Mundiais de Voleibol no Brasil, 1960 (VI)

Treinos no Caio Martins. Em pé, à esquerda, Newdon, Décio, Álvaro, Heckel, Roque, Financial, Chapinha, Faggiano e Rômulo. Agachados, Urbano, Afonso, Murilo, Pedro, Quaresma, Feitosa.

Características 

Possivelmente uma das últimas competições internacionais em que a recepção pode ser realizada com emprego do toque (por cima). Nas seguintes, tem início a manchete, como verão a seguir. As equipes jogavam praticamente no sistema 4×2, exceto a URSS, que já empregava o 5×1. Foi também a primeira participação do Japão, que inovou com o saque flutuante. As moças apresentaram maior precisão e por pouco não venceram as russas na decisão. Os rapazes jogavam com bolas rápidas e fintas ainda incipientes. Sem dúvida, a equipe tcheca era a mais técnica de todas, fazendo jus à sua posição de campeã mundial (1956). Economizavam energia, utilizavam muito o bloqueio adversário (exploradas para fora) e seus ataques tinham direção certa, sem muita força. Perderam na final para a URSS.

Saque com corrida

A URSS predominou, por muito tempo, como a equipe de maior vigor físico e estatura. Tinha potência de ataque invejável, deslumbrando os espectadores com seu incrível bate-bola (aquecimento) com cortadas cravadas muito próximas à rede. Única equipe a jogar com um levantador (camisa 12, Georgy Mondzolevsky) e possuir o “melhor sacador” do mundial – o camisa 6, Yury Pojarkov – de saque balanceado (chamado americano), inclusive executando a corrida para a batida na bola. Era extremamente violento e dificílima a sua recepção, pois, lembramos, ainda não era empregada a manchete. E, recepcionar de toque era tarefa inglória, mesmo para os melhores passadores. Não houve emprego das cortadas de gancho, muito utilizadas no mundial anterior. Nosso único executante era Lúcio, que pouco atuou. E, ainda, não era permitida a invasão no bloqueio, fator que representava o maior índice de reclamações contra as arbitragens.

Seleção Masculina

Na pré-convocação constaram os atletas do Rio (FMV): Lúcio, Sérgio Barcellos, Feitosa e Alexandre, todos do Flamengo (Sérgio e Alexandre solicitaram dispensa). Do Botafogo, Murilo Castilho e Quaresma.

Fase preparatória – Da seleção de 56 atuaram Quaresma, Waldenir (Borboleta), ambos moradores em Niterói, e Lúcio Figueiredo. Niterói ainda tinha um terceiro jogador, Murilo Gomes. O treinador, Geraldo Faggiano, atuava no voleibol em Santos (SP). Os treinos tiveram início 30 dias antes do evento, havendo uma fase em São Paulo e, posteriormente, em Niterói. Teve início um “trabalho de ginástica”, como era chamada a preparação física, com o preparador Rômulo Duncan Arantes, egresso do remo. Nessa época, eram raríssimas as Escolas de Educação Física: no Rio de Janeiro, por exemplo, só existiam a EsEFEx e a Escola Nacional de Educação Física, com raros formandos. Não se faziam seções regulares de preparação física nos clubes brasileiros. Como sempre aconteceu, e permaneceu por muito tempo, não tínhamos intercâmbio com as equipes europeias, especialmente socialistas, consideradas as melhores. Quanto à América do Sul, e mesmo as equipes dos Estados Unidos, eram consideravelmente muito fracas e desinteressadas pelo esporte até certo ponto.

Sistema de jogo – Jogava-se o 4×2, com infiltração pelo saque – saída de rede – ou pelo meio, posições (II) e (III). Tal concepção só foi alterada em jogos de seleção em 1968. Na defesa, o recuo do defesa-centro e avanço dos alas correspondentes.

Repercussão – Após os campeonatos, nada se alterou na forma de treinar dos principais clubes brasileiros. Justificava-se que não poderíamos jamais competir em igualdade de condições com tais equipes, já que não possuíamos uma compleição física compatível (mais baixos e fracos), não tínhamos períodos longos de treinamento em virtude da conjugação trabalho e estudo, intercâmbio (jogavam entre eles pelo campeonato europeu) e o nível de “profissionalização” (militares, por conveniência política). Esta última situação, inclusive, vai nos inspirar, muitos anos depois, na profissionalização.

