Educar para a Vida

Encontro com universitários

Certa feita recebi em minha residência um grupo de acadêmicos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Tinham a missão curricular de entrevistar-me a respeito do meu trabalho relativo à Iniciação/Formação ao voleibol. Eram em número de seis, sendo cinco moças. Trouxeram uma planilha em que já constavam as questões a serem formuladas e, com certeza, posteriormente fariam uma análise resumida do pensamento do entrevistado. Após minha apresentação curricular rápida, coloquei-me à disposição. Seguiu-se, então, uma conversa bastante interessante, uma vez que além de satisfazer às indagações, sempre lhes cobrava algum raciocínio, ora através de uma sentença não concluída, ora com uma outra pergunta do tipo: “Neste caso, como acham que deveria proceder? Por que acham que este seria o melhor caminho”?

Enquanto isso observava a participação de cada um deles. Notei que uma das moças se mantinha alheia e silenciosa a tudo. Indaguei-lhe em certo momento: E você, ainda não me perguntou nada e não emitiu qualquer comentário? Disse-me ela, em tom quase áspero: “Estou aqui obrigada, nunca gostei de voleibol”! E mais não disse. Retornei aos demais e respeitei sua colocação. Não me cabia considerar ou influir no seu pensamento.

Satisfeitas as considerações impostas pelo questionário, ofereci-lhes pequeno lanche e, divaguei sobre minhas ideias, projetos e experiências com crianças. De forma espontânea, tenho certeza de que me emociono, reconheço o embargo na voz e, dizem-me, meus olhos brilham intensamente todas as vezes que discorro sobre o ensino/aprendizagem. Possivelmente este fato contagiou a todos, porém a surpresa geral foi a aluna desinteressada. Após minha fala, pouco antes de encerrar a visita, pediu a palavra e falou com todas as letras: “Professor, disse-lhe antes que não gosto de voleibol; agora, após sua explanação tão entusiasta, passei a ver de outra forma. Acho que vou me esforçar para aprender”. Minha surpresa foi substituída por um sentimento de dever cumprido, isto é, ganhei mais do que dei.

Mas a história não acabou ali. Duas semanas após, compareci à mesma Universidade para realizar uma aula demonstração do método. Era uma turma grande, rapazes e moças muito animados. Tudo transcorreu conforme o planejado, exceto por um detalhe. Ao final da apresentação, fui novamente surpreendido pela moça (ex)desinteressada que, esbaforida, confessou-me alegremente: “Professor, adorei a aula, foi a primeira vez que joguei vôlei e nunca me diverti tanto”!

Aulas na UERJ. Em 1981 foi a vez da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Convidado pelo titular da cadeira de voleibol, Professor Paulo E. H. Matta, proferi aulas (12h) no Curso de Técnica sobre o ensino para crianças. O objetivo de minha ida foi servir de contraponto ao ensino estabelecido e, dessa forma, suscitar o pensamento crítico dos professores. Recordo-me que em minha apresentação afirmei: “Se conseguir que pelo menos um de vocês tenha dúvida quanto à metodologia a empregar em suas próximas aulas terei recompensada minha vinda a esta Universidade”.

Infelizmente, não tive o concurso do equipamento que sempre me acompanha nesses eventos. Improvisei a única aula prática no último dia de aula, tendo conseguido dosar com eficácia teoria e prática com rara felicidade. O efeito não se fez esperar. Após o encerramento fui abordado por uma das professoras que, de forma objetiva, colocou: “Professor, disse no primeiro dia que mexeria na nossa cabeça; com certeza já não sei como realizarei minha aula amanhã na escola”! Senti uma sensação de dever cumprido e recompensado.

Prática em clube. Veja esta outra experiência com a equipe América (adultos). Em dado momento criei um exercício complexo que envolvia os 12 jogadores simultaneamente. Consistia na circulação da bola pelas duas quadras simulando as fases mais simples do jogo (exceto o saque): recepção, levantamento, ataque, bloqueio e defesa. A bola passava de mão em mão e, após a respectiva ação, o protagonista dirigia-se na direção em que a bola foi passada, deslocava-se e ocupava temporariamente a nova posição, e assim sucessivamente. Iniciamos a tarefa simplesmente com a bola lançada (e segura), até que todos memorizassem as ações combinadas; a seguir, com a bola no ar. O exercício foi repetido em quatro ocasiões (2 semanas), inclusive como forma de entrada em calor e despertar da atenção. Na quinta apresentação, inesperadamente durante a sua execução, solicitei que invertessem o sentido do percurso da bola sem qualquer instrução minha. Após breve intervalo para diálogo, logo recomeçaram a prática com total eficiência. Em outro treino, também de surpresa, introduzimos uma segunda e, depois terceira bola, tudo absorvido de forma extremamente natural, apesar da intensidade imprimida. Para todos tornou-se uma experiência gratificante que muito contribuiu para a aprendizagem, refletida nos semblantes e no prazer de estar ali em coletividade, experimentando intensa atividade mental. Alguns declararam que não se achavam competentes para realizar a tarefa, mas com o incentivo dos colegas conseguiram e, por isso, experimentaram um sentido de realização própria: “Se consegui isto, posso conseguir muito mais”! Como foi bom para mim contribuir silenciosamente para o crescimento daqueles rapazes.

Um comentário em “Educar para a Vida

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