O Que um Professor Pode Ensinar a um Técnico?

Desenho 0 Ginásio 

Parece que sabemos todos o que fazer.

O problema é colocar em prática.

 

 

Identificando e Buscando Soluções  (parte II)

 – Por que técnicos não transmitem aos professores suas experiências acumuladas em seu trabalho? 

– Não estaria embutida aqui uma ideia maravilhosa: o que o professor pode ensinar ao técnico?

 

Design thinking – Design instrucional – Engenharia pedagógica – Ingénierie pédagogique.

 

Técnico, Treinador, Professor(a)

– Que importância adquirem no ensino?

– Importância da participação de professoras.

Há pouco postamos artigo sobre o tema O que um Técnico Pode Ensinar a um Professor? Em que oferecemos debater o assunto de forma cordata, nada competitiva. Ali expusemos um exemplo do  valor relativo dessa contribuição dada a disparidade (ainda) dos valores pedagógicos a serem almejados. O alto nível está muito distante da base, sendo determinante a busca de outros passos a serem percorridos.

Para os menos sensíveis à questão da Formação esportiva, basta acompanhar o noticiário da imprensa sobre nossas possibilidades nos jogos olímpicos/2016. Percebam que não é injetando dinheiro que se produz uma geração de atletas, há algo mais em que se pensar com objetividade e conhecimento. Como propalam bons educadores, não é o salário que torna um professor bom ou mau em sua tarefa de ensino. Lembro que em algum dos artigos já postados apontamos uma realidade conhecida no meio esportivo: “Há bons treinadores (técnicos) para dirigir uma equipe; outros, para treiná-las (treinador). Difícil é acumular”! Mas, e nas escolas? Quem deve despertar o interesse dos jovens  na prática esportiva?

Como seria o diálogo, por enquanto impossível no Brasil, entre os grandes intérpretes e influenciadores dos interesses de um indivíduo: o técnico de seleção e o professor escolar, incluída a PROFESSORA? É notória a distância que os separa no cenário nacional, ainda que muitos reconheçam a necessidade de mudanças e a implantação de uma política de incentivo à Formação para qualquer desporto. Rios de dinheiro escoaram pelos ralos da incompetência e corrupção ao longo dos tempos e, enquanto políticos ou agentes desportivos defendem seus interesses, o espectro de que algum dia possamos  divisar luz no final do túnel muitas gerações estarão condenadas ao ostracismo desportivo. Vejamos como exemplo um caso em competição internacional.

A seleção de voleibol masculina andou declinando na primeira fase da Liga Mundial recentemente concluída. Ao final, recuperaram-se e conquistaram um segundo lugar honroso. Mas naqueles momentos duvidosos de classificação, as previsões eram pessimistas e ainda persistem, a clamar por renovação, a inclusão de um cubano que atua no Cruzeiro, falta de patrocinadores, equipes que se desfazem, a Liga Nacional não é a mesma, etc. Como pode o técnico constituir e tornar uma equipe campeã se existem fatores contrários à renovação de valores? E ainda: em que condições desenvolvem seu trabalho e se há algum instrumento confiável de avaliação de seu desempenho? Não se criam possibilidades de estudos/pesquisas para divulgação e acompanhamento científico. Até onde sabemos, apenas um relatório, logo engavetado. Talvez pudessem parar de se queixar de que “não têm tempo para treinar este ou aquele jogador com alguma deficiência”. Ou mesmo, que nenhum treinador se apresentava para acompanhar os treinamentos das seleções.

Os dirigentes da CBV tinham um critério na indicação dos técnicos principais das seleções: a confiabilidade pessoal de seu presidente. O período seria “olímpico”, coincidindo com os quatro anos entre os Jogos, salvo algum acidente de percurso como ocorrido  nas dispensas de Ênio Figueiredo (feminina, 1984) e posteriormente, na masculina como o coreano Sohn (1988). Atualmente, é de fácil conclusão que a eficiência – conquista de medalha – fala mais alto.

