Altas e Baixinhas, os Altos e Baixos da Seleção

Camila Brait. Fivb/Divulgação. Thaísa em ação. Fivb/Divulgação.

No século XX, dizia-se que voleibol era “para gente grande”. E “jogo para mulheres”! Parece que neste novo século a expressão perdeu sua validade. Você, o que acha?


 

Jogo é jogo; treino é treino

Renomados técnicos afirmam que os treinos devem refletir as situações de jogo, ou pelo menos se aproximar delas. E da sabedoria oriental, é nas derrotas que se aprende. Ao que parece, pode-se acrescentar que também nas vitórias devemos tirar lições preciosas, desde que aprendamos a olhar com olhos de ver.

Thaísa na frente, Camila Brait atrás

Estive lendo o comentário no UOL dessa data, de Bruno Voloch, em que destaco alguns trechos interessantes:

  • Thaísa mais uma vez brilhou. Thaísa novamente decidiu. Apareceu no terceiro set e resolveu. Não chega a ser nenhuma novidade, mas dessa vez a central brasileira se superou justamente por ter feito dois sets em tese quase sem pontuar. A jogadora foi decisiva a partir da metade do jogo no ataque e no bloqueio, marcou 23 pontos e foi a grande responsável pela virada da seleção diante dos Estados Unidos. Foi um ótimo teste para o Brasil que se viu em dificuldades em vários momentos do jogo.
  • A seleção mostrou poder de reação e contou com a ótima partida de Camila Brait no fundo. Segura no passe e perfeita na defesa.
  • Jaqueline sofreu com o bloqueio dos Estados Unidos. Garay idem.
  • Natália jogou boa parte do segundo set e foi mal.

Aprendendo com a vitória

Ainda que vencedoras as garotas brasileiras poderão se ilustrar para seu aprimoramento coletivo. Não assisti à partida, mas pelo breve relato do jornalista, dá para conjecturar a importância e cuidados nos treinamentos para que sejam evitados exemplos da natureza. Ou seja, uma equipe bicampeã olímpica depender em determinados momentos da atuação de uma ou duas atletas. Depreendo que, em não havendo boa recepção – coloca a central em ação –, o Brasil não pode contar com Thaísa, atualmente sua melhor atacante. Conforme descrito, somente a partir da “metade do jogo, e responsável pela virada…”. Em tais circunstâncias, entra em campo a “mão do técnico”. Há pouco observamos algo similar quando da participação brasileira masculina na Liga Mundial. Após derrotas para a excelente equipe do Irã, foi aventada a hipótese de não classificação para as finais com a expressão/título “Bernardinho perdeu a mão” (7/6/2014). Em outra ocasião, em jogo contra a Rússia (feminino), em que vencíamos o set por 14 x 11, conseguimos perder inclusive uma medalha. Pode-se concluir que presumidamente, o técnico americano instruiu suas atletas a utilizar saques táticos de forma a “anular” a possibilidade de ataque da principal adversária. Não havendo ataque pelo meio de rede, a ponteira (bola se segurança) passa a ser o alvo único das bloqueadoras: Jaqueline sofreu com o bloqueio dos Estados Unidos. Garay idem. Todavia, muito embora não seja da responsabilidade do blogueiro, não foi mencionado o fato que causou tamanha alteração na partida. Presume-se, então, que houve acerto brasileiro na recepção dos saques. E mais importante: “o que teria acontecido para essa melhora”?

Fatores emocionais

Como em qualquer equipe, masculina ou feminina, fatores emocionais são passíveis de modificar o conjunto de forma imponderável. Nessas circunstâncias, atletas que estão “em quadra” podem não corresponder ao que normalmente produzem e comprometerem o time. Assim, ter o “time na mão”, significa poder alterar o rumo de uma partida com alterações pontuais, tanto táticas como por substituição de uma ou mais peças do tabuleiro que, nem sempre, surgem o efeito desejado, como no caso de Natália. É bem possível que, ao entrar na quadra a equipe brasileira só precisava de uma vitória para assegurar sua classificação para as finais do Grand Prix. Este é um fator que contribuí para o estado de ânimo das jogadoras. Acrescentem-se as providências táticas promovidas pelo treinador adversário e está formado um quadro de “surpresa” para o que vai acontecer nos primeiros sets da partida. Recuperadas, tiveram tempo e competência para transformar uma derrota iminente em vitória suada e merecida.

Como treinar?

No alto nível algumas seleções disputam em igualdade de condições: os detalhes fazem a diferença!

Certamente que a experiência vivida há de produzir ensinamentos transformadores em cada um dos personagens envolvidos. De um lado e do outro. Tomara que a comissão técnica esteja sempre atenta a tais fatores e reproduza em seus ensaios futuras condições de aprimoramento transformadoras. Parabéns a elas e à comissão técnica, não tanto pela vitória, mas pelos ensinamentos incorporados à personalidade de cada indivíduo.

Leia mais… Aprendendo com as Derrotas: Métodos de Ensino; Lições do Mundial, Saque Tático

 

Post Script

Atleta RUSSA GAMOVA EXULTA PELO TÍTULO
Atleta russa Gamova exulta pelo título.

Aprendam a usar o saque!

Aguarda-se um possível encontro entre as seleções do Brasil e da Rússia, com a provável inclusão da carismática Ekaterina Gamova, que se aposentara e teve anunciado seu retorno. Trata-se de uma atleta que desequilibra qualquer partida dado o seu poderio de ataque. Nos jogos que assisti pela TV, não percebi qualquer providência tática em relação aos saques que pudessem oferecer qualquer problema à equipe russa em anulá-la, tal como fizeram as americanas com a Thaísa. Percebe-se uma uniformização no saque, i.e., todas com o mesmo tipo de saque, o que em pouco tempo será absorvido pelas adversárias. Somos adeptos por múltiplas variações individuais a serem empregadas principalmente em determinados momentos da partida. Pode ter sido  o erro da equipe americana: as brasileiras como que absorveram, ou seja, conseguiram um antídoto para superar a deficiência na recepção. Como continuaram a sacar da mesma forma, não mais produziu efeito indesejável. Se estivermos certos, tiramos as seguintes conclusões:

  • Saque não deve ser desperdiçado, equivale ao pênalti em futebol… equipe brasileira masculina aprendeu (espera-se) com os iranianos.
  • Atletas devem saber executar com perfeição vários tipos de saque, especialmente táticos… e não simples reposição em jogo.

Deixo as indagações…

– O que estariam as brasileiras preparando para esse enfrentamento?

– Será que conseguirão anular a extraordinária Gamova?

Leia mais…  XV Campeonato Mundial Feminino – Gamova

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