Mudanças no Vôlei Feminino… em Portugal

Boa Vista, estádio, Gira Volei Porto, Porugual
Festival do Gira Volei no estádio do Boa Vista F. C., cidade do Porto, Portugal.

Voleibol Feminino em Portugal

Estive visitando o Sovolei e revendo algumas colocações sobre o voleibol feminino em Portugal e resolvi transcrever as ponderações de um dos melhores treinadores lusos. A entrevista está sem a respectiva data, mas creio tratar-se de final do ano de 2012.

 

 

 

Portugal dez 2013 cidades

Na ilustração estão assinaladas as principais cidades portuguesas com visitantes (10.145) ao Procrie; ao todo são 78, o que muito nos honra. (Fonte: Google Analytics, período maio/2010 a 9/dez/2013)    

ZONA 7A Mudança no Voleibol Feminino, por João Saudade

João Saudade é uma figura incontornável no voleibol em Portugal. Técnico e Coordenador da Lusófona Voleibol tem um conhecimento e uma clarividência fora do normal em relação ao Voleibol feminino. Apresenta-nos uma opinião clara, incisiva e objectiva, tal como vem sendo habitual. A escrita está em português de Portugal. 

Gira volei Pòvoa de VarzimÉpoca fantástica no Voleibol feminino em Portugal. Em tempo de crise económica, o surgimento de novos valores e o trabalho de base acabam por ser a “estratégia forçada” da maioria dos clubes. No escalão adulto, uma primeira fase de bom nível. A maturidade e experiência de jogadoras que muito têm feito pelo Voleibol nacional estimulada por uma juventude de grande valor (e quem ainda diz que em Portugal não existem jogadoras altas está enganado), fizeram com que equipas como Leixões, Gueifães e Castêlo da Maia atingissem excelentes resultados. O habitual e reforçado Ribeirense venceu a primeira fase sem contestação. A crise é apenas económica porque de valores não se sente. Jogadoras e técnicos souberam responder às dificuldades com determinação. Na zona de Lisboa ressurge um Belenenses merecedor de melhores lugares. Foi a equipa que mais mereceu estar entre os apurados para a segunda fase.

Atletas de Portugal Juvenis CEV sem técnicos
Equipe juvenil portuguesa.

Numa segunda linha de equipas o regresso do Lusófona Voleibol à principal divisão. O trabalho de formação a longo prazo começa a dar frutos. Pelo meio um apagado SC Braga que vai certamente melhorar na segunda fase. Longe destes resultados o esforço e superação de três equipas com grandes dificuldades – Sto. Tirso, CS Madeira e Câmara de Lobos. m ano de grandes mudanças, numa estratégia economicista, a formação mudou. Depois de anos em que a modelo competitivo valorizou o crescimento de jogadoras e clubes, surge a limitação geográfica. Se a norte os efeitos não são visíveis, numa primeira fase competitiva e muito emotiva, a sul o nível volta a baixar por falta de nível desportivo. E nestes escalões a modalidade deve saber gerir o esforço económico com a necessidade de evolução desportiva. Surgem projectos ambiciosos – o Rosário Voleibol.  Mantêm os resultados habituais Leixões, Gueifães, SC Braga, Castelo da Maia, Vilacondense, Académica S. Mamede, Juventude Pacense, Arcozelo. Por Viseu continua forte o Colégio Lamego. Treinadores e nomes com currículo nacional optam pelo voleibol de formação… e outra vez o Rosário com José Moreira, Miguel Maia e João Brenha. A sul o já tradicional Lusófona Voleibol e a fantástica equipa do Col. Sagrado CM. Falta o clique, falta o que todos esperamos – um verdadeiro projecto nacional para o Voleibol Feminino. Continuamos com uma Selecção sem resultados, continuamos sem saber bem o que fazer de tanta quantidade e cada vez mais de muita qualidade. Talvez começar a pensar num modelo de gestão, num modelo de recrutamento baseado nas pessoas, no esforço, na dedicação e principalmente na escolha da opção Voleibol. Alguma empresa escolhe o seu funcionário apenas pelo aspecto visual? Não. Mas continuamos apenas a escolher pela altura ou indicadores que jamais farão a diferença, As pessoas, essas sim,  farão a diferença.

Comentários

Boas (Anônimo),

Pode parecer estranho, mas mesmo depois de ter discordado tanto das suas opiniões, fico contente porque mais uma vez deu a cara, para falar no Voleibol feminino. Tal como anteriormente não concordo com tudo aquilo que escreve. Neste seu artigo gostava apenas de dizer algumas pequenas coisas. “Continuamos com uma Selecção sem resultados” A seleção de cadetes não teve os melhores resultado, podia ter feito mais… “Rosário com José Moreira, Miguel Maia e João Brenha”. Falta referir aqui um grande treinador cujo nome pode não ser muito sonante, mas quem sai aos seus não degenera. Estou a falar do “Rui Moreira” quanto aos outros apenas posso dizer que infelizmente um grande jogador nem sempre é um bom treinador…seja ele na formação ou no feminino.