Delegação masculina (nº da camisa, Estado):

Urbano Brochado Santiago (1, MG), João Carlos da Costa Quaresma (2, RJ), Pedro Barbosa de Andrade (Pedrão, 3, SP), Waldenir Calmon (?) da Silva (Borboleta, 4, RJ), Carlos Eduardo Albano Feitosa (5, RJ), Álvaro Caíra (6, SP), Murilo Castilho Gomes (7, RJ), Newdon Emmanuel Victor (8, PE), Décio Viotti de Azevedo (9, MG), Lúcio da Cunha Figueiredo (10, RJ), Roque Midley Maron (11, RJ), Roberto Córsio de Queiroz (Financial, 12, MG).

 

13 comentários em “Mundiais de Voleibol no Brasil, 1960 (VI)

  1. Na semana passada conheci Newdon Emanuel de Victor. Ele me mostrou uma placa que recebeu por ser melhor atleta em 1962. Tem muita história pra contar. Seria interessante uma reportagem com ele

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    1. Gustavo, naquele ano realizou-se o Mundial na Rússia. Na preparação, também fui convocado e treinei com o Newdon na Escola Naval, Rio de Janeiro. A placa a que se refere desconheço, como também não conheço o seu paradeiro. Uma entrevista seria sempre oportuna, pois deve ter muitas histórias a contar. Quem sabe, ele apareça e possamos conversar? Estarei ao aguardo e grato por sua participação.

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  2. Roberto e Gustavo, sou Tecnico em Maceio, e dos muitos amigos que tenho no Voleibol pelo Brasil, tenho um pernambucano que se chama Augusto Leopoldo. Ele sempre quando falamos do Volei passado me fala de um atleta com o nome de Neldon(ele chama ele de Nildão); queria saber se o referido que estava na Selecão brasileira e um jogador de Pernambuco e se a resposta fosse sim, se vcs tem alguma informacao de como encontra-lo. Abraco e obrigado

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    1. Prezado Caetano.
      Que eu saiba, o único Newdon penambucano que vi atuar na seleção brasileira é este que consta do texto e da foto. Anteriormente, em 1957-58 atuou pela equipe de Volta Redonda (RJ). Figurou ainda na seleção de 1962, quando do mundial em Moscou. Seu nome completo é Newdon Emmanuel Victor. Após 62 perdi contato com ele no Rio. Quer me parecer que retornou a Pernambuco.
      A propósito, quem é o Gustavo a que se referiu?

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  3. Prezado Roberto,
    Pequena história: nos meados de 60 eu era levantador – reserva – do Sport de Recife. Numa das poucas entradas em quadra, consegui, todo orgulhoso, defender de manchete uma “paulada” do Newdon Victor (que, se não me falha a memória, jogava pelo Jet). Instantes depois, vejo sangue no chão. Era da minha unha que tinha arrebentado com a defesa de que me orgulhara. Claro que deixei a quadra imediatamente. Li que na foto que vc. publicou no “Historias do Voleibol, em 07/06/2010, o nome do Financial. Com certeza deve ser o Roberto Financial, que era meu técnico na época dessa historinha (não o reconheci na foto). Será que vc. sabe o paradeiro dele? Gostaria muito de escrever p/ ele relembrando boas histórias da época.
    Abçs.
    Roberto

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  4. Olá Roberto Pontual,
    Grato por nos relatar a pequena história e estou ávido por “ouvir” outras mais. A foto é de 1960, durante os preparativos para o mundial e ao seu clique, ela estará ampliada na tela. A última vez que vi o Financial, ele era representante talvez da Taraflex, estava colocando esse material no novo ginásio do Botafogo, Rio (não me recordo o ano, mas já faz tempo). Inclusive, deu-me uma carona até a Praça XV, de onde retornei a Niterói pelas barcas. Disse-me que estava trabalhando e morando em São Paulo (capital). Como temos no Procrie muitos visitantes paulistas, faremos um apelo para localizá-lo. Quanto às histórias, se estiver interessado, avise-me que combinaremos como enviá-las, inclusive fotos.

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  5. Caro Roberto,

    Muito bom poder fazer este contato. Fomos jogadores da mesma época, jogava no Sport Recife. Acredito que conheças um pouco de minha história no volei nacional. O Newdon mora em Recife, para onde voltou em 1964 após os JO de Tóquio. Abração, Josenildo.

