Mundial de Paris (VII)

O Volley Nacional e o Mundial de Paris

As seleções contavam ainda com o apoio de Gil Carneiro que, além de representante da CBV junto à FIVB, era também correspondente dos Diários Associados, jornal que patrocinou sua ida para a cobertura do Mundial. Átila, mesmo cortado, viajou por conta própria simplesmente para assistir aos jogos. Vejam a crônica de Gil Carneiro no O Jornal sob o título O Volley Nacional e o Mundial de Paris:

“Seguiram os selecionados brasileiros para o Campeonato Mundial de Paris. Tiveram as seleções dois meses de treinamento com concentrações rigorosas em Volta Redonda e Agulhas Negras. As exibições de despedida que realizaram tiveram o dom de provar que infelizmente não iremos com a força máxima de nosso voleibol. De relance, podemos anotar as ausências de Selma, Lilian, Maria Lilia, Parker, Gilberto e Átila, que a Confederação justifica como medida de ordem disciplinar. Ora, nós que militamos no voleibol sabemos perfeitamente que tais ausências se dão somente por fatos políticos, devido ao ambiente que imperava na entidade, antes da posse do Professor Otacílio Braga. Empossado este, muita coisa mudou, mas o tempo foi curto demais para sentir em toda a sua plenitude o ambiente e perceber as injustiças. Atletas estão afastados devido a fatos insignificantes ocorridos no México; outros estão incluídos na delegação após terem feito coisa muito pior no Sul-Americano de Montevidéu.

A equipe brasileira presente ao Sul-Americano de Montevidéu,1956

– O que se viu no Maracanãzinho¹ na noite de 23?

O público, todo ele ligado ao vôlei e, a par das injustiças, demonstrou seu desagrado ao torcer contra os selecionados e vibrar com a derrota da equipe masculina. Insistem os dirigentes e o técnico Sami em afirmar que a derrota foi devida ao ambiente e ao despeito dos jogadores que integraram a seleção carioca. Absolutamente, pois ambiente muito mais adverso encontraram em Montevidéu e encontrarão em Paris e não foi pelo despeito que os guanabarinos venceram e sim por possuir elementos mais categorizados que, mesmo sem treinamento, tiveram capacidade para formar um conjunto mais harmonioso e se o jogo foi equilibrado, deve-se unicamente ao toque de bola defeituoso na defesa do saque, que redundou em numerosos pontos para o selecionado brasileiro.Os grandes males do selecionado masculino estão na baixa estatura de seus integrantes, no sistema empregado e ainda na falta de classe de alguns elementos, haja vista que o técnico não teve coragem de utilizar nada menos do que quatro jogadores que, obrigatoriamente, deveriam ser melhores do que os integrantes da equipe carioca. Dizemos mal do sistema empregado, não por não acharmos ideal, mas por não possuirmos elementos capacitados para empregá-lo. Os convocados não sabem ‘levantar’ muito bem, principalmente bolas na ponta, que precisam ser rápidas e não muito altas. E sem levantadas não há cortadas, não existindo ataque eficiente. E a baixa estatura anula praticamente o bloqueio, arma de defesa número um do vôlei moderno, pois ninguém se iluda que iremos defender cortadas dos americanos, russos ou mesmo mexicanos no fundo da quadra!Já o feminino carece unicamente de levantadoras. Não existem boas levantadoras no selecionado! O público assistiu foi ao show dado por Selma na defesa das cores da FMV. E esta moça foi afastada porque precisava de alguns dias para conseguir uma substituta no seu emprego; como era carioca, nada lhe foi concedido, enquanto Urbano só se apresentou em Agulhas Negras praticamente no fim da concentração! Mas é mineiro e a entidade estava sendo muito exigida pela Federação mineira. Caso Zezé, Neucy e Gilda acertem, existe esperança para o selecionado feminino. Iremos fazer a cobertura do certame mundial. Não conhecemos as equipes dos países da Cortina de Ferro, mas sabemos da fama de seu poderio. Vamos torcer pelo nosso sucesso e esperar que as deficiências sejam suplantadas e que o Brasil faça uma boa figura nesta sua primeira apresentação nas quadras europeias. De qualquer maneira, a lição nos será utilíssima e o nosso vôlei muito progredirá com os ensinamentos que lá iremos colher. E, finalmente, poderemos saber realmente como se ‘apita’ em voleibol”.

Arbitragem – Como se depreende, as queixas para o desenvolvimento técnico recaíam no aspecto das arbitragens que, como as equipes, se ressentiam de um maior intercâmbio. As jogadas de ataque conhecidas hoje como bolas chutadas seriam impossíveis no Brasil de 56, uma vez que a precisão esperada do levantador dependeria do seu toque na bola de uma forma dita carregada, impossível aos olhos dos árbitros. Tempestivamente assinalariam bola conduzida.

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¹ Amistoso contra um combinado carioca formado principalmente com atletas do Fluminense F.C.

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