes. E, no caso dos figurantes em seleções brasileiras, o tempo consagrado aos treinos e competições consome meses a fio. Será que vale a pena? Conhece algum que, no exterior, ou mesmo em seu país, procure aperfeiçoar-se nos estudos ou aculturar-se?

Se clicarem na foto do jogador, verão ao fundo fotos de tatuagens de outros atletas brasileiros. Perguntei a um jovem professor de natação da minha neta sobre a motivação para suas tatuagens. Disse-me: “Quando ainda rapaz era modismo; a seguir tornei-me quase dependente delas, é difícil não querer mais”. Fico a pensar o que leva uma pessoa deixar manipular o seu corpo de tal forma! Talvez tenham “inventado” um significado para elas que lhes serve de apoio e segurança em momentos aflitivos. Vejam as superstições e crendices de atletas de futebol e como passam, de geração em geração para os seus seguidores: benzer-se a todo instante, entrar com o pé direito no campo etc.

Lembro-me da crise que surgiu na seleção brasileira em 1988, antes das Olimpíadas de Seul, na Coreia. O técnico principal era o coreano Sohn, que fora tricampeão brasileiro pelo Minas Tênis Clube. Em uma excursão para uma série de jogos amistosos nos Estados Unidos, houve um estremecimento na delegação, que culminou com o afastamento do técnico e alguns jogadores. Diz-se até que um dos motivos teria sido a imposição do treinador para que os jogadores fizessem uso da leitura de livros à sua escolha nos momentos de folga. Quarenta dias antes dos Jogos Olímpicos a CBV destituiu o técnico Sohn e reconduziu para o seu lugar Bebeto de Freitas. Os problemas que o coreano não conseguiu resolver se agravaram com o pedido de dispensa de nove atletas, que só retornaram com Bebeto.

História de vida. Creio que em 1991-92 fui convidado a participar de uma reunião entre pais de atletas e o respectivo treinador num clube tradicional de minha cidade. Eram todos juvenis e disputavam o campeonato carioca de voleibol. Inclusive, o clube viria a ser campeão no ano seguinte. Certamente queriam aproveitar minha experiência para indicar-lhes o caminho a tomar em relação aos problemas que pontuavam vez por outra. Comentaram, discutiram e muito mais tarde indagaram-me a respeito. Disse-lhes: “No que me concerne, todos tiveram a oportunidade de expor seu ponto de vista, assim, cabe a vocês agora decidirem o que fazer”. E retrucaram: “Mas e você, qual a sua opinião”? Resumidamente, mostrei-lhes que os interesses de um clube federado que participa de competições regularmente são quase sempre ditados por um dos seus dirigentes e o treinador da equipe. Os interesses dos pais não devem se sobrepor aos da equipe, que representa o clube. Assim, penso que devem apoiar os gestores sem impor-lhes qualquer interesse particular, como a escalação do filho ao considerá-lo melhor do que um outro.” Claro que nem sempre é assim, e sei muito bem do que falo, especialmente quando se trata de seleção de um país. Como dizia um velho amigo já falecido, “quanto maior o clube, maiores os problemas”.

Futebol e Voleibol na Praia

Foto: Wallace Teixeira/Photocamera/Divulgação.

Com desfalques, Flu treina na praia e ganha apoio de multidão
Rodrigo Viga, 12 de outubro de 2010.       

Deu no Terra. “Apoiado por quase 500 torcedores, o Fluminense treinou nesta terça-feira na Praia do Leme, zona sul do Rio de Janeiro, em busca da reação no Campeonato Brasileiro. Os fãs que compareceram à atividade tietaram os jogadores e manifestaram palavras de apoio, apesar de o time perdido a liderança para o Cruzeiro”.   

Futebol vs. Voleibol.  Teria eu ficado louco ou muito distraído para vincular a notícia acima num site de voleibol? O que estaria acontecendo? Qual a relação entre a preparação física de uma equipe de futebol profissional e o voleibol?  Inicialmente podemos pensar em “esporte, exercícios, areia, voleibol de praia.” Mas o que de fato quero destacar é a importância da presença do público aos treinos e o que representa para o atleta.          

Treinamento do Vôlei na Praia. Tive a oportunidade de ser um dos chamados “Rato de Praia”, uma bem conceituada e carinhosa indicação para o indivíduo que tem intimidade com a areia por frequentá-la a todo instante, isto é, estar sempre na praia a praticar o voleibol. Não confundir com os novos frequentadores, profissionais do ramo, que só o fazem motivados pelos prêmios em dinheiro que o patrocinador oferece. Não. Antes de o Banco do Brasil dar os primeiros passos no final de 1991, há muito se jogava na praia com outra motivação e “espírito”. Jogava-se por puro divertimento, descompromissadamente, com alegria. Tenho registros de jogos na praia que datam de 1939 e o leitor poderá ver em “História do Voleibol, Voleibol de Praia.”            

Situação dos atletas. No Brasil, e até na Suécia, os novos profissionais das areias já foram confundidos pela comunidade a que pertencem como vagabundos, no sentido de que largam estudos e trabalho para se dedicarem exclusivamente à nova profissão. Vejam o texto extraído do noticiário jornalístico por volta de 1999: “O sueco Tom Englen, originário do vôlei de quadra como a maioria dos jogadores, acredita que a possibilidade de ser um bom atleta com estatura mediana ajuda a aumentar o interesse pelo vôlei de praia. O Roberto Lopes é um dos melhores do mundo e tem 1,85m. No vôlei tradicional isso seria impossível, compara. Mas ele e seu parceiro, Petersen, ainda lutam para tirar do esporte o estigma de jogo de vagabundos, que insistem em lhes dar na Suécia”.           

Ana Paula salta enquanto Shelda observa. Foto: Fivb Beach Volleyball Partinership Opportunities 2010.

Treinamento com público. Tenho certeza de que não há maior motivação para um atleta do que estar sendo visto por outros olhos quando está a se exercitar. Em academias há o recurso perigoso dos espelhos e a companhia de outros clientes. No voleibol indoor, dificilmente alguém se detém para assistir aos treinos de uma equipe. E se colhermos a opinião dos atletas, todos concordarão que a monotonia é um fator psicológico a ser vencido. Os  treinadores mais antigos possivelmente não consideravam esse fator, até mesmo porque não tinham o famoso “tempo” (serve como desculpas até hoje) e tão pouco recursos. Certa feita, foi antes de um Sul-Americano juvenil no Chile, a equipe nacional era treinada pelo Jorge Bettencourt (Jorginho), meu amigo do Botafogo. Pedi-lhe para realizar um treino demonstração em um educandário de Niterói. Nesta época lembro que faziam parte da equipe Renato Villarinho, Xandó e Renam. Foi uma demonstração de como treinava uma equipe de alto nível e, em seguida, distribui entre os alunos papel e caneta para que, quando autorizados, colhessem autógrafos dos jogadores. Foi uma verdadeira festa para a criançada e, tenho certeza, uma quebra da monotonia de tantos treinos do selecionado. Houve uma mudança de ambiente e uma novidade para todos – atletas e alunos.      

Muitos anos se passaram para que me dispusesse a realizar treinos com duplas de praia em Icaraí, onde resido. Considerei o desgaste nervoso como um dos obstáculos a vencer, pois as sessões eram diárias (6 vezes na semana) e com horários bem sacrificantes (9h às 12h). A parte física era à tarde, em academias, por conta exclusiva dos atletas. A escolha do local também favoreceu ao que tinha em mente, isto é, aproximar os atletas do público passante no calçadão da praia, por onde sempre desfilam milhares de pessoas realizando suas caminhadas matinais. Fora o fluxo de veículos, descomunal.     