O treinador

Do dicionário extraímos os sinônimos: catedrático, docente, doutor, educador, instrutor, lente, mentor, mestre. Na prática, parece haver um consenso de hierarquia advindo de suas funções em uma equipe. Estaria logo a seguir do técnico e seu auxiliar mais direto, por isto denominado “auxiliar-técnico”. Todos eles, inclusive o técnico, podem ou não ser um professor de Educação Física. A prerrogativa principal é o diploma conferido pela entidade oficial do país de “técnico internacional”.

MiniSG3O Professor… e a Professora

Talvez fosse bem melhor para o esporte nacional, que eles ouvissem os professores de Educação Física e, principalmente, suas dificuldades em fazer Esporte Escolar. E não dizer-lhes que nada entendem, pois “não são do ramo”. Este fato parece não se constituir problema para a Rússia, uma vez que por lá existem milhões de praticantes de voleibol que têm sua iniciação ou formação a partir das escolas. Se verdade, creio que devamos volver nossos olhares não para as causas apontadas acima, mas para as crianças, suas escolas e, principalmente, a formação profissional de seus educadores.

Muitos professores ainda acham que o ensino do voleibol é dificultoso, especialmente para crianças. Alegam dificuldades motoras, além das imposições da regra do jogo que impede conduzir (progredir) a bola e deixá-la tocar o solo: o toque deve ser rápido e está limitado a três intervenções por equipe. Outros, que não vale a pena treinar baixinhos, gordinhos, seria perda de tempo. E ainda, bom número de aspirantes à docência já têm um histórico esportivo que os condiciona à especialização precoce em seu magistério e, portanto, quase sempre adotado em suas aulas.

Essa cultura está enraizada desde os primórdios das escolas de Educação Física, talvez pela falta de conhecimento dos primeiros mestres de formação militar. E permanece latente no ambiente universitário, haja vista a oferta de oportunidades de emprego e o ambiente restrito do voleibol, especialmente na atualidade com o encerramento das atividades clubistas. Durante muitos anos, e talvez ainda hoje, mestres universitários apregoavam que o voleibol deveria ser ensinado posteriormente ao basquete, e a seguir, o handebol. Todavia, dada a falta de atualização daqueles mestres, o currículo jurássico das universidades, aliados à falta de interesse na melhoria do ensino e dos próprios alunos, estamos estagnados em matéria de Métodos e Pedagogia de ensino. Então, as aulas se resumem a rolar uma bola de futebol para aqueles que querem brincar, e dez voltas no campo para os que se recusam. Enquanto isto, na quadra ao lado, as professoras ensaiam exaustivamente o tradicional jogo de queimada.

– Quais seriam, então, as oportunidades de as crianças aprenderem a jogar voleibol?

Essas e outras experiências contribuíram sobremaneira para alicerçar uma vocação que estava latente há muito. Com a aposentadoria das quadras, demos início a estudos sobre a Psicologia Pedagógica, Metodologia e a execução de projetos em nível nacional. Vejam a seguir como a falta e erros de percepção e planejamento oferecem condições de a história se repetir, isto é, confundirmos ponto de chegada com ponto de partida.

capas dupla história do vôleiEra Nuzman… 1975-1995 (História do Voleibol no Brasil, Roberto A. Pimentel, vol. II, pág. 207-208)

Peças de Reposição – (…) Bebeto apregoava (técnico da seleção, 1984) que o vôlei estava reduzido a uma elite e que isto poderia prejudicar a seleção brasileira nas próximas competições internacionais por falta de opções para o treinador.[…]

