Voleibol na Escola (IX)

Iniciação & Formação. Problemas e Soluções

15) As “reservas”

Enquanto estávamos jogando minivôlei não existia esta figura. TODAS estavam convidadas a participar dos jogos e das brincadeiras. Quando começarmos a formar equipes para jogos 6 x 6 naturalmente teremos que administrar interesses, isto é, o grupo está acima de tudo. Como o regulamento nos impede de jogarmos com mais de 6 de cada vez, a cada partida o time poderá estar composto com diversas titulares e reservas, que poderão ser rodiziadas segundo interesses coletivos e o bom senso da professora. Fazê-las perceber as vantagens que um grupo unido aufere e a força que o movimenta para novas conquistas. O apoio mútuo alimenta e alicerça os contatos,  as amizades e o companheirismo entre as integrantes. Para manter e expandir este clima compete à professora observar preceitos elementares de convivência, não se imiscuindo no processo de vencer a qualquer preço. É natural e saudável que a cada partida de alguma forma a maioria senão todas, possam atuar. As conversas e conselhos que antecedem as disputas servem de amparo e transparência para as ações que terá que tomar em seguida. Assim, TODAS devem participar destas reuniões e, se necessário, o assunto colocado na pauta: quem começa jogando, quem não pode jogar por este ou aquele motivo (as meninas podem ter efeitos das menstruações), quem está chateada por algum motivo, estão todas animadas? E os incentivos? Confiam na professora? Têm alguma queixa? São coisas corriqueiras que devem ser cultivadas e ampliadas, facilitando o respeito e o convívio entre as partes, o que as torna UNA.

Efetivamente, e nisto há um consenso entre as atletas, quando existe um acentuado desnível técnico, a reserva é aceita sem qualquer demérito. Isto é válido quando já se formou uma equipe de competição para disputas de torneios e campeonatos. Em se tratando de jogos amistosos entre grupos ou turmas de colégios, será conveniente que TODAS, sem exceção, participem das atividades: não deve haver titulares e reservas. As outras professoras das diversas equipes poderão compor um regulamento específico prevenindo esta situação.

16) Uma canhota na equipe

Ela atrapalha? Como aproveitar seu potencial máximo?

Costumo dizer que “… Melhor do que uma canhota na equipe, só duas”. É evidente que estamos considerando em igualdade de condições com atletas destras. A vantagem da equipe com uma jogadora canhota está no diferencial que possa fazer no ataque. Por si só, o fato de atacar com o braço trocado – todas estão acostumadas a bloquear e proteger determinadas zonas da quadra sob ataques de destras – já constitui num fato diferenciado, não treinado e, assim, mais difícil de ser defendido. Se a canhota for a levantadoras com relativa altura, poderão ser utilizados ataques surpresa (ataque de 1ª) em determinadas bolas passadas com trajetórias baixas (retas) junto à rede. Podem atacar com batidas curtas (breve movimento de punho) ou através de puxadas (ligeiro movimento de cima para baixo, acompanhando a trajetória da bola, permitido nas regras).

Se forem exclusivamente atacantes, devemos considerar os respectivos ataques das 3 posições possíveis da rede:

a) ataque-esquerdo, posição (IV) ou entrada de rede –  posição defendida pelo treinador cubano da equipe feminina várias vezes campeã. Mantinha a atleta canhota Regla Bel nesta posição; quem bloqueia deveria dar um tempo maior para o salto, pois existe uma distância (praticamente a largura dos ombros) entre o ataque de uma destra e de uma canhota. Dependendo de suas passadas preparatórias para o salto, a canhota define para onde dirigir o seu ataque mais forte, se em diagonal ou paralela, no corredor. O tempo para este ataque dificulta também a defesa, treinada invariavelmente só para bolas oriundas de jogadoras destras.

b) ataque-centro, posição (III) ou meio de rede –  na sua totalidade e considerando-se que a levantadora está na posição convencional após o 1º passe, é preferível que a canhota esteja inicialmente posicionada mais para o lado direito da rede (saída) e realize suas passadas para o salto em direção ao centro da quadra. Neste caso, a levantadora deixará a bola basicamente à meia altura à sua frente, no meio da rede. A diferença está nas passadas vinda de outro lado (da saída para o centro). Caso possua técnica específica poderá saltar numa só perna (china). Nunca vi qualquer equipe utilizando uma canhota desta forma. O que se fazia – e reputo como errado – era a canhota atacar a bola relativamente baixa  (meia bola), com passadas da esquerda para a direita, indo ao encontro da levantadora (a bola lhe era passada da direita para a esquerda). Isto anulava qualquer bom ataque. Algumas tentativas foram feitas quando a seleção brasileira feminina possuía duas canhotas no time: nunca foram positivas para a equipe. 

c) ataque-direito, posição (II) ou saída de rede –  posição mais comumente ocupada pelas atacantes sinistras. Veja-se o caso recente da seleção brasileira com a atleta Leila. Basicamente aquele território era seu e para mais ninguém. Às vezes produz-se uma jogada de finta e ela é acionada no meio da rede, logo atrás da atacante de meio na jogada que apelidamos desmico. Seria a jogada que preconizamos no item (b) – para a canhota, poderia ser uma china (corrida e salto numa perna).

Comentário –  Certa feita vimos em Niterói, no ginásio do Caio Martins, uma equipe de voleibol masculina japonesa que tinha um canhoto como um dos seus elementos de destaque, embora não fosse alto. Era, sim, muito rápido e saltava bem. Acontece que o técnico da sua equipe construiu todas as jogadas de ataque para ele quando estivesse na rede. Como à época jogavam com muitas fintas, quem aparecia sempre para a cortada era o canhoto, NÃO IMPORTAVA EM QUE POSIÇÃO DA REDE. Nenhuma ação era repetida, sempre apresentavam surpresas que atordoavam o bloqueio e a defesa adversária. No Brasil temos poucas jogadoras canhotas e bem poucas treinadoras que sabem como tirar proveito de suas características para máximo rendimento da equipe.

d) qual a posição da canhota na equipe? – em princípio, a melhor posição para uma canhota na equipe é à frente da levantadora (na posição de rodízio). A bola levantada da esquerda para a direita é a melhor coisa para esta jogadora e, se atacada no meio da rede, melhor ainda. Quando atacam da saída da rede, as canhotas têm como ponto forte as cortadas na direção do corredor (ou paralela), proveniente de um pequeno giro de tronco quase que natural. Para realizar as cortadas na diagonal, deverá tomar uma posição inicial de chegada com o corpo ligeiramente paralelo à rede, vindo da lateral da quadra para dentro. Esta é também a posição com que pode atingir qualquer ponto da quadra, caso o bloqueio adversário o permita. Lembro às professoras que estou falando de equipes em formação.

Que tal discutirmos estas considerações? Envie o seu comentário e suas dúvidas.

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