Meus objetivos foram atingidos, não só porque me utilizava de uma série de equipamentos não convencionais, como também tornei a pequena arena em um ponto de atração diário. Os passantes reduziam o seu ritmo de caminhada, ou até mesmo paravam por instantes para apreciarem o que se desenrolava. Vez por outra me consultavam sobre a possibilidade de inscrever um novo candidato. Interessante notar que, anos a seguir, quando inclui duas moças aos treinos, a procura pelo ingresso foi bem maior. Em resumo, fui pioneiro ali de um Centro de Treinamento de Duplas de Praia que mais tarde e até hoje, inspirou outros professores e treinadores.       

Voltarei ao assunto após obter depoimentos daqueles atletas que estiveram comigo durante um bom tempo. Veremos como após tantos anos aqueles nossos encontros contribuíram para a edificação de suas vidas. Como sabem, minha preocupação maior sempre foi Educar e não o treinamento – adestramento – do voleibol. Até lá e aguardem!      

              

Lições do Mundial na Itália – II

 

Brasil tricampeão mundial. Foto: Fivb/Divulgação.

 

Sistema de Chaves e Arbitragem  

Sistema Olímpico de Chaves. A estreia do novo sistema deu-se nos XX Jogos Olímpicos, em Munique, antiga Alemanha Ocidental. Foi a única competição internacional no ano, infelizmente marcada pelo atentado contra atletas israelenses. O Brasil não se fez representar no feminino. O sistema consistiu na elaboração de chaves de classificação com cruzamento dos vencedores para a fase final. O intuito foi o de poupar os atletas através da diminuição do número de jogos entre os participantes. Até então era demasiadamente sacrificante, inclusive pelo número de equipes. Relembrem, por exemplo, como foi o campeonato Mundial de 1956, em Paris, já comentado em História do Voleibol.  

Regulamento. Ocorre que com as mudanças no Regulamento, as seleções envolvidas têm a prerrogativa de “atuar com o Regulamento”, como passou a ser dito. Isto explica, por exemplo, as circunstâncias que a equipe técnica de qualquer país decida se deve ou não jogar para vencer quando já classificado. Foi o que fez o Brasil ao se deixar derrotar pela Bulgária, visando aos enfrentamentos futuros teoricamente mais desejados. E, pelo resultado, os fins justificaram os meios. A gritaria italiana, sem dúvida, era para evitar o Brasil antes da desejada final. De alguma forma, passou a ser um atestado de suas próprias deficiências, haja vista o confronto entre ambas as equipes.    

Neutralidade da Arbitragem. Diante das circunstâncias que envolveram os jogos neste Mundial em relação à partida entre os selecionados do Brasil e da Bulgária, a imprensa italiana promoveu intensa batalha para constranger os atletas brasileiros. Após ter perdido de 3×1 para o Brasil, calaram-se, mas não silenciaram, isto é, conseguiram escalar Fiscais de Linha nacionais na derradeira partida contra os cubanos. Todos viram as reclamações dos atletas brasileiros contra diversas marcações, inclusive com o primeiro árbitro fazendo valer sua autoridade e não considerando uma das intervenções de um daqueles senhores. Esta atuação do árbitro suscitou uma história ocorrida em 1970, durante o VII Campeonato Mundial masculino e feminino (VI) disputado na cidade de Sófia, na Bulgária. Na oportunidade, as equipes brasileiras não lograram bons resultados: a 11ª colocação para os rapazes, enquanto as moças se situaram na 13ª. Nesse período a equipe masculina da Alemanha Oriental se programara para vencer a Olimpíada de 72, em Munique. Para tanto, ganhara a Copa do Mundo de 69, ganhou este Mundial de 70 e, posteriormente, entrou em fase de queda de produção, sendo derrotada na Olimpíada pelo Japão. 

O Fato. Na final de 70, enfrentaram-se Bulgária e Alemanha Oriental com a arbitragem do romeno I. Neculescu que tomou decisão histórica e inédita. Logo no primeiro set, após várias anotações indevidas dos fiscais de linha, todos búlgaros, EXPULSOU-OS de suas atribuições e conduziu o jogo sem eles, apesar de toda a torcida contra. Era praxe até então a utilização de fiscais de linha do país sede. 

Muito embora no atual Mundial teoricamente deva-se considerar que a arbitragem na final era neutra, já que o jogo envolvia Brasil e Cuba, percebemos 40 anos depois que a história “quase” se repetiu. Com certeza os dirigentes italianos se mantiveram distantes da sua imprensa e público e, na medida do possível, confiaram nos seus bandieres, fiscales  ou “bandeirinhas”.  Só faltou o árbitro expulsá-los peremptoriamente. Felizmente não o fez e soube conduzir-se com maestria, até porque o jogo foi muito tranquilo, a exemplo da partida contra a Itália: 3×0 esbanjando muita categoria e elegância.  

Parabéns à equipe brasileira, atletas e dirigentes!

Treinamento de Defesa – II

Foto: Fivb/Divulgação.

Tempo: passado e futuro

Em 3o de julho publiquei o primeiro artigo com este título. O tema é o fundamento defesa em voleibol, quer seja individual ou coletivamente. Lá, dei os primeiros passos para estimular a maneira de pensar o treinamento dos atletas. Da mesma forma faço-o agora esperando despertar os leitores para o leque de opções que o assunto encerra. Tenham redobrada atenção e jamais desconsiderem a história e o tempo, ambos são nossos aliados. Lembrando Santo Agostinho, “Se nada sobrevivesse, não haveria o tempo futuro, e se agora nada houvesse, não existiria o tempo presente”. E continua: “De que modo existem aqueles dois tempos – o passado e o futuro – se o passado já não existe e o futuro ainda não veio”? E fala-nos sobre o presente: “Quanto ao presente, se fosse sempre presente e não passasse para o pretérito, já não seria mais tempo, mas eternidade”. Portanto, não fiquem parados, tirem bom proveito de seu tempo!

Lições do Mundial

Desde que houve a mudança na Regra da contagem para Pontos por Rally,  ocorreram várias mudanças de comportamento entre os atletas no jogo. Uma delas, o risco no próprio saque. Entretanto, com o aprimoramento e o intercâmbio global entre jogadores, equipes e seleções nos extensos calendários continentais e mundiais, as equipes tendem a se nivelar com tamanha distribuição de talentos. Agora, por exemplo, é a Turquia que resolveu investir no voleibol, depois de igual procedimento no futebol e basquetebol. Estão contratando jogadores, técnicos, enfim, investindo maciçamente, talvez até para entrar no seleto grupo dos países da Comunidade Europeia.

Detalhes fazem a diferença

Cada vez mais o nível das seleções nacionais vem se elevando com o aparecimento de muitos atletas que podem fazer a diferença em um jogo. As estatísticas, ao final de cada partida, sempre apontam para os detalhes maiores, isto é, número de intervenções em cada fundamento, % de eficiência (ou não), o melhor disso, o “mais ….”, mas escapa aos olhos e à digitação dos encarregados de selecionarem esses dados pequenos detalhes que passam imperceptíveis a muitos, especialmente treinadores. Certa feita um cronista de basquete disse: “Uma partida de basquete deveria ser disputada com as equipes com 100 pontos cada; e o tempo de jogo, somente um minuto”. Uma das interpretações que podemos dar é que todas as emoções, estratégias e circunstâncias do jogo estão concentradas nos seus instantes finais. Ele, o minuto final, descreve e resume tudo o que se passou anteriormente e, certamente, o imponderável ditado pelo emocional dos litigantes, surgirá nesses instantes. Assim, se as equipes se nivelarem durante todo o transcurso da partida somente no derradeiro minuto saberemos quem é a vencedora. Qual delas? Não sabemos, mas pode-se pensar a respeito, isto é, talvez “aquela que errar menos”. Tenho a impressão de que todos concordarão uma vez que se minha equipe não errar e a adversária cometer um só erro, tenho assegurado a vitória. É claro que isto é um simplório exercício de lógica sobre a hipótese do cronista. Mas já ocorreu no voleibol. Relembro o fato a seguir.