Para o então presidente da CBV, Carlos Nuzman, “o problema era mundial, pois nem a União Soviética conseguiu armar uma equipe com mais de uma opção tática. Prova disso é que ainda não havia substituto par ao levantador Zaitsev”. […] A atualização dos técnicos brasileiros aos métodos mais modernos de treinamento e às táticas adotadas pelas principais potências preocupava o dirigente. Ele não sabia explicar a falta de interesse dos treinadores brasileiros pelo trabalho que vinha sendo realizado nas seleções feminina e masculina: “Em oito meses de preparação, apenas dois técnicos, um do Piauí e outro do Ceará, se interessaram pelo trabalho do Ênio e do Bebeto. Nenhum treinador comparecia aos treinos das seleções ou demonstrava qualquer interesse pelo trabalho. Além disso, poucos participaram dos cursos internacionais promovidos pela CBV nos últimos três anos. Isso só prejudica a formação de novos treinadores”. […] Ao que parece, Nuzman não considerava que os treinadores interessados tivessem seus próprios afazeres, seus compromissos profissionais e que nunca houve incentivo da entidade em promover este particular; pelo contrário, percebia-se certo desprezo, desconforto ou má vontade em atender possíveis candidatos.

Até hoje nota-se uma rivalidade e uma “hierarquia” no ambiente do voleibol, gravados por um pretenso “saber maior” pelo fato de ter participado da equipe técnica de uma seleção brasileira. A tal ponto chegamos que, no primeiro curso para técnicos de voleibol de praia, um dos professores, que fora auxiliar técnico de seleção, dizia a um dos seus alunos, muito perguntador e crítico, que se aquietasse e deixasse de questionar tanto, pois “não era do ramo”, numa nítida posição de insegurança e prepotência, ambas as filhas do regime militar que aturamos por longos anos.[…]

O dirigente considerava-se “dono da verdade”, a ditar regras, esquecendo-se de que talvez tivesse pessoas ao seu redor para instruí-lo a respeito do assunto. Ou então, centralizador e ditatorial, menosprezasse qualquer alternativa contrária. E estamos à vontade para dizer isto, uma vez que, em 1984, convencemo-lo a dar início a um trabalho de renovação pela Base, com a construção de um Núcleo de Referência na AABB-Rio, que se irradiaria pelo país. Infelizmente foi abortado por ação de um conselheiro mais próximo.

Ora, se a FIVB se preocupava desde 1972 em despertar o interesse de crianças no esporte, tendo realizado inclusive Simpósio Mundial de Mini Voleibol (1975), por que não as suas Filiadas? O mesmo Nuzman, guindado à presidência do COB, continua a exercer sua influência não muito saudável sobre ditames de ordem técnico-pedagógico sobre o Ministério dos Esportes e da Educação, a nos dizer o que fazer em relação ao esporte escolar. Cremos que lhe falta um pouco de humildade e lembrar-se de que muita gente pensa neste país e que os professores escolares não são funcionários do COB. Continua achando que Jogos Escolares resolverão os problemas da Formação de Base. Puro jogo para a mídia e seus “fieis escudeiros” funcionários do COB.

Seria de se esperar que os gestores educativos permitissem e facultassem planejamentos em que os verdadeiros professores poderiam ensinar aos técnicos, invertendo a pirâmide a favor de milhões de indivíduos. Nos em nossa missão, na busca de uma arquitetura pedagógica em favor da Formação de nossos futuros atletas, e principalmente, cidadãos conscientes e íntegros.

Nota: Um dos técnicos de seleção brasileira que nos incentivou e apoiou em determinado momento foi Paulo Roberto de Freitas, o Bebeto, que em sua brilhante passagem na década de 80 pela Bradesco, facilitou o contato com o gerente esportivo da Associação no sentido de apresentar-lhe o projeto que pretendíamos implantar no Rio de Janeiro para a introdução do Mini Voleibol. Infelizmente, não avançou, talvez pela grande perturbação da implantação do profissionalismo no Brasil. Em um segundo momento (1984), o mesmo Bebeto conduziu a seleção a Niterói para uma exibição-treino no ginásio do Canto do Rio em favor da APAE. Um sucesso!
Além deles, dois outros: Paulo Emmanuel da Hora Matta, quando nos convidou a proferir aulas na UERJ em curso de Técnica de Voleibol (1981); e Célio Cordeiro Filho, na Gama Filho e Estácio.

