Tema: Formação no Voleibol de Praia
Autora: Ana Rita Gomes; Publicado no site português www.sovolei.com /A Opinião de Ana Rita Gomes.
Resumo: Raros atletas de alta competição devido à cultura desportiva do país. Passantes estranham os atletas enquanto treinam. Como romper esta blindagem e alavancarmos o desenvolvimento do setor? Que objetivos a alcançar?
Objetivos: Divulgar a modalidade e conquistar adeptos; Representação feminina nos Jogos Olímpicos de Londres.
Voleibol de Praia (VP) e Voleibol Indoor (VI), por Roberto Pimentel.
Convite. Para que haja a necessária renovação em qualquer desporto torna-se imprescindível divulgar entre crianças e adolescentes a modalidade. A fórmula encontrada nos nossos tempos é realizar as competições na forma de espetáculos, tornando visíveis todos os aspectos do jogo e, principalmente, elevando os protagonistas campeões a níveis gloriosos. Faz parte do imaginário do ser humano, especialmente dos jovens. Em Portugal encontro um exemplo bem recente, o Gira Vôlei. Esta fórmula foi explorada por Matsudaira quando planejou a ascensão das seleções nacionais do Japão ainda na década de 60 – um ”plano de 8 anos” – e vem sendo seguida pela FIVB quando estabelece protocolos para realização de eventos. Lembro que ele era um Administrador de Empresa e, como tal, deu asas à imaginação desenvolvendo simultaneamente um planejamento técnico e marqueteiro. Fez com que boa parte da população aderisse ao voleibol numa época em que este esporte era pouco considerado no seu país. Conseguiu resultados culturais surpreendentes. No Brasil, foi seguido por Carlos Arthur Nuzman, que se manteve presidente da CBV por 20 anos e promoveu verdadeira revolução no esporte. O vôlei de praia brasileiro deve tudo à participação fundamental e incisiva do Banco do Brasil que, através do seu Departamento de Marketing elevou o esporte até então desconhecido a um dos mais vistos e aplaudidos em todo o território nacional. Para o Banco está sendo uma das suas maiores jogadas negociais, além de ter atraído o público jovem para sua clientela, antes bastante envelhecida.
Cultura. Ainda apoiado no exemplo japonês, observe-se que a mulher naquele país tinha uma posição secular de segundo plano em relação aos homens. Era-lhe servil e submissa. Lembro de cenas em que chegavam a ser esbofeteadas em pleno treinamento, não importando onde estivessem. Aos olhos estrangeiros soava como agressão e, ao mesmo tempo, espanto, por se sentirem tão resignadas àquela situação. Alguns diziam que seria uma forma de, no futuro, terem reconhecido seu esforço e valor, tornando-se independentes do jugo masculino. Sob este cenário, tornaram-se campeãs olímpicas em 1964, em Tóquio. Este é um exemplo. Sugiro que cada estudioso recue um pouco no tempo, pesquise comportamentos de seus avós e, à luz de novos conhecimentos possa apresentar soluções que favoreçam o desenvolvimento do desporto no seu país. Tenho a certeza de que vão precisar de especialistas na matéria, não comprometidos com o desporto, mas com Ciência e Administração (especialmente Marketing), uma vez que o vôlei – praia e indoor – cada vez mais se torna popular e profissional, o que induz muitos jovens à sua prática como forma de “trabalho”. Daí surge o conflito que é mundial: estudar ou trabalhar? No Brasil, e acredito que também em outros países, a segunda opção vem sendo vitoriosa até certo ponto. Atletas brasileiros e suecos já foram cognominados carinhosamente de “vagabundos” em seus países, uma vez que a atividade – treinos, competições – não lhes deixa tempo para outra coisa. No cenário feminino, as brasileiras de determinadas regiões, especialmente o nordeste, percebem que deu certo para homens e pode dar certo para elas. E tem dado, haja vista a dupla Juliana-Larissa. Mas o caso brasileiro é específico, mesmo porque sempre se jogou voleibol na praia, independentemente do voleibol em ginásio. É um assunto que deixarei para comentar em outra oportunidade.