Olimpíada em Barcelona

Calquemo-nos agora nesse jogo histórico acontecido não muito longe no tempo, foi em 1992. A final de voleibol dos Jogos Olímpicos jogada entre Itália e Holanda teve desfecho dramático e único. Inclusive, culminou com a mudança no sistema de contagem dos pontos. A Regra vigente até então era a aprovada no Congresso Mundial em que dizia: “O 5º set decisivo será disputado no sistema de ‘pontos por rally’, em que cada saque corresponde a um ponto. O placar final do set foi limitado em 17 pontos, com um ponto de diferença”. Ora, aconteceu que neste jogo teve o 5º set (tie-break) e esteve empatado em 16 pontos. Com o 17º ponto da Holanda, o árbitro deu como encerrada e a vitória olímpica à equipe. Os representantes italianos protestaram, fizeram um recurso à Fivb e esta resolveu mudar a Regra: “Nos empates em 16-16, o jogo continua até que uma das equipes consiga uma vantagem de dois pontos”. É a que vigora até nossos tempos, embora a contagem limite do tie-break seja 15 pontos. A partir desse fato a Federação Internacional só realiza mudanças efetivas nas Regras após as Olimpíadas.

Pontos por Rally

E por que contei esta história? Não lhes parece semelhante a do cronista sobre o basquetebol, guardadas as devidas proporções? Isto é, dá-se muita atenção ao  último ponto, ele é o ápice, ele é quem decide o término da contenda, com ele o árbitro finaliza tudo. Mas e os outros pontos, quantos erros e virtudes para se chegar lá? Algum atleta italiano teria sido negligente ou incompetente em algum lance? E este não fez a diferença? Assim, como se comportam emocionalmente os atletas nos 4 primeiros sets de uma partida de voleibol? Que diferença pode haver no comportamento emocional no set decisivo e os anteriores? Estar sempre à frente no placar tem influência psicológica no andamento da partida? Como deve agir um treinador nos diversos momentos do jogo para sanar problemas dessa natureza? Enfim, como considerar e treinar tais aspectos?

Treinamento de defesa

Relação entre bloqueador e defensor. Foto: Fivb/Divulgação.

Por que não cuidar, então, de não errar “nem em treinos”? Qual deve ser o nível de exigência? Como posso me superar para fazê-lo e, mais ainda, como estar atento para “compensar” qualquer falha eventual de um companheiro?  Se eu estivesse jogando atacaria todas as bolas na direção do jogador mais fraco no fundamento defesa que, por exemplo, seria o Vissoto, com seus 2.12m. Basta ter olhos de ver, especialmente quando ele está “atrás”, em que sempre troca de posição para ficar em (I) e, dali poder efetuar os ataques de fundo. Ocorre que bem à sua frente, em (II) está o levantador (Bruno), o mais baixo bloqueador. Assim, todos os adversários deveriam volver seus ataques, especialmente de entrada de rede e meio de rede na direção dos mais fracos defensores. Se não o fazem, com ligeira pitada de ironia, pode-se concluir que as “estatísticas” nada dizem a este respeito, ou não consta do Manual da Fivb. O que faz, então, o treinador? “Há que conviver com o problema da melhor forma possível”! Ainda mais em se tratando de atleta que só atua em uma posição e, como dizíamos antigamente, de “uma bola só”. Todavia, sabendo usá-lo e não decepcionando nas suas investidas, é um GRANDE (2,12m) trunfo para a equipe. Contra a Rep. Checa foi sacado da equipe em boa hora, pois não estava bem, embora ainda ache que o levantamento para ele pode ser mais alto, dada a sua envergadura e lentidão nos deslocamentos. Teve até bloqueio simples do canhoto Hudecek (1,95m).

Brasil e Alemanha

Na recente partida entre as seleções dos dois países (6.10), observei um lance que reputo como um daqueles já comentado em textos sobre a Iniciação e Formação de jogadores. Creio que se desenrolava o 3º e último set da partida que seria ganha pelo Brasil (3×0). Um jogador alemão salta na saída da rede (II) para o ataque e, tendo percebido a chegada do bloqueio duplo, evita o ataque por cortada e, simplesmente, lança a bola com uma das mãos em direção ao fundo da quadra adversária (em V), encobrindo o defesa-esquerda brasileiro que se aproximara para a cobertura do bloqueio. Contava ele, com toda certeza, que o defesa-centro – creio que o Dante, mas não importa seu nome – estaria pronto para a sua própria cobertura, isto é, não havendo o impacto violento, estaria disponível para o respectivo deslocamento lateral até V, o que não aconteceu. O atleta brasileiro ficou “pregado” ao chão, sem qualquer reação. Considerando que a bola foi lançada sem força a uma distância razoavelmente grande – da rede ao fundo de quadra, entre 8m e 9m, por que será que o jogador brasileiro não esboçou qualquer reação para realizar a defesa que consistia na tática da equipe em dar cobertura aos “alas” que quase sempre se deslocam um pouco à frente? Notei, inclusive, que o líbero voltou seu olhar como se lhe interpelasse: “Por que não foi na bola, estava tão fácil”?

Sobre este lance falarei um pouco mais em outra oportunidade. Farei relato do que vi em treino da seleção brasileira, inclusive com o considerado melhor líbero e defensor do mundo, Sérgio, o Escadinha. Enquanto isto proponho debatermos também o lance visto pelo lado alemão: “Por que o atleta teria realizado o ataque daquela forma”?
Até lá que tal aquecermos o nosso bate-papo? Comentem!

Lições do Mundial da Itália – I

Fase do jogo Brasil e Rep. Checa. Foto: AFP

 Valor da História             

Rapidamente, para que não se esqueçam da história e aprender a usá-la convenientemente, relembro o texto que escrevi em Treinamento de Canhoto – III:             

3. Em 1982, no campeonato mundial realizado na Argentina e vencido pela URSS, o Brasil perdeu uma partida para a Tcheco-Eslováquia numa das fases preliminares. O destaque desse encontro foi um atleta canhoto que não encontrou qualquer dificuldade para superar o bloqueio brasileiro, inclusive atacando da entrada da rede (IV). Não era um jogador alto e as equipes não atuavam com tantas fintas.                

Quem viu a partida entre o Brasil e a atual República Checa ontem (dia 5) pelo Mundial que está sendo disputado na Itália, contemplou a excelente atuação do atleta canhoto HUDECEK. Após terem perdido o 1º set, seu treinador colocou-o em quadra e isto fez a diferença: ganharam o segundo e terceiro sets. Inclusive, realizou a maioria dos ataques na entrada da rede (posição IV), ignorando bloqueios gigantes, como o de Leandro Vissoto, de 2, 12m.  Considere-se que o atacante checo mede 1,95m. Ao que parece, só foi travado pela utilização do saque (tático) do atleta brasileiro Theo, assim mesmo no tie-break.  Pena que outros nacionais não tenham aprendido ainda a sacar, pois o líbero adversário foi contemplado com diversas benesses. É possível que “não tenham tempo” para treinar este fundamento…  E, certamente, “como bloquear um canhoto”:             

2. Recordo-me que o único treinador que teve preocupações defensivas contra a possível presença de um canhoto numa equipe adversária foi o Professor Paulo Emmanuel da Hora Matta, quando de sua estada à frente da seleção brasileira no final da década de 60 e início dos anos 1970. Indagou-me se poderia participar dos treinos para que os atletas apurassem o bloqueio contra um canhoto. Acedi ao convite, mas nunca mais voltou a falar sobre o assunto. Não pude ajudar, foi uma pena!                 