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    1. Josenildo,
      Jamais poderia esquecê-lo desde jan./1974 quando estive em Recife pela primeira vez e experimentei a felicidade de conviver e fazer amigos, inclusive seu irmão, que cursou nosso estágio no SESI – Ibura. Além disso, circulamos à noite também com o Imai, em fevereiro, já falando português. São boas as lembranças. Quanto à informação referente ao pedido do Roberto Pontual, trata-se do Roberto Córsio, o “Financial. Foi muito bom que tenha se lembrado deste seu amigo. Você figura no 2º volume da História do Voleibol no Brasil, em que discorro sobre a evolução das seleções nacionais através de seu envolvimento internacional.

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  6. Roberto,
    Lendo o que escrevem seu amigos do voleibol, me pego voltando ao tempo também. Lí o que escreveu o Josenildo e tenho uma pequena estórinha para contar também. Acho que foi em 1979, o Josenildo treinava o feminino do Clube Atlético Paulistano e como eu sempre quis saber como eram os treinos das equipes principais, fui ao ginásio do Paulistano ver o que elas faziam. Cheguei discretamente, sentei na arquibancada, que estava vazia, e fiquei alí observando tudo. Lembro com clareza os olhares assustados das atletas e principalmente do Josenildo. Eu, com a minha fisionomia de japonês, devo ter passado como um espião a serviço do vôlei nipônico. Fui apenas mais algumas vezes e depois mudei de “praia”. Assistia muito também os treinos do Moreno no E. C. Pinheiros. Tenho certeza absoluta que o Josenildo não vai se lembrar disso, pois acredito que ele estava mais preocupado com os treinos e com a seleção, onde também foi treinador.

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    1. Edison, o Josenildo esteve técnico de seleções brasileiras femininas no período 1975-77, e consta que tinha como auxiliar (na seleção e no Paulistano) o japonês Nobuhiro Imai, o mesmo que foi trazido ao Brasil pelo Nuzman (ago/1973) para realizar cursos de iniciação ao voleibol pelo País. Ele esteve em Recife (PE) em fevereiro do ano seguinte, quando conheceu o Josenildo. Eu estava por lá realizando também um Curso de Iniciação no SESI-Ibura. Aliás, quando do primeiro curso no Rio, construí uma apostila que foi divulgada entre os professores graças à minha intermediação. Sendo assim, não creio que se assustasse com algum japonês observando seu treino, mas talvez curioso para saber se era parente do Imai, talvez até seu filho. Como todos se parecem, nada é impossível… Grato pela historinha. Mas, afinal, a quantas levaram suas observações?

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  7. Roberto,
    Não lembro dos detalhes dos treinos que assisti no Paulistano, mas para mim, naquela época, tudo me pareceu bastante “normal”.
    Adianto-lhe também que nunca fui atleta nem estudioso do voleibol. Quando criança tinha predileção pelo basquete por infuência do dos meus professores Edson Bispo dos Santos e Nair (não lembro o sobrenome). Foram eles que me ensinaram os primeiros fundamentos do basquete. Como sempre gostei de esportes dinâmicos e com deslocamentos, acabei jogando mais basquete, handebol (prof. Luis Gonçalves Barbosa) e depois futsal. Paralelamente fui levado à prática do tênis (prof. Luis), ao judô (prof. Carlos Catalano)e por fim a natação.
    Como se vê, nada ou quase nada sabia do vôlei, esporte que comecei a admirar já adolescente enquanto aguardava nas arquibancadas da ACM-Central minha hora de treinar futsal. Profissionalmente também, nunca trabalhei com voleibol, apenas fiz o curso de arbitragem em 1980 para adquirir conhecimento das regras e entender o que Vera Mossa e cia. faziam nas quadras. rsrss
    Minhas maiores lembranças são mais recentes, no período de Vera Mossa, Jackeline e Isabel, e no masculino de Willian, Bernard, Renan e Montanaro.
    Um grande abraço,

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    1. “Um professor afeta a eternidade, ele nunca sabe em que ponto cessa sua influência” (H. B. Adams).
      Este é um passado glorioso para uma criança e adolescente. Construiu sua história e, muito mais, incorporou um código de conduta, importante para retransmitir às novas gerações. Acrescentado, ainda, pelos seus conhecimentos através das descobertas científicas – refiro-me à Psicologia Pedagógica -, pois afinal, “educar não é como encher um balde, mas como acender uma chama” (W. B. Yeats). Grato por grafar seu depoimento.

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