Formação. A afirmação “Os novos jogadores que surgem no Circuito Mundial são formados no VP e não no VI, como há alguns anos” deve ser compreendida segundo um raciocínio histórico ou temporal. Até alcançar o patamar para frequentar um circuito desta envergadura são necessários muitos anos de prática e um longo aprendizado. Muitos não chegam lá, somente os melhores adaptados, a elite. É um procedimento que ocorre em todos os esportes. Imagino que aprender a jogar voleibol é muito mais fácil se realizado num piso regular e duro como o da quadra indoor. As necessidades de deslocamentos e os saltos são mais facilmente aprendidos, o que torna tudo mais agradável. O piso irregular e fofo de areia é o maior obstáculo a ser vencido por aprendizes. Como dizemos no Rio de Janeiro a respeito de indivíduos não acostumados a caminhar na areia, “tropeçam na areia”, o equivalente à perda total da coordenação motora em qualquer deslocamento. O VP no Brasil se desenvolve concretamente nas praias, uma vez que somos privilegiados neste sentido. Além disso, o clima também favorece e disponibiliza sua prática o ano inteiro. Embora algumas federações estaduais tenham programas para juvenis e sub-21, normalmente as duplas que se formam para estas competições advêm de equipes indoor. As causas desta migração são várias, desde possível não aproveitamento na equipe superior, relacionamento com treinadores, busca de liberdade, espírito aventureiro (muitas viagens) etc. Guindado à modalidade olímpica, o VP ganhou muito em status, tornando-se uma “profissão” para a maioria de seus praticantes. Se não tiver dedicação exclusiva, o atleta não conseguirá ter o mesmo padrão dos campeões e estará fadado ao insucesso. E para manter-se no grupo de elite, muito dinheiro faz-se necessário. Neste sentido, as federações nacionais assistem ou investem de alguma forma nos seus representantes, independente de patrocínios auferidos pelas duplas. Atualmente (julho/2009), desenvolve-se o Circuito Mundial na Noruega com sete duplas brasileiras, sendo quatro femininas e três masculinas. Diante do exposto, dificilmente um atleta, mesmo de ponta, conseguirá sucesso ou manter-se entre os melhores, se não tiver um histórico razoável nas competições de areia. Alguns tentaram como Tande, Giovani, Marcelo Negrão e Nalbert, todos campeões olímpicos no indoor, mas abandonaram em seguida. Eram destroçados nos circuitos nacionais brasileiros.
Treinador. Pelas regras das competições geridas pela FIVB não é permitida a figura do treinador em quadra. Particularmente, no Brasil, a partir de algum tempo foi permitida a sua presença nos jogos, só podendo comunicar-se com os atletas nos tempos de descanso ou intervalos de cada set. Esta providência parece ter atenuado os desgastes emocionais que as competições inexoravelmente promovem. A ausência de substituições e o ataque sistemático a um dos contendores fazem parte do contexto do jogo, permitindo providências táticas e enriquecendo a disputa, tal como ocorre em outros desportos. Cada vez que uma dupla é formada, ou desfeita, entende-se que há conflitos desta natureza. Mais adiante, ao se providenciar nova composição, certamente este é o item primacial, além, é claro, dos temperamentos envolvidos (fator psicológico). Assim, a normalidade na formação das equipes tende para um indivíduo que preponderantemente estará responsável pelos bloqueios e, outro, pela defesa. Não se testou ainda qualquer coisa diferente até hoje. Isto leva os atletas a treinarem com afinco os fundamentos que lhe são específicos no momento do jogo, sem descurar, evidentemente, da preparação física, indispensável a todos, até mesmo pelo sistema de jogos consecutivos, muitas vezes no mesmo dia. Dessa forma alguns atletas sobrevivem ao tempo e até tornam-se campeões ainda que com pouca estatura, como é o caso no feminino de Jaqueline Silva (levantadora no indoor) e primeira campeã olímpica; Shelda, vice-campeã olímpica, de invejável currículo mundial e até hoje em atividade (com Ana Paula, no Mundial da Noruega). Na tentativa de tornar o jogo mais atraente, com ralis mais disputados, a FIVB houve por bem diminuir a área de jogo: dos 91m2 para os atuais 64m2. Uma providência que também contribuiu para a preservação do estado físico dos atletas.