Quem tem medo? Aprendi há algum tempo um sábio ensinamento: “As pessoas têm medo daquilo que desconhecem”. É o caso das crianças, dos indígenas e povos de cultura primitiva que a história nos conta que se amedrontavam com simples trovões e, por isso, davam-lhes o caráter até de divindade. Assim é até nossos dias, pois aquilo que não sabemos fazer ou realizar deixamos de lado e evitamos entrar no mérito para um possível aperfeiçoamento.    

No voleibol nunca será diferente, ainda mais quando os ditos preparadores, formadores, treinadores e técnicos – não esquecer dos entendidos – só pensam naquilo, isto é, na vitória a qualquer preço. Essa metodologia tão em voga atualmente está voltada preponderantemente para o ganho imediato, não importa a quem sacrificar. Os atletas deixaram há muito a sua condição de indivíduos, com pensamento próprio, e foram transformados em peças que a qualquer momento podem ser substituídas sem a mais mínima cerimônia. Por que, então, perder tempo em treinar um jovem que não sabe ainda recepcionar ou defender, se ele é muito mais útil hoje à equipe no ataque e no bloqueio? Muitos acreditam também que um bom bloqueio é suficiente para que a equipe tenha uma boa defesa. Então, é muito mais fácil treinar o bloqueio e não perder tempo em fazer com que atletas de 2m ou mais sejam razoáveis defensores.       

Importância da Formação. Esses mesmos indivíduos já foram condenados lá atrás, quando se iniciaram no esporte, pois tenho certeza que nunca foram exigidos em outros fundamentos. E não seria agora, pois testemunho há vários anos exemplos com equipes infantis e juvenis. O que se vê em matéria de treinos de defesa é pura brincadeira que talvez devesse ser realizado na areia da praia, com muito mais proveito. E estou falando da época de maior crescimento do voleibol nacional, a partir da década de 80, com a insana profissionalização a que chamo “corrida do ouro”, típica dos antigos filmes do faroeste americano, com cavalos, carroças e diligências, massacrando quem lhes impedisse o objetivo. Para chegar ao fim almejado e conquistar seu quinhão não importam os meios.       

No caso da partida a que me refiro atrevo-me a ir um pouco mais além, chamando a atenção também para o aspecto do posicionamento e péssima técnica no fundamento defesa para os dois atletas que estão regularmente nas posições I e II, invariavelmente o levantador e o seu oposto. Foram muitos ataques direcionados para esta lateral da quadra e não me lembro de qualquer recuperação. Por ali se situam Bruno, Vissoto e, depois Theo. Quando a TV repete os lances de vários ângulos, permite observar a posição dos atletas exatamente atrás do bloqueio, o que denota o cuidado especial de não receber o impacto direto, ou levar medalha como dizemos no Brasil. Além disso, os pés paralelos, a posição alta e a não exigência em treinos de defesa, fazem-nos alvos preferidos dos ataques contrários. Enquanto isto, do outro lado, o líbero se destaca, pois não tem medo e sabe defender. E para permanecer na equipe terá que se esmerar nesse fundamento até as últimas consequências, o que o torna um especialista. Sabedor disto, o que fazem os atacantes contrários? Não é necessário ser um estrategista para responder. Pelo que já vi de treinos de seleções brasileiras, tudo continua no mesmo lugar, e se nos chegam as vitórias, certamente que vamos todos nos ufanar de sermos brasileiros. E a história continua repetindo os mesmos fatos. Não foi por acaso que postei a foto acima para ilustrar o que estamos afirmando. Não se trata de jogo dos sete erros, mas dá para destacar alguma imperfeição, afinal, ninguém é perfeito.    

Detalhes fazem a diferença. Não precisamos nos reportar ao alto nível de qualquer desporto, mas em qualquer tipo de competição em que os oponentes têm formação similar, certamente que a vitória tenderá para os que melhor cuidarem dos detalhes. Em outras palavras, ganha quem erra menos, frase que ouvi em 1963 do nosso saudoso Zoulo Rabello. No alto nível não é diferente, já que todas as equipes e jogadores se conhecem, há múltiplas informações oriundas dos sistemas de espionagem, filmes, CDs. Contribuindo para tal, até o regulamento das inúmeras competições bancadas pela Federação Internacional prevê a participação de um determinado número de atletas (eram 9) que estiveram nas últimas competições patrocinadas por ela.  

Percebe-se também o equilíbrio entre 5-6 seleções mundiais que, dependendo de fatores extra-quadra, algum acidente, uma contusão, ou mesmo, a safra abundante de excelentes atletas num determinado período, constituem-se em vetores dos resultados. Mas estejam certos de que nunca se deu importância aos treinadores das equipes em Formação, muito menos à sua qualificação. Os cursos preconizados pela Fivb para suas filiadas estão estandartizados e repetidos pelo mundo e sua abordagem continua efêmera. Quantas vezes ouviremos treinadores de seleções (refiro-me a qualquer deporto coletivo) no Brasil dizerem que não se tem treinamento na BASE, que é insuficiente, mal efetuado e, quando um atleta alcança o nível mais alto, “não há tempo para corrigi-lo”.  E, ainda, que os aspirantes a treinadores devem “ser do ramo”, em clássica retórica depreciativa. O que acham que deve ser feito? Ou seria melhor ter bastante fé e repetir mais uma vez a plenos pulmões: “DEUS É BRASILEIRO”!          
Jogadores camaroneses comemoram 1ª vitória em Mundial contra a Austrália. Foto: FIVB/Divulgação.

República dos Camarões        

Deixo consignado o meu apreço pela vitória maiúscula da equipe dos Camarões sobre a Austrália. Trata-se da única vitória em jogos desse porte. Parabéns aos camaroneses e que sua alegria espontânea possa contagiar corações que só buscam ouro, bem  entendido.      

Há muitos anos, João Havelange, brasileiro, então o todo poderoso presidente da FIFA, houve por bem incluir no circuito mundial de futebol o continente africano. Foi uma grita geral! Com a realização do último mundial na África do Sul, vimos o alcance de sua visão profética. Agora, vendo a foto ao lado, fico a me perguntar o que ocorrerá daqui para frente nos países africanos. Sinto-me bastante gratificado de também eu estar contribuindo, ainda que com muito pouco, já que tenho visitantes em alguns deles: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Tanzânia. Talvez se derem importância à Formação não incorram nos mesmos erros dos “entendidos”.      

Além disso, vejo um potencial muito grande na raça negra para o voleibol. Certa feita fiquei a imaginar o que seria do voleibol mundial se os negros americanos resolvessem também jogar voleibol! Já pensou nisso?

Treinamento de Canhoto – IV

Figura: Beto

Equipe com um Canhoto (Team with a left-handed)

Dando continuidade ao tema, apresento algumas outras histórias que espero venham ilustrar treinadores e atletas. Você tem alguma história que deseja ver publicada nesse espaço? Comente. 
 