Valor de uma Boa Formação 

Vissoto na defesa atrás do BrunoEm bate-papo informal entre amigos, logo após a missa de sétimo dia mandada rezar em Copacabana em sufrágio da alma de João Carlos da Costa Quaresma (março/2014), dizia-me Bebeto a respeito da Formação de atletas: “Como se pode fazer com que, p.ex., o Vissotto seja pelo menos um defensor regular? Ele jamais se sujeitaria a agachar-se e levar boladas no peito e cara”!  Calei-me em consentimento à afirmativa. Contudo, o leitor que nos acompanha perceberá o valor de um bom ensino a partir da formação inicial. Poderão constatar que não basta formar seleções de infanto juvenis, juvenis, uma vez que se destinam tão somente a vencer as competições internacionais, especializando precocemente os atletas e, muitas vezes, levando-os além de suas forças físicas. Tais competições não exprimem uma estratégica satisfatória, haja vista os resultados quando avaliados custo e benefício. Vejam o exemplo a seguir.

– Atualmente, como treinam as seleções brasileiras de ponta no que se refere ao fundamento defesa?

– Tentamos produzir diálogo com ambos os treinadores das seleções principais, mas nada conseguimos… AINDA, pois não desistiremos!

Em Portugal, p.ex., houve época em que a Federação Portuguesa de Voleibol (FPV) realizava um programa de visitas regulares a algumas cidades em que implantara o Gira-Volei, equivalente ao nosso Viva-Vôlei, conduzindo também o treinador principal da seleção masculina para entrevistar-se com as crianças e professores. Só configuração para fotos!

Leia mais… Projeto Modelo para Formação de Base em Escolas

 

Melhores Treinos, Melhores Atletas

  – Como se adquire talento?

  – O que torna os indivíduos de sucesso diferentes do resto de nós? 

 – Qualquer talento depende unicamente de uma prática diferenciada, não de uma predisposição genética.  

 

Há pouco publiquei “Um Olhar no Voleibol Português”, em que sumarizo o desabafo do treinador brasileiro Rogério Lopes radicado em Portugal desde 1991. Numa de suas queixas deixa vir à tona o calendário das competições no país: são cinco meses de pura inércia para a maioria, sem jogos ou torneios, exceto para os selecionáveis e os compromissos internacionais. Esta é uma imposição da Fivb quando constroi o calendário anual. Sem criatividade, as Federações deveriam se esmerar para que tal lacuna não prejudicasse o próprio calendário. Entretanto, como deve ser o caso de muitas, fica a critério de cada uma realizar ou inventar algo para ocupar os filiados. Idêntico processo se desenvolve junto aos clubes em suas cidades. Nessas circunstâncias, o que fazer em matéria de treinamento dos jovens? Como treiná-los e mantê-los em uma atividade séria? Perceberão que a conotação do que seja ruim hoje, talvez encubra a real possibilidade de se realizar ensaios técnicos individualmente, que não se consegue em tempos de competição, quando a prioridade recai nos ajustes táticos, e até pelo pouco tempo disponível para as práticas. Então, o que é problema – 5 meses parado – cai do céu como solução para a totalidade de treinadores, haja vista que estão sempre a reclamar não terem tempo para treinar este ou aquele fundamento, legando a culpa aos formadores de atletas. Os erros na Formação permanecem por toda a vida atlética do indivíduo. Contudo, consertar é mais difícil do que criar ou manter. Saberiam fazê-lo? Espera-se que sim, pois perderam a justificativa de…”não tenho tempo”! 

