A ideia inicial de elaborar este ensaio recaiu após minha leitura do trabalho de alguns estudantes portugueses sobre George Pólya. Ele nos leva a pensar no significado de seus conceitos e nos convida a ilustrá-los concretamente com base na nossa própria história. Como você neste momento também participa desta conversa, aguardarei sua opinião e assim incrementar novas ideias e conhecimentos ao nosso trabalho.
Educar é contar histórias?
Nas páginas que se seguem realizo uma digressão pedagógica aplicável a qualquer desporto, especialmente o voleibol, minha praia. Para os que julgarem pertinente, sirva este diálogo com Pólya (e outros) de transposição para um ensino mais eficiente, original e criativo. Assim, considerem minhas histórias apenas e acerca da minha experiência e opinião. Estarei aguardando suas considerações.
George Pólya (1887-1985) foi um matemático húngaro. Não é sempre que um grande matemático se interessa pelos currículos e pelos métodos de ensino da matemática no ensino secundário. A esse respeito, Pólya é quase uma exceção. Daí o interesse das traduções de dois célebres textos sobre o ensino da matemática: How to solve it (1945) – nos diz como resolver problemas de todos os tipos, mesmo os que não são de matemática – e o capítulo XIV do livro Mathematical Discovery (1962-64). As traduções foram realizadas por Elisa Mosquito, Ricardo Incácio, Teresa Ferreira e Sara Cravo. A revisão, por Olga Pombo. Peço permissão aos pesquisadores portugueses que me proporcionaram conhecer um pouco do pensamento de Pólya através da Internet para estabelecer um pretenso diálogo construtivo com os professores brasileiros a respeito do ensino do desporto em geral e a prática escolar. Àqueles que me honram com a sua leitura, minhas desculpas por estar falando na primeira pessoa, a intenção é relatar experiências e, em contrapartida, ouvir o que têm a me contar.
Princípios de Aprendizagem. “Ensinar é um processo que tem inúmeros pequenos truques. Cada bom professor tem os seus estratagemas preferidos e cada bom professor é diferente de qualquer outro professor”. (Pólya)
Aprendizagem ativa. “A aprendizagem deve ser ativa, não meramente passiva ou receptiva. Dificilmente se consegue aprender alguma coisa, e certamente não se consegue aprender muito, simplesmente por ler livros, ouvir palestras ou assistir a filmes, sem adicionar nenhuma ação intelectual”. (Pólya)
A aprendizagem em Educação Física ou mesmo desportiva já contribui na essência para uma atuação do docente mais profícua do que em outras matérias. Mas muitos teimam em não tirar proveito deste fato concreto. Em 1974, em companhia de vários outros colegas, realizei um curso de Formação/Iniciação para dezenas de crianças durante 30 dias cabendo-me o voleibol. Paralelamente, outras modalidades desportivas também foram desenvolvidas. Foi a oportunidade que tive para ser pioneiro no Brasil com aulas regulares e metodologia específica para o mini voleibol. Além das crianças, vários professores e acadêmicos de Educação Física se inscreveram para um curso de monitoria, pois os melhores seriam contratados para dar continuidade às aulas. No voleibol havia um número próximo de oito indivíduos. As aulas práticas com crianças transcorriam sempre pela manhã e, a seguir, as aulas teóricas com os professores em classe. Sabia de antemão, que além do interesse que nutriam pelo cargo, alguns tinham interesse não imediatos, isto é, simplesmente lhes interessava o certificado que lhes seria outorgado, contribuindo para a construção do respectivo currículo numa possível concorrência futura. Como, então, despertar naqueles indivíduos o interesse pelo que estaria a lhes transmitir? Considere-se ainda que muitos trabalhavam em outros locais e conseguiram acomodar seus horários com o curso. Na apresentação, coloquei uma questão para que a maioria resolvesse: “Gostariam de um curso convencional, com transmissão verbal e apostilada dos conteúdos ou, ao contrário, uma participação ativa – pensada e construtiva”? A resposta foi um SIM à segunda demanda. Com isto, pusemo-nos a trabalhar, tanto na prática, quanto na construção da metodologia a empregar, pois era assunto inédito para TODOS, inclusive para mim. Todavia, para mantê-los atentos e comprometidos, decidimos que, após cada aula levariam para suas moradias ou trabalho algumas poucas questões formuladas em classe para que trouxessem respondidas ou pensadas na aula seguinte.