(continuação…)

5. Enquanto isto, nos primórdios da Liga feminina no Brasil (final da década de 80), presenciei no ginásio do Canto do Rio, também em Niterói, treinador conceituado de seleção brasileira a escalar duas canhotas alternadas somente por outra atleta, talvez a levantadora. Isto produzia um inevitável desfecho desagradável quando estavam as três na rede. Uma alternativa tática surpreendente seria a levantadora receber o 2º passe na posição IV – entrada de rede – tendo as duas sinistras à sua frente e estas, por sua vez, recebendo o levantamento oriundo da esquerda para a direita, a posição mais favorável para elas. E mais, desnorteando completamente as adversárias no quesito bloqueio e defesa. Mas tal não foi feito e não creio que treinador algum imaginaria siquer tentar fazê-lo. Creio que o melhor seria que estivessem as duas desencontradas nas posições de rodízio, isto é, como dizíamos, em diagonal: cada uma a seu tempo na rede. E fazia pior quando uma das canhotas na recepção do saque ocupava a posição III (e ali permanecia para também ela recepcionar o saque); somente após a recepção ela se deslocava até II para a execução do ataque. Claro que não realizou uma só cortada dessa forma, uma vez que é a pior coisa para um canhoto: deslocar-se em corrida da esquerda para a direita e atacar com o braço esquerdo. Imaginem um ataque de “bola china” (corrida, salto numa perna, ataque) com um destro no sentido inverso, isto é, o levantamento da direita para a esquerda!    

6. Numa das afirmações colocadas pelo missivista, afirma que não consegue se posicionar e atacar a bola de tempo próxima ao levantador , embora este esteja de frente para ele. Concluo que o ataque é no meio da rede (III), a pior posição para o canhoto. Durante muito tempo a seleção feminina que contava com duas canhotas (em diagonal), sofreu do mesmo problema. Eram inoperantes e permaneceram assim. Quando eu atuava em jogos oficiais, tinha que me sujeitar a essa inoperância tática dos treinadores, mas em jogos amistosos ou na praia, simplesmente combinava com o levantador e solicitava sempre bolas mais altas, no meio da rede (meia altura). Isto também porque participava da recepção. O ideal é que o canhoto esteja o mais próximo possível da posição II (saída de rede) e atacar a bola de tempo junto e atrás do levantador. A auxiliá-lo em possíveis fintas, o atacante em IV viria atacar bola rápida no meio da rede (III), sobrando ainda a opção de ataque pela saída da rede, em II. Além, é claro, dos ataques de fundo.    

7. Inversão de levantamento – Um fato curioso deu-se quando já mais velho atuava em torneios classistas. Certa feita, por circunstância técnica, inverti direção do passe ao levantador, isto é, o levantador passou a ser o atleta que estava momentaneamente em IV (entrada da rede) quando eu ocupava o meio da rede (III). Foi uma festa para mim, pois a bola vinha sempre da esquerda para a direita e eu me posicionava em diversas posições para receber as bolas sempre “chutadas” (com velocidade). Imagino o que pensaram (ou não pensaram) os adversários. Em conversa com eles após o jogo, diziam-me ser impossível acompanhar-me para saberem quando e aonde saltarem para o bloqueio. E como defender? Era um susto após o outro! Foram alterados todos os parâmetros de treinamento: este é um dos grandes defeitos do “adestramento”. Quando o adversário muda algo que não foi treinado, produz-se completo desajuste. Este é um pequeno grande detalhe que os treinadores deveriam avaliar e ponderar no planejamento.    

8. Canhoto levantador –  Em 1988 estive na CBV para um simples bate-papo com amigos. Quando cheguei, saíam da sala da presidência, o Nuzman e o Bebeto de Freitas, recém empossado como técnico da seleção aos Jogos Olímpicos de Seul em substituição ao coreano Young Wan Sohn. Fiquei surpreso com o que disse tempestivamente o Nuzman, refletindo o que conversaram a portas fechadas: ”Olha quem procurávamos. É canhoto e tem mais de 1,90m”! Até então o levantador era o William e, em seguida, viria o Maurício. Mas, deixando de lado a brincadeira do presidente, o que buscavam realmente era um levantador alto e canhoto, o que certamente contribuiria para um aproveitamento tático mais eficaz, tanto de ataque, quanto de bloqueio. Não conseguiram. Anos mais tarde a equipe francesa se locupletou de um canhoto na seleção nacional.       

9. Em 1973, ano em que fomos eneacampeões atuando pela equipe do Botafogo, Rio de Janeiro, tinha também a função de levantador; eu e o Bebeto de Freitas. Dessa forma, éramos sempre três atacantes na rede (não havia ataques de fundo). Após um dos jogos, um radialista entrevistou-me e a pergunta que demandou mais tempo para uma resposta referia-se exatamente sobre o aproveitamento de um canhoto na equipe. Ele indagou: “Quanto atrapalha um canhoto na equipe”? Percebi a malícia da pergunta, aguardei alguns segundos e iniciei uma verdadeira aula que durou mais tempo do que o esperado. Disse eu: “Ter um canhoto na equipe é muito bom, mas seria muito melhor se tivesse dois”. E pus-me a enumerar as vantagens para atacar: o momento do impacto na bola utilizando o braço esquerdo quase sempre é diferenciado daquele efetuado com o braço direito, no mínimo, a largura dos ombros. E este espaço traduz-se em “tempo” que, para os bloqueadores, é uma das dificuldades. Para os defensores, a cortada com a mão trocada significa algo que eles pouco vêem e, portanto, não estão treinados adequadamente. Sempre é diferente e, por isso, surpresa.    

10. Bloqueio de canhoto – No que se refere aos bloqueadores, sempre disse que “a pior coisa para um atacante canhoto é ter um bloqueador também canhoto”. E provei na prática contra um rapaz que disputava a Liga por clube secundário em São Paulo. Talvez com 1,90m, canhoto propriamente dito e levantador da sua equipe. Quando nos visitava, participava de nossos encontros no Clube Central, em Niterói. Jogávamos 4 x 4 e o seu bloqueador, um jovem com 2m de altura, não conseguia detê-lo. Em dado momento trocamos de posição e passei a bloqueá-lo. Foi um desespero para o rapaz que, a partir de dado instante, não alcançando sucesso com as cortadas potentes, valeu-se exclusivamente das “largadas” de bola. Detalhe: já tinha 58 anos de idade.  

Vejam outras histórias em Treinamento de Canhoto – I, publicado em 20.2.2010. 

(continua)

Esporte na Escola

 Destaques de Setembro: São Paulo e Apucarana

A maioria das escolas públicas oferece horário integral às crianças e instalações bem equipadas, inclusive para a prática de exercícios. Alie-se a isto o interesse de professores traduzido nas 112 visitas ao Procrie, o que podemos julgar que estamos oferecendo um bom serviço à comunidade na esfera da Educação Física e Desportos Escolares. Unindo propósitos poderemos todos – comunidade estudantil e agentes educadores – alcançar ganhos incomensuráveis com a aplicação e desenvolvimento do projeto no Município, passando inicialmente pelas escolas públicas e seu professorado. Como muitos já devem ter observado, as propostas estão delineadas em vários textos que poderão ser consultados a qualquer momento e colocadas em prática de forma simples e planejada. A escola Padre Antônio Vieira, por exemplo, que já conta com laptops individuais que, inclusive podem ser levados para casa pelos alunos (e professores), teria um ganho supletivo, pois os interessados – alunos e docentes – poderiam ter contatos diretos com o Procrie, um projeto virtual. Além, é claro, do pioneirismo, transparência e difusão em nível internacional, uma vez que o site tem visibilidade não só no Brasil, como nos 5 Continentes. Diga-se de passagem, há algum tempo, final da década de 90, constituímo-nos fonte de instrução para o Centro de Excelência Rexona em Curitiba. Das informações e ensinamentos ali produzidos, o Governo do Estado difundiu o projeto para vários municípios, especialmente em escolas públicas. Outras realizações poderão ser consultadas no “Quem Faz”.

Por que  o Esporte na Escola? Como?