(Anônimo)

No caso do Leixões e como fala também deste clube gostaria de referir também a aquisição de um grande treinador de formação, José Afonso, este pegou nos minis deste clube, tenho a certeza de que fará um trabalho tão bom ou ainda melhor do que o que fez no Castelo da Maia. Quanto à captação de novos talentos para as seleções, muto ainda está para dizer, apenas e mais uma vez lhe digo que o problema principal não está na “cubana”, mas sim em quem manda que está sempre disponível para a fotografia e continua a desprezar todo o trabalho que é feito pelos treinadores. De salientar a sua frase “A crise é apenas económica porque de valores não se sente. Jogadoras e técnicos souberam responder às dificuldades com determinação.” Parabéns e continuação de bom trabalho.

De Roberto Pimentel…

João Saudade,

Torço como poucos para que atinjam a maturidade voleibolística no mais curto espaço de tempo. Bem sabe que venho tentando debater aqui e no Procrie aspectos pertinentes ao desenvolvimento de uma boa Formação para seus atletas. Mas a impressão que me passam – só os conheço pelo sovolei – é que ainda muitos passos terão que ser dados. A escassez de dinheiro não será suficiente para justificar qualquer coisa, mas a Metodologia a empregar parece que jamais foi ventilada. Continuam dando voltas, confundindo ponto de partida com o ponto de chegada. A selecionadora toca a sua equipe à revelia do país, alguns dirigentes privilegiam atletas brasileiras em detrimento das nativas e nada muda. Parece que todos os dias são os mesmos. Quem viu o filme “Feitiço do tempo” há de entender que sem mudanças drásticas o tempo não passa. Mexam-se!

Tempo Técnico: Voleibol em Portugal, que futuro?

Em 2011, em meus escritos no Sovolei (www.sovolei.com), creio ter tocado a onça com vara curta. Vejam a seguir o comentário do responsável pelo sítio português. Sovolei, escrito por Luís Melo, 26 de julho, 2011: Um dos temas que mais preocupa o Sovolei é o futuro do Voleibol em Portugal. Sabemos que temos a “matéria prima” necessária para que o Voleibol seja um dos desportos mais fortes em Portugal, e temos também os alicerces necessários, com mais de 150.000 praticantes em todo o país. que temos publicado ao longo destes quase 3 anos de existência. Somos críticos frontais, mas também apresentamos soluções para que o Voleibol possa melhorar, para bem de todos. O facto é que vai faltando uma política e uma estratégia de sustentabilidade do Voleibol, que deveria ser levada a cabo pela Federação Portuguesa de Voleibol, depois de discutida em conjunto com as associações regionais, de treinadores, de jogadores e também com os clubes. Para além do aparente desinteresse dos responsáveis pelo Voleibol, também os seus intervenientes não parecem perder muito tempo a pensá-lo e a tentar achar formas para que se possa desenvolver, garantindo não só resultados a médio/longo prazo, mas também trabalho a curto prazo. Assim, é curioso, mas não surpreendente, que seja o nosso colaborador brasileiro Roberto Affonso Pimentel que tente “espicaçar as hostes”, fazendo uma série de perguntas que levem os responsáveis e intervenientes do Voleibol Português a reflectir sobre o futuro da modalidade no país.

Beto e Luís em Londres Sovolei e Livros
Beto (filho)Pimentel e Luís Melo em Londres trocando presentes.

Roberto Pimentel, autor do Procrie, diz que “seria valioso ouvir os personagens que actuam no voleibol português sobre sua evolução“: “O que foi feito em 2010/2011? Se nada foi feito, que consequências essa inércia pode acarretar? Os holofotes da FPV continuam voltados somente para a selecção masculina principal? Dada a situação económica do país, o que esperar para a nova temporada? O que pode ser feito, independente da FPV? E a associação de treinadores, qual a sua representatividade? Ela emite algum parecer técnico sobre a temporada? Os treinadores cresceram tecnicamente?” “Na Formação que ganhos foram adicionados? A Federação deve fazer internato para as seleções? Há necessidade de muitas horas de treinos? Os treinadores estão qualificados? As instalações e a organização são eficientes? A Federação apoia e valoriza os clubes? Que contributo emprestam os estrangeiros, técnicos e atletas? Comunicação social, por que não há divulgação? Que retorno esperam os clubes?” Estes são dois conjuntos de questões, na sua maioria extremamente pertinentes, que Roberto Affonso Pimentel se coloca, e nos coloca. Devemos reflectir e procurar respostas. Todas elas, ainda que possam parecer utópicas ou líricas, são bem vindas, aqui na caixa de comentários.

 

 

Um comentário em “Mudanças no Vôlei Feminino… em Portugal

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