Lesão e Superação

Problemas médicos

Como os interesses políticos, os favorecimentos e o excesso de atividades podem influenciar e prejudicar o rendimento de um atleta em qualquer modalidade? O médico da delegação tem poder de veto? E o fisioterapeuta é o “faz-tudo”?  

Histórias 

1) Na primeira olimpíada em que o voleibol se fez presente foi em Tóquio, Japão, no ano de 1964. A delegação brasileira masculina se fez presente somente com dez atletas. Dias antes do embarque, o COB informou à CBV sobre esta decisão, alegando contenção de despesas. Nunca foi justificado até porque foi o ano da entrada no poder dos militares e o COB já tinha em suas fileiras vários generais. Aliás, todos os postos chaves do esporte, como o Conselho Nacional dos Desportos (CND). No que se refere à equipe de voleibol, era comentário geral que um dos atletas estava lesionado no joelho ainda nos treinamentos precários no Brasil. Certamente, agravado pelo emprego de exercícios hoje totalmente condenados, como o canguru, além de subidas e descidas de degraus de arquibancadas. Diga-se ainda que a equipe ficou reduzida a seis atletas por contusões durante os jogos.

2) Em 1984, na Olimpíada de Los Angeles, mais uma vez a delegação estava composta com pelo menos dois atletas sem condições ideais para a competição antes de embarcarem e, ainda assim, viajaram. Até então, a seleção era um grupo fechadíssimo em torno de seu treinador que detinha todo o poder. E sabíamos todos que dos 12, somente dez tinham condições de atuar na equipe.  

3) Há muitos anos, em conversa com um dos supervisores da CBV, ele comentava que um dos problemas com o estado físico dos atletas residia na má execução das atividades nos próprios clubes, ou até mesmo, na sua ausência. Quando convocados, tinham que passar por um período de reavaliação e tratamento. Interessante, que anos depois, inclusive com melhor aparato de equipamentos e equipe médica adequada, alguns problemas surgiram na seleção, como o caso de Schanke (?), que saiu de quadra em um jogo pela seleção direto para a mesa de cirurgia de um hospital, com problemas de circulação na mão.  

4) Dois anos após a conquista olímpica de 1992 houve um êxodo dos atletas atraídos pelo milionário voleibol italiano. Não durou muito e após a temporada italiana, creio que ainda em 94, Nuzman promoveu uma festa com toda pompa no Centro Cultural do Banco do Brasil, no Rio, com jornais, TVs, autoridades e convidados. Ele, ainda presidente da CBV, sugeriu e engendrou o retorno dos cinco atletas campeões olímpicos que atuavam na Itália – Carlão, Maurício, Tande, Giovane e Marcelo Negrão. O Banco do Brasil, tendo a frente o seu presidente Andréa Calabi, arcou com as despesas, inclusive os seus salários. A CBV distribuiu os atletas por diversos clubes/empresas. Interessante foi um dos argumentos invocado: “Estaria protegendo os atletas – citou o Tande – de maus tratos, isto é, era obrigado a atuar sem condições físicas adequadas, mesmo estropiado”. O sexto atleta titular daquela olimpíada, Paulão, que não se transferira para a Itália, tornou-se presidente de um clube no Paraná, além de também atuar na equipe que conseguiu a duras penas montar. Foi esquecido solenemente, não tinha carisma e por isso a imprensa não lhe dava a mínima atenção. Caiu no esquecimento. 

5) A história se repetiria após a virada do século: da equipe bicampeã mundial (2006), somente um jogador atuava no país. Para atenuar a busca de dólares e euros no exterior, foi montado um esquema marqueteiro com a principal emissora de TV brasileira para transmissões dos jogos da Liga Nacional. Com isto, os salários em reais tornaram-se razoavelmente competitivos, especialmente por estarem em casa e falarem a mesma língua. Ainda assim, um ou outro abdicou como o jogador Tande que logo após o campeonato mundial da Itália retornou ao seu time na Rússia. Como a situação econômica do país é estável e até invejável diante das maiores economias mundiais, é natural que se possam oferecer melhores salários aos “nossos heróis”. 

6) A emoção de Murilo quando foi anunciado o melhor jogador do Mundial de Vôlei (2010) tinha uma razão. O ponteiro teve de superar ao longo da competição uma dor interminável na panturrilha, que causou cãimbras e o fez jogar no sufoco em algumas partidas. Com o alívio do dever cumprido, o camisa número 8 afirmou que nunca viu a seleção passar por tanta dificuldade em um torneio em que saiu vitoriosa. Foi a mais difícil pelos problemas físicos. Até em 2009 nós conversávamos que nunca tinha acontecido muitos problemas físicos na equipe ao longo das competições, dizíamos que éramos muito sortudos por isso. Mas neste mundial foi complicado. Primeiro já pelo problema do Marlon, que não era um problema físico e sim fisiológico, e ele superou… Depois o problema do Bruno na semifinal, quando sentiu o tornozelo esquerdo e o meu na panturrilha e hoje também sentindo o tornozelo. “Isso é ainda melhor para gente tentar se ajudar em quadra”.  

7) O atleta Giba, desde os jogos da Liga não atuava e não atuou efetivamente nesse mundial, possivelmente poupado por motivos médicos. Passou a ser o “segundo” do técnico, dando apoio e instruções aos seus colegas. Todavia, no Brasil, deixou escapar uma brincadeira pouco saudável para um atleta de seu nível: “Creio que a Fivb deveria daqui para frente realizar um campeonato mundial com todos os outros países; aquele que vencer, disputará com o Brasil quem será o campeão”. Lamento, mas notei certa empáfia em suas palavras. Como deve ser difícil voltar a por os pés no chão após vôos tão altos! E lembrar que em 2002 foi pego no exame antidoping na Itália, fato este abafado na grande imprensa, inclusive com a ida de um bombeiro à Bota. Certamente a divulgação do fato comprometeria a boa imagem do garoto-propaganda do patrocinador oficial.       

 

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