Quase sempre o primado da aplicação de projetos na área desportiva recai na Secretaria de Esportes e Lazer das Prefeituras. A perspectiva que temos não é esta, mas a Secretaria de Educação. Achamos que na escola devem estar TODAS as crianças e, ali, os professores devem educá-las segundo um planejamento pedagógico da Escola. E não pode ser diferente no aspecto da Educação Física e do Movimento… e da instrução de jogos esportivos ou simplesmente lúdicos. A perspectiva então é educar para a vida e não simplesmente detectar talentos fazer campeões alguns poucos indivíduos, alijando todos os demais. E a proposta do Procrie é justamente esta, promover atividades sadias e lúdicas para crianças e jovens em um processo de INCLUSÃO. Todos podem e devem participar e neste processo cabe ao professor, como principal facilitador, ter a necessária competência e aprimoramento através de Cursos de Formação Continuada. E aqui estamos nós próximos e presentes, ainda que virtualmente, para oferecer-lhes informação, experiência e, acima de tudo, criatividade. Configura-se um processo de MERITOCRACIA, onde o mais competente  é o professor que melhor atrai alunos para suas aulas e lhes garante sucesso no aprendizado, e não o que é campeão em qualquer modalidade esportiva com alguns poucos alunos.

Pedagogia do Esporte

Para não nos estendermos demasiadamente em considerações, transcrevo o Resumo do texto publicado no CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 13., 2003, Caxambu. “25 anos de história: o percurso do CBCE na educação física brasileira”. Anais… Caxambu: Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, 2003:

Discussão e Proposta

Este trabalho analisa e apresenta sugestão para Prefeituras – Secretarias de Educação e de Esporte e Lazer – para as relações que se estabelecem entre o esporte e a escola. Analisamos a presença de ambos nos processos de socialização, discutindo discursos e práticas propostas pelo Estado para a inclusão do esporte na escola. Propomos algumas  indicações para uma política pública para o esporte escolar, tomando como primado orientador a compreensão da escola e do esporte como direitos sociais, o que requer do Estado primazia para práticas democráticas e inclusivas formuladas e realizadas com participação popular. Isto implica  dialogar com  os sujeitos escolares, professores e alunos.

Temas: Programa de esporte escolar; Competição esportiva; Conteúdo de ensino. Teoria e prática: sugestões acerca da prática pedagógica; Princípios pedagógicos que orientam uma prática de QUALIDADE; Esboço de proposta escola/esporte”.

Contributos para a Escola

O trabalho que vimos desenvolvendo no Procrie apresenta sugestões para Prefeituras – Secretarias de Educação e de Esportes e Lazer – e mais do que isto, oportuniza um diálogo entre os mais proeminentes protagonistas, o docente e o aluno. Aos demais agentes educacionais caberia então criarem as condições para esse desenvolvimento. Fala-se muito em dificuldades, problemas, salários etc., mas ao longo de mais de duas centenas de textos só olhei para frente, desconsiderando as aparentes dificuldades e relegando-as ao esquecimento, e formatando uma nova ótica ao focar o ensino esportivo na escola. Creio que os escritos consignados são suficientes para iniciarmos um trabalho cujo objetivo a alcançar seja a Qualidade. Para tanto, aqueles que estiverem engajados deverão adotar uma atitude bastante realista e batalhadora. Toda mudança, sabemos, implica em muito suor, perseverança e acreditar no que se está a produzir.

Aos gestores públicos e agentes educacionais, acrescento que a tarefa é fácil e de baixo custo, inclusive pelo seu alcance. Será marcante na vida dos indivíduos, especialmente quando nós, adultos, estivermos pensando como foi a educação física na escola que frequentei menino. E, no Brasil, o problema é mais grave quando se trata das meninas, tradicionalmente condenadas ao imobilismo atlético. Esperemos alguma manifestação dos Administradores. Pelo que vimos nas estatísticas, há público cativo e interessado em “Ensinar a Aprender”. Para auxiliá-los, postei cinco artigos (parte superior, Home) que poderão ser analisados caso a caso para desenvolvimento nas escolas municipais, ou até mesmo da rede privada. Não deixando de lembrar a parceria não excludente entre as Secretarias de Educação e a de Esporte e Lazer, cuja comunhão de propósitos só trará ganhos para o próprio Governo municipal.

Entradas, Bandeiras e Missão

Fonte: Mapa Google e Google Analytics.

Entradas, Bandeiras e Missão      

Sobre as primeiras, colhi na Wikipédia um breve relato: “A expressão Entradas, Bandeiras é utilizada para designar, genericamente, os diversos tipos de expedições empreendidas à época do Brasil Colônia, com fins tão diversos como os de simples exploração do território, busca de riquezas minerais, captura ou extermínio de escravos  indígenas ou mesmo africanos. Ainda de maneira geral, considera-se que as chamadas Entradas tinham a finalidade de expandir o território, eram financiadas pelos cofres públicos e com o apoio do governo colonial em nome da Coroa de Portugal, ou seja, eram expedições organizadas pelo governo de Portugal. As Bandeiras eram iniciativas de particulares, associados ou não, que com recursos próprios buscavam obtenção de lucros. Ou seja eram expedições organizadas por bandeirantes”.

Na era moderna, com todas as facilidades da Tecnologia da Informação, criei uma Missão, o Procrie. Vocês poderão vê-la com um simples clique (Quem Faz). Este é o milagre de nossos tempos, aproveitemo-lo.  Após um ano de escritos na web, só tenho a lamentar que não finquei minha bandeirinha em um estado brasileiro: Roraima. Esta será, então, minha próxima conquista. E, vejam que já atingi países nos cinco Continentes!

Porto Velho, a Pioneira 

A Faculdade Metodista de Ji-Paraná (RO) e o Departamento de Educação Física.

Como muitos já perceberam, o mapa do Brasil está coalhado de visitantes no extenso  litoral e nas regiões mais desenvolvidas economicamente, Sul e Sudeste. Tenho a pretensão, tal qual os Bandeirantes, de também eu aventurar-me pelas matas e conquistar o coração de milhões de brasileirinhos que talvez nunca tenham visto ou ouvido falar de educação física, esporte e tantas outras coisas. Num primeiro momento dei um passo na direção de Rondônia (RO) através de um Missionário que encontrei em Niterói (O Professor e o Missionário). Na capital, Porto Velho, percebo com orgulho que já desfruto da companhia de 27 visitantes/mês. Mas não é suficiente para um estado  com dificuldades a vencer, inclusive as distâncias, os acessos e até mesmo a falta de energia elétrica em muitos lugarejos. Mas nada que não possa ser conquistado passo a passo, com pertinência e criatividade. Creio que vale a pena tentar! Mas é necessário que muitos professores imbuídos do espirito missionário levem aos nossos irmãozinhos a alegria de praticar algum esporte e dele retirar lições para a construção de uma vida melhor. Na Wikipédia tirei alguns dados sobre sua população (2009, estimados) e principais cidades: Estado = 1.504.000 hab. Principais cidades: Porto Velho (capital, 383 mil), Ji-Paraná (111 mil), Ariquenas (86 mil), Cacoal (79 mil), Vilhena (70 mil). Consta que somente a Universidade Federal de Rondônia ofereça o curso de Educação Física. Corrijam-me onde for necessário, pois os professores e acadêmicos constituem-se no meu alvo principal. Quantos são os Professores de Educação Física atuantes? Lembro-me que já tive visitantes de Ji-Paraná e Cacoal e estou esperançoso que retornem ao Procrie para ajudar no oferecimento de opções de lazer para seus irmãozinhos. Entrem no site e comentem sobre suas dúvidas, façam como o atleta canhoto que recentemente consultou-me e desencadeei uma série de artigos sobre o seu treinamento e utilização tática numa equipe de voleibol.