Esta postagem, contendo raro depoimento de autor, um jovem atleta brasileiro em 1960, é o resultado de leituras sobre a nova teoria do treinamento profundo: “O código do talento” (The talent code), de Daniel Coyle, editado no Brasil pela Agir, 2010. Peço desculpas por citar-me, mas espero a compreensão de todos, pois era o que fazia por intuição, sem conhecer qualquer teoria psicológica.   

Propostas de Treinos Fora de Competições – Um Depoimento 

Sabendo como treinar o progresso de um mês pode ser equivalente a seis minutos.

Recuemos a 4 de novembro de 1960, quando tiveram início as finais dos campeonatos mundiais de voleibol no Brasil – masculino (IV) e feminino (III) – em Niterói e Rio de Janeiro. Neste mês, completara 21 anos de idade. Iniciei-me a treinar e jogar voleibol em 1958, em um pequeno clube de Niterói. Disputamos naquele ano os campeonatos municipais nas categorias juvenil e aspirante. Como eram poucos os clubes, basicamente rendeu-me poucas experiências e, então, como no exemplo acima de Portugal, estaria fadado a desistir do esporte. Todavia,  a ignição já estava presente graças à visão dos Mundiais; aquele jovem não podia se conter em si mesmo e saiu em busca de alternativas. A mais viável foi a praia, onde aos sábados e domingos jogava-se voleibol com bastante intensidade. E, inclusive, a grande maioria dos atletas federados, inclusive do Rio de Janeiro, na época o maior centro do País. Mas aquilo não lhe bastava, pois precisava adquirir rapidamente uma técnica que facultasse atuar com e contra tão excelentes jogadores. Então, resolvi autorregular-me, isto é, criei circunstâncias para meu treinamento seguindo o que ditavam minha intuição e raciocínio. Dessa forma, treinava solitariamente em um ginásio pobre, com uma única bola que me foi dada, deixada após o Mundial. Os ensaios eram religiosamente de 2 horas ininterruptas (9h às 11h), três vezes por semana. Aos sábados e domingos, jogos de 6 x 6  ou duplas na praia. Isto se desenrolou aproximadamente durante 3 meses. Ao final, rendeu-me um assustador e invejável desenvolvimento técnico, propiciando inclusive colocar-me entre os melhores atletas brasileiros e uma convocação para a seleção principal. O fato curioso é que comecei a treinar voleibol aos 18 anos, quatro anos depois, sem ter participado de campeonatos regionais, tornei-me um dos tops, e com invejável técnica – múltiplos fundamentos – superior em vários detalhes aos melhores do país. Sendo que era o mais completo, pois com 1,92m, atacando com preferência com a canhota (não sou canhoto), aprendera nos treinos a também atacar como destro e, principalmente, a executar com perícia a função de levantador. Em 1962, era o mais alto entre os selecionáveis e o de maior impulsão, sem jamais ter frequentado academia ou realizado exercícios com pesos. Enfim, ganhei a fama de ser um dos atletas de melhor apuro técnico de minha geração. Como consegui tamanho feito sozinho e em condições tão precárias? 

Antes, porém, um lembrete sobre a função e emprego da memória. Veja mais neste Procrie o artigo Aprender a Ensinar – Memória, 18/dez/2010.

Memória de curto prazo – Lembro-me, em 1984, durante Congresso de Mini Voleibol em Buenos Aires (Argentina), a fala do técnico italiano Pitera sobre a relação dos gestos desportivos – os movimentos – e a memória de curto prazo. Busquei durante algum tempo bibliografia a respeito e não encontrei. Agora, ao tomar conhecimento da teoria mielínica, parece vir à tona tudo o que buscava para interpretar o treinamento que realizei quando rapaz.