Atleta. Por que jogar VP? Qual objetivo? Com quem? Onde? Quanto é necessário investir? Com quem treinar? Por quanto tempo? Se os indivíduos pensassem antes de começar, talvez nem começassem, pois são tantas as dificuldades iniciais! Tenho uma intuição, por isto não científica. Creio que muitos jovens buscam uma afirmação – é próprio da idade – animada pelo clima que se cria em torno dos espetáculos.
VP e a metodologia. Pesquisa científica? Creio que não há. Pelo menos não conheço no Brasil. O meio universitário, que deveria contribuir para tal, e a própria entidade nacional são desacreditadas neste sentido. O empreguismo, as conveniências e outros desmandos contribuem para que as coisas se mantenham como estão. Se mudar periga a posição do servidor no seu emprego. A partir do ano 2000, a Confederação brasileira instituiu um curso para treinadores de praia, com níveis I e II, nos moldes da FIVB. Foi franqueado para professores e acadêmicos de Educação Física e a atletas (ou ex-atletas) de voleibol. Da noite para o dia foram impressos dezenas de exemplares de apostilas para instruir os alunos e convidados treinadores de renomados atletas campeões da especialidade. Nitidamente, no dizer de frequentadores de tal curso, houve uma pura e simples transposição dos dizeres do vôlei indoor para a praia. Alguns poucos treinadores relataram suas experiências, mas toda a metodologia foi “abortada” da quadra. Criticamente, todos estavam interessados no certificado que lhes permitiria participar das competições nacionais no banco da areia com seus pupilos e “fregueses”. Enquanto que, para a entidade nacional, tornou-se mais uma fonte de receita. Tenho minhas convicções – e poucas certezas – a respeito do que poderia vir a ser uma metodologia para o ensino do VP. Obviamente, considerados os dois primeiros aspectos quando se examina o assunto: a iniciação – formação dos atletas – e o treinamento de alto nível, este destinado a indivíduos profissionais. Para aprender algo, tornei-me voluntariamente um treinador de atletas de VP no início da década de 90. Foi um aprendizado salutar, pois a dupla que treinava tinha experiência de outros treinadores. Vivenciei todos aqueles momentos, ávido para conhecer seus efeitos. Aos poucos, e isto é comum no meio, conversávamos e discutíamos para encontrarmos melhores soluções para situações específicas. Percebi durante aqueles 9 meses ininterruptos (6 aulas semanais, 3h 30min/dia) como outros treinadores procediam e, a pouco e pouco, dei início à personalização ao meu modo de ver e sentir as coisas. Ao presenciar algumas sessões nas praias cariocas constatei que os métodos empregados não fugiam ao roteiro das quadras (ginásios), com ligeiras adaptações quanto à circunstância do piso e o número de jogadores. Mas, em essência, o comportamento geral e o nível de exigências dos treinadores deixavam muito a desejar. Compreendi que, como eram sustentados (pagos) pelos atletas era natural que não fossem confrontados ou aborrecidos por qualquer pequeno detalhe, se é que tinham conhecimento dessas sutis miudezas técnicas.
VP e os jovens. Há algum tempo era preocupante para a diretoria técnica (indoor) da entidade nacional, a permissão concedida a atletas juvenis federados para participarem dos circuitos brasileiros de VP. Alegava que poderia haver um êxodo da quadra para a praia. Nunca houve. Tal como em Portugal, no Brasil muitos atletas que perdem a condição de juvenis pela idade não conseguem vaga nas equipes superiores. A federação criou alguns torneios com idades intermediárias para mantê-los em ação, mas não vingou, pois onerava os clubes, não havia disponibilidade de local para treinamentos, e um custo muito alto para logo a seguir, muitos atletas desistirem também por força de estudos – idade universitária – e primeiro emprego. Os que não querem estudar ou não conseguem empregos, tentam a sorte no novo empreendimento, a praia. Ou simplesmente, desistem do voleibol.
