O Olhar Pedagógico de José Saramago

- Atleta defende ataque adversário. Nota-se: 1) altura que elegeu para tocar na bola; 2) o toque usando o punho e o antebraço; 3) fez a opção de se lançar à frente antes do toque. Foto Fivb/Divulgação.
(…) “Olhar, ver e reparar são maneiras distintas de usar o órgão da vista, cada qual com a sua intensidade própria, até nas degenerações, por exemplo, olhar sem ver, quando uma pessoa se encontra ensimesmada, situação comum nos antigos romances, ou ver e não dar por isso, se os olhos por cansaço ou fastio se defendem de sobrecargas incômodas. Só o reparar pode chegar a ser visão plena, quando num ponto determinado ou sucessivamente a atenção se concentra, o que tanto sucederá por efeito duma deliberação da vontade quanto por uma espécie de estado sinestésico involuntário em que o visto solicita ser visto novamente, assim se passando de uma sensação a outra, retendo, arrastando o olhar, como se a imagem tivesse de produzir-se em dois lugares distintos do cérebro com diferença temporal de um centésimo de segundo, primeiro o sinal simplificado, depois o desenho rigoroso, a definição nítida…” (Walter Lúcio de Alencar Praxedes)
Verdade
A nossa forma de apreender e pensar o mundo até hoje continua a ser, em grande medida, pelas leis da lógica clássica, também denominada lógica aristotélica. “A verdade de um nem sempre é a verdade do outro, por isso verdade não é realidade, mas sim como uma pessoa vê o mundo”. Esta é considerada uma verdade subjetiva, ou também chamada verdade individual. Como objeto de estudo, somente a verdade objetiva e universalmente aceita é válida. É controversa a ideia de que não exista uma verdade objetiva. A ideia de sua não existência é um princípio filosófico chamado solipsismo. (Wikipédia)
Olhos de ver e olhos de enxergar. Estive apreciando pela televisão as duas partidas em que o Brasil enfrentou Porto Rico pela Liga Mundial em nosso solo. Uma transmissão excelente quanto ao equipamento técnico da emissora, inclusive com as novas câmeras com imagens ultra lentas e muitas repetições. Através delas, olhos pouco acostumados com o jogo podem ter uma aula do que acontece ao vivo, isto é, erros e acertos dos intervenientes. De certa forma, permite aguçar o olhar com os repetidos zoons das lentes. Todavia, ao se apreciar qualquer partida transmitida pela televisão existem alguns aspectos que podem comprometer ou alterar a observação dos fatos, independentemente do fator emocional, a “torcida”: o locutor, o comentarista e o próprio espectador e, mais importante, a posição do “olho da câmera”.
Locutor – Invariavelmente é um indivíduo comprometido com a audiência e a emissora e, portanto, deve se esmerar em gentilezas e simpatias no trato com a informação e, principalmente, com os seus comentários.
Comentarista – Convidado, quase sempre ex-atleta da modalidade, acostumado a ver o jogo de forma pragmática (não confundir pragmatismo com linguagem pragmática, ou seja, o estudo da linguagem pela forma que ela é interpretada em contextos práticos e levando em conta o contexto), certamente também comprometido com a linha traçada pela emissora. Noto ao longo do tempo que é instruído a elogiar, medindo as palavras, pois caso contrário a audiência pode ficar comprometida e, consequentemente, prejudicando os anunciantes que patrocinam as transmissões.
Espectador – Este é variado, mas a grande maioria é daqueles que nunca jogaram voleibol (“eu era muito pequeno”) ou poucas vezes ousou praticar na escola, com certeza desanimados pelo próprio professor, especialmente as meninas, algo que perdura até hoje por incrível que pareça. Logo, é o que se pode chamar de “espectador de poltrona” que aguarda este ou aquele comentário para se iniciar nos próprios dizeres. São atletas passivos e eventuais, como grande maioria dos que se deslocam aos ginásios, especialmente a juventude, somente para “torcer” por seus ídolos. Daí o número de mulheres espectadoras.

É óbvio, todos vêem qualquer jogo segundo sua ótica, ou interesse momentâneo. Se indagarmos a inúmeros espectadores presentes ao espetáculo sobre a exatidão de determinado lance que deixou alguma dúvida à arbitragem, inevitavelmente serão muitas as “verdades” de cada um, ou verdades subjetivas. Para prevenir ou atenuar erros, o árbitro de uma partida tem a seu serviço vários auxiliares: o 2º árbitro e 4 fiscais de linha, os bandeirinhas. E por que dissemos tudo isto?
Continuaremos a analisar determinados lances de uma partida de voleibol ainda que distantes do tempo, isto é, através de fotografias. É evidente que alguns descontos e cuidados serão considerados, pois não temos as cenas completas como num vídeo, além de perdermos a noção global, isto é, o ambiente. Estaremos, então, focando nosso olhar em um instantâneo. Reparem que as fotos se referem ao chamado alto nível, tendo sido clicados atletas campeões mundiais e olímpicos. Estaremos prejudicados na análise de ataques, pois seriam necessárias cenas em movimento. Assim, o enfoque vai para a parte mais negligenciada nos treinamentos e pouco prestigiada pelos brasileiros (e outros): a defesa. Relembro que já estivemos tratando do assunto á época dos Jogos Mundiais de 2010, no Japão e na Itália.
E dois lembretes: 1) quem quiser ver um jogo tecnicamente, deve postar-se atrás e não no meio (lado) do campo de jogo. Isto é válido para todos os desportos (se não estou enganado). No caso do voleibol, há lugares – cabeceiras da quadra – previamente reservados para os “espiões”: indivíduos previamente credenciados que efetuam filmagens e comentários para os técnicos. 2) em alguns momentos é interessante que os jogadores deixem momentaneamente a visão da bola e “vejam” a posição da equipe adversária, especialmente os atacantes. Somente os mais técnicos conseguem fazê-lo.