Atualmente, lendo na obra de Coyle, na década de 70 os psicólogos investigavam os fundamentos do processo humano de resolução de problemas. O primeiro projeto do pesquisador sueco Anders Ericsson tratou de investigar um dos dogmas mais sagrados da psicologia: a crença de que a memória de curto prazo é uma faculdade inata, fixa e limitada. O pesquisador mostrou que o modelo de memória de curto prazo então existente estava errado. A memória não era como o tamanho do pé; podia ser aumentada pelo treinamento. Neste caso, o que tinha limite? Todas as habilidades humanas eram formas de memória. Assim, quando uma campeã de esqui desce uma montanha a toda velocidade está utilizando estruturas da memória, dizendo aos músculos o que fazer e quando. O mesmo ocorre com um virtuoso do piano. Então, por que não seriam todos suscetíveis ao mesmo tipo de efeito de treinamento? Aqui reside a importância primacial do educador – professor ou treinador – em qualquer área do ensino.

Teoria Mielínica

A teoria mielínica é descrita como um programa para desenvolver habilidades especiais aplicáveis à vida pessoal e aos negócios. A ideia é aproximar teoria e prática, e tornarmos nossas aulas ou treinamentos observáveis à luz dessa nova teoria, que ainda tem muito a caminhar. Para tanto, antes de discorrer sobre o auto treinamento, aproximemo-nos de Coyle, pois como afirma “todos somos vencedores e talentosos, o segredo é praticar de forma CERTA! O código do talento nos ensina como”.

———————————————-  A seguir, “Melhores Professores, Mais Talentos”.

 

Congressos, Encontros e Seminários de Educação Física e Esportes

Congressos, Encontros, Seminários

Foi registrado no CEV (17.2.2012), “com o espírito de construir pontes que possibilitam trocas entre diferentes saberes, realidades, perspectivas…”.  

“Em 2012, o IV Encontro Luso-Brasileiro de Educação Física e Desporto retorna para a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) com outras parcerias com universidades portuguesas – palestrantes da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto e da Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade de Coimbra e representantes de outras universidades brasileiras. Com o espírito de construir pontes que possibilitam trocas entre diferentes saberes, realidades, perspectivas, o Encontro será realizado nos dias 29 e 31 de março, no Campus A. C. Simões, na cidade de Maceió/Alagoas”.

—————————

Ainda da mesma data (dia 17), o Professor e Mestre Alfredo Cesar Antunes, atualmente cursando o Doutorado em Ciência do Desporto na UNICAMP, elegeu uma proposta de reflexão sobre a “História da Educação Física e Esportes”, na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), a partir das disciplinas que tratam deste conteúdo. Em seu primeiro contato, convoca-nos a todos para participarmos. A seguir o meu empenho em contribuir.

Professor e Mestre Alfredo,

Pelo tema – História da Educação Física e Esportes – certamente suas pesquisas e debates vão conduzi-lo aos primórdios da EF no Brasil. Por muito empenho garimpei e consegui permissão da família para divulgar o acervo do Prof. Paulo Azeredo, um dos primeiros e mais influentes professores da Escola Nacional de Educação Physica e Desportos (ENEFD), criada em 17 de abril de 1939 no Rio de Janeiro, então Distrito Federal. Chamou-me a atenção em minha peregrinação acadêmica pela web um trabalho do Prof. Victor Macedo Soares (veja citação a seguir), também militante àquela época, mas após algumas tentativas para rever o achado, infelizmente não consegui. Creio tratar-se de uma tese acadêmica na USP ou Unicamp, não tenho certeza. Ele detalha com muita propriedade, pois vivenciou o nascedouro da ENEFD. Vale a pena tentar localizar. Pelo tempo passado, imagino que também o Victor tenha falecido. Contudo, sua obra sobre essa história permanece escrita em algum arquivo que será fácil a você descobrir. Se eu conseguir, dir-lhe-ei.