VP master. As praias cariocas permanecem pontilhadas de Redes (como são denominadas as quadras de jogo). Como se tem clima favorável joga-se o ano inteiro, todos os dias. Evidentemente, nos fins de semana há aglomeração, tantos são os candidatos a jogar uma “pelada” (gíria, partida, jogo, relativo a um set). Joga-se por diversão, puro lazer. Em Portugal, pelo que soube, existe um simpático grupo de master, presumo feminino, que se reúne e criam eventos na praia, tem até um site/blog. Achei formidável! Além disso, devo supor que o CPVP – Clube de Praticantes de Voleibol de Praia – também promova a modalidade.
Desporto escolar. Ao lançar o mini voleibol no Brasil, sugeri que o movimento tivesse origem nas escolas, o que custou a acontecer. Todavia, numa delas em minha cidade, consegui que formatassem o que denominaram “Recreio Alegre”. Consistiu em instalar no grande pátio ao ar livre, 13 quadras de minivoleibol e diversas tabelas (cestas) de basquete. Ficam à disposição dos alunos até hoje. Nenhum dos professores interfere nesta recreação voluntária totalmente consagrada e organizada pelos alunos. Eles mesmos constroem as regras do jogo, o rodízio de equipes e os torneios entre classes. Nunca lhes foi transmitido qualquer aprendizado técnico ou tático, no entanto, o professor/treinador das equipes do educandário declarou: “A partir da instalação das pequenas quadras a formação de equipes melhorou consideravelmente, pois os jovens já possuem um histórico do jogo”. Apesar de um deles vir a ser campeão mundial infanto-juvenil há algum tempo, a vitória maior da coordenação pedagógica foi a de oferecer oportunidades de desenvolvimento a TODOS os indivíduos com supervisão discretíssima, à distância, sem interferência ostensiva. Ter contribuído para a formação de um campeão foi um acidente. Numa visão maior, todos os que se locupletaram da atividade são os verdadeiros campeões. Outro aspecto refere-se à diminuição da violência na escola, pois convergem sua energia para o lazer. Recentemente, criaram sistema similar para o desenvolvimento da prática do badminton.
Ineditismo. Em um outro educandário (4 mil alunos) experimentei uma outra experiência muito especial. É notório que o brasileiro só pensa em futebol, cultivamos a monocultura futebolística há muito tempo. Ao nascer, o filho homem é recebido com uma bola, que já começa a chutar enquanto mama. Na fase escolar oportunizam-se jogos frequentes nas aulas, nos recreios e torneios no fim de semana, estes sob os olhares atentos e vigilantes dos papais. As meninas, no entanto, não conseguem ultrapassar as barreiras discriminatórias que lhes foram impostas pela cultura machista e permanecem alijadas de uma atenção pedagógica eficiente dos docentes, os maiores responsáveis. Com um pouco de criatividade inseri-me junto a um dos professores e a partir de algumas demarches, conseguimos que a direção da escola autorizasse a criação de aulas extra-classe para alunos de 8-10 anos. Nesta primeira investida, 310 alunos aceitaram o convite. O problema, então, foi inverso: não havia espaço e horário para as aulas. Mas observou-se um comportamento inédito no recreio escolar: os meninos que até então só jogavam futebol nas balizas disponíveis, passaram a utilizá-las para jogar voleibol por conta própria. Creio que esta é a opção filosófica mais apropriada. Coaduna e satisfaz a Educação e a Iniciação Desportiva. Além disso, o que é feito para o voleibol pode ser feito para outros desportos. As opções são oferecidas e os alunos fazem as suas escolhas no devido tempo. O que reputo mais importante é que a ação seja planejada e organizada, auferindo e transmitindo crédito às pessoas – crianças e adultos. Para tal, é necessária ter experimentados vivências e muita segurança no “saber fazer”.


CPPV Turismo,28.9.2011, comentou: Top Blogs 2011…The best blog that I consider for 2011.
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