Recordo-me também de ter procurado contato em duas oportunidades com professores da cidade, No primeiro, com a Professora Juscimara Campos de Oliveira, quando ela divulgava um Curso de Formação Continuada (9.11.2009) e, o segundo, um Curso Nacional de Treinadores de Voleibol de Nível 2, em 5.8.2010, com patrocínio da Federação Rondonense de Voleibol e CBV. Espero que pelo menos um dos meus 27 visitantes possam auxiliar o Padre Missionário que está embrenhado em localidades distantes da capital a levar alguma alegria às comunidades que nada têm. Pelo menos possam descobrir um sorriso e proporcionar carinho às suas crianças. E, para tal, não precisam se embrenhar mata adentro. A Arquidiocese em Porto Velho pode ajudar nesse sentido. Que mais posso fazer, senão pedir por eles, isto é, que todos possam atualizar-se em Pedagogia e Metodologia Esportiva e produzirem crianças mais felizes e, mais importante, GENTE!

Palmas, a Nova Missão    

Palmas e Araguaína, TO. Mapa Google.

Paralelamente, criamos novo objetivo, que se volta para o Estado do Tocantins (TO) e a sua novel capital Palmas. Mais uma vez por intermédio agora de um Diácono que está lotado na cidade. Esteve comigo também em Niterói e ofereci-lhe material para a prática do Mini Vôlei, redes, bolas de vôlei, de tênis, petecas e cordas. Certamente que precisará de colaboradores na região, preferencialmente professores. Lembrem-se que para o emprego da metodologia que proponho não há necessidade de ter praticado ou conhecer o voleibol profundamente. Conhecimentos generalistas são suficientes para propor uma excelente prática para centenas de crianças e jovens. Vocês poderão desfrutar de vários exemplos nos textos sobre o Mini Voleibol e, caso persistam dúvidas, usem e abusem dos Comentários no site. Estarei sempre ao seu lado. Um fato confortante para mim é saber que estão tentando e, para isso, peço a comunicação de todos. Lembrem-se de que aprenderão mais nos seus erros e fracassos do que nas situações bem sucedidas. Busquem sempre um aperfeiçoamento e não se detenham com o ópio do sucesso ou das vitórias, pois nos deixam cegos aos erros e nos corrompem com o perfume da vaidade.

Sugestão. Vai aqui a primeira sugestão: unam-se e trabalhem em conjunto durante um período. Várias cabeças pensando produzem ideias maravilhosas. Tornam as despesas menos dispendiosas, além de cooptar mais alunos, pois uns atraem outros para as atividades recreativas e alegres. Estarei aguardando-os com suas notícias. Na Wikipédia colhi os dados sobre a população do Estado (2009, est.): Total = 1.292.000; Palmas (184 mil); Araguaína (119 mil); Gurupi (74 mil); Porto Nacional (47 mil); Paraíso do Tocantins (42 mil). Não estão disponíveis dados sobre cursos de Educação Física, apesar de inúmeras instituições de ensino superior. Gostaria que me informassem a respeito, inclusive o número de professores da especialidade. Como resultado do Diácono, o site recebeu duas visitas em Palmas importantíssimas, pois mostraram-me pessoas interessadas durante pouco mais de 6 minutos nas três páginas consumidas. E uma outra, mais ao Norte, em Araguaína. Como estou a escrever sobre Projetos de expansão de atividades para crianças, creio seria de bom alvitre que TODOS – professores, pais, agentes educacionais –  se dessem as mãos nesta verdadeira cruzada. Quanto mais indivíduos envolvidos, maior e melhores resultados. E muito mais rápido. Sintam-se pioneiros. E, lembrem-se, estarei sempre por perto para qualquer auxílio ou conselho.

No próximo texto estarei viajando pelo Acre e Mato Grosso. Aguardem.

Treinamento de Canhoto – III

Esquerda ou direita? Sinistro ou destro? Como tirar melhor proveito? Desenho: Beto.

O Alto Nível

Contam-se nos dedos os atletas canhotos que alcançam o maior nível técnico para atuarem na seleção representativa de seu país. Iria mais longe ainda, afirmando sem medo de errar, desde os primórdios em 1949, quando se realizou o 1º Campeonato Mundial masculino, em Praga, Tcheco-Eslováquia. Evidentemente que não estava lá para ver, mas  não é tão difícil calcular a sua inexistência. Minha primeira constatação só se efetivaria no Campeonato Mundial no Rio de Janeiro, em 1960, em que somente a equipe da Romênia apresentava um canhoto entre os seus titulares.

Inicio minhas explicações e conselhos não só ao atleta de voleibol canhoto, mas aos professores e treinadores, dizendo duas coisas que devem ficar gravadas. Primeiro não sou dono da verdade, mas tenho muita experiência nesse assunto, pois apesar de não ser canhoto, sempre arremessei qualquer objeto acima da linha dos ombros com a mão esquerda; isto é de nascença e nunca tive explicação. Nunca fui obrigado a escrever com a outra mão pelos meus pais e professores. Nada disso! Em segundo lugar, sou um autodidata e eu mesmo me treinei, inclusive estabelecendo objetivos a alcançar e as formas de consegui-los. Em suma, criava meus próprios ensaios e importante, vigiava as execuções nos jogos, sempre buscando aprimoramento e excelência para a criação de novos gestos. Mais não fiz porque atuei por pouco tempo em campeonatos e o desconhecimento dos treinadores em aproveitar um canhoto em sua equipe. Sobre isto estarei falando um pouco mais uma vez que julgo importante primeiro instruir o treinador e, depois, o atleta, pois só assim ele saberá tirar melhor proveito para a sua equipe. Tenham então um pouco de paciência com esse velhinho contando suas histórias a respeito.

Márcio (com a bola), em dupla com Ricardo, disputa competições desde 1996. Foto: AP.

Evolução. Tenho poucas referências de outros companheiros canhotos. Da maioria deles, vi-os apenas atuar. No Fluminense, surgiu o Celso Kalache, que chegou à seleção brasileira, foi campeão carioca em 1971 pelo Botafogo, tendo se radicado posteriormente nos EUA. Atualmente, os mais famosos são André Nascimento e Márcio Araújo, um moço cearense que se deslocou até Niterói (talvez em 1994), hospedou-se na casa de um companheiro (Frederico) para iniciar-se no Vôlei de Praia. Treinou um ou dois meses comigo na Praia de Icaraí, desfez a dupla e retornou à Fortaleza. Tornou-se um grande campeão, inclusive medalhista olímpico. Estou tentando um encontro virtual com ele para conversarmos a respeito.

Outros Famosos. Peço desculpas aos leitores por qualquer omissão. Fica um lembrete: enviem destaques – nomes, atuação – para esta galeria.

Mundo: 1) Horatius Nicolao, romeno, atuou no Mundial de 60 no Brasil; 2) Andrea Sartoretti, italiano, medalhista em três Jogos Olímpicos entre 1966 e 2004; 3) Cecília Tait, peruana, medalha de prata na Olimpíada de Seul, 1988; 4) Regla Bell, cubana, eleita a melhor atleta do século XX.

Brasil: Além dos dois já citados, 3) Franco José Vieira Neto, vôlei de praia; 4) Ricardo Bermudez Garcia, Ricardinho, levantador. Entre as mulheres, 5) Heloísa Roese; 6) Regina Vilella (ambas da seleção na década de 70); 7) Leila Gomes de Barros, vôlei de praia e indoor. Ainda citaria 8) Antônio Vaghi, o Bomba, campeão botafoguense com breve atuação no selecionado brasileiro nos anos 1960.

Quem sabe treinar um canhoto? A indagação sugere ainda o treino dos vários fundamentos, e não só o ataque. Como perceberam, minha memória está restrita a esses sete nomes no Brasil. E por que não temos mais canhotos no alto nível? Peço que antes de continuarem na leitura retornem ao segundo parágrafo e percebam a importância de os professores e treinadores saberem lidar com os “diferentes”. Vão perceber a partir dessas histórias como é difícil a progressão esportiva de um canhoto, especialmente nos desportos coletivos. Se conseguirem ultrapassar as barreiras na Iniciação e Formação, provavelmente na fase adulta tendem a desistir, haja vista não o preconceito, mas a ignorância em saber lidar com um “diferente” e tirar proveito máximo dessa qualidade sempre oportuna. Por isto, tenham paciência e prestem atenção nas histórias a seguir.