“Gymnastica Preparatória A primeira demonstração que assistimos foi uma aula de gymnastica preparatória que tinha a assistencia do professor Manoel Rodrigues Leite Pitanga e seu auxiliar Victor Macedo Soares. São dois grandes conhecedores da Educação Physica, sendo que Pitanga, cathedratico de sports collectivos, tem como assistente no basketball e volleyball o professor Jonas Correa da Costa…”

Em meu site educacional http://prezi.com/9nhuhq5t7coh/procrie/ visite www.procrie.com.br/ que poderá ser consultado a pouco e pouco (ver Novo Sumário). Tenho certeza de que fará um excelente trabalho, especialmente com as contribuições que poderão advir através do CEV, mas peço que não se esqueça de que o tema contém a palavra “Esportes” e, por isto, entendo que seja muito mais ampla a sua atuação. Ou não? Caso necessite da História do Voleibol no Brasil no século passado, fale-me, pois muito já consta do Prezi – Procrie. Será um prazer imenso poder auxiliá-lo e a quantos necessitem. Trata-se de obra de referência, enciclopédica e memorialista.

Como Produzir Talentos?

Foto: http://www.terra.com.br/esportes/

— Por que alguns períodos e lugares são tão mais produtivos para a formação de talentos do que outros?

 

Peças de Reposição

  • Carlos A. Nuzman, presidente do COB, em entrevista ao repórter Alexandre Gimenez da Folha de São Paulo, 24.7.96:
  • Paulo Roberto de Freitas, Bebeto, desde 1984 apregoava que o vôlei estava reduzido a uma elite de jogadores e que isso poderia prejudicar a seleção brasileira nas próximas competições internacionais, por falta de opções para o treinador.
  • Para o presidente da Confederação Brasileira de Volley-Ball (CBV) Carlos Nuzman, “o problema seria mundial, pois nem a União Soviética conseguiu armar uma equipe com mais de uma opção tática. Prova disso é que ainda não havia substituto para o levantador Zaitsev. O problema de renovação de valores e surgimento de novos ídolos depende muito da safra de jogadores. Não seria o elemento fundamental, mas contribui para o sucesso de uma seleção. Veja-se o caso do Japão, por exemplo, que tinha uma grande equipe até 1972 e não conseguiu mais uma boa geração de jogadores e vem caindo a cada ano. E lá não faltam competições de alto nível e o número de jogadores é expressivo. Uma das soluções é os nossos técnicos se empenharem mais na formação de jogadores com funções específicas”.

E continuou sobre o interesse dos técnicos: “A atualização dos técnicos brasileiros aos métodos mais modernos de treinamento e às táticas adotadas pelas principais potências preocupava o dirigente. Ele não sabia explicar a falta de interesse dos treinadores brasileiros pelo trabalho que vinha sendo realizado nas seleções feminina e masculina: “Em oito meses de preparação, apenas dois técnicos, um do Piauí e outro do Ceará, se interessaram pelo trabalho do Ênio e do Bebeto. Nenhum treinador comparecia aos treinos das seleções ou demonstrava qualquer interesse pelo trabalho. Além disso, poucos participaram dos cursos internacionais promovidos pela CBV nos últimos três anos. Isso só prejudica a formação de novos treinadores”.

Ao que parece Nuzman não considerava que os treinadores interessados tivessem seus próprios afazeres, seus compromissos profissionais e que nunca houve incentivo da entidade em promover esse particular; pelo contrário, percebia-se certo desprezo, desconforto ou má vontade em atender possíveis candidatos. (“História do Voleibol no Brasil”, vol II, Pimentel, Roberto A., n/ed.). Além disso, não entendia que o trabalho na Formação de atletas é bastante diferenciado dos treinamentos da elite. Esquecia-se também da voz sonante no meio de sua época de jogador: “há técnicos que só sabem formar atletas e, outros, dirigi-los em competições”. Todavia, não creio que saibamos ainda formar atletas de voleibol (competitivos), mas sim especialistas em determinadas funções e, inevitavelmente, peças descartáveis, de curta duração, certamente por defeito de fabricação. Ou, simplesmente, falsificadas!

Então, como formar ou descobrir novos talentos?

Safra de Jogadores

Foto: Revista Volei, Paris (1956). Competições em estádios de futebol. Acervo João Carlos C. Quaresma.

