Evolução do Voleibol – Parte I

Jogo Itália vs. Rússia. Foto: Fivb/Divulgação.

Da série “Olhar Pedagógico

Um cronista esportivo disse certa feita com alguma ironia que o jogo de basquete  deveria ser disputado somente em um minuto, com o placar inicial em 100 a 100. E justificou: “somente no minuto final é que são decididos os grandes jogos e aí se concentram as grandes emoções”.

Mas, aconteceu no jogo da Copa Yeltsin entre as equipes femininas da Polônia e da Holanda algo que podemos considerar similar. O locutor brasileiro querendo sempre emprestar ares de dramaticidade e muita emoção em cada lance não media esforços. Então, quando uma das equipes atingiu o vigésimo ponto, estando a uma diferença de 2-3 pontos da adversária, comentou: “a partir de agora cada ponto é importante…” Aliás, tomem muito cuidado com os comentaristas também, nem sempre com boas condições técnicas de análise. Um ex-medalhista não significa um expert no jogo. Uma coisa é falar sobre o que acontece e, se necessário, descortinar soluções para a superação do adversário. Outra é deixar acontecer o lance e, então, afirmar que deveria ter feito de outra forma. Deve ser a influência nefasta dos locutores e comentaristas de futebol. 

Tanto num dos exemplos dado como no outro, especialmente com a adoção do sistema de “pontos por rali” no voleibol, cada ponto (ou cesta) é importante desde o início da partida e até que termine o jogo, pois, aritmeticamente, têm o mesmo peso e influem no resultado de qualquer partida, seja obtido no início, na metade, ou mesmo no final. No caso do voleibol, muitos técnicos e jogadores em atividade ainda atuaram com a regra da “vantagem”, o que induzia muitos atletas a não se concentrarem tanto num dado instante, pois sabiam que seu erro não contabilizaria imediatamente em ponto para o adversário: “podemos recuperar na ação seguinte e tudo estará bem”! Então os mais displicentes ou pouco envolvidos com o andar do placar na partida negligenciavam nos primeiros movimentos ou arriscavam demais certas jogadas, como bater fortemente contra o bloqueio adversário uma bola nitidamente mal levantada e, em seguida (se errassem), abrir os braços e reclamar do seu levantador. Outros reclamavam porque não recebiam bolas para a cortada final e, quando recebiam, eram demasiadamente mal levantadas.  

No basquete casos similares referiam-se aos arremessos tidos como livres para qualquer atleta. Assim, havia uma competição interna para ver quem fazia mais pontos, pois a regra do jogo faculta ao indivíduo caminhar com a bola e arremessá-la diretamente à cesta sem qualquer participação dos companheiros. Mas, diante de severas reclamações, os treinadores elegiam quem deveria arremessar e este atleta tinha, então, status diferenciado na equipe, que atuava quase que exclusivamente para fornecer-lhe boas oportunidades de arremessos. Era o caso do jogador brasileiro Oscar.

Flagrante do campeonato feminino de voleibol disputado no estádio do Dínamo, em Moscou, provavelmente no final da década de 40 (80 mil espectadores). Acervo: João Carlos da Costa Quaresma.

E você – treinador ou atleta – como enxerga tais situações?

Imagino que deva ser muito difícil entrar no mérito sem conhecer um pouco da história do jogo e as suas circunstâncias. Alguns ex-medalhistas, quando instados a falar sobre a evolução do jogo propriamente dito, invocam um passado recente, muito próximo a eles mesmos, esquecendo-se (ou não sabem) que o “antigamente” é um pouco mais longo do que os seus fios de cabelos. O tempo nos ensina muita coisa e olhar para trás não é ser retrógrado, mas sábio. Ao apreciar diante da tv os jogos femininos de Polônia, Holanda, Rússia e China, não consigo destacar grande evolução em muitos aspectos, mas percebo a forma de treinar e suas consequências durante uma partida. Sinto que não se produzem atletas técnicos, mas fazedores de arremessos potentes ou outdoor de tatuagens por todo o corpo. Parecem atuar para a mídia.

É uma pena que não se produzam jogadores como antigamente! Saudosismo? Se conversar com qualquer dos treinadores atuais a esse respeito tenho certeza de que me responderão: “Reconheço, mas não tenho tempo para treinar esse ou aquele detalhe”. E tudo fica como está. O vencedor fica com os louros (e o dinheiro), enquanto os vencidos tentam copiá-lo. E a roda da vida continua a girar. E, todos reconhecem, no alto nível o detalhe faz a diferença. 

No próximo texto estaremos comentando… Não, vou aguardar que algum dos leitores faça uma indagação e, inclusive, discordem de algo! Creio que será melhor para cooptarmos mais informações e deixá-los à vontade. Até lá, apressem-se!

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