Aprendendo a pensar. Em suma, é bem possível que minha contribuição para eles foi mais por ensinar a pensar e não tanto pelas informações relativas ao aprendizado do voleibol em si. Dessa forma, sobrevivemos todos, numa bela amizade e estou certo de ter cumprido com alguma eficiência a proposta da instituição que me contratou. Detalhe: no ano seguinte a instituição enviou-me ao 1º Simpósio Mundial de Mini Voleibol patrocinado pela FIVB, na Suécia. Na oportunidade, realizei palestra sobre o emprego do jogo de PETECA como derivativo para o aprendizado do voleibol. Era uma experiência que vinha realizando com crianças e adultos na praia de Icaraí, em Niterói.
As nossas descobertas. “Uma outra opinião frequentemente expressa (e minuciosamente descrita): a melhor forma de aprender alguma coisa é descobri-la por si próprio. Lichtenberg (físico alemão do séc. XVIII, mais conhecido como escritor de aforismos) acrescenta um aspecto importante: aquilo que se é obrigado a descobrir por si próprio deixa um caminho na mente que se pode percorrer novamente sempre que se tiver necessidade”. (Pólya)
Aos 16-17 anos, ainda cursando o ginásio, lancei um desafio para mim mesmo: deveria lançar a bola de basquete de uma cesta à outra. Meus conhecimentos desse esporte eram rudimentares, pois apenas competira na categoria infantil por um clube da cidade durante no máximo 2 anos. Na escola, apenas praticava nas esparsas aulas de educação física, sem qualquer orientação: o professor distribuía as bolas para a prática de futebol e basquete, e quem não quisesse, simplesmente estava dispensado da aula. Assim, como criara o objetivo, pus-me a pensar como poderia fazê-lo. E, incrível, consegui! Imagino que a cada tentativa alguns obstáculos eram superados e novas conquistas a alcançar. O caminho que estava traçado foi percorrido com os meus próprios passos. Acredito que, principalmente em se tratando de crianças, o caminho da ludicidade seja o mais natural e confortável para um profícuo aprendizado. Considere-se que através das brincadeiras são possíveis avanços consideráveis em qualquer atividade. Por exemplo, em 1981 fui treinador da equipe de voleibol principal masculina do América F. C., do Rio de Janeiro. Sempre que possível transformava os treinos numa alegria só, inclusive atraindo olhares de jovens e outros associados que se encantavam com a algazarra e diabruras dos grandalhões. A intensidade dos treinos teve que ser comedida, dada a total entrega dos rapazes. E mais, o comportamento social e técnico do grupo atingiu níveis espetaculares a tempo de serem contemplados com elogios dos próprios adversários – técnicos e atletas.
Caminhos pedagógicos. “Exagerando um pouco, pode-se dizer que a atual pedagogia gira em torno de como conseguir que o papel do professor se aproxime o mais possível de zero de modo que, em vez de desempenhar o papel de motor e elemento da engrenagem pedagógica tudo passe a se basear em seu papel de organizador do meio social”. (David Wood)
Uma aula sem o professor. Ocorreu também em 1981, com a equipe de voleibol do América. Treinávamos três vezes por semana e, nesta época, tinha a companhia de um amigo, também professor, que se atualizava acompanhando-me nos treinos e jogos. Aconteceu que não poderia comparecer ao treino de um sábado. Combinei com todo o grupo o que deveriam realizar e despedi-me, confiante de que tudo aconteceria como planejado. Diga-se de passagem, para os cariocas os sábados e domingos são consagrados à praia. Na semana seguinte, ouvi o relato do meu amigo que, não acreditando que se realizaria o treino sem a minha presença, esteve no clube: “Queria ver, pois não acreditava que fossem comparecer. E, inacreditável! Não só estavam todos lá, como o treino transcorreu em alto nível e de maneira intensa”.


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