São várias as teorias que tentam explicar esse fato. Os russos empreenderam estudos e formaram inclusive doutores nessa ciência de prospecção de talentos (temos pelo menos um no Brasil), baseando-se em quatro fatores preponderantes que deveriam possuir os indivíduos. O que mais chamou a atenção do mundo ocidental trata-se das “impressões digitais”. Inclusive, quando de seu apoio a Cuba, a partir do início da Guerra Fria, 1963, deram conhecimento aos cubanos dessa teoria. Em palestra, um dos cientistas russos respondendo a um interlocutor que lhe perguntara como tinha certeza de seus estudos, teria afirmado: “Basta que você conte o número de medalhas que conquistamos”. Contudo, não se interessou em dizer o fantástico número de milhões de praticantes em seu país e a importância política que lhe era conferida. Em outubro de 2002, em entrevista com o presidente Carlos A. Nuzman, foi entregue ao COB um projeto de Prospecção de Talentos de autoria do Professores Doutor José Fernandes Filho e Roberto Affonso Pimentel que em suas letras iniciais conferia: “O programa Prospecção e Descoberta de Talentos foi concebido para identificar crianças e jovens com potencial para determinação correta da modalidade esportiva na qual suas características genéticas melhor se enquadram. Consiste no diagnóstico do potencial genético do indivíduo – qualidades físicas básicas – através da análise de suas impressões digitais, permitindo uma melhor utilização dos recursos disponíveis. Através da análise das impressões digitais – Dermatoglifia – é possível conhecer o potencial genético do atleta, possibilitando que “[…]

Teoria Mielínica (do livro “O código do talento”, Daniel Coyle)

Considere-se que tanto podemos estar buscando uma safra de talentosos atletas de voleibol, como em outro lugar, alguém enceta buscas por pianistas, pintores ou artistas teatrais. Ou como em épocas mais remotas em algumas cidades foram constatadas concentrações de gênios. Segundo um estatístico da Universidade de Carnegie Mellon chamado David Banks, que escreveu um breve ensaio The Problem of Excess Genius (O problema do excesso de genialidade), os gênios não se distribuem uniformemente no tempo e no espaço, ao contrário, tendem a surgir em grupos. Para ele, só há uma pergunta a ser feita aos historiadores: Por que alguns períodos e lugares são tão mais produtivos que o resto? A resposta tem implicações valiosíssimas para a educação, a política, a ciência e a arte, comenta o autor.

Dos três exemplos citados e identificados por Banks – Atenas, Florença e Londres – nenhum é tão impressionante nem tão bem documentado quanto o florentino. No espaço de algumas gerações, uma cidade com uma população de pouco menos de 50 mil habitantes, produziu o maior fluxo de excelência artística que o mundo já conheceu.

Um gênio solitário não é difícil de explicar, mas dúzias deles, no período de duas gerações? Como isso pode acontecer? Banks lista as suas razões fornecidas pelo senso comum:

  • Prosperidade, que proporciona dinheiro e mercado para a arte;
  • Paz, que dava a estabilidade para buscar o desenvolvimento artístico e filosófico;
  • Liberdade, que preservava os artistas do controle estatal ou religioso;
  • Mobilidade social, que permitia aos indivíduos pobres e talentosos ingressar no mundo das artes.
  • Paradigma cultural, que trazia novas perspectivas e meios responsáveis por uma onda de originalidade e expressão.

Certamente encontraremos mais explicações para o mesmo fato, entretanto, como participei dessas duas de forma direta ou indireta, deixo a critério do leitor enveredar por suas pesquisas e realizar sua escolha. Mas, antes de fazê-lo, vamos continuar percorrendo o que nos relata Daniel Coyle e, além das minhas, algumas outras experiências de treinadores pelo mundo. E você, teria alguma vivência especial sobre o assunto?

——————————-   A seguir,  “Melhores Treinos, Melhores Atletas“.