Formação no Barcelona

Desenho: Beto Pimentel.

Ensinar Voleibol ou Futebol?

Como alguns indivíduos que parecem ser iguais a nós de repente se tornam talentosos?

Aconteceram no Rio de Janeiro e em São Paulo, conferências sobre a Copa do Mundo de Futebol (2014) e as Olimpíadas (2016). Uma das emissoras brasileiras de Tv entre outras noticias, reportou rapidamente sobre as Formação – a escolinha – bem sucedida do Barcelona na Espanha. Agora mesmo, atuando com um time reserva – todos jovens promessas – a equipe venceu por 4 x 0 seu adversário na Liga dos Campeões. Soube que ela é dirigida pelo antigo craque holandês, Johan Cruyff, que atuou em décadas passadas pelo time catalão. Vejo na internet que o holandês criou uma instituição – Institute for Studies Desporto – no endereço http://www.cruyffinstitute.org/ . Sua missão é treinar atletas, ex-atletas e profissionais de esportes: “Nossos programas permitem que os alunos combinem suas carreiras desportivas e estudos e adaptar-se a todas as situações, transformando sua paixão por esportes em sua profissão, e construir um futuro produtivo para servir o bem comum do esporte e da sociedade. Educação é o nosso foco principal em um ambiente em mudança, quer contribuir para o esporte e a educação a longo prazo. Procuramos comungar e compreender as necessidades da realidade do esporte, de pessoas e organizações”. Ali foram formados diversos atletas como Messi, Xavi, inclusive os que constituem a base da seleção espanhola de futebol, campeã mundial.

Antes de tomar conhecimento desses fatos, há algum tempo, busquei formatar na AABB-Rio o Projeto de um Centro de Referência em Iniciação Esportiva (Procrie) no qual crianças e jovens treinariam sob esta nova metodologia sem a mínima preocupação de competições federadas. Assim estariam se exercitando no que Daniel Coyle denominou no livro O código do talento de Treinamento Profundo. Eu, ainda aprendiz, chamava de Treinamento de Qualidade que após a leitura e várias releituras considero a mesma coisa. Como diziam nossos avós, “fazer, mas fazer certo”, ou ainda, “treinar, treinar, treinar, mas corretamente”!

Desenho: Beto Pimentel.

A visão e metas do Procrie coincidem com as do Instituto Cruyff, uma vez que também nós estamos voltados para a Educação. O detalhe está na qualidade dos treinamentos e a não preocupação da competição federada. Esta, concebida como está, induz ao treinamento por adestramento, o que torna quase impossível qualquer reversão no ensino a posteriori. Os críticos, antes de conhecerem o método, já se arvoram a contestá-lo, baseado na premissa de que ao evitar a competição, o atleta não consegue desenvolver-se no controle emocional que a mesma proporciona. Esquecem-se de que há diversos meios de manipularmos tais situações e, além, se surgirem após um treinamento profundo, não terão consequências tão danosas, podendo ser superadas muito rapidamente com as condições técnicas já auferidas. É o exemplo referido no início desse texto (Barcelona, 4×0). E, hoje, pouco antes da partida decisiva do campeonato mundial de futebol entre Barcelona e Santos, me faz recordar que o clube brasileiro recebeu proposta nossa há algum tempo para desenvolvermos um Centro de Referência. Não recebemos qualquer manifestação!

Depois de implantado o programa de voleibol para atender inicialmente 260 crianças entre 8-13 anos de idade, sempre voltado para os aspectos educacionais do indivíduo, a pretensão seria ampliar a oferta de serviços e oferecer à criançada dois outros cursos no mesmo local: desenho e um coral. Mais à frente, ampliar para leitura, oratória e outros desportos, como o basquete e handebol. Teríamos ofertas para participação de professores, mestres e demais interessados nas pesquisas e no desenvolvimento das atividades. Estágios e residências pedagógicas para acadêmicos e professores de outras partes. Este blogue estaria cobrindo e informando sobre as atividades, recolhendo e codificando as ações com auxílio de especialistas. Os dirigentes da AABB concordaram com nossa explanação e esbarramos tão somente nem um aspecto simples: apoio financeiro para dar início aos trabalhos. Assim, a parte prática ficou no papel e, enquanto isto estamos a desenvolver aspectos teóricos pelo Procrie. Neste momento, passados dois anos, lutamos para obter recursos para a efetivação dos Cursos Presenciais, como vimos anunciando em alguns textos. Estaríamos oferecendo instrução para que os jovens aprendam a estudar, conjugado com todo o processo. Uma hora por dia de estudos bem dirigidos é capaz de formar pessoas bem formadas. Práticas culturais oferecidas concomitantes aos ensaios desportivos permitiriam um desenvolvimento pleno e sadio. Formados neste ambiente, criam-se condições para os jovens decidirem por suas escolhas de vida mais à frente. Eis um esboço do Programa de esporte escolar, englobando a competição e os conteúdos de ensino a serem discutidos com os docentes: 1) Teoria e prática: sugestões acerca da prática pedagógica; 2) Princípios pedagógicos que orientam uma prática de QUALIDADE; 3) Esboço de proposta escola/esporte. Vejam como é possível desenvolver um trabalho profundo a partir do texto a seguir.

Doyle observou que existe um padrão, uma regularidade na percepção do próprio talento por seu detentor que a torna característica do processo de aquisição de habilidade. Daí vem uma importante questão: qual a natureza desse processo capaz de gerar duas realidades tão díspares? Como esses indivíduos que parecem ser iguais a nós de repente se tornam talentosos?

Na sequência, o conceito de chunking. O que será isto?

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