Fases do Treinamento

Ponto de vista psicológico

Tudo passa e todo movimento repetido antecedeu o primeiro justamente por ter perdido alguma coisa e adquirido algo novo. Assim, cada lançamento e recuperação (o movimento global) têm a sua própria história. Contudo, nada passa, pois tudo deixa seu vestígio e tem influência na vida presente e futura. Conclui-se:

a) Cada ação deve ser vista como única em toda sua representatividade e características;

b) A importância que podem adquirir os atos mais insignificantes caso se tornem habituais;

c) Cabe ao aluno, em conjunto com o professor, a observância das correções necessárias. Poderão, ainda, beneficiarem-se da observação de colegas. (David Wood)

Fases consecutivas

Uma frase frequentemente citada de Immanuel Kant: “Todos os conhecimentos humanos começam por intuições, avançam para concepções e terminam com ideias”. A minha interpretação do dictum de Kant: “Aprender começa por uma ação e uma percepção, avança daí para palavras e conceitos, e devia acabar em hábitos de pensamento desejáveis”.

Sumariando

“Para uma aprendizagem eficiente, uma fase exploratória deve preceder a fase de verbalização e formação de conceitos e, eventualmente, o conteúdo aprendido deve fundir-se e contribuir para a atitude mental essencial do aprendiz. Este é o princípio das fases consecutivas”. (George Pólya)

Nossos movimentos são os nossos mestres

Em novembro de 1960, foram disputadas as fases finais dos campeonatos masculino e feminino mundiais de voleibol em duas cidades limítrofes: Niterói e Rio de Janeiro. Na abertura desses jogos (3/nov.) completei 21 anos de idade. Era um jovem ávido por aprender os mistérios do jogo. Durante um breve período de treinos em Niterói, imiscuí-me entre os atletas, pois conhecia a maior parte deles e havia problemas de contusões. Embora não participasse dos coletivos, reservados para a parte da noite, satisfazia-me o fato de incluir-me nas sessões de fundamentos no período da tarde. A organização era tão deficiente, que até eu mesmo consegui combinar um treino coletivo para a seleção brasileira com uma equipe convocada às pressas entre alguns indivíduos praticantes. Após o mundial, consegui uma única bola de vôlei e passei a exercitar-me solitariamente num ginásio três vezes na semana, 2 horas por dia, durante 3 meses. Tive que construir formas de exercícios que pudessem exigir-me muito além do que vira antes, uma vez que minha motivação não tinha limites. E, assim, após este período, dominava uma técnica que passou a diferenciar-me dos atletas de minha época. Além de tornar-me exímio em todos os fundamentos (exceto o bloqueio, por não poder treiná-lo), consegui algo inédito: atacar com a utilização de ambos os braços. Lamento não ter conhecido Kant há mais tempo… Mas ecoa em meus ouvidos o que apregoava:

Toda reforma interior e toda mudança para melhor dependem exclusivamente da aplicação do nosso próprio esforço. 

O único educador capaz de formar novas reações no organismo é a sua própria experiência, a base principal do trabalho pedagógico. Não se pode educar o outro. É possível apenas a própria pessoa educar-se, ou seja, modificar as suas reações inatas através da própria experiência. Toda riqueza do comportamento individual surge da experiência. Cada ato ínfimo nosso tem o seu significado futuro. Um gesto descuidado, um movimento casual e uma brincadeira inocente, uma vez realizados já deixaram o seu vestígio no sistema nervoso e esse vestígio irá manifestar-se forçosamente talvez sem que o sintamos, mas o organismo o sentirá.

Conclusão

Coloque-se insistentemente em condições que o mantenham na trilha de um novo caminho ou conquista. Nunca deixe de observar um novo hábito enquanto ele não se consolidar em você. Cada violação é comparada à queda do novelo (um recomeço). A continuidade do exercício constitui o meio principal para tornar infalível a atividade do sistema nervoso. (David Wood)

Permita que aprendam por descoberta. Permita que aprendam provando”. (George Pólya)

Acrescento ao que foi dito anteriormente, que faço uso de exercícios nem sempre copiados – as receitas técnicas (ou de bolo) – para atingir objetivos delineados com o grupo que estou a ensinar. Entendo que a primeira coisa a fazer na forma de ensinar é conhecer os principais interessados: os alunos (ou os atletas). Assim procedi com aquele grupo de clube: no primeiro dia de nossa apresentação; convidei-os a jogarem entre si (2 sets) e, após, dialoguei com eles apresentando meu plano de trabalho. E, importante, incuti mensagem de confiança relatando minhas experiências pessoais no ramo. Sobre as receitas de bolo convido os professores a terem extremo cuidado na escolha dos exercícios destinados a seus aprendizes, até porque existem formas ineficazes que certamente comprometerão o seu trabalho. Além disso, ainda que um exercício seja na sua essência eficaz, a forma (dinâmica) de execução pode deixar a desejar.

Nível de exigência

O erro mais comum de ineficácia é o nível de exigência empregado: “Se devo tocar a bola que foi arremessada a 6-7 metros de distância, a maioria dos treinandos executa a partida antes do arremesso e o esforço já não é o mesmo”.

Não conheço treinador que se previna desse mal, mesmo os reconhecidamente mais exigentes. A prova maior reside no comportamento em jogos, quando gesticulam e gritam desesperadamente sempre que ocorre uma falha de qualquer atleta. Isto poderão ver até mesmo em jogos de seleções nacionais. Se tiverem tempo e disposição para assistirem aos treinos de qualquer equipe creio que me darão razão. Já o fiz por diversas vezes ao longo dos anos, inclusive no Voleibol de Praia, até de medalhistas olímpicos.

5 comentários em “Fases do Treinamento

  1. Oi Roberto, li alguns textos e gostei(não é novidade)!
    Mas você teria disponibilidade de passar algumas destas experiências para alunos em formação acadêmica, recém formados e que queiram se reciclar e tendo como laboratório uma escolinha de crianças iniciantes e atletas adultos?
    Abraço!

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  2. Carlos, agradeço sua atenção e gentileza. Imagino que com paciência conseguirá acompanhar-me nas leituras, inclusive com seus comentários, muito valiosos. Quanto à “formação continuada” de professores e acadêmicos esta é a minha proposta(ver Home, 1 ou 2). Estarei sempre disponível com a condição de que os interessados façam o “dever de casa”, isto é, leiam os textos e identifiquem suas dúvidas e querenças. Explico: é fundamental para mim saber o que pensam e o que querem. Com isso, estarei me enriquecendo pedagogicamente.

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