Histórias

1. Quando comecei a treinar e a jogar competitivamente, tinha 18 anos de idade e já atingira a altura de 1,92m, acima da média para a época (1958). Eu jogava basquete e futebol na escola e, aos 16 anos interessei-me pelas peladas de voleibol nos momentos de aulas vagas ou nos recreios. Não sabia como atacar por cortada (batida com uma das mãos); fazia-o saltando e colocando a bola de toque com ambas as mãos na quadra adversária. Observando os mais velhos atacando com uma das mãos, tentava copiar-lhes os movimentos, mas tinha entraves descomunais, primeiro por só fazê-lo com a mão esquerda; segundo, pela alternância e imponderabilidade dos levantamentos – não sabia para onde o colega lançaria a bola. Todavia, com os sucessivos ensaios, descobri formas de superar os obstáculos colocando-me quase sempre em posições favoráveis aos deslocamentos que antecediam o ataque. E outro fator complicador, não sabia ainda saltar com ambos os pés juntos – a cortada tradicional -, mas sim com corrida e salto numa das pernas (a direita), herdado do movimento do basquetebol, denominado entrada em bandeja, ou simplesmente, bandeja. Este é o movimento empregado por atletas de ataque de meio (III) quando realizam a cortada ou bola china, isto é, ataque com corrida e salto numa perna, do centro para a lateral direita da quadra. Atualmente, é exclusividade nas equipes femininas. Em outras épocas – desde 1940 e até final de 50 -, especialmente entre equipes que atuavam no sistema 3 em 3 (três levantadores e três cortadores), era frequente este tipo de ataque com corrida também entre os homens. Aumentava a impulsão do executor, dificultava o bloqueio – invariavelmente simples – e complicava a defesa, uma vez que era fácil a mudança de direção do ataque com leve giro do corpo no ar. Coincidiu com a fase de mudanças de batidas na bola: abandono das puxadas (mão aberta e condução de cima para baixo) ou mão fechada (soco). Interessante é que fui convidado a atuar numa equipe treinada pelo saudoso Bené por alguns colegas do colégio. Entretanto, já nessa época, me destacava pela eficiência nos jogos colegiais, sem jamais ter um treinador ou professor a orientar-nos. A equipe formada no clube já contava com um verdadeiro canhoto, meu colega de escola. O Bené exultou de alegria, pois conseguira reunir os dois na mesma equipe, o que propiciou bastante desconforto às equipes adversárias.

2. Recordo-me que o único treinador que teve preocupações defensivas contra a possível presença de um canhoto numa equipe adversária foi o Professor Paulo Emmanuel da Hora Matta, quando de sua estada à frente da seleção brasileira no final da década de 60 e início dos anos 1970. Perguntou-me se eu poderia participar dos treinos para que os atletas apurassem o bloqueio contra um canhoto. Acedi ao convite, mas nunca mais voltou a falar sobre o assunto. Não pude ajudar, foi uma pena!

3. Em 1982, no campeonato mundial realizado na Argentina e vencido pela URSS, o Brasil perdeu uma partida para a Tcheco-Eslováquia numa das fases preliminares. O destaque desse encontro foi um atleta tcheco canhoto, que não encontrou qualquer dificuldade para superar o bloqueio brasileiro, inclusive atacando da entrada da rede (IV). Não era um atleta alto e as equipes não atuavam praticamente com fintas.

4. Creio que foi no final da década de 70 quando presenciei um jogo de uma equipe japonesa masculina que participava de um torneio quadrangular no Rio. Foi em Niterói, no ginásio do Caio Martins. A equipe japonesa contava com um atleta canhoto, muito talentoso e de altura mediana, típico japonês. Na oportunidade o que me chamou a atenção foi a atitude audaciosa e inteligente do treinador de aproveitá-lo em quase todas as combinações de ataque. Invariavelmente ele era o personagem que finalizava, não importa em que posição da rede, após realizarem as fintas correspondentes. Surgia vindo de não sabemos de onde, para concretizar o ataque sem bloqueio. Isto é, toda a armação da equipe a partir da recepção estava já construída com esta finalidade. Com certeza o treinador lamenta até hoje não ter outro canhoto na sua equipe.

Vejam outras histórias em Treinamento de Canhoto – I, publicado em 20.2.2010.

(continua)

Procrie em Portugal

Procrie em Portugal. Fonte: Google Analytics.

Sovolei de Parabéns    

Em Portugal existe um site sensacional – o Sovolei – que como diz o nome, dedica-se exclusivamente ao voleibol. É único e está completando agora em setembro o seu segundo aniversário. Vem contribuindo com eficiência na missão de desenvolvimento saudável e sustentado do voleibol, oferecendo visibilidade a patrocinadores e anunciantes. Muito além, passa informações e colaboram com diversos clubes, atletas e gestores esportivos nas várias promoções que realizam. Em suma, difunde, divulga e informa com liberdade e isenção. Como mostram seus mentores, “Dois anos depois publicamos cerca de 5.000 artigos, criamos o Sovolei Vídeos, estamos presentes nas redes sociais do Twitter  e do Facebook, batemos as 40.000 visitas mensais. Tivemos o prazer de organizar ou ser parceiros em vários torneios de voleibol e voleibol de praia. Também estivemos a cobrir outros eventos como o Encontro Nacional ANTV – Associação Nacional de Treinadores de Voleibol. Conseguimos ganhar crédito suficiente para poder cativar e juntar uma equipa de opinion makers de renome”.   

Há algum tempo tive a felicidade de entrar para aquele time como um de seus pequenos colaboradores. Deram-me um lugar privilegiado – Tempo Técnico – e ali tenho colocado alguns dos meus escritos sobre voleibol. Sinto-me bastante lisonjeado e, muito mais ainda, por ter-me tornado amigo dos gestores, o Jorge e o Luís. A  vontade de retornar a Portugal recrudesce a partir dessas novas amizades. Não vejo o momento de realizar novamente o caminho inverso de nossos antepassados.    

Além de estar contribuindo com pequena parcela para o crescimento do Sovolei ganho eu muito mais com a divulgação que fazem do Procrie em solo lusitano. Os leitores brasileiros e portugueses poderão acompanhar pelo mapa do Google a excelente repercussão e confiança que temos recebido também lá.   

Procrie em Portugal. O Procrie, tal como o Sovolei, aniversaria em setembro, e teve uma mensagem extraordinária no dia 16, intitulada “Parabéns a Todos”. Neste mês, além das 169 cidades brasileiras, estamos em 58 outras no exterior (27 países), sendo Portugal o campeão deles com 23 cidades (93 visitantes/mês). As duas principais cidades que desenvolvem o voleibol são Lisboa e Porto, esta a sede da Federação Portuguesa de Voleibol (FPV). Vejam as cidades e nº de visitantes ao blog:   

Período: 25.8 a 24.9.2.010          Nº de visitas: 93    

Cidades: 23 – Lisboa (35), Porto (19), São João da Madeira (4), Ponta Delgada (4), Coimbra (3) Funchal (3), Felgueiras (2), Leiria (2), Évora (2) Viana do Castelo (2), Maia (2), Linda-a-Velha (2). Demais uma visita: Albufeira, Covilha, Vila Nova de Gaia, Rio Maior, Torres Vedras, Espinho, Guimarães, Santo Tirso, Aveiro, Braga, Gondomar, Portimão, Boliqueime.